• Nenhum resultado encontrado

3 ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E DESLIGAMENTO NA MAIORIDADE:

3.4 Conclusões parciais e possíveis hipóteses

3.4.2 PIA e ações voltadas à preparação para o desligamento

O ingresso da criança ou do adolescente no serviço de acolhimento apresenta duas etapas fundamentais: a decisão de acolher e a instrução do processo de acolhimento.

A decisão de acolher é precedida de relatório situacional que deve trazer as articulações desencadeadas pelo sistema de garantias de direitos e informações que subsidiaram a decisão de acolher. Tomada a decisão de acolher, inicia-se a fase procedimental do acolhimento na qual se estabelece a garantia do contraditório e da ampla defesa, bem como são delineadas as atribuições, pactuadas as ações e estabelecidas as obrigações de cada integrante da rede de proteção.

Formalizado o acolhimento com a decisão judicial e a expedição da guia de acolhimento, a equipe técnica do programa de acolhimento deve elaborar o Plano Individual de Atendimento.

Este Plano, como concebido no Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), tem a finalidade de conduzir as ações do serviço de acolhimento na execução da medida de proteção e assegurar que o trabalho ocorra de forma ordenada e planejada, com reavaliação continuada das ações.

Nos termos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 101, § 5°), do Plano Individual de Atendimento deverão constar: os resultados da avaliação interdisciplinar; os compromissos assumidos pelos pais ou responsáveis e a previsão das atividades a serem desenvolvidas com os acolhidos e seus pais ou responsáveis, com vista à reintegração familiar, e, se vedadas por decisão judicial, as providências tomadas para colocação e família substituta.

O Plano Individual de Atendimento tem como eixos norteadores a oferta de cuidados de qualidade e proteção ao desenvolvimento e direitos da criança e do adolescente no período de acolhimento; fortalecimento dos vínculos e convívio saudável com a família de origem; preservação da convivência comunitária; preparação para o desligamento e acompanhamento após o desligamento (BRASIL, 2009).

município da cidade de Palmas/TO elaboraram os Planos Individuais de Atendimento das acolhidas Jade e Ametista, por meio de suas equipes técnicas.

No município de Porto Nacional/TO, o programa de acolhimento municipal elaborou o Plano, da acolhida Esmeralda. Nos autos da carta precatória das adolescentes Pérola e Ágata, acolhidas no Lar Batita Soren, não havia indicação de ter o serviço de acolhimento elaborado o Plano, mas constavam nos autos vários relatórios situacionais elaborados pela equipe técnica da instituição e avaliação do GGEM, realizados nas audiências concentradas.

Apesar de o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) trazer a obrigatoriedade das instituições que desenvolvem programas de acolhimento, não fixa prazo para a apresentação. Os processos analisados apontam a necessidade de que os atores envolvidos pactuem um prazo para a apresentação do Plano Individual de Atendimento e submissão à homologação do Poder Judiciário. A ausência deste Plano, ou o retardo na sua elaboração, obstaculiza o detalhamento do contexto do acolhimento e das especificidades da criança e do adolescente acolhido; impede o acompanhamento e a fiscalização das ações do serviço de acolhimento; e potencializa a desarticulação da rede de atendimento, situação que viola a proteção integral.

O Plano Individual de Atendimento deve conter objetivos, estratégias e ações que garantam o alcance de seus eixos norteadores. Dois dos eixos norteadores trazem relação direta com a presente pesquisa: preparação para o desligamento e acompanhamento após desligamento (BRASIL, 2009).

Na situação de desligamento na maioridade, como pontuado neste capítulo, o Plano deve trazer ações que priorizem autonomia num sentido global, preparando para a vida adulta e a construção de um projeto de vida, qualificação profissional e ações voltadas ao desenvolvimento e fortalecimento de vínculos comunitários (BRASIL, 2009, p. 42).

Nesse sentido, buscou-se verificar ser o Plano contempla ações voltadas à preparação para o desligamento. E, em caso afirmativo, quais seriam essas ações.

A ausência de Plano Individual de Atendimento das adolescentes Pérola e Ágata, acolhidas no Lar Batista Soren, inviabiliza a busca de informações. Das demais acolhidas – Esmeralda, Jade e Ametista, os Planos contemplavam ações de preparação para o desligamento com prioridade à qualificação profissional. Apenas o Plano de Ametista trazia ações com vista ao fortalecimento de vínculos afetivos

com pessoas da comunidade. Jade foi desligada por maioridade, sem que tenham sido previstas no Plano as ações voltadas para o acompanhamento após o desligamento.

Nos processos analisados não constam relatórios circunstanciados elaborados pelas equipes dos programas de acolhimento institucional relativos às ações concretizadas à implementação do Plano Individual de Atendimento, relativo às ações de preparação para o desligamento. Apenas no processo de Ametista existe informação de sua inserção em curso profissionalizante, mas não há informações relacionadas às ações tomadas com a finalidade de efetivar as propostas de autonomia social e política.

Os relatórios circunstanciados são instrumentos de registro juntados aos autos do processo da medida de acolhimento os quais dão conhecimento das intervenções, ações e resultados alcançados, com a execução do Plano. Têm considerável importância da execução da medida de proteção de acolhimento por permitir o acompanhamento, contextualizar a execução do Plano e subsidiar a reavaliação da medida.

A ausência dos relatórios circunstanciados dos adolescentes, em vias de desligamento por aproximação da maioridade, centraliza as ações de preparação no desligamento no programa de acolhimento, violando o princípio da incompletude institucional; inviabiliza a fiscalização e acompanhamento das ações do serviço de acolhimento pelo Sistema de Garantia de Direitos; bem como suprime a possibilidade de reavaliação das ações por outros atores envolvidos na execução da medida de proteção de acolhimento.