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3. UM PANORAMA DOS REGISTROS DAS FAMÍLIAS POLIGÂMICAS E DAS

3.3. Pesquisa sobre o funcionamento dos Ofícios de Notas

Após analisar o posicionamento oficial do Conselho Nacional de Justiça, senti necessidade de entender como estão funcionando os Ofícios de Notas na prática. Para limitar meu parâmetro de pesquisa, entrei em contato com todos os 10 Ofícios no Centro da cidade e também como o 15º Ofício da Barra da Tijuca, do qual é titular a tabeliã Fernanda Leitão, já mencionada nesse estudo.

Além disso, também fiz contato com o Tabelião de Notas Protesto Letras e Títulos de Tupã e com o 3º Ofício de Notas de São Vicente, por terem sido noticiados como realizadores das escrituras de união estável não monogâmica.

A seguir, um breve panorama sobre o funcionamento dos Ofícios, no que se refere à minha pergunta objetiva sobre a circunstância de estarem fazendo, ou não, as escritura de reconhecimento do poliamor:

a) 15º Ofício de Notas da Capital (Rua do Ouvidor, nº 89, Centro, Rio de Janeiro/ RJ): Em contato telefônico com o ofício, a pessoa responsável pelo atendimento ao público com quem falei, disse estar ciente da orientação produzida pelo CNJ, e que ainda não havia um comportamento padrão definido para o Ofício. De todo modo, a funcionária pareceu muito disposta a ajudar, e disse que ia conversar com a tabeliã a respeito da possibilidade de realizar a escritura, e me daria um retorno. Em meu segundo contato com o cartório, a tabeliã me pediu que procurasse a filial do 15º Oficio da Barra da Tijuca. Ela me disse que a Dra. Fernanda, tabeliã chefe, poderia me ajudar a realizar o referido registro, caso fosse da minha vontade.

b) 5º Ofício de Notas da Capital (Rua da Alfandega, nº 91, Centro, Rio de Janeiro/ RJ): O contato com o 5º Ofício de Notas, por sua vez, teve uma resposta negativa. A responsável pelo atendimento ao público me informou por telefone que, por ora, o cartório não realiza registros de famílias não monogâmicas. Segundo ela, ainda não é feito por não haver um procedimento preestabelecido para realizar a escritura.

c) 10º Ofício de Notas da Capital (Avenida Nilo Peçanha, nº 26, Loja B, Centro, Rio de Janeiro/RJ): O 10º Ofício de Notas não possui um posicionamento fixado sobre a

realização ou não das escrituras de união estável entre mais de duas pessoas. Segundo a atendente responsável pelo atendimento telefônico, não houve procura de interessados na realização de escrituras dessa natureza, e, por isso, não há um procedimento de praxe para a demanda, sendo certo que não existe uma ordem de proibição, apenas ausência de costume para lidar com o tema.

d) 17º Ofício de Notas da Capital (Rua do Carmo, nº 63, Centro, Rio de Janeiro/RJ): A responsável pelo expediente no 17º Ofício de Notas me informou que não estão sendo realizados registros de união estável para poliamoristas desde que foi proferido posicionamento do Conselho Nacional de Justiça. Segundo sua visão, o posicionamento do CNJ proibiu esse tipo de união e, por isso, estavam, os Ofícios, proibidos de realizar as escrituras. Ou seja, a sua interpretação é bastante restritiva, porque, de fato, analisando os autos do pedido de providências do CNJ, verifica-se que houve recomendação e não proibição.

e) 8º Ofício de Notas da Capital (Rua da Assembleia, nº 10, sala 1016, Centro, Rio de Janeiro/ RJ): Em contato com o 8º Ofício, fui informada de que não estão sendo feitos registros de união estável poliamoristas. Anteriormente ao posicionamento do CNJ requerendo a suspensão da realização, nunca houve procura neste Ofício. Após maio de 2016, entretanto, ocorreram buscas isoladas de interessados pelo registro, que não lograram êxito em conseguir a escritura. Segundo o responsável pelo expediente, ficaram suspensas as realizações até posterior posicionamento do CNJ.

f) 9º Ofício de Notas da Capital (Largo de São Francisco de Paula, nº 42, Centro, Rio de Janeiro/ RJ): Igualmente ao posicionamento do 17º Ofício de Notas da Capital, segundo o serventuário do 9º Ofício de Notas, o cartório não realiza registros de união estável em razão da ordem de proibição proferida pelo Conselho Nacional de Justiça. Segundo o responsável pelo expediente, ficaram proibidas as realizações até posterior posicionamento do CNJ ou de algum Tribunal Superior. Ademais, segundo o funcionário que me atendeu, o meu contato foi a primeira procura pela realização do registro antes e depois da orientação dada pelo CNJ.

