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É fundamental que haja alinhamento entre o problema de pesquisa, o método de pesquisa e a contribuição que se deseja construir (KARLSSON, 2008). Nem todos os problemas de pesquisa podem ser respondidos por todos os métodos de pesquisa, e há métodos mais ou menos adequados para cada tipo de contribuição pretendida. A fim de orientar a escolha dos métodos, dados e análises que serão necessárias para a construção dessa contribuição, é útil compreender esta pesquisa

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de acordo com sua natureza e a natureza de seus objetivos, posição filosófica adotada (paradigmas) e forma de abordagem do problema.

A Figura 21 sintetiza o raciocínio empregado no planejamento da pesquisa e na escolha dos métodos que serão utilizados, bem como sua ligação com os pacotes de trabalho expostos no item 3.2. Ela serve como guia para a compreensão dessa seção.

Figura 21 - Síntese do raciocínio empregado no planejamento da pesquisa

Uma pesquisa pode ser de natureza básica ou aplicada. A presente pesquisa é de natureza aplicada, já que se propõe a gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de um problema específico conforme exposto no item 1.2. A natureza do objetivo de uma pesquisa depende do grau de maturidade da área em estudo. Estudos iniciais em uma área de conhecimento possuem objetivos de natureza exploratória, enquanto estudos em áreas maduras de conhecimento possuem objetivos de natureza prescritiva, capazes de evidenciar relações de causa e efeito e prever resultados. Ainda há os objetivos de natureza descritiva, que visam estruturar o conhecimento obtido na fase exploratória e sugerir padrões (KARLSSON, 2008).

avançado, o aspecto da interação de usuários com modelos de PDP é praticamente inexplorado. A grande maioria dos estudos concentra-se nas informações objetivas que os modelos representam, e nos formalismos utilizados para isso. Eles não consideram, por exemplo, se a informação dos modelos estará evidente para os usuários (BROWNING, 2010). Pretende-se, portanto, explorar este aspecto (conforme exposto no item 1.2), o que torna a natureza do objetivo desta pesquisa exploratória.

Em relação à posição filosófica, a maioria da literatura sobre metodologia de pesquisa da área de gestão adota os paradigmas de Burrell e Morgan (1979) apud Karlsson (2008). Estes paradigmas têm como extremos o positivismo e o construtivismo. Para o positivismo, a verdade é objetiva e vista como um produto da razão pura, livre do seu contexto. A ênfase é em fatos observáveis e mensuráveis, e em resultados que podem ser replicáveis e generalizáveis. No outro extremo, para o construtivismo a verdade é subjetiva e dependente do seu contexto. Ela deve ser interpretada a partir das circunstâncias específicas de uma situação (KARLSSON, 2008).

Meredith et al. (1989) propõem um framework para classificar métodos de pesquisa que se baseia na posição filosófica adotada e nas fontes e tipo de informações utilizadas na pesquisa (Figura 22). Os paradigmas filosóficos que adota são equivalentes aos de Burrell e Morgan (1979) apud Karlsson (2008): racional ou dedutivo (positivista) e existencial ou indutivo (construtivista). Esses paradigmas incluem quatro perspectivas: axiomática, positivismo lógico/empirismo, interpretativa e teoria crítica. A axiomática está no extremo do paradigma racional, enquanto a teoria crítica no extremo do paradigma existencial.

Em relação às fontes e tipo de informações, Meredith et al. (1989) as classificam entre dois extremos: natural e artificial. O natural está relacionado com o empirismo, utilizando dados objetivos e concretos normalmente resultantes de observação direta; e o artificial está relacionado com o subjetivismo, utilizando dados provenientes de interpretação e construção artificial da realidade. Meredith et al. (1989) consideram três categorias a partir desses extremos: observação direta da realidade objeto (relacionada com o extremo natural), percepção das pessoas sobre a realidade objeto e reconstrução artificial da realidade objeto (relacionada com o extremo artificial).

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Adota-se para esta pesquisa a perspectiva de positivismo lógico/empirismo, que é coerente com a natureza exploratória do objetivo desta pesquisa. Essa perspectiva assume que o fenômeno sob estudo pode ser isolado do contexto em que ocorre e que fatos e observações são independentes das teorias usadas para explicá-los (MEREDITH et al., 1989). Apesar de próxima do extremo racional e dedutivo, que focam em fatos observáveis e mensuráveis, essa perspectiva também permite que se utilizem dados obtidos a partir da percepção das pessoas (por vezes subjetiva), para a análise de uma realidade ou objeto. Como esta pesquisa tem como foco a interação de usuários com vistas de modelos de PDP, as fontes e tipo de informações utilizadas são baseados em dados objetivos de eficácia e desempenho, mas também na percepção desses usuários (satisfação) sobre as vistas de PDP submetidas à análise.

Para viabilizar a análise, as vistas de modelos são isoladas do seu contexto de uso real por meio da elaboração de protótipos de um modelo de referência genérico. Esses protótipos utilizam diferentes métodos para a modelagem de um único conteúdo, fornecido por um modelo de referência genérico do PDP (vide item 4.1.3): um dos protótipos, denominado A, propõe novas vistas para esse conteúdo (vide item 4.2.1), enquanto outro protótipo, denominado B, emprega um método de modelagem existente para a elaboração dessas vistas (vide item 4.2.2).

Para elaboração do protótipo A, é feito um levantamento sobre as ferramentas computacionais atualmente empregadas para visualização de modelos de referência, para compreender que recursos poderiam ser utilizados nas vistas propostas. Para a elaboração do protótipo B, é realizada uma revisão bibliográfica sistemática sobre métodos de modelagem do PDP, bem como um levantamento dos propósitos a que esses métodos atendem, a fim de identificar qual método de modelagem (vide item 4.1.2) atende ao maior número de propósitos de usuários de modelos de referência de PDP (já que essa informação não está disponível na literatura).

O framework proposto por Meredith et al. (1989) indica, a partir da posição filosófica e fontes e tipo de informações que serão utilizadas, os métodos para coleta dos dados que são mais adequados para esta pesquisa (destacado em cinza na

pesquisa está na interação do usuário com as vistas, o método escolhido é o de entrevistas estruturadas, a serem realizadas na forma de testes de usabilidade (vide item 3.5.2) com um grupo selecionado de usuários (vide item 3.5.1). A elaboração do roteiro de tarefas dos testes de usabilidade é baseada nos propósitos de usuários de modelos de referência de PDP identificados para a elaboração do protótipo B (vide item 3.3.2).

Figura 22 - Framework para classificação de métodos de pesquisa (adaptado de Meredith et al., 1989)

A escolha pelo desenvolvimento de protótipos e pelas entrevistas estruturadas baliza a definição da forma de abordagem desta pesquisa, pois determina o tipo de dados a serem analisados. A forma de abordagem pode ser quantitativa ou qualitativa. Esta pesquisa emprega ambas, analisando dados objetivos de eficácia e

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As surveys não oferecem recursos para a coleta de dados objetivos sobre a interação de usuários com as vistas, apenas os dados subjetivos (por exemplo respostas referentes à percepção dos usuários).

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eficiência (quantitativa), e dados subjetivos de satisfação do usuário (qualitativa). Apesar da forma de abordagem qualitativa ser mais frequentemente associada à posição filosófica construtivista ou existencial, é comum encontrá-la associada à posição positivista ou realista na literatura (KARLSSON, 2008), pois é possível atribuir números a variáveis qualitativas20.

3.2 Pacotes de trabalho, principais entregas e respectivas

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