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Planificação das actividades – Objectivos, conteúdos e método

Objectivos gerais

 Contribuir para a formação pessoal dos indivíduos nas dimensões cognitiva, afectiva e comunicativa.

 Experimentar as obras de arte do ponto de vista estético.  Desenvolver a capacidade de compreensão estética.

 Contribuir para a literacia em artes dos alunos, através da referência a conteúdos de história da arte e vocabulário e conceitos elementares do mundo da arte  Desenvolver as suas capacidades linguísticas e expressão oral.

 Melhorar a sua produção plástica e capacidade de expressão criativa

 Contribuir para que se tornem futuros espectadores activos, conscientes da sua própria actividade interpretativa, capazes de contemplar, analisar, interpretar e emitir juízos críticos autónomos, acerca dos objectos artísticos que os rodeiam.

Conteúdos e objectivos específicos

Segundo Parsons (2001) para haver desenvolvimento da compreensão estética, as crianças têm que tomar consciência das relações que se estabelecem entre a obra, o artista, o contexto e o espectador e, dominá-las o melhor possível9

9 Ver figura 1 – Rede da Arte, pág. 52

. É nossa convicção, e este trabalho pretende exactamente testar isso, de que o fornecer conteúdos de história da arte e informação sobre estes quatro aspectos e pô-las a falar e a pensar sobre elas, pode facilitar esse desenvolvimento. Deste modo, os conteúdos e objectivos específicos para as actividades de apreciação estética que nos propomos experimentar foram definidos em torno dos quatro aspectos essenciais de qualquer representação pictórica e, por uma questão de organização, compartimentados assim, em quatro blocos (Quadro 6):

 Obra de arte – Forma, conteúdo e significado  Artista – Intenção e expressão

 Mundo – Contexto histórico, cultural, geográfico e socio-político da obra  Espectador/fruidor – Percepção, interpretação e juízo critico

Apesar de Freeman e Parsons (2001) fazer equivaler ao Mundo, o tema representado, para efeito dos objectivos que nos propomos, resolvemos colocar nesse elemento, os conteúdos de história da arte, contexto histórico, cultural, geográfico e sociopolítico da obra.

Quadro 6 – Conteúdos e objectivos específicos

Artista – Intenção e expressão

Conteúdos Objectivos específicos

• Intencionalidade • Expressão • Estilo pessoal • Trabalho, esforço,

sacrifício

• Compreender que por trás de toda a obra se encontra uma intenção ou expressão de sentimentos, desejos, sonhos ou medos

• Compreender a utilização de meios e técnicas em função dessa intenção ou sentimentos

• Compreender o estilo, como reflexo da personalidade do artista

A Obra de Arte – Forma, conteúdo e significado

Conteúdos Objectivos específicos

• Elementos formais: linha, ponto, textura, cor, forma

• Relações entre os elementos formais: repetição, contraste, equilíbrio, ritmo • Natureza da obra: representação real ou imaginária, imitação ou objecto real • Qualidades internas da obra:

simbolismo, iconografia • Qualidades externas da obra: contexto histórico, sócio-cultural, político ou ideológico

• Significado literal ou simbólico

• Identificar e descrever os elementos formais da obra

• Identificar e analisar as relações entre os elementos formais

• Identificar o tema representado e tipo de objecto artístico

• Relacionar a utilização dos elementos formais com o tema representado

• Compreender a obra não como imitação do real mas sim como interpretação do tema representado • Interpretar o significado da obra, tendo em conta a

Mundo – Contexto histórico, cultural, geográfico e socio-político da obra

Conteúdos Objectivos específicos

 Principais estilos, movimentos e correntes artísticas:

- Renascimento - Cubismo - Barroco - Arte fantástica - Romantismo - Dadaísmo - Realismo - Surrealismo - Impressionismo - Expressionismo - Pós-impressionismo abstracto

- Fauvismo - Gestualismo - Expressionismo - Pop Art

-Abstraccionismo - Arte Conceptual

• Principais acontecimentos políticos, sociais e culturais da história mundial e

portuguesa

 Identificar e reconhecer os diversos estilos, movimentos e correntes artísticas nas diferentes épocas e Países.

