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Pirarucu Augusto de Andrade Oliveira

No documento PROPOSTA DE PREÇOS MÍNIMOS (páginas 139-141)

1. Introdução

O presente estudo sobre o pirarucu tem por objetivo central subsidiar a fixação do preço mínimo para este produto, que vigorará no ano-safra 2015/2016. Como se trata do primeiro produto de origem animal a ser incluído na pauta da Política de Garantia de Preços Mínimos para a Sociobiodiversidade (PGPM-Bio) – apesar do foco principal deste documento recair sobre itens como oferta, demanda e preços nacionais praticados para este produto, finalizando com a proposta de preço mínimo – torna-se de fundamental importância a apresen- tação de informações gerais e sistematizadas sobre as características da espécie, além de sistema de manejo e aspectos socioeconômicos.

Serviram de orientação para a elaboração desse estudo informações bibliográficas e dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), bem como pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá (IDSM). Outra fonte importantíssima de informações foi o levantamento do custo de produção do pirarucu, promovido pela Conab em novembro de 2014, no município de Tefé/AM. Tal levantamento, base para a elabo- ração desta proposta de preço mínimo para o pirarucu, contou com a participação de 28 pessoas, entre técnicos e pescadores que trabalham com esta espécie 1.

O pirarucu (Arapaima gigas) é um peixe que possui distribuição natural na Bacia Amazônica, chegando a atingir tamanho entre 2 a 3 metros e peso de 100 a 200Kg. Historicamente, esta foi uma espécie muito explo- rada comercialmente, sendo o primeiro peixe amazônico a apresentar sinais de sobre-exploração. Neste sentido, com o declínio da população de pirarucus no estado do Amazonas, no ano de 1989, o Ibama começou a fixar regras com o objetivo de coibir a pesca indiscriminada desta espécie.

Inicialmente, o Ibama estabeleceu, em 1989, um tamanho mínimo de captura (150cm), fixando, no ano seguinte, o período de defeso (de 1o de dezembro a 31 de maio). Diante da pouca eficiência das medidas inicial-

mente adotadas em 1996, o Ibama proibiu qualquer tipo de captura e venda de pirarucus fora de áreas mane- jadas ou produzidos em cativeiro. Atualmente o Ibama autoriza a pesca de pirarucu por meio de manejo para 22 áreas de 14 municípios no estado do amazonas, estabelecendo anualmente uma cota de peixes que podem ser pescados por cada comunidade que realiza o manejo do pirarucu. Para o ano de 2014, a cota total fixada para o estado do Amazonas foi recorde, alcançando 43.296 unidades, que devem perfazer aproximadamente duas mil toneladas.

Ressalta-se que a Superintendência Regional da Conab no estado do Amazonas vem solicitando desde 2011 a inclusão do pirarucu na pauta da PGPM-Bio, sendo que, em outubro de 2014, o Comitê de Gestão do Manejo do Pirarucu, constituído naquele estado, reiterou a demanda de sua inclusão na pauta da PGPM-Bio.

Tais situações apontam para alto risco de extinção desta espécie, reforçando a importância da inclusão deste produto na PGPM-Bio, estabelecendo um preço mínimo de acordo com os parâmetros técnicos abordados neste documento, com vistas tanto à garantia de renda mínima às famílias que trabalham com este produto, uma vez que o preço de mercado em geral tem se apresentado em patamares inferiores ao custo de produção recentemente levantado, quanto à preservação desta espécie.

1 Foi realizada ainda visita a uma área de pesca manejada de pirarucu (acordo de pesca do Complexo de Lagos Paraná do Jacaré

2. Característica da espécie

O pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores peixes de água doce do mundo, ocorrendo no Peru, Colômbia, Bolívia e Guiana, sendo que no Brasil é encontrado na região da bacia amazônica e do Araguaia- Tocantins. Também conhecido como o “bacalhau da Amazônia”, seu nome vem dos termos tupis: pirá, “peixe” e

urucum, “vermelho”, devido à cor de sua cauda.

Apresenta ciclo reprodutivo longo, atingindo a maturidade sexual com 4 a 5 anos, com peso em torno de 40 a 45kg e com aproximadamente 1,65m. De outro lado, seu crescimento é rápido, atingindo cerca de 10 a 12kg ao final do primeiro ano 2, além de possuir alto rendimento de carcaça, boa rusticidade ao manejo e alta

qualidade de carne.

