• Nenhum resultado encontrado

PESSOAS QUE RECEBEM UM SALÁRIO MÍNIMO NO BRASIL

SALÁRIO MÍNIMO E SATISFAÇÃO DAS NECESSIDADES ALIMENTARES E HABITACIONAIS NO BRASIL (2004-2013)

3.1 BREVE CARACTERIZAÇÃO DE QUEM VIVE COM UM SALÁRIO MÍNIMO NO BRASIL

3.1.1. PESSOAS QUE RECEBEM UM SALÁRIO MÍNIMO NO BRASIL

Para identificarmos as pessoas remuneradas com um salário mínimo, consideramos os maiores de dez anos que declararam na Pnad/IBGE - 2013 ter rendimento mensal de todas as fontes54 exatamente igual a R$ 678 (o valor do salário mínimo em 2013). Como pode ser observado na tabela 3.1, cerca de 20,5 milhões de brasileiros maiores de dez anos (17,3%) tinham rendimento mensal igual a um salário mínimo em 2013. Outros 21,3 milhões (18,0%) recebiam menos do que esse valor. Somando-se esses dois grupos com o conjunto referente à faixa entre um e dois salários mínimos (entre R$ 679 e R$ 1356), observa-se que 69,7% dos brasileiros tinham renda de até dois salários mínimos em 2013.

Tabela 3.1

Distribuição das pessoas segundo a faixa de rendimento mensal de todas as fontes (em número de salários mínimos - SMs) – Brasil – 2013

Nota: não considerou as pessoas que não declararam renda e aquelas sem rendimento. Considera somente pessoas de 10 anos ou mais.

Fonte: Microdados da Pnad/IBGE (2013). Elaboração do autor.

53

A Pnad 2013 era a última edição dessa pesquisa anual no momento em que escrevemos este capítulo.

54 Engloba rendimentos do trabalho, de aposentadorias, de pensões, de outras transferências de renda

governamentais, de pensões alimentícias, de aluguéis, de rendimentos de aplicações financeiras (juros e dividendos) etc, ou seja, todas as fontes de renda. Na Pnad/IBGE consideramos a variável v4720 (Rendimento mensal de todas as fontes para pessoas de 10 anos ou mais de idade).

Número de pessoas (%)

Menos de 1 SM 21.311.500 18,0%

1 SM 20.489.416 17,3%

Maior que 1 SM até 2 SMs 40.740.293 34,4% Maior que 2 SMs até 10 SMs 32.759.480 27,6%

Maior que 10 SMs 3.198.830 2,7%

133 Conforme disposto abaixo no quadro 3.1, as pessoas que em 2013 recebiam salário mínimo estavam situadas no segundo, terceiro e quarto decis55 na escala de rendimentos no Brasil, sendo o salário mínimo o valor modal do país. A renda mediana bem inferior à renda média aponta para o grande número de pessoas que recebiam baixos rendimentos no Brasil (metade dos brasileiros recebia até R$ 900,00 em 2013).

Quadro 3.1

Estatísticas do rendimento mensal de todas as fontes – Brasil – 2013 (em R$

correntes)

Nota: não considerou as pessoas que não declararam renda e aquelas sem rendimento. Considera somente pessoas de 10 anos ou mais.

Fonte: Microdados da Pnad/IBGE (2013). Elaboração do autor.

Como pode ser verificado na tabela 3.2, dentre os 20,5 milhões de pessoas que tinham rendimento igual a um salário mínimo em 2013, 37,9% eram habitantes da região Nordeste, e outros 34,9% moradores da região Sudeste. Os percentuais referentes às demais regiões eram expressivamente menores. No Brasil como um todo, 80,0% dos que recebiam um salário mínimo eram moradores das áreas urbanas e 20,0% das rurais. Quanto à distribuição entre os sexos, 44,2% dos que recebiam salário mínimo eram homens e

55 Conforme a Pnad/IBGE -2013, o salário mínimo (R$ 678) está situado entre os percentis 18 e 35 da

distribuição.

