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Pilha de escória da fundição do minério de Pb, Mina de Panelas

da foto, depósito de rejeitos da foto 2.

2.5.1 CONTAMINAÇÃO DOS RIOS DA BACIA POR METAIS PESADOS

Inúmeros trabalhos foram realizados visando melhor diagnosticar a poluição por chumbo e metais associados no Vale do Ribeira.

A CETESB detecta em 1986 (EYSINK et al., 1988) concentrações de chumbo nas águas do Ribeirão do Rocha em níveis até 730 vezes superiores ao limite máximo recomendado para a

preservação da vida aquática, e teores de 2.560mg/Kg nos sedimentos da mesma drenagem, qualificando o ambiente como altamente poluído.

Em levantamento geoquímico regional de sedimentos na bacia do Ribeirão Grande, Macedo (1993) relata que foram encontrados teores superiores a 20.000mg/Kg Pb na fração de 80-150# (abertura 0,177 – 0,105mm) a até 1,5Km a jusante da Mina do Perau, nos ribeirões do Perau e Grande. Os teores diminuem até a faixa de 100mg/Kg Pb a 17Km abaixo da mina, quando voltam a apresentar pequeno aumento (até 292mg/Kg na fração < 150#) devido à contribuição de sedimentos vindos do Ribeirão Canoas, que drena a mina de mesmo nome. Novamente há abaixamento dos teores, aumentando à chegada do Ribeirão do Laranjal, que drena a mina Barrinha e trabalhos de pesquisa próximos. Os sedimentos desta drenagem têm até 36.000mg/Kg de Pb na fração < 150#. Os teores de Cu e Zn, embora menores, também refletem claramente a poluição pelas três áreas de mineração.

Ferreira (1994) estudou a contaminação por metais pesados no Ribeirão do Rocha pela atividade mineral da mina homônima. O minério, do tipo “Panelas”, extraído através de lavra subterrânea, apresenta paragênese principal formada por galena, pirita, esfalerita, calcopirita e sulfossais de Sb/As na forma de veios, encaixados em metadolomitos pertencentes ao Subgrupo Lageado (Grupo Açungui), de idade mesoproterozóica (Daitx, 1996).

O beneficiamento compreende cominuição até a fração 100# (abertura 0,149mm) e posterior concentração por flotação. Inúmeras pilhas, contendo os estéreis da lavra bem como os rejeitos do beneficiamento, foram acumuladas às imediações das galerias e da planta de concentração, quando não às margens do próprio ribeirão do Rocha, a partir da década de 90; anteriormente a esta época, os resíduos da atividade mineira eram dispostos diretamente no ribeirão e seus principais afluentes (Córrego do Fundão e Córrego Olho d’Água). Do ponto de vista técnico, a atividade extrativa nesta área, a exemplo das demais existentes em toda a província mineral, nunca foi convenientemente conduzida. Os concentrados gerados, com teores da ordem de 45% de chumbo, eram estocados diretamente sobre o solo, em páteos, normalmente expostos ao ar, ou seja, em condições favoráveis ao carreamento e lixiviação em direção ao subsolo e rede de drenagem.

O autor considerou tais pilhas como as principais fontes da contaminação ambiental, em seus levantamentos no local. Análises químicas seqüenciais realizadas para Pb, Zn e Cu na fração fina (<2µm) dos sedimentos de corrente coletados em pontos de referência (sem influência da atividade mineira) e em pontos afetados por bocas de galerias, moagem local de minério, e pela planta de concentração apontaram predominância de espécies biodisponíveis daqueles metais sobre as não biodisponíveis, com significativo aumento nas proporções das primeiras em relação às segundas quando os sedimentos passam das áreas não afetadas para aquelas afetadas pela mineração. Notou também ser unicamente à jusante da planta de concentração o trecho do ribeirão do Rocha a apresentar espécies de mais alta biodisponibilidade para Pb (adsorvida a argilominerais) relativamente às de média (associado a carbonatos) e baixa (associado a oxidróxidos de Fe e Mn, além de matéria orgânica) biodisponibilidade, fato que pode indicar processos de liberação do chumbo, provavelmente sob a forma