• Compreender como os principais acontecimentos históricos, em cada País e época se reflectem e associam aos diferentes estilos, movimentos artísticos e a obras marcantes na história da Arte • Conseguir contextualizar e compreender as

diferentes técnicas, temas, e expressões dos artistas em função dos conhecimentos de história da arte e contexto sócio-cultural

• Reconhecer o papel da arte na sociedade e no Mundo, como valor cultural

• Valorizar o Património artístico Nacional

Espectador/Fruidor – Percepção, interpretação e juízo crítico

Conteúdos Objectivos específicos

• Contemplação • Empatia • Compreensão • Interpretação • Juízo crítico • Experiência estética

• Desenvolver a capacidade de contemplação e atitude desinteressada • Desenvolver a capacidade de verbalizar sentimentos, sensações e

impressões

• Relacionar a obra com a sua própria experiência pessoal

• Desenvolver a capacidade de interpretação, tendo em conta a análise de todos os elementos nela contidos

• Compreender de que modo a compreensão de uma obra afecta a sua vida e o modo de olhar para o mundo

• Ser capaz de emitir um juízo critico e justificá-lo, clarificando os critérios utilizados

Método de análise e apreciação das obras

Sentimos necessidade de ter um método de referência que nos guiasse durante as actividades de apreciação de obras de arte. Optámos por experimentar o método para a apreciação crítica da arte desenvolvido por Feldman (1970) por considerarmos que sintetiza de uma forma simples e sequencial os principais aspectos que devem ser

abordados na apreciação e análise de uma obra. Este método é composto por quatro fases ou componentes: descrição da obra, análise, interpretação e juízo critico, as quais não têm necessariamente que seguir-se por esta ordem, podendo o professor ajustar esta sequência aos recursos e experiência dos alunos de uma forma flexível. Decidimos assim, introduzir algumas alterações, beneficiando desta flexibilidade, e resolvemos eliminar o Juízo crítico e introduzir a contemplação antes da descrição, por considerarmos que o valor educativo da contemplação silenciosa e do impacto com a obra de arte deve ser estimulado e aproveitado. Quanto ao juízo critico, que consiste em avaliar a qualidade e relevância da obra, justificando a sua opinião e representa o último passo na apreciação e crítica da arte, julgamos que não faz sentido junto de alunos tão jovens e numa fase tão inicial do seu desenvolvimento estético, embora possamos, no decorrer das actividades e se tal se justificar, fazer a pergunta “Acham que este quadro é valioso?”. Também não estaremos muito preocupadas em seguir este método de uma forma imperativa ou rígida, trata-se apenas de ter um guia, um ponto de partida e ver o que acontece. Julgamos ser mais importante aproveitar o que a experiência nos der e seguir o instinto do que propriamente testar o método a todo o custo. Apresentamos de seguida o método que iremos utilizar (figura 4), desenvolvendo aquilo que se pretende em cada uma das suas fases, recorrendo aos autores onde fomos buscar a respectiva fundamentação teórica:

Figura 4 – Método para a apreciação das obras de arte.

(Adaptado de Feldman, 1970)

Contemplação

Quando o objectivo é também, transformar a apreciação estética, numa experiência de vida, julgamos que o primeiro confronto com a obra de arte não deve ser a análise dos seus aspectos formais ou a transmissão imediata de informações soltas

Método de Apreciação

sobre a obra mas sim, criar as condições que permitam aos alunos permanecerem durante algum tempo a olhar para ela, sem serem incomodados. «Qualquer descoberta de uma obra de arte, deve ter em consideração os efeitos psicológicos que provoca, se queremos que o contacto entre o espectador e a obra constitua uma experiência enriquecedora.» (Funch, 1997: 42)

Perante uma determinada obra apresentada, a primeira acção será permitir que os alunos a olhem desinteressadamente, por algum tempo – de início cinco a dez minutos, mas sujeito a alterações consoante as respostas e resultados observados. O objectivo é deixá-los a olhar livremente, entregues aos seus pensamentos e analogias com as suas próprias experiências.

Não pretendemos conseguir que os alunos permaneçam logo de início, os cinco ou dez minutos em silêncio e concentração absoluta, experimentando os prazeres da contemplação. Mas o objectivo é criar a oportunidade, o treino, o hábito de olhar em silêncio e mergulhar na obra, à sua própria maneira e com as suas ferramentas pessoais. A experiência diz-nos desde já que os alunos não ficarão em silêncio, mas que darão vazão a uma série de exclamações, comentários, comparações, perguntas e declarações de preferência ou descontentamento. Trata-se do que Eulàlia Bosch chama “ver uma pintura em voz alta” (2003:33), referindo que a necessidade de falarmos quando contemplamos uma obra é uma forma de nos apropriarmos do nosso próprio olhar. Esta autora considera que a verbalização da experiência estética é muito importante, porque abre uma janela sobre nós mesmos e, que as crianças ao não estarem ainda tão presas às formas convencionais de expressão oral dos adultos, o fazem com mais facilidade e naturalidade, porque arranjam formas insólitas de combinar as palavras, as formas e as cores para fazer passar o significado.

