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Este capítulo tem o objetivo de mostrar alguns dos resultados encontrados com a aplicação do instrumento de pesquisa visando averiguar os conceitos encontrados na literatura em Psicologia Ambiental, no contexto da praia de Pipa. Seguindo o mesmo caminho do corpo teórico, partiremos das percepções que os entrevistados têm de seu ambiente residencial, até a relação afetiva com o lugar, retomando, quando necessário, os principais pontos estudados.

Para falar sobre a relação afetiva dos moradores com Pipa, começamos por discorrer brevemente sobre como estes percebem Pipa e as pessoas que nela vivem, e, a partir disto, passamos a vislumbrar as expectativas quenutrem com relação ao futuro do seu lugar. Para tanto, foram considerados os depoimentos coletados, em termos verbais, não verbais (silêncio, pausas e linguagem corporal) e gráficos (desenhos).

Como o ato de desenhar geralmente causa certo receio nos entrevistados, por supor que este será avaliado ou julgado, perguntas introdutórias sobre como é Pipa, o que mais e menos gosta nela, e similares, mostraram-se ótimas auxiliares, pois, facilitaram a atividade gráfica. Assim, a análise se apoiará nas manifestações verbais, complementando-as pelas não verbais.

Com relação ao desenvolvimento das entrevistas, sentimos que, embora esse seja um procedimento de praxe, rotineiro, para a maioria dos pesquisadores, neste trabalho as entrevistas aconteceram de uma forma muito especial, talvez por se tratar de sentimentos, expectativas, saudades.

Iniciamos a análise dos resultados pela percepção que os moradores têm de seu ambiente, a partir da qual, os dividimos em três grupos: 1) os saudosistas, que enfatizaram aspectos e características do passado de Pipa, trabalhados no item “5.2- Uma Pipa que não volta mais...”; 2) aqueles que ressaltaram as belezas naturais e estilo de vida simples do local, contemplados no item “5.3- Por baixo dos véus, adereços e enfeites: uma Pipa natural”; e 3) aqueles que enfatizaram os aspectos turísticos do lugar, comentados no item “5.4- A menina dos olhos” .

Em seguida, falaremos um pouco sobre as relações afetivas com a praia de Pipa, no item “5.5- Aprendendo com os sentimentos” e, finalmente no item “5.6- Revendo conceitos, sentimentos e idéias” retomamos os resultados a partir de uma visão geral, relacionando com o que foi discutido na literatura estudada.

Sendo assim, este capítulo é dedicado a discorrer sobre as reações dos entrevistados, percepções acerca de Pipa e manifestações de afeto nem sempre verbalizadas, ou ditas de forma clara, mas sentidas e compreendidas por ambas as partes. Também é dedicado às contradições e ambigüidades, comuns quando se fala sobre sentimentos e, mais ainda, quando os relacionamos a um lugar que tem sofrido tão grandes modificações não apenas físicas, mas principalmente sociais e culturais.

De modo geral, as entrevistas revelaram pessoas que têm saudade das coisas simples do passado, e as confrontam com o conforto, as novidades e oportunidades que o turismo e o desenvolvimento local trouxeram. Alguns demonstraram uma forte tendência a vislumbrar apenas o lado positivo das mudanças, através da perspectiva de obter algum tipo de lucro ou benefício; e outros, uma forte tendência a detectar o lado negativo, pela frustração dessa expectativa ou pela ruptura com características ambientais com as quais se identificavam.

Como seguíamos uma rede de indicações, sempre iniciamos as entrevistas com a apresentação da pesquisadora e a menção de que estivemos com alguém que o indicou por achar que gostasse muito de Pipa. Mesmo assim, a objetividade e clareza das perguntas iniciais deixaram alguns receosos, surpresos, face à pergunta “Você ama Pipa?”, os entrevistados se mostraram envergonhados. Em parte, isto se deve ao caráter íntimo da questão, ou ao fato de nunca terem pensado sobre isto, e, outra parte se deve ao que chamamos de “fator surpresa”.

