• Nenhum resultado encontrado

Mapa 15 – IQA das Áreas Verdes Públicas de Presidente Prudente (SP)

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.2 Qualidade ambiental na perspectiva do planejamento da paisagem

5.2.3 Planejamento da Paisagem

O planejamento da paisagem surgiu, inicialmente, como uma tendência ligada às questões estéticas, permanecendo assim até meados do século XIX, quando começou a haver uma preocupação com o processo de degradação das áreas urbanizadas, devido ao seu crescimento rápido, contínuo e caótico, que levou ao advento de inúmeras problemáticas ambientais e, igualmente, sociais. A pressão sobre os elementos da natureza começou a interferir diretamente na qualidade do ambiente, e na qualidade de vida daqueles que habitavam nas cidades (NUCCI, 1998).

O planejamento da paisagem é entendido como:

Uma contribuição ecológica e de design para o planejamento do espaço, onde se procura uma regulamentação dos usos do solo e dos recursos ambientais, salvaguardando a capacidade dos ecossistemas e o potencial recreativo da paisagem, retirando-se o máximo proveito do que a vegetação pode fornecer para melhoria da qualidade ambiental (NUCCI, 1998, p. 210). Nucci (2008) defende, necessariamente, a manutenção da vegetação no espaço da cidade, pois a cobertura vegetal, seja a de porte arbóreo, arbustivo e/ou rasteiro, tem a capacidade de mitigar inúmeros impasses que, atualmente, afligem os espaços urbanizados, como a ocorrência das ilhas de calor, o aumento das enchentes, o assoreamento de nascentes e cursos d’água urbanos, dentre outros. Sendo assim, toda e qualquer ação de planejamento da paisagem deve se basear, sobremaneira, no manejo da vegetação.

Entretanto, Mendonça (2004, 197) acrescenta que além da vegetação, outros elementos como o relevo, o clima, o solo e os cursos d’água devem ser incorporados às ações de planejamento ambiental urbano, pois negligenciar tais fatores contribui para que as condições ambientais sejam cada vez menos qualitativas.

67

O fato é que o conjunto de elementos naturais que compõem a paisagem urbana encontra-se conectado, de modo que interferem uns aos outros e, são influenciados diretamente pela forma como o espaço na cidade é produzido, através de políticas públicas, ações de planejamento e ordenamento territorial, etc.

De acordo com Cavalheiro (2009), Oseki e Estevam (2006), o planejamento da paisagem pode ser considerado uma base teórica fundamental em estudos integrados das áreas urbanas. O planejamento adequado possibilita atrelar os fatores físico-naturais às questões de ordem econômica, política e social, revelando processos e dinâmicas da produção do espaço em sociedade, que resultam em paisagens urbanas cada vez mais complexas, e que não são possíveis de serem interpretadas apenas pela descrição de seus aspectos visíveis. Descrever a paisagem não é suficiente para compreendê-la e entendê-la em sua totalidade, é necessária integração.

Diante disto, um procedimento metodológico que tem sido aprimorado nas pesquisas geográficas, buscando a associação dos aspectos físico-naturais e socioespaciais, provém da proposta de Nucci (2008), e diz respeito à seleção de indicadores/atributos passíveis de serem avaliados e mensurados quali-quantitativamente, e correlacionados a outras dimensões sociais.

Com referência à multiplicidade de elementos que dinamizam as paisagens, e que podem ser trabalhados enquanto indicadores/atributos nos estudos geográficos sobre qualidade ambiental apresenta-se a figura 5 onde estão sintetizados os mais relevantes.

68 Figura 5 – Algumas componentes geográficas da paisagem

Fonte: Lima (2013).

Conforme Nucci (2008), para avaliar os aspectos visíveis, é possível empregar a técnica da observação, que pode ser auxiliada sistematizando-se, por exemplo, fichas de caracterização da paisagem, onde são estabelecidos previamente os indicadores e os padrões de qualidade considerados como ideais para o estudo e os atributos selecionados.

Nesta análise, chama-se a atenção para o seu caráter subjetivo, uma vez que se pauta na percepção do pesquisador, e igualmente, nos referenciais teórico-metodológicos por ele adotados.

De maneira mais sistemática, para mensurar a qualidade ambiental são atribuídas notas aos indicadores/atributos selecionados para a análise ambiental da paisagem, de maneira que não exista um modelo complexo que interfira em sua interpretação. As notas são antecipadamente instituídas, tendo em vista o que foi considerado como mais e/ou menos ideal, em termos de qualidade do ambiente.

Na análise para além dos aspectos visíveis da paisagem é necessária nova sistematização metodológica. Nucci (2008) sugere, então, que os indicadores após serem

69

avaliados sejam mapeados individualmente, e sobrepostos em uma carta síntese de qualidade ambiental. Após esta etapa, a carta é relacionada aos processos e práticas de produção do espaço urbano, aspectos compreendidos tendo em vista os aspectos históricos do objeto de estudo, no tempo e no espaço.

Objetivamente, o planejamento da paisagem por Nucci (2008), ordena-se em: (a) seleção dos indicadores; (b) mensurações, seguindo parâmetros individuais de análise; (c) elaboração das cartas temáticas, todas contendo, em escala apropriada, aquilo que seria a condição positiva, mediana e negativa ou a informação sobre a existência ou não do atributo que por si, já formaria essa escala; (d) sobreposição das cartas temáticas apenas com os indicadores de incidência negativa pelos parâmetros da qualidade ambiental urbana; (e) análise (por área, quadra ou bairro) das condições verificadas.

Haja vista as oportunidades de integrar as componentes físico-naturais (indicadores da paisagem) e socioespaciais (aspectos sociais, econômicos e políticos) por meio desta proposta metodológica, justifica-se a sua utilização na análise da qualidade ambiental nas áreas verdes públicas de Presidente Prudente, o objeto de estudo desta dissertação de mestrado.

Para finalizar, se esclarece que a importância dada ao planejamento da paisagem é reforçada com vistas à qualidade ambiental, porque as possibilidades de integração entre diferentes dimensões de análises espaciais são significativas e, dialeticamente, são esses arranjos que conferem à paisagem a sua individualidade, permitindo avaliações de qualidade ambiental para além dos seus aspectos visíveis, ou seja, dos seus conteúdos (SANTOS, 1996).