É um peixe de grande porte, que apresenta o corpo alongado, cilíndrico e escamoso, cabeça achatada e ossificada, olhos amarelados e de pupila azulada, um tanto salientes, e que mexem-se continuamente.

Uma característica importante desta espécie é o fato de possuir dois aparelhos respiratórios, as brân- quias (para a respiração aquática) e a bexiga natatória modificada (especializada para funcionar como pulmão, no exercício da respiração aérea), uma vez que precisa subir até a superfíce da água a cada 5-15 minutos para respirar, tornando-se assim mais vulnerável à pesca.

Na época da seca, os peixes formam casais, procurando ambientes calmos onde preparam seus ninhos, reproduzindo durante a enchente. É papel do macho proteger a prole por cerca de seis meses. Os filhotes apre- sentam hábito gregário e, durante as primeiras semanas de vida, nadam sempre em torno da cabeça do pai, que os mantém próximos à superficie, facilitando-lhes o exercício da respiração aérea.

Apesar de ser uma espécie resistente, suas características ecológicas e biológicas a tornam bastante vulnerável à ação de pescadores. Os cuidados com os ninhos após a desova expõem os reprodutores à fácil captura com redes de pesca ou arpão, em especial durante o longo período de cuidados paternais, onde a neces- sidade fisiológica de emergir para respirar ocorre em intervalos menores.

O abate dos machos nestas circunstâncias, bem como a longa fase de imaturidade sexual dos filhotes, conhecidos como “bodecos”, propicia a captura destes por predadores naturais, como as piranhas, diminuindo o sucesso reprodutivo da espécie.

3. Sistema de manejo

A intensa exploração comercial do pirarucu, na década de 70, provocou o declínio de sua população, levando o Ibama a fixar regras para sua pesca. Uma das formas de tentar conter a exploração descontrolada desta espécie se deu através da implementação de medidas restritivas, que estipulou tamanhos mínimos de captura, período de defeso reprodutivo, além de só permitir a pesca em áreas provenientes de manejo ou de produção em cativeiro (Portaria IBAMA 8/96).

Muito embora a legislação tenha evoluído com vistas a evitar a sobre-exploração desta espécie, a grande extensão da Amazônia e a falta de fiscalização dificultam o controle da pesca ilegal. Com a proibição da pesca de pirarucu no ano de 1996, muitas famílias que tinham esse peixe como importante componente de sua renda foram prejudicadas, o que levou o Instituto Mamirauá a elaborar e encaminhar ao Ibama um projeto solicitando autorização para pesca do pirarucu dentro de um sistema de exploração sustentável experimental.

O projeto supracitado foi aprovado por aquele órgão em 1999, ano em que se iniciou a pesca mane- jada no estado do Amazonas a partir de uma cota autorizada de pesca de 120 peixes, em quatro comunidades,

2 Foi realizada ainda visita a uma área de pesca manejada de pirarucu (acordo de pesca do Complexo de Lagos Paraná do Jacaré

envolvendo 42 pescadores. No ano seguinte (2000), o Ibama iniciou a execução do Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (PróVárzea), visando a fomentar a conservação e o desenvolvimento sustentável das várzeas na região da Amazônia, incentivando a participação das populações tradicionais que nela habitam.

No período de 2002 a 2007, o PróVárzea investiu cerca de R$ 5 milhões em 15 projetos de manejo dos recursos pesqueiros e fortalecimento dos atores e instituições ligados à pesca, promovendo atividades de capa- citação, monitoramento, manejo e comercialização da produção. Ocorreram, neste período, 235 cursos de capa- citação (manejo de lagos, beneficiamento do pescado, contagem de pirarucu, produção de farinha de peixe e formação de agentes ambientais voluntários), envolvendo 4.956 pessoas.

Como resultado das ações do ProVárzea, foram estabelecidos, ao final de 2007, 20 Instrumentos de Ordenamento Pesqueiro (INs), que institucionalizaram os acordos de pesca 3, de modo que os comunitários e

demais envolvidos passavam a assumir o papel de co-responsáveis pela gestão dos recursos, juntamente com o governo. Conforme citado anteriormente, o Ibama autorizou, para 2014, a pesca de 43.296 unidades, que devem perfazer cerca de duas mil toneladas. Neste processo estão envolvidas 22 áreas de 14 municípios no estado do Amazonas.

No documento PROPOSTA DE PREÇOS MÍNIMOS (páginas 139-141)