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4. Enquadramento Operacional

4.1.1 Planeamento

Por vezes coloca-se a questão de saber, porque é tão importante planear. Quase intuitivamente responderíamos à questão, pois sempre que pretendemos realizar uma tarefa, com certos objetivos a atingir, fazemos uma previsão da ação que vamos principiar, a qual funciona como o fio condutor de processo, suscetível de orientar a ação.

Em todo o processo educativo, obviamente, esta necessidade sente-se mais intensamente, particularmente devido à complexidade a si inerente.

Segundo Bento (1987) a atividade de planeamento do professor de Educação Física corporiza uma antecipação mental do seu ensino, compreendendo tomadas de decisão acerca de determinadas categorias didáticas, procurando definir os contornos de um modelo de atuação no processo pedagógico.

Uma das tarefas que realizei inicialmente foi a análise dos programas de Educação Física. Apesar desta tarefa se ter revelado bastante trabalhosa, devido à elevada extensão dos programas, considero que foi muito importante toda a análise que realizei, pois permitiu adquirir um conjunto de conhecimentos que me ajudaram na tomada de decisão e no estabelecimento de objetivos.

Uma das grandes dificuldades na perspetiva de ensino da Educação Física recai não só no abdicar do modelo de ensino tradicional, mas acima de tudo do modelo curricular perfilhado pelos programas da disciplina, que se caracteriza por um programa de múltiplas atividades com unidades didáticas muito curtas, que acabam por resultar num estado permanente de iniciação das várias modalidades desportivas.

Por isso, após uma análise profunda dos programas curriculares de EF retirei algumas ilações acerca da forma como ela está perspetivada. Tendo em conta a realidade vivida na escola, concluí que o programa parece apresentar um nível um pouco elevado, no que diz respeito à composição dos conteúdos

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das atividades físicas desportivas e dos próprios objetivos de concretização, dadas às grandes variabilidades em torno da aptidão motora em cada turma.

Contudo, importa que a natureza da orientação e adequação do programa seja considerada aberta ao ajustamento do professor e da escola a cada situação, tornando-se numa mais valia para a especificidade do processo Ensino-Aprendizagem. Esta foi uma medida que desde cedo tive em consideração, uma vez que a área disciplinar de EF da nossa escola, adaptou o programa, as modalidades com a sua realidade e contexto específico e os professores de cada turma adaptaram os conteúdos e os objetivos de acordo com a turma que lecionavam. Acredito que só com esta especificidade é possível aspirar ao sucesso da aprendizagem dos nossos alunos.

Depois da análise aos programas de Educação Física e para iniciar especificamente a etapa de planeamento da minha turma realizei uma das tarefas fundamentais da ação de um professor, a avaliação prognóstica dos alunos. Torna-se indispensável para um professor de Educação Física conhecer os interesses dos alunos, os hábitos, as atitudes, o nível de aptidão física, os conhecimentos e o nível das habilidades motoras. Esta compreensão permitirá o ajustamento dos meios e das atividades a cada escalão etário, proporcionando um correto desenvolvimento do processo de formação dos alunos.

Planear é uma função fulcral da atividade do professor. De facto, esta é uma tarefa bastante complexa e exigente do ponto de vista da organização, sistematização e seleção da matéria. Assim, tendo por base as orientações do Programa Nacional de Educação Física para o Ensino Básico, as decisões tomadas pelo grupo de Educação Física da escola, o número de aulas previstas e os espaços disponíveis para a prática, construímos (núcleo de estágio) os planeamentos. Na definição do planeamento anual perfilámos um sistema de prática por blocos distribuída e alternada de uma modalidade coletiva com uma individual. Em minha opinião, esta prática permite uma maior consciencialização dos elementos da aprendizagem, devido ao maior tempo disponível para retenção da informação e, simultaneamente, evita a saturação que pode ser despertada por uma prática constante de uma modalidade individual ou coletiva.

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A definição do número de aulas atribuídas a cada modalidade foi determinada pelo grupo de Educação Física de forma a promover uma relação ajustada entre o volume e grau de dificuldade da matéria, tendo em conta os tempos letivos necessários para se cumprirem com êxito os objetivos propostos. Depois de o número de aulas estar atribuído a cada modalidade, estudamos o calendário escolar, com o intuito de contabilizar o número total de aulas, atendendo aos feriados nacionais, aos períodos de interrupção de aulas e aos dias festivos e temáticos de celebração escolar, e elaboramos o planeamento específico para cada turma, acrescentando ou retirando aulas às inicialmente programadas.

Depois dos planeamentos elaborados e para obter um conhecimento geral sobre as capacidades dos alunos nas várias modalidades a abordar, decidi realizar as avaliações prognósticas no início de cada modalidade desportiva coletiva ao nível das várias categorias transdisciplinares. Após essa avaliação elaborava as unidades didáticas onde decidia que conteúdos iria abordar e quais os objetivos a atingir.