Renda média 1.553 Renda mediana 900 Renda modal 678 Renda de corte para decil da renda

1 300 2 678 3 678 4 750 5 900 6 1.150 7 1.380 8 2.000 9 3.000

134 55,8% eram mulheres. No que se refere ao critério de cor ou raça, 40,8% eram brancos e 58,4% eram negros.56

Tabela 3.2

Distribuição das pessoas com rendimento mensal de todas as fontes igual a um salário mínimo, segundo algumas categorias chave – Brasil - 2013

Nota: Considera somente pessoas de 10 anos ou mais.

Fonte: Microdados da Pnad/IBGE - 2013. Elaboração do autor.

Quando se compara os dados referentes àqueles que recebiam um salário mínimo com os relativos às pessoas das outras faixas de renda, verifica-se que, em 2013, no tocante às grandes regiões do país, ocorria maior incidência proporcional do salário mínimo nas regiões Norte e Nordeste (ver gráfico 3.1). Na região Nordeste, quase um quarto das pessoas que tinham renda era remunerado à base de um salário mínimo (24,6%) e, somando-se àqueles que recebiam um valor inferior a essa cifra (33,5%), chega-se à situação em que 58,1% dos nordestinos obtinham rendimento de, no máximo, um salário mínimo. Nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, menos de 30% tinham remunerações iguais ou inferiores ao salário mínimo.

56 Os números referentes aos negros consideram a soma das cores preta e parda.

Categorias Número de pessoas (%)

Regiões Norte 1.603.922 7,8% Nordeste 7.756.271 37,9% Sudeste 7.153.117 34,9% Sul 2.498.015 12,2% Centro-Oeste 1.478.091 7,2% Brasil 20.489.416 100,0% Urbano / Rural Urbano 16.398.890 80,0% Rural 4.090.526 20,0% Brasil 20.489.416 100,0% Sexo Homens 9.046.175 44,2% Mulheres 11.443.241 55,8% Brasil 20.489.416 100,0% Cor ou raça indígena 68.122 0,3% Branca 8.352.701 40,8% Preta 2.016.970 9,8% Amarela 91.796 0,4% Parda 9.959.827 48,6% Brasil 20.489.416 100,0%

135

Gráfico 3.1

Percentual de pessoas segundo a faixa de rendimento mensal de todas as fontes –

grandes regiões do Brasil – 2013

Nota: não considerou as pessoas que não declararam renda e aquelas sem rendimento. Considera somente pessoas de 10 anos ou mais. Fonte: Microdados da Pnad/IBGE (2013). Elaboração do autor.

Ainda no âmbito territorial, as diferenças também eram significativas entre os espaços rurais e urbanos. Nos territórios rurais, quase um quarto das pessoas (24,0%) que declararam receber algum rendimento era remunerado com o salário mínimo, sendo que o percentual de pessoas com renda abaixo desse valor era ainda maior (37,3%). Ou seja, 61,3% das pessoas nas áreas rurais tinham rendimento de, no máximo, um salário mínimo. Por sua vez, esse percentual atingiu 30,9% nas áreas urbanas. Já nas faixas superiores a dois salários mínimos, o percentual de pessoas das áreas urbanas era quase o triplo do observado nas áreas rurais (ver gráfico 3.2).

Gráfico 3.2

Percentual de pessoas segundo a faixa de rendimento mensal de todas as fontes – Brasil (urbano e rural) – 2013

Nota: não considerou as pessoas que não declararam renda e aquelas sem rendimento. Considera somente pessoas de 10 anos ou mais.

Fonte: Microdados da Pnad/IBGE (2013). Elaboração do autor.

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

28,1% 33,5% 10,6% 10,1% 11,8% 18,2% 24,6% 14,1% 13,5% 16,5% 53,7% 41,9% 75,3% 76,5% 71,7%

Menor que 1 SM 1 SM Maior que 1 SM

Menos de 1 SM 1 SM Maior que 1 SM até 2 SMs Maior que 2 SMs até 10 SMs Maior que 10 SMs 14,7% 16,2% 35,7% 30,3% 3,1% 37,3% 24,0% 26,5% 11,6% 0,6% Urbano Rural

136 As diferenças também são expressivas entre os sexos, em desfavor do feminino, de modo que o percentual de mulheres situadas nas faixas de valor mais baixas era bem superior ao dos homens. Em 2013, enquanto 19,8% delas recebiam um salário mínimo, para os homens esse percentual era de 14,9%. Esse diferencial entre os sexos era ainda maior na faixa de rendimento abaixo de um salário mínimo, onde a proporção de mulheres era quase o dobro da de homens, os quais estavam situados em maior proporção que as mulheres nas faixas mais elevadas de rendimento, expressando acentuada desigualdade de renda entre os sexos (ver gráfico 3.3).