g) 1º Ofício de Notas da Capital (Avenida Rio Branco, nº 120, Centro, Rio de Janeiro/ RJ): O 1º Oficio de Notas da Capital se mostrou confuso quanto ao meu questionamento. Falei com diversos funcionários, que foram um pouco evasivos, até que um dos funcionários me informou que, apesar de não ser um posicionamento oficial, poderia afirmar que, inicialmente, não seriam feitas escrituras de poliamor.

h) 22º Ofício de Notas da Capital (Rua Senador Dantas, nº 39, Centro, Rio de Janeiro/ RJ): Em contato com o 22º Oficio de Notas, fui informada que os registros estão suspensos até que haja um posicionamento oficial do Conselho Nacional de Justiça. Restou decidido pelo tabelião que o pedido de suspensão deveria ser encarado como uma proibição e que realizar os registros com a existência desse posicionamento seria agir com irresponsabilidade.

i) 20º Ofício de Notas da Capital (Avenida Almirante Barroso, nº2, Centro, Rio de Janeiro/ RJ): Ao realizar contato com o 20º Ofício de Notas, fui surpreendida com o

tom da abordagem. O tabelião substituto, responsável pelo expediente no dia em que fiz contato, me informou que, de forma alguma, seriam realizados registros de famílias não monogâmicas. Segundo ele, há, no ordenamento jurídico, por parte do CNJ, uma proibição para existência de escrituras dessa natureza. Além disso, ele disse ainda que, de forma alguma, poderiam ser feitos os registros, mesmo que o CNJ ainda não houvesse se posicionado. Continuou afirmando que esses tipos de relacionamento são um absurdo e que, de forma alguma, poderiam existir. Afirmou ainda que, mesmo que existam, nunca poderão ser aceitos pelo Judiciário e que, mesmo que um dia regulamentados pelo CNJ ou pelos Tribunais, não serão realizados os registros naquele serviço notarial.

j) 15º Ofício de Notas da Barra da Tijuca (Avenida das Américas, nº500, Bl. 11, Loja 106, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro/RJ): Em contato com o 15º Ofício de Notas da Barra, responsável pela realização do primeiro registro de união estável entre pessoas do mesmo sexo e também pela realização de registros de união estável entre mais de duas pessoas e bastante conhecido por ser inovador em seus posicionamentos, fui informada que estão interrompidas as realizações de novos registros. Ao conversar ao telefone com a tabeliã substituta (responsável pelo expediente quando a titular não está), ela me elucidou que os registros estão suspensos desde o requerimento formulado pelo CNJ e vão assim continuar até um posicionamento em definitivo sobre o assunto. Mais adiante em nossa conversa, ela disse que, em casos extraordinários, a tabeliã chefe estaria disposta a se reunir com os interessados, para analisar o caso concreto. Existindo indícios de boa-fé e união duradoura, talvez, pudesse ser aberta uma exceção.

k) Tabelião Notas Protesto Letras Títulos de Tupã: Em contato com o Ofício de Tupã, fui atendida pelo tabelião substituto, que me informou que as escrituras começaram a ser feitas quando a tabeliã Cláudia Domingues do Nascimento era titular da serventia. Ainda segundo ele, após a saída da Dra. Cláudia para a comarca de São Vicente, não houve mais procura pela realização dos registros. Informou ainda que, o atual tabelião titular não se opõe a realização das escrituras de união estável, porém, que teria que ser feita uma reunião com os interessados, numa espécie de juízo de admissibilidade, antes da efetivação do ato.

l) 3º Ofício de Notas de São Vicente: Igualmente ao contato com o Ofício de Tupã, fui informada que as escrituras, quando realizadas na serventia de São Vicente, foram feitas sob a supervisão da tabeliã chefe à época, Cláudia Domingues Nascimento. Inclusive, como noticiado aos autos do Pedido de Providências51, em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo52, a Dra Cláudia afirmou ter celebrado pelo menos oito escrituras de união estável entre três ou mais reciprocamente, outorgantes e outorgados, quando à frente da referida serventia. A tabeliã responsável pela realização não mais se encontra no Ofício e, desde a sua saída, não houve procura por novas escrituras. Nesse sentido, a pessoa responsável pelo atendimento ao público me informou que o novo tabelião chefe, a primeira vista, não realiza os

51 CNJ, Pedido de Providências de nº 0001459-08.2016.2.00.0000, págs. 22. 52

AMÂNCIO, Thiago. 'Casais' de 3 ou mais parceiros obtêm união com papel passado no Brasil. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/01/1732932-casais-de-3-ou-mais-parceiros-obtem-uniao-com- papel-passado-no-brasil.shtml>. Acesso: 29.11.2017.

registros, seguindo a orientação do CNJ, porém, em situação de excepcionalidade, pode ser que ele permita a realização, mediante reunião prévia com as partes.

4. A EXISTÊNCIA DAS FAMÍLIAS POLIGÂMICAS E O CONFRONTO COM A LEI

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