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1.3 OBJETIVOS

2.1.3 Pilar Econômico da Sustentabilidade

Ao tratar do pilar econômico, as considerações essenciais precisam adicionar a sustentabilidade de longo prazo dos custos da empresa, da demanda pelos seus produtos e serviços, de seus preços e margens de lucro, de seus programas de inovação e de seus ecossistemas de negócios (ELKINGTON, 2001).

O conceito de sustentabilidade com base na dimensão econômica considera o mundo referente aos aspectos de estoque e fluxo de capital. Todavia, essa visão não se restringe ao capital monetário ou econômico, mas está aberta a considerar outros tipos de capitais, como o ambiental ou natural, capital humano e capital social, abrangendo, além da economia

ambiental e questões gerenciais de cunho ambiental, o desenvolvimento da economia e da sociedade (ROGERS; JALAL; BOYD, 2008).

Para Sachs (1993), o pilar econômico da sustentabilidade é possibilitado por uma alocação e gestão mais eficiente dos recursos e por um fluxo regular do investimento público e privado. A eficiência econômica deve ser avaliada mais em termos macrossociais do que apenas por critérios de lucratividade microempresariais. Assim, considera-se o impacto do fluxo monetário existente entre empresas, governo e população.

“A sustentabilidade econômica comporta diversificação das atividades produtivas, desenvolvimento econômico intersetorial equilibrado, segurança alimentar, contínua atualização dos instrumentos de produção e acesso à ciência e à tecnologia” (MARTINS; OLIVEIRA, 2005, p. 17). Uma condição relevante para a sustentabilidade econômica é a superação das diferenças encontradas entre as regiões, fazendo-se necessário uma aliança em prol do co-desenvolvimento baseado na igualdade, assim como no controle institucional efetivo do sistema financeiro internacional e na evolução das políticas e das instituições internacionais de proteção ao meio ambiente (MARTINS; OLIVEIRA, 2005).

Os resultados econômicos das empresas estão cada vez mais dependentes das decisões corporativas que considerem os seguintes aspectos: (i) não há conflito entre lucratividade e a questão ambiental; (ii) o movimento ambientalista cresce em escala mundial; (iii) clientes e comunidade em geral passam a valorizar cada vez mais a proteção do meio ambiente; e (iv) a demanda e o faturamento das empresas estão cada vez mais pressionados e diretamente dependentes do comportamento de consumidores que priorizam produtos e organizações ecologicamente corretos (TACHIZAWA, 2008). A nova realidade econômica empresarial se caracteriza por uma postura rígida por parte dos clientes, direcionada à expectativa de negociar com organizações éticas, com boa imagem institucional no mercado, e que atuem de forma ecologicamente responsável (TACHIZAWA, 2008).

Para Mahler (2007), os valores centrais da dimensão econômica da sustentabilidade são: (i) a promoção de lucro; (ii) criação de empregos; (iii) atração de cliente; (iv) redução de custos; (v) antecipação e gerenciamento de riscos de longo prazo; e (vi) fomentação da competitividade de longo prazo. A dimensão econômica, apesar dos avanços da economia ecológica, ainda se pauta nas avaliações da capacidade produtiva, manutenção de fluxos de produtos ao longo do tempo, perdas e ganhos, entre outros indicadores (AMADOR, 2007).

O meio empresarial exerce grande importância na dimensão econômica da sustentabilidade, pois cria empregos e renda, oferece habilidades técnicas e gerenciais para seus colaboradores, e com seus lucros estimula o crescimento econômico, tendo em vista que

milhões de pessoas se beneficiam do mesmo (LEISINGER, 2007). A transformação e a influência ecológica no mundo corporativo são percebidas de forma crescente e com efeitos econômicos cada vez mais profundos. As organizações que optarem por decisões estratégicas que considerem a questão ambiental e ecológica conseguirão significativas vantagens competitivas, assim como poderão usufruir da redução de custos e incremento nos lucros a médio e longo prazos (TACHIZAWA, 2008).

Visando demonstrar os impactos econômicos decorrentes da gestão insustentável dos ecossistemas, Almeida (2007) cita os seguintes exemplos:

(i) Na região de Newfoundland, Canadá, dezenas de milhares de pessoas perderam seus empregos e foram gastos US$ 2 milhões com o pagamento de seguro-desemprego e treinamento para alocação da mão de obra quando o bacalhau desapareceu durante os anos 90;

(ii) Perdas anuais devidas a eventos extremos, como enchentes, incêndios, tempestades, secas e terremotos, foram multiplicadas por um fator de 10 desde o século passado, chegando aos US$ 70 bilhões em 2003 (ALMEIDA, 2007).

As grandes mudanças nos ecossistemas, que são a base da sobrevivência humana, estão levando a crescentes mudanças no comportamento de diversos atores dos setores público e privado, e da sociedade civil. As regulamentações por parte dos governos e a pressão dos stakeholders (acionistas, ONGs, clientes, entre outros grupos de interesse) sobre as empresas vem aumentando (RIBEIRO; GASPARINO, 2006). A tendência é que esse quadro se torne ainda mais complexo, à medida que diferentes grupos de interesse percebam a gravidade da situação. Empresas líderes estão saindo na frente ao buscar o estabelecimento de parâmetros de mercado em outro patamar, além do fortalecimento de sua marca, a exploração de oportunidades e o acúmulo de vantagens competitivas. As seguradoras, por exemplo, já estão considerando nas apólices os crescentes riscos referentes à quebra parcial ou total de uma empresa, associada à degradação ambiental (ALMEIDA, 2007).