Gráfico 3.3

Percentual de pessoas por faixa de rendimento mensal de todas as fontes, segundo o sexo – Brasil – 2013

Nota: não considerou as pessoas que não declararam renda e as sem rendimento. Considera somente pessoas de 10 anos ou mais.

Fonte: Microdados da Pnad/IBGE (2013). Elaboração do autor.

A desigualdade de renda também é marcante segundo o critério de cor ou raça. Em 2013, agrupando em “negros” as populações das cores preta e parda da Pnad/IBGE, observa-se, a partir do gráfico 3.4, que a proporção desse grupo nas faixas de rendimento de até um salário mínimo era bem maior que a de brancos, os quais atingiam percentual bem superior ao dos negros nas duas faixas de maiores rendimentos.

Menos de 1 SM 1 SM Maior que 1 SM até 2 SMs Maior que 2 SMs até 10 SMs Maior que 10 SMs 12,3% 14,9% 35,1% 34,1% 3,6% 24,0% 19,8% 33,6% 20,9% 1,7% masculino feminino

137

Gráfico 3.4

Percentual de pessoas por faixa de rendimento mensal de todas as fontes, segundo o critério de cor ou raça – Brasil – 2013

Nota: não considerou as pessoas que não declararam renda e aquelas sem rendimento. Considera somente pessoas de 10 anos ou mais. As populações preta e parda da Pnad/IBGE foram agrupadas em um só conjunto: negros.

Fonte: Microdados da Pnad/IBGE (2013). Elaboração do autor.

Concernente à escolaridade, em 2013, verificou-se que, entre as pessoas de 25 anos ou mais, 73,1% daquelas que recebiam salário mínimo não tinham instrução ou possuíam apenas o curso fundamental incompleto, ao passo que esse percentual era de 44,5% para a média brasileira e apenas 5,3% para as pessoas situadas na faixa de renda superior a dez salários mínimos. Além disso, enquanto nesta última faixa de renda 71,8% tinham curso superior completo, entre os que recebiam salário mínimo esse percentual alcançava ínfimos 1,7%, sendo que a média brasileira era de 13,2% das pessoas com curso superior completo (ver tabela 3.3). Dessa maneira, observa-se a estreita relação direta entre níveis de renda e educacionais. Menos de 1 SM 1 SM Maior que 1 SM até 2 SMs Maior que 2 SMs até 10 SMs Maior que 10 SMs 11,5% 14,9% 33,6% 35,6% 4,5% 23,9% 19,5% 35,2% 20,4% 1,0% Brancos Negros

138

Tabela 3.3

Percentual de pessoas de 25 anos ou mais, for faixa de rendimento de todas as fontes, segundo o nível de instrução mais elevado alcançado – Brasil - 2013

Nota: não considerou as pessoas que não declararam renda e aquelas sem rendimento. Excluiu-se também do cômputo as pessoas classificadas na categoria “nível de instrução indeterminado”.

Fonte: Microdados da Pnad/IBGE (2013). Elaboração do autor.

Considerando agora apenas as pessoas com rendimento do “trabalho”, as quais somaram 86,5 milhões em 2013, verifica-se, a partir da tabela 3.4, que 10,9%, ou seja, 9,4 milhões de trabalhadores, tiveram rendimento igual a um salário mínimo. Entre estes, em termos proporcionais, destacaram-se os trabalhadores domésticos com carteira de trabalho assinada, haja vista que 34,1% desse conjunto tiveram rendimento do trabalho igual ao “mínimo”. A partir da tabela 3.4, observa-se também que 17,3% (15 milhões de trabalhadores) ganharam menos do que um salário mínimo, onde se sobressaíram os trabalhadores por conta própria, os trabalhadores domésticos sem carteira assinada e outros empregados sem carteira assinada. Ressalta-se que nesses 15 milhões não estão incluídos nem mesmo os trabalhadores na produção para o próprio consumo, nem os trabalhadores na construção para o próprio uso, os quais, juntos, segundo a Pnad/IBGE 2013, somaram 4,3 milhões de pessoas, o que demonstra que o salário mínimo ainda não vigorava na prática para vultosa parcela dos trabalhadores do país. Interessante notar também que, entre aqueles recebedores de um salário mínimo, havia um grande número de trabalhadores sem carteira assinada (pelo menos 2,4 milhões de pessoas, sem falar nos trabalhadores por conta própria), denotando a sua importância como referência também para o setor informal (efeito-farol).

