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CAPÍTULO 1 O PIBID COMO POLÍTICA PÚBLICA DE FORMAÇÃO DOCENTE

1.2 PIBID: que política pública é essa?

Ao elaborar uma política pública para determinado setor da sociedade, é averiguado qual o motivo para que esse projeto seja implementado. No caso da educação no Brasil, nas primeiras décadas do século XXI, foram implementados programas que funcionaram como políticas públicas. Para compreender o contexto do PIBID, é necessário trazer o conceito do que seja política pública. Para Caldas, Lopes e Amaral (2008, p. 5),

[...] as Políticas Públicas são a totalidade de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público. É certo que as ações que os dirigentes públicos (os governantes ou os tomadores de decisões) selecionam (suas prioridades) são aquelas que eles entendem serem as demandas ou expectativas da sociedade.

As políticas públicas podem ser pensadas e colocadas em ação a partir das diferentes esferas de governo, em que o que é posto em cheque são as carências que assolam uma sociedade. Assim, os projetos que compõem as políticas públicas devem ser elaborados por pessoas que entendem do assunto específico de que se trata determinado tema.

Para Souza (2006, p. 26), as políticas públicas se configuram como

[...] o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável dependente). A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações que produzirão resultados ou mudanças no mundo real.

As políticas públicas são medidas colocadas pelos governantes, de forma que essas ações demandam um trabalho de pensar a sociedade e implementar serviços que beneficiem o cidadão. Espera-se das políticas públicas mudanças em realidades que possuem problemas, muitas vezes, advindos de fatos históricos, como as mazelas deixadas pelas colônias, percebidas em racismos e privilégios de classes.

Oliveira (2010, p. 4) traz a diferença de uma política pública e a política educacional, ao abordar:

Se “políticas públicas” é tudo aquilo que um governo faz ou deixa de fazer, políticas públicas educacionais é tudo aquilo que um governo faz ou deixa de fazer em educação. Porém, educação é um conceito muito amplo para se tratar das políticas educacionais. Isso quer dizer que políticas educacionais é um foco mais específico do tratamento da educação, que em geral se aplica às questões escolares. Em outras

palavras, pode-se dizer que políticas públicas educacionais dizem respeito à educação escolar.

As políticas públicas estão inseridas nas mais diversas áreas que integram um setor de uma sociedade, podem ser criadas e postas em práticas visando medidas no campo da saúde, como foi o caso do “Mais Médicos”, no Brasil; na educação, como o caso do PIBID; na divisão de renda, como o Bolsa Família, dentre outros segmentos.

Existem diversas lacunas envolvendo a educação brasileira que necessitam ser preenchidas, a saber: analfabetismo, evasão escolar, criminalidade no espaço escolar, entre outros. A educação é necessária para, até mesmo, alimentar outros setores da sociedade. Dentre as lacunas inevitáveis para o desenvolvimento educacional, tem-se a formação de professores, e é possível afirmar que:

A preocupação com a formação de professores se constitui em um dos eixos da política educacional desencadeada pelo estado brasileiro nos últimos anos, vista como peça “chave” no discurso de melhoria da qualidade educacional, mesmo considerando ser este um terreno marcado por idas e vindas, recuos, contradições, consensos, dissensos, mas também por alguns avanços, com a expansão de políticas voltadas para a educação e, em especial, para o ensino superior. (PEREIRA FILHA, 2017, p. 80).

A formação de professores é o momento da licenciatura em que a pessoa que se submete a essa modalidade de curso percebe se possuirá gosto pela sala de aula, já que nem sempre os estudantes da licenciatura estão ali com o intuito de seguir carreira docente. As políticas educacionais voltadas para o incentivo na formação de professores podem ser percebidas no PIBID, pois ainda que o programa não seja um fator decisivo para a motivação ao magistério, o seu principal objetivo é o estímulo para a profissão professor.

O PIBID foi criado no ano de 2007, como uma política pública voltada para a formação de professores de dimensão nacional no Brasil. O programa foi condicionado à responsabilidade para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A partir da regulamentação atualizada do PIBID pelo decreto de lei 7.692 de 2013, é possível identificar os objetivos do programa na seção 2, artigo 4º, sendo eles:

I – Incentivar a formação docente em nível superior para a educação básica; II - Contribuir para a valorização do magistério;

III - elevar a qualidade da formação inicial de professores nos cursos de licenciatura; promovendo a integração entre educação superior e educação básica;

IV - Inserir os licenciados no cotidiano de escolas da rede pública de educação, proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar que busquem a superação de problemas identificados no processo de ensino- aprendizagem;

V - Incentivar escolas públicas de educação básica, mobilizando seus professores como coformadores dos futuros docentes e tornando-as protagonistas nos processos de formação inicial para o magistério; e

VI - Contribuir para a articulação entre teoria e prática necessárias à formação dos docentes, elevando a qualidade das ações acadêmicas nos cursos de licenciatura; VII – Contribuir para que os estudantes de licenciatura se insiram na cultura escolar do magistério, por meio da apropriação e da reflexão sobre instrumentos, saberes e peculiaridades do trabalho docente. (BRASIL, 2013, s/p).

A partir dos objetivos detalhados acima, percebe-se um esforço do PIBID em relação à capacitação da formação do professor brasileiro, proporcionando que o acadêmico da licenciatura vivencie o espaço escolar. Para que se cumpram tais objetivos, o programa foi pautado em metodologias apresentadas na figura 1.