A sustentabilidade, com foco no meio empresarial, oferece diversas oportunidades de novos negócios que conciliam a viabilidade econômica com ganhos nas áreas ambiental e social. A preocupação com o meio ambiente e outras medidas responsáveis, como a responsabilidade social corporativa e práticas de governança corporativa, estão fomentando a demanda por produtos e serviços que se enquadrem nesse nicho dentro do mercado financeiro (REZENDE; SANTOS, 2006). A adesão das empresas à sustentabilidade fez com que o

mercado financeiro, através das instituições financeiras, introduzisse mudanças institucionais ligadas à aderência das empresas a projetos de cunho social.

Uma das principais iniciativas do setor financeiro voltada ao desenvolvimento sustentável foi a criação, em 2003, dos Princípios do Equador. Tais princípios foram desenvolvidos por dez dos maiores bancos no financiamento internacional de projetos em parceria com o IFC (International Finance Corporation). Ao adotar esses princípios, as instituições buscam garantir que os projetos que serão financiados sejam desenvolvidos de forma socialmente responsável e reflitam as práticas de gestão ambiental, facilitando o gerenciamento de riscos relacionados a questões ambientais e sociais dos projetos (EQUATOR PRINCIPLES, 2006).

Os princípios se aplicam globalmente a todos os novos financiamentos de projetos, de todos os segmentos industriais, com custos de capital de US$ 10 milhões ou mais. As instituições signatárias dos Princípios concederão empréstimos somente para os projetos que cumprirem os Princípios de 1 a 9, sendo esses separados nas seguintes categorias (i) análise e categorização; (ii) avaliação socioambiental; (iii) padrões sociais e ambientais aplicáveis; (iv) plano de ação e sistema de gestão; (v) consulta e divulgação; (vi) mecanismo de reclamação; (vii) análise independente; (viii) compromissos contratuais; e (ix) monitoramento independente e divulgação de informações (EQUATOR PRINCIPLES, 2006).

A preocupação ambiental está inserida em diferentes áreas de estudo da Economia, já que o meio ambiente é fonte de matérias-primas e energia, local de despejo dos rejeitos das atividades produtivas e contribui expressivamente para o bem-estar dos seres humanos. A abundância de capital natural pode ser uma das razões que levaram os economistas a não dar tanta atenção às questões ambientais em épocas anteriores. Todavia, nas últimas três décadas, pode-se observar que os recursos naturais começaram a se tornar escassos: o ar, antes puro, está se tornando cada vez mais poluído; a água potável, menos disponível; os solos, mais degradados; espécies da fauna e da flora, em rápida extinção; os minerais estão mais difíceis de serem extraídos; e a biodiversidade sendo perdida. Sendo assim, é perceptível que os danos provados à natureza estão acompanhando o ritmo do crescimento econômico (COLTRO; KRUGLIANSKAS, 2006).

No Quadro 3 é retratado um resumo dos principais conceitos relacionados ao conteúdo que contempla o referencial bibliográfico do pilar econômico da sustentabilidade.

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ico

da

Sustentabilidade

Refere-se ao capital monetário ou econômico, mas está aberto a considerar outros tipos de capitais, como o ambiental e o social, abrangendo, além da economia ambiental e questões gerenciais de cunho ambiental, o desenvolvimento da economia e da sociedade.

ROGERS; JALAL; BOYD (2008) Deve ser avaliado mais em termos macrossociais do que apenas por critérios de

lucratividade microempresariais. Assim, considera-se o impacto do fluxo monetário existente entre empresas, governo e população.

SACHS (1993) Os valores centrais deste pilar são: (i) a promoção de lucro; (ii) criação de

empregos; (iii) atração de cliente; (iv) redução de custos; (v) antecipação e gerenciamento de riscos de longo prazo; e (vi) fomentação da competitividade de longo prazo.

MAHLER (2007) O meio empresarial exerce grande importância na dimensão econômica da

sustentabilidade, pois cria empregos e renda, oferece habilidades técnicas e gerenciais para seus colaboradores, e com seus lucros estimula o crescimento econômico, tendo em vista que milhões de pessoas se beneficiam do mesmo.

LEISINGER (2007) Quadro 3 – Principais conceitos: pilar econômico da sustentabilidade

Fonte: Elaborado pela autora.

Na próxima subseção será abordada a dimensão ambiental da sustentabilidade.

2.1.4 Pilar Ambiental da Sustentabilidade

Com a revolução industrial e o surgimento do capitalismo, a degradação ambiental que já era perceptível tornou-se um negócio lucrativo, pois a exploração gratuita da natureza, até então considerada inesgotável, era fonte de lucro para as empresas (COLTRO; KRUGLIANSKAS, 2006). A falta de capital natural, entendido como recursos naturais renováveis e não renováveis, impactará as condições em que as empresas operam, pois serão afetadas suas formas de produção, além das preferências e expectativas dos stakeholders. Em consequência, a legislação, as políticas governamentais, o bem-estar dos funcionários e a disponibilidade e o custo de financiamentos e seguros serão impactados (ALMEIDA, 2007).

A solução dos problemas ambientais ou a minimização dos mesmos exige nova postura por parte dos empresários e administradores, que devem passar a considerar o meio ambiente em suas decisões e adotar concepções administrativas e tecnológicas que contribuam para aumentar a capacidade de suporte do planeta, ou seja, espera-se que as empresas deixem de ser problemas e passem a fazer parte das soluções (BARBIERI, 2006). As empresas comerciais e industriais podem contribuir de forma crucial na redução dos efeitos socioambientais nocivos resultantes das atividades econômicas. Para isso, é necessária a implementação de processos de produção mais eficientes, estratégias preventivas, utilização de tecnologias e procedimentos de produção mais limpos ao longo do ciclo de vida dos produtos, para assim diminuir e evitar a geração de resíduos (COLTRO; KRUGLIANSKAS, 2006).