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1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA – A PARTIR DO CONTO UM

3.2.6 O piloto da Pesquisa

A construção do piloto da pesquisa ocorreu com a participação de duas crianças hospitalizadas no setor de onco-hematologia de um Hospital Infantil da cidade de Natal. As entrevistas foram realizadas com os instrumentos descritos nas seções anteriores: entrevista narrativa mediada pelo boneco-personagem e o desenho.

A intenção da realização do piloto foi de averiguar se os instrumentos pensados necessitavam de ajustes e alterações para que o acesso às narrativas do campo propriamente dito fosse da melhor forma. Além disso, iniciar a construção do piloto viabilizou maior aproximação com a instituição na qual foi realizado todo o campo da pesquisa, bem como uma construção de uma relação de parceria com os profissionais, em especial, as psicólogas do hospital. Fato importante para garantir o cuidado com as crianças envolvidas.

Salienta-se que foi realizada, também, após a autorização e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), a entrevista espiritual com os responsáveis das crianças, inspirada no FICA conforme sinalizado anteriormente.

Com a realização da primeira entrevista, percebemos a necessidade de outra experiência que pudesse reafirmar a clareza dos questionamentos e o funcionamento da proposta de utilização do Alien, o boneco-personagem. As entrevistas ocorreram em dias diferentes, com uma menina de 06 anos e um menino de 12, os quais serão apresentados adiante.

A partir do estudo piloto foi possível perceber que a chegada do Alien, o boneco- personagem, provocou curiosidade, demonstrando-se um recurso facilitador das narrativas e o seu convite para a realização do desenho também foi bem recebido. Foi perceptível a disponibilidade delas em querer ajudá-lo.

Apesar dos desafios de trabalhar a pesquisa em um contexto dinâmico como hospital, uma postura de flexibilidade e abertura foi importante para construir junto com as crianças esse momento. Por fim, com a realização do piloto, foi feita a análise das entrevistas. Diante de uma construção positiva, asseguramos a manutenção dos instrumentos como planejados para a realização do campo. Vale ressaltar que,diante da qualidade das entrevistas realizadas com as crianças do estudo piloto, avaliamos como pertinente a inclusão delas neste estudo.

3.2.7. A realização do campo.

Apesar da abertura e disponibilidade da instituição em receber o estudo, dado a compreensão da relevância da temática, houve restrições quanto aos dias e turnos para a sua realização. Isso porque era importante ter o controle da quantidade pessoas que acessavam o hospital – uma forma de garantir a segurança de todos os envolvidos no processo e para não sobrecarregar o setor de onco-hematologia que já contava com residentes, alunos e voluntários.

Assim, o campo foi realizado a partir de duas visitas semanais em turnos distintos. A entrada no campo ocorreu em abril de 2017 e finalizou em junho do mesmo ano. Os contatos com os responsáveis pelas crianças aconteciam após a verificação dos pacientes internados e posterior análise do prontuário.

Feita essa exploração, o contato com os responsáveis foi realizado e todos permitiram a participação da criança, demonstrando interessados e abertos para responder o que fosse necessário. Ressaltamos que o objetivo da pesquisa era explicado, assim como a necessidade de autorização mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Após o momento de apresentação e assinatura, as questões baseadas no FICA eram realizadas com os cuidadores. Depois, seguíamos para as crianças. Todas apresentavam curiosidade para desvendar o que estava na caixa e na ideia de conhecer alguém de outro planeta. Quando elas, de fato, apresentavam interesse em participar, líamos o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) elaborado para elas.

Não havia a disponibilidade de muitos espaços para a realização da pesquisa. Ainda que houvesse a sala de psicologia, era um ambiente constantemente utilizado pelas profissionais e por atendimentos estabelecidos pela própria rotina hospitalar. Então, a escolha do local era realizada pela criança e como possibilidades existiam a mesa no corredor principal do setor de onco-hematologia ou o próprio leito da enfermaria.

Houve interrupções por parte da equipe de enfermagem para a realização de procedimentos, como a administração de medicações, bem como a própria dinâmica do setor tirou o foco das crianças em alguns momentos, pois o barulho de choro frequente de outras crianças mais novas, o estimulo da televisão e dos demais pacientes roubavam a atenção do processo, ainda que estivesse fluindo bem, mas o Alien, enquanto recurso lúdico, favorecia a retomada para o momento de diálogo.

Oito entrevistas foram gravadas integralmente, após concordância dos responsáveis e da criança, e uma foi parcial, pois uma das crianças sentiu vergonha no início, permitindo a gravação ao final. Destaca-se que a gravação das entrevistas teve por finalidade a manutenção da fidedignidade das narrativas.

Apenas uma criança precisou de mais de um encontro. Com as demais foram encontros únicos que seguiram os seguintes passos:

1. Apresentação da pesquisa a criança e exploração do material da caixa artística (papel, lápis de cor, canetas coloridas, borracha, giz de cera, lápis grafite), além de estimular a imaginação sobre o Alien escondido na caixa verde que veio de um planeta distante.

Figura 2. A Caixa verde do Alien

2. Após a apresentação do Alien, o boneco-personagem, a entrevista era iniciada com a seguinte chamada para estimular a narrativa da criança:

“Este é o Alien, um extraterrestre que acabou de chegar do seu planeta, que é bem distante do nosso. Ele está muito curioso para saber sobre o que as crianças fazem aqui no hospital, para que ele serve, como as crianças se sentem aqui... Mas ele gostaria que uma criança contasse e não um adulto, pois ele deseja saber o que as crianças fazem quando estão tristes, o que elas costumam fazer para enfrentar os momentos difíceis...Você pode contar para ele? ”

3. Após a tematização das questões contidas no roteiro da entrevista, conforme apêndice A, solicitamos um desenho sobre uma situação que representasse a criança sendo ajudada por alguma representação religiosa ou espiritual (algum símbolo, Deus, ou outro) que ela tenha se

referido durante a entrevista (apenas se ela tiver, de fato, mencionado algum). Isso era realizado através da seguinte chamada:

“O Alien gostaria de ajudar as crianças lá do planeta dele explicando também como elas podem ser ajudadas como você foi (aqui faria a referência ao símbolo/representação religiosa/espiritual). Ele ficou bastante curioso sobre isso. Você gostaria de fazer um desenho para Alien de alguma situação que você se sentiu ajuda por ele (símbolo equivalente) ou enviar uma mensagem? Assim o Alien poderá mostrar ao pessoal do mundo dele, o que você acha?”

4. Finalizando momento supracitado, o Alien estava preparado para ir embora e concluímos com a seguinte narrativa:

“Agora, o Alien vai voltar para o planeta dele sabendo muitas coisas sobre o hospital, o adoecimento, quais são as coisas que ajudam a enfrentar tudo isso. Você gostaria de dizer mais alguma coisa para o Alien antes dele ir embora? Ou deixar uma mensagem para o pessoal de lá? ”

Agora, finalizado os caminhos escolhidos de acesso aos pequenos participantes, é hora de aproximar o leitor de nossas crianças e convidar para um mergulho de reflexões tecidas com os fios estabelecidos pela fusão das vozes infantis e das reflexões possiblidades pela literatura produzida.

4. A INFÂNCIA CONSTRUÍDA: DESTECENDO AS REPRESENTAÇÕES INFANTIS