A utilização deste fator, no início da entrevista, foi bastante discutida na fase de preparação, mas acabou mostrando-se válida, evitando que o sujeito fosse induzido pelas suas próprias respostas ou influenciado por situações diversas no momento da conversa. Com tal artifício buscávamos capturar uma idéia que já estivesse ali, na mente dos sujeitos, obtendo, assim respostas mais “puras”, “verdadeiras”.

Talvez por isso, obtivemos respostas tão diferentes entre si, e até diferentes das expostas pela literatura estudada, com ressalvas e explicações extras a termos utilizados nas

questões, como por exemplo, amar, ser apegado, etc. Percebemos que, embora indicados pelo mesmo critério - gostar muito de Pipa - cada um tem uma idéia própria do que é gostar, amar e ser apegado a Pipa. Esse foi um dos principais resultados encontrados nesse trabalho e que será melhor discutido a seguir, no item 5.5 - Aprendendo com os sentimentos: Amor, Apego e Afiliação.

5.1. Caracterização dos Participantes

Mas, antes de iniciarmos a discussão sobre os resultados encontrados, é imprescindível caracterizar os sujeitos, especialmente quanto à idade, sexo, naturalidade, escolaridade, atividade econômica, tempo de moradia e tipo de moradia em Pipa, pois estas variáveis são consideradas preditores do apego (Ruiz, Villodres & Vilela, 1998), e tecer alguns comentários acerca do desenvolvimento das entrevistas.

Além disso, esta rápida caracterização individual irá auxiliar no entendimento de algumas falas e situações, em função da atividade econômica com a qual os entrevistados se encontram envolvidos, posição no ciclo vital, naturalidade, etc., auxiliando também na construção do perfil de cada sujeito. Em virtude desta variedade, cada entrevista foi única e diferente da outra, de modo que obtivemos uma grande riqueza de informações (Tabela 02).

Tabela 02: Caracterização individual dos participantes.

Também ressaltamos que os entrevistados 22, 23 e 25 não residem atualmente em Pipa. O primeiro mudou-se para a sede do município, Tibau do Sul, onde está construindo uma casa à beira da lagoa, mas frequentemente (quase diariamente) visita seu antigo lugar de moradia; o segundo deixou Pipa apenas temporariamente por problemas com a guarda do filho brasileiro, que levou para morar na Noruega, mas também a visita várias vezes ao ano; e o terceiro a abandonou definitivamente, visitando-a esporadicamente, a passeio . Entretanto, devido ao pouco tempo decorrido desde a mudança (no máximo 02 anos) consideramos neste trabalho o tipo de moradia que eles tinham na época que residiam em Pipa.

Com base nisso, temos alguns dados gerais, que caracterizam os entrevistados em geral, e demonstram a nossa tentativa em abranger a variedade de moradores que existem atualmente em Pipa, procurando abordar pessoas de todas as idades, sexo, escolaridade,

naturalidade, e etc. Sendo assim, nossa pesquisa envolveu 14 homens e 16 mulheres (Figura 25), com idades entre 24 e 84 anos (Figura 26).

As atividades econômicas com as quais os sujeitos estão envolvidos foram divididas em 5 categorias, sendo 6 profissionais liberais, 8 empresários do ramo do turismo, 8 aposentados, 6 vendedores ou prestadores de serviço e 2 donas de casa (Figura 27). Também estudamos quanto ao lugar de origem dessas pessoas, de forma que a maior parte é nativa de Pipa, 11 respondentes, seguidos por aqueles nascidos em outras cidades do Rio Grande do Norte, 10. Somados representam 70% dos respondentes, que pertence ao nosso estado (Figura 28).

SEXO

14 16

Masculino Feminino

Figura 25: Caracterização dos participantes por sexo.

IDADE

9

9 12

de 24 a 39 de 39 a 55 acima de 55

ATIVIDADE ECONÔMICA