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A Petrobras e a quebra do monopólio estatal do petróleo

ANEXO 9 – Questionários setor de petróleo e gás

2.1.2. A Petrobras e a quebra do monopólio estatal do petróleo

A quebra35 do monopólio estatal do petróleo teve como pano de fundo a

reestruturação produtiva do capital que se desenvolvia intensamente no país, num contexto neoliberal, a partir dos anos 1990. A Petrobras, que sob o controle acionário da União, tinha como função exercer o monopólio das atividades de exploração, produção, refino e transporte de petróleo e derivados, nesse contexto se torna uma empresa, que em relação às atividades

34 “A PETROBRAS foi instituída em 12 de março de 1954, na 82ª Sessão Extraordinária do CNP, e reconhecida

pelo governo federal pelo Decreto nº 35.308 de 2 de abril de 1954”. (PERISSÉ et al., 2007 apud MORAIS, 2013).

35 “A efetiva quebra do monopólio deu-se com a realização, pela ANP, em junho de 1999, da primeira rodada de

licitação de blocos para a contratação das atividades de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural. Nessa rodada, foram licitados 27 blocos, representando 2% da área das bacias sedimentares brasileiras, dos quais 12 foram concedidos. Caso as empresas concedentes tenham sucesso nos levantamentos iniciais, passando aos períodos exploratórios subsequentes em todos os blocos, serão alcançados 57 poços exploratórios, sendo perfurados em até nove anos.” (PETROQUIMICA.COM.BR. <http://www.petroquimica.com.br/edicoes/ed _231/ed_231c.html>).

econômicas, disputará em caráter de livre competição com outras empresas e em função das condições de mercado, dessa forma possibilitando a abertura do setor à iniciativa privada. Isso ocorreu na última década do século XX, mais precisamente teve início com a Emenda Constitucional nº 9, de 1995 que deu “nova redação ao art. 177 da Constituição Federal, alterando e inserindo parágrafos” (PLANALTO.GOV.BR, 1995). O art. 1º da Emenda Constitucional modifica o § 1º do artigo 177 da Constituição Federal e ganha nova redação: “A União poderá contratar com empresas estatais ou privadas a realização das atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo observadas as condições estabelecidas em lei.” (PLANALTO.GOV.BR, 1995). Além disso, a emenda em seu art. 2º incluiu novo parágrafo a ser enumerado como § 2º com seguinte a redação: “A lei a que se refere o § 1º disporá sobre: I – a garantia do fornecimento dos derivados de petróleo em todo o território nacional; II – as condições de contratação; III – a estrutura e atribuições do órgão regulador do monopólio da União”. (PLANALTO.GOV.BR, 1995). Embora o domínio das reservas tenha permanecido com a União, a referida Emenda Constitucional permitiu que outras empresas, sejam elas brasileiras ou estrangeiras, pudessem ter participação nas atividades relativas ao setor.

A Lei nº 9478/199736, também chamada de Lei do Petróleo foi efetivamente a

responsável pela regulação e abertura do setor à iniciativa privada, que entre outras medidas criou a Agência Nacional de Petróleo – ANP. Além disso, a lei estabeleceu que uma das finalidades da agência (ANP) se referia ao estímulo à pesquisas em relação ao desenvolvimento de novas tecnologias na exploração, produção, transporte, refino e processamento na indústria de P&G. (PLANALTO.GOV.BR.). Assim, a Agência Nacional de Petróleo – ANP, assumiu as atividades do Departamento Nacional do Petróleo – DNP, o qual em 1990, havia substituído o Conselho Nacional do Petróleo – CNP. A nova legislação permitiu à União, licitar os direitos de exploração e produção através de contratos de concessão. (SINAVAL.ORG.BR, 2015). E “a Petrobras teve garantidas as áreas em que havia realizado investimentos, desde que comprovasse capacidade financeira para desenvolvê-las”. (SINAVAL.ORG.BR, 2015). Porém, muito embora a Emenda Constitucional nº 9, de 1995 “previsse a “contratação” de empresas, a Lei de FHC fixou a entrega do patrimônio público mediante concessões”. Essas concessões, por sua vez, permitiram e ainda permitem a comercialização entre os parceiros, “e mesmo para empresas internacionais não participantes dos leilões originais, operam sob o regime da Lei de FHC um verdadeiro milagre jurídico” (RODRIGUES, acesso 24/10/2016), qual seja, “o

36 Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997. Dispõe sobre a política energética nacional, as atividades relativas ao

monopólio do petróleo, institui o Conselho Nacional de Política Energética e a Agência Nacional do Petróleo e dá outras providências. (PLANALTO.GOV.BR. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9478.htm>).

petróleo e o gás natural, enquanto no subsolo, são patrimônios da União; porém, uma vez extraídos, passam a ser propriedade do concessionário”. (LESSA, 2006, apud RODRIGUES, acesso 24/10/2016). Sendo que estes podem exportá-lo livremente, inclusive com a aprovação da agência reguladora. Com a queda do monopólio estatal do petróleo, em 1997, Morais (2013) salienta que a competição com outras petroleiras privadas, resultante da quebra do monopólio, fez com que a Petrobras retomasse o “processo de contratação de pessoal técnico (efetivado a partir de 2000), que se encontrava suspenso desde 1990”. (MORAIS, 2013). Ainda segundo o autor, os convênios com as universidades UFBA, UFOP, UFRS e UNICAMP foram encerrados e “a matrícula dos alunos passou a ser realizada nos cursos existentes nas universidades em vez de cursos exclusivos para a Petrobras”. (MORAIS, 2013).

Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP), o processo que culminou com a quebra do monopólio estatal do petróleo começou muito antes da aprovação da Emenda Constitucional nº 9, de 1995, que aconteceu durante o governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso. (FUP, 2002). Esse processo começou ainda em 1990 durante o governo Collor e se deu em duas frentes: uma delas que resultaria na fragmentação da Petrobras em quarenta unidades de negócios e nesse período que antecedeu à sua restruturação houve grandes “investimentos em cursos preparatórios para a adoção de novas técnicas gerenciais baseada nos CCQ’s37, popularizadas na empresa como Programa de Qualidade Total”. (FUP, 2002); a outra

diz respeito à utilização de programas de incentivo à aposentadoria e às saídas voluntárias, além de um agressivo programa de terceirização. (FUP, 2002). Segundo a entidade,

A substituição do efetivo próprio de trabalhadores por terceiros foi desmedida e sem critérios, com impacto na qualidade e segurança dos serviços. O contingente de trabalhadores da empresa se reduziu de 62 mil trabalhadores diretos em 1990, para 30 mil em 2002; enquanto os trabalhadores terceirizados e quarteirizados já somam mais de 80 mil. (FUP, 2002).

Juntamente com o programa de terceirização, também foram implementadas diretrizes de impactos, voltadas à redução dos custos. Dessa forma, o “modelo fragmentado permite a transformação de qualquer unidade em subsidiária, que sob as regras da atual legislação, pode ser privatizada sem resistência”. (FUP, 2002). Assim, “sob os discursos da necessidade de investimentos e da concorrência para reduzir os preços dos derivados, abriu-se o mercado brasileiro”. (FUP, 2002).