Moraes (1997) estudou a distribuição dos metais Pb, Cu e Zn nos sedimentos do Ribeira entre o emboque do Ribeirão do Rocha e o município de Iguape, junto à sua foz no Atlântico, num trecho de aproximadamente 350Km, no intuito de avaliar os principais processos de transporte destes metais ao longo do rio. Este autor destacou que as concentrações destes metais nos sedimentos sofrem, no geral, um decréscimo no sentido de jusante, comportamento associado ao efeito diluidor promovido pela contribuição dada pelos demais corpos d’água que afluem ao Ribeira ao longo do setor investigado. Em linhas gerais, os sedimentos estão fortemente contaminados por chumbo no alto curso do rio (358mg/Kg), região de Adrianópolis (PR) e Ribeira (SP), decrescendo gradativamente (52mg/Kg) até a região de Itapeúna; neste trecho o rio apresenta-se fortemente encaixado, encachoeirado e, portanto, com elevado potencial de transporte. A partir de Itapeúna, município situado cerca de 50Km a jusante da última fonte de contaminação devida à mineração, os sedimentos voltam a apresentar-se fortemente contaminados até a cidade de Registro (teores de 160-170mg/Kg), fato que possivelmente encontra explicação na mudança do perfil energético do rio que, ao longo deste setor, apresenta locais propícios à deposição de sua carga sedimentar na forma de barras em pontal, meandros abandonados, ou em placeres, até alcançar a planície meândrica da região de Sete Barras-Registro. A partir daí os teores voltam, novamente, a apresentar tendência de queda rumo à foz.

Os resultados analíticos em amostras de água, sedimentos e sólidos em suspensão, associados às variações no perfil energético do rio, conduziram o autor ao entendimento que os metais pesados presentes nos sedimentos são transportados principalmente pelos sólidos em suspensão na água.

Sígolo et al. (2003), buscando identificar remanescentes dos resíduos da mineração (rejeitos e escórias) no trecho entre Iporanga e Sete Barras do Rio Ribeira de Iguape, avaliaram, à luz de metodologia definida pelo Canadian Council of Ministers of the Environment (CCME, 1999), que sedimentos ativos de corrente presentes cerca de 150Km a jusante das áreas de exploração (município de Sete Barras) apresentam teores em metais pesados em níveis prejudiciais à vida aquática.

A literatura técnica já relata alguns problemas de saúde resultantes da atividade mineira na região. Ferreira (1994) informa relatos pessoais de moradores dos entornos da Mina do Rocha revelando ocasiões freqüentes em que as águas do ribeirão mostravam-se “totalmente brancas mesmo em dias de tempo bom”, e que esta mesma coloração é observada nos materiais envolvidos nos processos de tratamento do minério, estocados nas pilhas de rejeitos e estéreis. Este autor cita ainda que fatos semelhantes denunciando o problema são freqüentemente noticiados em jornais locais.

Investigação mais sistemática foi recentemente realizada pela UNICAMP (Faculdade de Ciências Médicas e Instituto de Geociências) em parte da população de Adrianópolis, Ribeira, Iporanga (municípios inseridos na província mineral e sujeitos à contaminação ambiental) e Cerro Azul (população de referência, não afetada) por Capitani e Figueiredo (2001).

Neste trabalho foram analisadas, no período entre 1998 e 2000, amostras de sangue e cabelo em adultos e crianças, amostras de água e sedimentos em drenagens, solos e rejeitos da refinaria da Plumbum, bem como da água de torneira de algumas residências. Os resultados revelaram contaminação leve em parte da população e mais pronunciada naquela que habita as proximidades das instalações de beneficiamento, onde o constituinte do meio físico mais poluído é o solo. As águas fluviais apresentaram valores baixos (<0,005 a 0,006mg/L de Pb) e dentro dos limites permitidos, numa clara

indicação de não mais apresentarem a influência da mineração que apresentaram no passado, devido à paralisação total das atividades nas minas e na refinaria, principais fontes de chumbo no meio ambiente. Os resultados para os sedimentos de corrente (30,8 a 969,8mg/Kg Pb) continuam bastante elevados, principalmente no ribeirão Betari, afluente do rio Ribeira em Iporanga, que no passado recebeu grande aporte de material da mina Furnas. O estudo aponta, entretanto, que as elevadas concentrações de chumbo nos sedimentos de fundo não representam situação de grande risco visto que, nas presentes condições, o metal está fortemente retido nesses materiais e, portanto, não disponível para as águas e organismos aquáticos.