Vamos assim, deixar os nossos alunos verbalizar o “seu olhar” durante os minutos dedicados à contemplação, sem os interromper ou mandar calar. Deixá-los fazer a ligação entre a obra e elementos das suas experiências, gostos, preconceitos e dúvidas, descobrindo talvez, novos aspectos do seu mundo interior. «Sucumbir ao fascínio de uma obra de arte, significa ouvir a sua voz, quando acorda com o rumor da admiração e a dúvida que provoca em quem a contempla.» (Bosch, 2003: 79-80)

A dúvida pode surgir ao fazerem perguntas: devemos responder de imediato? Interrompendo assim o tempo destinado à contemplação em silêncio e possivelmente o ritmo e sequência da planificação, no que diz respeito ao momento da interpretação, ou

devemos dizer que esperem, que já lá voltamos? Não voltamos com certeza, esse momento já não volta, essa dúvida, essa preocupação ou essa descoberta podem ser a preciosa janela que a motivação abre à aprendizagem efectiva. E, ou se agarra no momento, ou se perde para sempre. Bosch (2003) refere que as perguntas das crianças, quando estão perante as obras, são uma forma de agudizar o olhar e as respostas que exigem não são para acumular saber mas sim para poder ver melhor. Vamos então permitir que vejam melhor e agarrar todas as janelas que se abrem.

Responder às suas perguntas no contexto desta investigação, poderá representar além disso, uma maneira de transitar da contemplação para a descrição e análise, de uma forma mais natural, guiados pelo interesse e curiosidade dos alunos e não por imperativos rígidos da planificação ou do método.

Descrição

A descrição constitui o ponto de partida para a apreciação da obra. Trata-se de responder à pergunta “O que é isto?” ou “O que temos aqui?” e descrever tudo o que se vê, identificando o tema e os elementos formais e não formais (Feldman, 1970).

Começa com a partilha das primeiras impressões, que se vão tornando mais consistentes à medida que se acrescentam novos aspectos e se descrevem as suas características. Trata-se de uma pergunta acessível a qualquer idade uma vez que se pede apenas que descrevam aquilo que vêem. Feldman (1970) refere também que tem a vantagem de abrandar a tendência do espectador em tirar conclusões precipitadas sobre a obra.

De acordo com Parsons (2001) a relação obra/mundo ou tema representado estabelece-se precisamente com esta pergunta, sobretudo quando a criança ainda não tem consciência da ideia de representação e ela é colocada em relação aos seus próprios rabiscos. A pergunta o que é isto? Transmite a ideia de que a criança produziu algo que está acabado, que pode ser contemplado e até exposto – a ideia de obra de arte. E também abre o caminho para a ideia de que os rabiscos representam algo – possuem significado. São representações, necessitam de ser entendidas e requerem interpretações.

Análise

Feldman chama a esta fase do processo de apreciação estética, “observar o comportamento daquilo que estamos a ver” (1970:357) pois implica analisar as relações

que se estabelecem entre os elementos identificados na descrição, o modo como o artista organizou os elementos formais, através do equilíbrio, a repetição, o contraste e o ritmo.

Interpretação

Interpretar uma obra de arte ou objecto artístico é atribuir-lhe um significado. A pergunta “O que significa? implica analisar as qualidades internas (simbologia, iconografia) e externas (contexto histórico, sócio-cultural, politico, ideológico) da obra, relacioná-las com os elementos descritos e analisados e tentar compreender o seu significado. Segundo Feldman (1970) é a fase mais difícil, criativa e compensadora, onde damos expressão ao nosso desejo natural de responder a uma experiência da forma o mais completa possível.

Terry Barrett (2003) colocou especial ênfase na interpretação, estabelecendo dezanove princípios que podem servir de guia para a interpretação de qualquer objecto artístico. Fundamentou estes princípios na teoria da filosofia da arte de Arthur Danto cujas proposições principais são de que uma obra de arte é sempre acerca de algo, projecta um determinado ponto de vista, projecta esse ponto de vista através da retórica, requer interpretação e tanto a obra como a interpretação requerem um contexto da história da arte.

Faremos referência apenas a alguns desses princípios que consideramos mais relevantes no contexto deste trabalho:

(i) As obras de arte são sempre sobre alguma coisa e como tal necessitam ser interpretadas;

(ii) Tema + material ou meio + forma + contexto = significado;

(iii) Interpretar uma obra de arte é compreendê-la através da linguagem; (iv) Os sentimentos guiam a interpretação;

(v) As actividades criticas de descrição, análise, interpretação, avaliação e teorização sobre obras de arte estão relacionadas entre si e são interdependentes; (vi) O objectivo da interpretação não é chegar a uma só interpretação final e única; (vii) Qualquer obra de arte permite um vasto número de interpretações;

(viii) Os objectos da interpretação são as obras e não os artistas; (ix) Algumas interpretações são melhores do que outras.

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