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5. METODOLOGIA DA PESQUISA

5.1. PESQUISA QUALITATIVA EM FOCO

Considerando que o objetivo da presente pesquisa é evidenciar e compreender as mudanças no ensino de matemática, decorrentes da implementação do Ensino Médio Politécnico na Rede Pública de ensino do Rio Grande do Sul, foi adotada, neste estudo, a abordagem qualitativa de pesquisa, a qual favorece a interpretação dos dados coletados durante a investigação.

Assim, a pesquisa de natureza qualitativa, segundo a perspectiva proposta por Mirian Goldenberg (2004), prioriza a interpretação dos fenômenos e atribuição de significados aos mesmos, tomando-os em seu ambiente natural. Denzin e Lincoln (2006, p. 17) conceituam pesquisa qualitativa como um processo que

consiste em um conjunto de práticas materiais e interpretativas que dão visibilidade ao mundo. Essas práticas transformam o mundo em uma série de representações, incluindo as notas de campo, as entrevistas, as conversas, as fotografias, as gravações e os lembretes. Nesse nível, a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem naturalista, interpretativa, para mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas em seus cenários naturais, tentando entender, ou interpretar, os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem.

Adentrando a esta discussão Bogdan e Biklen (1994) afirmam que a pesquisa qualitativa possui cinco características, porém nem todas as pesquisas que são consideradas qualitativas contemplam todas essas particularidades. Pode-se encontrar estudos que excluem uma ou mais características e nem por isso deixam de ser estudos qualitativos. Tais características encontradas, de acordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 47-51) são:

1. Na investigação qualitativa a fonte directa de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal.

2. A investigação qualitativa é descritiva.

3. Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos.

4. Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva.

5. O significado é de importância vital na abordagem qualitativa.

Ainda, de acordo com esses autores e no intuito de explicitar as características das pesquisas qualitativas, é possível compreender como o investigador qualitativo atua no decorrer da pesquisa.

Por considerar o contexto histórico em que acontecem as ações entre os sujeitos envolvidos na pesquisa, o investigador qualitativo frequenta o local de estudo, pois entende que tais ações podem ser mais bem compreendidas quando observadas em seu ambiente natural (BOGDAN; BIKLEN, 1994).

Ao se referirem que a investigação qualitativa é descritiva, Bogdan e Biklen (1994) argumentam que os dados coletados não são quantitativos, mas sim, imagens e palavras. Entre esses dados coletados, estão incluídas as transcrições de entrevistas, fotografias, vídeos entre outros documentos pessoais ou registros oficiais. Mesmo sem os autores citarem, destacam-se também aqui os questionários abertos que são aplicados aos sujeitos colaboradores da pesquisa. Entende-se por questionários abertos aqueles em que o depoente responde de forma dissertativa- descritiva e o pesquisador realiza a leitura sem se preocupar em quantificar resultados, mas sim em buscar seus significados.

O investigador qualitativo não tem por objetivo reduzir o amplo conjunto de dados descritivo e narrativo que coletou em números. Pelo contrário, busca examinar e analisar os dados coletados em sua totalidade, com rigor e detalhe, pois de acordo com a abordagem da investigação qualitativa descrita por Bogdan e Biklen (1994, p. 49), ela “exige que o mundo seja examinado com a ideia de que nada é trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objecto de estudo”. Complementando, como já descrito anteriormente, no contexto da pesquisa qualitativa, o interesse do pesquisador repousa no processo como um todo e não propriamente nos resultados que esse processo produz.

Além disso, Bogdan e Biklen (1994, p. 50) pontuam que a análise de dados das pesquisas qualitativas tende a ser de forma indutiva, uma vez que o investigador

qualitativo não realiza a coleta de dados com a finalidade de confirmar hipóteses, mas sim, leva em conta que “[...] as abstracções são construídas à medida que os dados particulares que foram recolhidos se vão agrupando”. Nesse sentido, os autores fazem uma comparação entre o processo de análise de dados com um funil: “as coisas estão abertas de início (ou no topo) e vão-se tornando mais fechadas e específicas no extremo” (Ibidem). Assim, a preocupação do investigador qualitativo consiste em produzir compreensões a partir daquilo que os dados evidenciam, e não e somente em validar hipóteses. Para tanto,

os investigadores qualitativos estabelecem estratégias e procedimentos que lhes permitam tomar em consideração as experiências do ponto de vista do informador. O processo de condução de investigação qualitativa reflecte uma espécie de diálogo entre os investigadores e os respectivos sujeitos, dado estes não serem abordados por aqueles de uma forma neutra (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 51).

Conforme se pode verificar no desenvolvimento dessa pesquisa, a possibilidade de haver diálogo entre o investigador e os sujeitos que colaboraram com o estudo, o processo de análise pela busca por compreensões e significados evidenciam o caráter qualitativo do mesmo.

Tendo em vista que a pesquisa sistematizada na presente dissertação recorre a diversas fontes de dados, pode-se afirmar que a pesquisa está em consonância com os pressupostos discutidos por Denzin e Lincoln (2006) e Flick (2009), sobretudo no que diz respeito à ideia de triangulação.

Para Denzin e Lincoln (2006, p. 19), “[...] o uso de múltiplos métodos, ou da triangulação, reflete uma tentativa de assegurar uma compreensão em profundidade do fenômeno em questão”. Para Flick (2009, p. 361) “essa palavra-chave é utilizada para designar a combinação de diversos métodos, grupos de estudo, ambientes locais e temporais e perspectivas teóricas distintas para tratar de um fenômeno”.

Denzin (1989b, p. 237-241, apud FLICK, 2009, p. 361), caracterizando os quatro tipos de triangulação22, afirma que

a triangulação dos dados refere-se ao uso de diferentes fontes de dados, sem ser confundida com o emprego de métodos distintos para a produção de dados. Como “subtipos da triangulação dos dados”, Denzin faz uma distinção entre tempo, espaço e pessoas, sugerindo que o fenômeno seja

22

Por essa pesquisa utilizar a triangulação de dados, optou-se por não abordar nesse momento os demais tipos de triangulação.

estudado em datas e locais diferentes e a partir de pessoas diferentes. Dessa forma, ele se aproxima da estratégia da amostragem teórica, de Glaser e Strauss. Em ambos os casos, o ponto de partida consiste em envolver no estudo, intencional e sistematicamente, pessoas e grupos de estudo, ambientes locais e temporais.

Assim, para Denzin e Lincoln (2006, p. 17)

a pesquisa qualitativa envolve o estudo do uso e a coleta de uma variedade de materiais empíricos – estudo de caso; experiência pessoal; introspecção; história de vida; entrevista; artefatos; textos e produções culturais; textos observacionais, históricos, interativos e visuais – que descrevem momentos e significados rotineiros e problemáticos na vida dos indivíduos.

Nesse sentido, os autores afirmam que o uso de múltiplos métodos interligados é muito utilizado por pesquisadores qualitativos no intuito de compreender melhor o seu objeto pesquisado, possibilitando assim uma visão diferenciada ao mundo.

Após abordar as bases teóricas da pesquisa qualitativa, faz-se necessário apresentar os objetivos e os procedimentos adotados para a realização da pesquisa, dimensões que são explicitadas na próxima seção.