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1. INTRODUÇÃO

2.8. Planejamento e Gestão Urbanos

Em termos gerais, o planejamento e a gestão urbana devem criar as condições necessárias para que a vida urbana qualifique-se e equilibre-se quanto à convivência social, a utilização da natureza e seus recursos e aos processos produtivos que impulsionam a economia urbana.

Para Korda (1999) apud Souza (2001, p.58): “O planejamento urbano se ocupa, acima

de tudo, com o direcionamento da evolução espacial e com o uso das superfícies da cidade.”

Entre os elementos fundamentais da atividade de planejamento destacam-se: o pensamento orientado para o futuro, a escolha entre alternativas, a consideração de limites, restrições e potencialidades e a consideração de diferentes cursos de ação, dependentes de condições e circunstâncias variáveis (SOUZA, 2001).

Turnes (1996) afirma que: “A proposta de planejamento é a organização racional do

sistema econômico a partir de hipóteses baseadas na observação da realidade”.

Para Souza (2001, p.46):

“Planejar significa tentar prever a evolução de um fenômeno, simular os desdobramentos de um processo, com o objetivo de melhor precaver-se contra prováveis problemas ou de melhor tirar partido de prováveis benefícios”.

Nos países latino-americanos o tema “planejamento urbano” é bastante presente em bibliotecas e livrarias. No entanto há poucos estudos sobre utilização de terras, localização de atividades, disponibilidade ou não de solo para usos urbanos (CLICHEVSKY, 2001) o que conduziria para uma discussão mais objetiva e prática sobre planejar e gerir as cidades.

2.8.1. Planejamento Estratégico

O planejamento estratégico pode ser resumidamente entendido como um método de intervenção urbana mais localizado e com o propósito de gerar um efeito mais rápido sobre um dado espaço a espera de qualificação. Uma característica sempre evidenciada quanto aos planos estratégicos é o envolvimento das expectativas do usuário e de possíveis agentes microeconômicos. É comum na realização do planejamento estratégico haver parceria público-privada e também uma associação ao

marketing da cidade, com o intuito de promovê-la a uma escala maior que aquela que

comumente ela atua. Por estas particularidades o planejamento estratégico torna-se polêmico e é em parte criticado por planejadores urbanos preocupados com a transformação do espaço urbano em mera mercadoria e seus efeitos negativos. Porém há também os que defendem este tipo de plano argüindo seus benefícios na gestão das cidades, na reestruturação e qualificação de espaços urbanos degradados.

O planejamento estratégico, extraído originalmente de experiências militares, adquiriu crescente interesse pelo setor público nos últimos anos. Isto se deve principalmente às exigências emergentes advindas da velocidade das mudanças sócio-econômicas, da globalização e da evolução tecnológica em informática e telecomunicações (GÜELL, 1997). Estratégia, segundo Güell (1997, p. 27) refere-se a:

“um método de pensamento que permite hierarquizar e classificar ações para escolher os procedimentos mais eficazes dirigidos a reduzir ou eliminar contraposições ou antagonismos”.

Do ponto de vista metodológico, o planejamento estratégico possui algumas características importantes como a de articular decisões públicas, expectativas dos usuários e atores microeconômicos e a de considerar o tempo como dimensão dos problemas. No planejamento estratégico, o espaço é o suporte para localização das atividades econômicas e retém, como critérios principais de seleção das soluções, valores de eficácia e rendimento que permitem a busca de um ótimo socioeconômico (LACAZE, 2001).

Para Güell (1997) em sua metodologia de ação, o planejamento estratégico inclui as incertezas oriundas do dinamismo do entorno, a complexidade dos processos urbanos e a diversidade de agentes e interesses que atuam no desenvolvimento urbano. Para o autor, entre os principais aspectos da metodologia de planejamento estratégico estão: a inclusão de técnicas de projeções do futuro, aplicação do enfoque sistêmico e o desenvolvimento de uma participação operativa, ou seja, o envolvimento dos agentes- chaves da comunidade no processo.

O planejamento estratégico sugere ainda a articulação entre projetos urbanos pontuais, localizados de forma que seus efeitos transcendam as áreas de intervenções. O potencial estratégico destas intervenções urbanas depende da coerência dos projetos com outras intervenções articuladas por um plano mais abrangente.

No entanto, para Sanchéz (2003) o planejamento estratégico assim como o marketing de cidades tem se manifestado nas cidades como instrumentos de transformação da cidade em mercadoria, privilegiando setores econômicos específicos. Parte-se do pressuposto que vender a cidade exige competitividade urbana e o novo padrão de produção de riqueza baseado numa visão globalizadora atingiria apenas fragmentos de cidade, onde são promovidos projetos de renovação que acabam por representar de modo simplista a realidade e as adversidades urbanas.

Segundo Lima (2004) a “cidade-mercadoria” é geralmente representada por uma arquitetura espetacular onde se busca primordialmente recuperar a economia através dos equipamentos culturais e econômicos, sem considerar a expulsão de habitantes locais gerada pela valorização imobiliária.

Para Débord (1995) e Arantes (2000) apud Lima (2004) a cultura tem se transformado na principal mercadoria do capitalismo tardio. Cultura e renovação urbana na “cidade- mercadoria”, de acordo com Lima (2004, p.15), “tem significado muitas vezes valorizar

o solo, ampliar o afluxo de pessoas às áreas criadas com a proposta de espaço público, mas que, na realidade, não é público”.

Como exemplo deste tipo de uso do planejamento estratégico, o Plano Estratégico da cidade de Évora, em Portugal, defende em seu conteúdo que a utilização de instrumentos de marketing pela cidade constitui simultaneamente uma forma de concentrar atenções e atrair investimentos e um meio de rentabilizar recursos investidos ou em fase de investimento.

Lungo (1999) afirma que a atual corrente do planejamento estratégico, ainda que em seus pressupostos adote uma posição de flexibilidade ao defender acordos entre os atores urbanos, na maioria dos casos não elabora ou propõe instrumentos de gestão da terra urbana e acabam por ignorar que a terra urbana é um bem esgotável e não pode ser reproduzida ilimitadamente.

Outro aspecto apontado por Clicheksky (2001) é quanto ao potencial dos vazios urbanos nos planos estratégicos. Apesar da ligação estreita entre projetos urbanos, planos estratégicos e vazios urbanos muitas cidades executam seus planos estratégicos sem considerarem os vazios urbanos como uma oportunidade de desenvolvimento. Contudo há outras que possuem bons exemplos de intervenção urbana com participação da comunidade envolvida, como é o caso de Alfama, um exemplo português de local de intenso turismo que é também um bairro habitável e tem uma posição cenográfica natural na paisagem de Lisboa (LIMA, 2004).

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