Tendo em vista estas últimas considerações, a quantidade de chumbo dissolvida na água na forma biodisponível é pequena provavelmente em função do pH, ligeiramente alcalino, detectado para a maior parte das drenagens. Entretanto, a CETESB, em suas estações de monitoramento, tem noticiado aumentos episódicos destes teores nas águas, normalmente coincidentes com a passagem de ondas de cheia que remobilizam o sedimento de fundo. Embora atualmente afastada como possibilidade, o represamento das águas em reservatórios profundos, como os planejados para o Rio Ribeira (Tijuco Alto, Itaoca, Funil e Batatal), pode induzir solubilização dos metais atualmente imobilizados nos sedimentos em função de provável acidificação das águas e geração de condições redutoras. A situação está, pois, um tanto distante de um desejado cenário de estabilidade físico-química dos contaminantes presentes neste importante manancial.

3 OBJETIVOS

Constituem objetivos do presente trabalho a caracterização da mina de turfa de Eugênio de Melo bem como a geração de uma amostra representativa que se aproxime das características médias da turfa extraída e comercializada pela empresa que detém os direitos sobre a jazida. De modo vinculado, estudou-se uma aplicação prática para esta amostra: a possibilidade de atenuar, como agente adsorvedor de metais, os impactos ambientais decorrentes de lixívias geradas da exposição ao intemperismo de depósitos de resíduos da mineração de chumbo e metais associados. Esta atividade extrativa foi intensamente empreendida por cerca de oito décadas na região do alto curso do Rio Ribeira de Iguape, estados de São Paulo e Paraná.

A proposta é consonante com diretrizes do FEHIDRO – Fundo Estadual de Recursos Hídricos –, que recém instituiu o “Programa de Controle da Poluição por Mineração na Bacia do Ribeira (CPMIN)”, sob coordenação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Ribeira do Iguape e Litoral Sul. Este programa tem o firme entendimento de que solo, subsolo e as principais drenagens da região foram contaminados pelos metais tóxicos existentes nos resíduos da atividade extrativa mineral, carreados que foram a partir de depósitos de estéreis de mina, rejeitos das operações de concentração, escórias de fundição, “pits” de lavra abandonados, ou, ainda, através do lançamento direto às drenagens.

4 MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia a ser empregada no presente trabalho envolve a geração de uma amostra representativa da jazida de turfa de Eugênio de Melo, situada na região do Vale do Rio Paraíba do Sul, Estado de São Paulo. Para tanto, foram executadas sondagens a trado nesta turfeira, com coleta de amostras a cada 0,5m ou a cada variação importante nas características observáveis em campo. Esta amostra foi testada em duas condições: in natura e ativada com ácido clorídrico.

A possibilidade de se utilizar esta turfa como agente descontaminante de efluentes líquidos portadores de metais pesados foi avaliada em lixívias, obtidas em laboratório através de metodologia preconizada em normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para classificação de resíduos sólidos, das amostras dos resíduos das atividades de mineração de chumbo e metais associados da região do Vale do Ribeira de Iguape. Estes resíduos, acumulados às margens do Ribeirão do Rocha e do Rio Ribeira de Iguape, denominados resíduos da mineração por Sígolo et al. (2003), compreendem rejeitos das plantas de concentração existentes na Mina do Rocha (Cerro Azul – PR) e na Mina de Panelas (Adrianópolis – PR), bem como escórias provenientes de unidade metalúrgica localizada também na área da Mina de Panelas.

O poder sortivo desta turfa foi definido para cada um dos metais de reconhecida toxicidade presentes nas lixívias obtidas. Foram preparadas soluções sintéticas de cada um destes elementos para a realização de estudos cinéticos (definição de pH ideal das reações de adsorção) e de equilíbrio (construção de isotermas de adsorção e definição do limite de saturação da turfa para cada metal considerado individualmente).

Estudou-se a interferência no processo adsortivo possivelmente causada pelos íons Ca2+ e Mg2+ presentes de modo abundante nas lixívias e derivados dos minerais carbonáticos que constituem a ganga do minério.

Finalmente, as lixívias foram submetidas a contatos sucessivos com a turfa visando definir o número de ciclos necessários para se atingir os teores para descarte estipulados pela legislação ambiental em vigor.

4.1 TURFEIRA DE EUGÊNIO DE MELO

Localiza-se no distrito de Eugênio de Melo, município de São José dos Campos, à margem direita do Rio Paraíba do Sul, distando cerca de 100km da cidade de São Paulo pela rodovia Pres. Dutra. A figura 36 traz sua localização em relação a alguns elementos geográficos importantes.

Figura 36 - Localização da mina de turfa de Eugênio de Melo

A foto 5 fornece uma visão geral da área com destaque para a área atualmente em lavra; ao fundo, a borda norte da bacia, representada pela Serra da Mantiqueira.

Foto 5 - Visão geral do módulo de 50ha em exploração da turfeira, com destaque para a atual área de