A organização didático-metodológica foi uma das maiores preocupações que me acompanhou ao longo de todo o ano. Criar situações de aprendizagem que englobem todas as áreas de objetivos, adaptando os conteúdos aos objetivos estipulados e ao próprio processo de ensino, foi sempre uma questão na ordem de trabalho. Concentrar a informação no essencial para discriminar a informação importante, revelou-se uma tarefa fundamental para assegurar aprendizagem dos alunos. Especificar e selecionar componentes críticas, refletindo sobre aquilo que é realmente importante, foi uma das dificuldades que senti ao longo deste percurso. No entanto, através de uma reflexão profunda acerca do conhecimento pedagógico do conteúdo, da simplificação da matéria e da formulação de palavras-chave fui resolvendo esta dificuldade discriminatória.

Organizar o tempo de aula e dos próprios exercícios, destacou-se como importante para assegurar o equilíbrio no tempo dedicado a cada e exercício e que, simultaneamente, conseguisse promover o alcançar dos objetivos, mantendo um nível de motivação elevada, não dando azo ao aparecimento da monotonia e a aborrecimento dos alunos.

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Adaptar a matéria de ensino ao nível dos alunos e apresentá-la de forma interessante e motivante, utilizando formas parciais e jogáveis, situações facilitadoras e lúdicas que contemplassem a essência da matéria desportiva a ensinar, foram algumas das ferramentas utilizadas para “dar aos alunos aquilo que nós queremos da forma que eles gostam”. Assim, procurei pautar a minha ação tendo em vista a qualidade do ensino, através da criação de situações de aprendizagem com significado educativo que envolvesse os alunos na sua aprendizagem e potenciasse a sua formação.

No entanto, a forma como a matéria foi estruturada e apresentada também dependeu da própria natureza da modalidade em questão.

4.1.1.1 Ensino por Níveis - Grupos Homogéneos vs Heterogéneos

Outro objetivo da etapa de planeamento reportou-se ao planeamento de ensino por níveis de desempenho, na tentativa ir de encontro às necessidades e especificidades de cada aluno, para que cada um pudesse trabalhar de acordo com o seu nível de competência e com uma margem de progressão adequada.

Assim, utilizar estratégias que respeitassem o princípio da individualização que, cada aluno precisa e merece, constituiu-se com uma grande dificuldade a resolver. Portanto, durante a abordagem de quase todas as modalidades desportivas, optei por um trabalho com grupos homogéneos de acordo com os níveis dos alunos. Para isso recorri a situações diversificadas, simplificadas e condicionadas de forma a corresponder às exigências de cada grupo. Foram criadas situações e regras adaptadas a cada nível de desempenho como está evidenciado nos excertos que se seguem.

“No nível Introdutório decidi realizar um exercício lúdico, simples, de fácil compreensão, sobretudo que as motivasse, mas que ao mesmo tempo também trabalhasse todos os conteúdos pretendidos para esta aula, ou seja, procurar espaços vazios criando linhas de passe, explorar a largura e profundidade do campo…” (Situação 98 do Diário de Bordo – 3 de fevereiro de 2012)

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“No nível elementar, escolhi um exercício que trabalhasse todos os princípios ofensivos e defensivos, para que eles percebam que têm de dar mais amplitude e profundidade ao jogo para conseguirem realizar eficientemente o objetivo que pretendem, que é marcar golo. Esta sendo uma modalidade que eles adoram facilita a sua aprendizagem e exercitam os conteúdos super motivados e empenhados. Neste nível vou continuar a incidir nas situações de jogo, são alunos mais autónomos e que realizam os conteúdos que lecciono com sucesso.” (Situação 98 do Diário de Bordo – 3 de fevereiro de 2012)

Pessoalmente, considero que o ensino por níveis facilita a adequação das tarefas às dificuldades dos alunos, ajustando as tarefas às suas potencialidades. O confronto e a competição no seio de grupo são mais equilibrados e mediados pelo nível próximo de desempenho. No entanto, por vezes a adoção desta metodologia pode dificultar a evolução dos menos dotados, tal como a qualidade do seu jogo, pois o apoio dos alunos do nível superior por vezes permite uma maior evolução dos alunos do nível inferior.

Apesar da minha preferência pelos grupos homogéneos, não posso deixar de parte a aplicação do ensino por grupos heterogéneos, pois ambos podem ser eficazes dependendo da modalidade, do contexto, dos alunos e dos próprios objetivos de aprendizagem. O importante é ir ao encontro das necessidades dos alunos e permitir uma aprendizagem equitativa a todos.

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 59-63)

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