Ainda a respeito da tabela 3.4, entre os trabalhadores que recebiam mais de um salário mínimo em 2013, destacaram-se empresários, funcionários públicos, militares e

1 SM Média Brasil Mais de 10 SMs

Sem instrução 30,4% 12,6% 0,9%

Fundamental incompleto ou equivalente 42,7% 31,9% 4,4%

Fundamental completo ou equivalente 7,7% 9,8% 2,6%

Médio incompleto ou equivalente 2,6% 3,8% 0,8%

Médio completo ou equivalente 13,9% 25,2% 14,5%

Superior incompleto ou equivalente 1,1% 3,5% 4,9%

Superior completo 1,7% 13,2% 71,8%

139 outros empregados com carteira assinada. Por outro lado, apenas um quarto dos trabalhadores domésticos sem carteira assinada e cerca da metade dos outros empregados sem carteira assinada recebiam mais de um salário mínimo (exclusive trabalhadores por conta própria).

Tabela 3.4

Pessoas com rendimento mensal de todos os trabalhos, por faixa de renda, segundo a posição na ocupação no trabalho principal, Brasil – 2013

Nota: não considerou as pessoas que não declararam renda do trabalho e aquelas sem rendimento. Considerou apenas pessoas com dez anos ou mais.

Fonte: Microdados da Pnad/IBGE (2013). Elaboração do autor.

Finalizando a breve caracterização das pessoas que recebem salário mínimo, a partir do gráfico 3.5, percebe-se que, à medida que se elevam os rendimentos do trabalho, aumenta também a proporção de trabalhadores contribuintes da previdência. Entre os que recebem salário mínimo, 28,1% não são contribuintes da previdência, percentual que atinge 89,2% na faixa de renda menor que um salário mínimo, informando que os

total Número de pessoas (%) Número de pessoas (%) Número de pessoas (%) Número de pessoas Empregado com carteira de

trabalho assinada 517.954 1,4% 4.503.544 12,1% 32.096.623 86,5% 37.118.121 Militar 18.592 5,7% 25.825 7,9% 284.341 86,5% 328.758 Funcionário público estatutário 53.293 0,8% 667.490 10,2% 5.838.264 89,0% 6.559.047 Outro empregado sem carteira

de trabalho assinada 4.841.284 34,9% 1.977.067 14,3% 7.039.972 50,8% 13.858.323 Trabalhador doméstico com

carteira de trabalho assinada 85.267 4,1% 709.790 34,1% 1.286.876 61,8% 2.081.933 Trabalhador doméstico sem

carteira de trabalho assinada 2.694.622 63,2% 472.140 11,1% 1.095.974 25,7% 4.262.736 Conta própria 6.674.196 35,2% 999.595 5,3% 11.296.845 59,5% 18.970.636 Empregador 90.998 2,7% 70.151 2,1% 3.202.945 95,2% 3.364.094 Total 14.976.206 17,3% 9.425.602 10,9% 62.141.840 71,8% 86.543.648

Menos de 1 SM 1 SM Maior que 1 SM

Posição na ocupação no trabalho principal

140 trabalhadores de mais baixa renda, além de parca remuneração, em sua grande maioria também não dispõem de proteção previdenciária.

Gráfico 3.5

Percentual de pessoas por faixa de rendimento de todos os trabalhos, segundo a situação de contribuinte ou não da previdência, Brasil – 2013

Nota: não considerou as pessoas que não declararam renda do trabalho e aquelas sem rendimento. Fonte: Microdados da Pnad/IBGE (2013). Elaboração do autor.

3.1.2. DOMICÍLIOS CUJAS FAMÍLIAS VIVEM COM O SALÁRIO MÍNIMO NO