Figura 1 – Organização Metodológica do PIBID

Fonte: Relatório de Gestão (BRASIL, 2013).

Conforme a figura 1, as metodologias expressas no relatório da Diretoria de Educação Básica Presencial (DEB), no que tange à composição “Contexto e Vivência Conhecimentos teórico-práticos”, o Programa assume a responsabilidade de proporcionar que o acadêmico experiencie o espaço escolar atuando em sala de aula, observando o cotidiano escolar e elaborando intervenções para trabalhar junto à escola no que estiver ao seu alcance. Nesse sentido, a teoria aprendida nos bancos da universidade terá a possibilidade de ser posta em prática pelo licenciando nas escolas de atuação dos subprojetos, promovendo a união entre o teórico e o prático (BRASIL, 2013).

Com relação aos “Saberes Prévios sobre a docência”, o Programa oportuniza ao acadêmico colocar os conhecimentos adquiridos em ação e aprender como ministrar conteúdos ainda não vistos nas salas da academia, pois os estudantes da licenciatura, ao estarem

preparando intervenções significativas para educandos do ensino básico, têm a chance de adquirir novos conhecimentos em conteúdos (BRASIL, 2013).

A “Representação Social” é trabalhada de forma que os licenciandos tenham consciência de que as escolas brasileiras recebem discentes de diversas classes sociais, podendo ser observada no ambiente escolar a desigualdade social que perpassa a nação brasileira e, além disso, apreender que o professor é um profissional que lida com o desenvolvimento social, sendo preciso se sensibilizar com questões pertinentes a esses assuntos (BRASIL, 2013).

Os “Saberes da Pesquisa e a Experiência Acadêmica da Formação de Professores” colocam os acadêmicos para levantarem pesquisas no ambiente escolar em que estão atuando, preparando para a formação de professores pesquisadores. Essa metodologia empregada no Programa torna-se importante por desenvolver o olhar de pesquisadores dos licenciandos, podendo, assim, esperar que os acadêmicos tenham uma percepção mais apurada do seu futuro local de trabalho, aprimorando a aptidão de resolução de problemas escolares que possam surgir ou elaborar e aplicar projetos para o desenvolvimento do ensino aprendizagem na unidade de ensino que, posteriormente, possa ser divulgado cientificamente (BRASIL, 2013).

Somando essas metodologias, o PIBID tende a colaborar para a construção de uma nova cultura educacional. Apesar de não bastar apenas um programa para que se mude a depreciação quando o assunto é docência, deve-se reconhecer que a ideia do Programa se esforçou para trazer benefícios e alavancar a formação de professores no país, contribuindo para que rompa barreiras que impedem o desenvolvimento educacional da nação. Sendo assim, essa nova cultura educacional tornaria a licenciatura mais atrativa.

Para que o PIBID aconteça, o programa concede algumas modalidades de bolsas para os envolvidos nos subprojetos a que estão vinculados. Os participantes do Programa são apresentados na figura 2.

Figura 2 – Participantes do PIBID

Fonte: Relatório de Gestão (BRASIL, 2013).

O licenciando, conhecido popularmente no programa como pibidiano, é o bolsista de iniciação à docência que desenvolve as atividades na escola, aprimorando a sua formação docente. O valor2 da sua bolsa é de 400,00 reais mensais, devendo participar do planejamento

e aplicação de atividades diferenciadas em sala de aula ou no contraturno das aulas dos escolares. O acadêmico da licenciatura atua juntamente com o supervisor, que é o professor da educação básica atuante na área da disciplina do subprojeto. O supervisor recebe uma bolsa de 765,00 reais e deve orientar os acadêmicos no espaço escolar, elaborando, em conjunto, intervenções que façam a diferença para os educandos da educação básica. Os coordenadores de área são os professores da Instituição de Ensino Superior (IES) que coordenam os subprojetos, fazem a seleção dos acadêmicos bolsistas e repassam informes administrativos para os pibidianos e supervisores, sendo o valor da bolsa desses coordenadores de 1.400,00 reais. E, por fim, o coordenador institucional é o responsável por gerenciar todo o programa na IES que estiver coordenando, sendo o valor dessa modalidade de bolsa 1.500,00 reais (BRASIL, 2013).

O Programa fornece condições para o licenciando se familiarizar com atividades típicas da docência, pois há uma conexão entre a escola básica, universidade e a comunidade. O começo da aquisição dessa familiaridade docente nos subprojetos inicia-se quando o pibidiano no cotidiano do programa adentra em sala de aula, observa como o professor supervisor trabalha, aplica dinâmicas dos conteúdos que estão sendo trabalhados e acompanha o professor

em atividades administrativas, para que se possa, por exemplo, aprender a manusear o diário de classe, elaborar avaliações e o planejamento anual de aulas, observar o conselho de classe, reuniões com pais e reuniões pedagógicas. Além disso, o acadêmico participa de atividades que envolvem toda a comunidade escolar, como feira de ciências, dentre outros eventos da unidade de ensino.

No que se refere à tríade escola, universidade e comunidade, o PIBID entra como um programa que abrange os três pilares da universidade, sendo eles o ensino, a pesquisa e a extensão. O ensino, pelo fato de ter como principal foco a docência; a pesquisa, por incentivar a produção científica das práticas que são desenvolvidas no cotidiano do Programa; a extensão, porque vai para além dos muros da universidade, envolvendo cidadãos que, nesse caso, são os discentes da escola básica.