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No estudo de caso qualitativo são utilizadas variadas fontes de informação, é uma estratégia multimétodo por excelência (GODOY, 2010). A coleta de dados nesta estratégia de pesquisa, segundo Yin (2005), pode ser feita a partir, principalmente, de seis fontes de evidência, são elas: registros em arquivos, documentos, observação direta, observação participante, entrevistas e artefatos físicos, que podem sem combinados de diferentes formas. Godoy (2010) sintetizou essas fontes em três grandes grupos: entrevistas, observação e documentos. Para a consecução do objetivo proposto nesse estudo foram utilizadas as fontes sugeridas pelos referidos autores (YIN, 2005; GODOY; 2010).

A entrevista, no sentido amplo da comunicação e no sentido restrito de coleta de informações sobre determinado tema científico, é a estratégia mais utilizada no processo de trabalho de campo. É, primordialmente, uma conversa a dois ou entre vários interlocutores,

destinada a construir informações e temas pertinentes para um objeto de pesquisa, realizada por iniciativa do entrevistador (MINAYO, 2008). As entrevistas podem ser caracterizadas por sua forma de organização. Nesse estudo, optou-se pela entrevista semiestruturada que tem como objetivo principal compreender os significados que os entrevistados atribuem às situações e questões relacionadas ao tema de interesse do pesquisador (GODOY, 2010).

As entrevistas foram realizadas com três categorias distintas de sujeito, a saber: 1) seis entrevistas com cinco artesãs da comunidade; 2) uma entrevista com um dos designers responsáveis por encabeçar os processos de ressignificação do artesanato de Conceição; e 3) entrevistas com doze consumidores que compraram quaisquer produtos no estande de Conceição das Crioulas na XVII edição da FENEARTE, em julho de 2016.

As entrevistas com as artesãs se deram no intuito de desnudar os aspectos identitários conferidos aos produtos e o contexto sócio-histórico da produção do artesanato quilombola, no período de outubro de 2016 a janeiro de 2017. Foram realizadas seis entrevistas individuais com cinco artesãs da comunidade. O protocolo das entrevistas (APÊNDICE A) foi construído conforme adaptação do modelo elaborado por Almeida et al., (2013) (Quadro 1(2)), segundo os pressupostos do Circuito da Cultura de Johnson (2006) e Du Gay et al. (1997).

Uma das artesãs foi entrevistada em dois momentos distintos: a primeira entrevista realizada concentrou-se nos aspectos relacionados à participação da comunidade na FENEARTE e dos significados simbólicos impregnados nos produtos, visto que esse se sujeito se trata de uma das lideranças da comunidade e acompanhava todo o processo burocrático e de venda dos produtos no evento, pois, como a FENEARTE se mostrou de extrema importância para a comercialização dos bens artesanais, quisemos averiguar sua configuração e particularidades. A outra entrevista foi semelhante realizada à com as demais artesãs.

As artesãs foram selecionadas conforme a técnica não probabilística snowball, que consistiu, inicialmente, na escolha de uma artesã, que exercia função de liderança na comunidade e no grupo de artesanato e, a partir dela, entrevistamos o sujeito seguinte, por sua indicação, e à medida que entrevistamos os sujeitos, recebíamos deles indicações para as entrevistas posteriores, conforme nossa solicitação. Isso se deu de maneira sucessiva até se chegar ao número de entrevistas desejado (BALDIN; MUNHOZ, 2011), que foi de cinco artesãs entrevistadas, atendendo ao critério de saturação, isto é, quando o conhecimento formado pelo pesquisador, no campo, possibilitou entender a lógica interna do grupo ou da coletividade em estudo (MINAYO, 2010). As entrevistas foram realizadas apenas com

artesãs, esse procedimento ocorreu naturalmente, visto que a maioria de artesãos é composta por mulheres. Soma-se a isso, ainda, a narrativa do protagonismo das mulheres na comunidade que provavelmente influenciou as indicações das artesãs.

Antes da utilização do protocolo de entrevista definitivo, utilizamos uma versão piloto com uma das artesãs e, a partir do material coletado, reorientamos e ajustamos o instrumento, conforme demandou a entrevista. Ao longo de todo o processo de realização das entrevistas, o roteiro utilizado foi flexibilizado para atender às especificidades de cada situação, atendendo à indicação de Godoy (2010).

À medida que o pesquisador realizava a coleta de dados na comunidade, desenhou-se a necessidade de entrevistar um dos designers responsáveis pela ressignificação do artesanato, a julgar pela importância atribuída a ele nas falas das entrevistadas. Foi aplicado, assim, o roteiro do Apêndice-B, visando compreender como se deram os processos de (re)configuração dos significados dos produtos artesanais na comunidade, sob uma ótica distinta das artesãs. O material coletado com os sujeitos em diferentes posições do discurso alargou o potencial elucidativo das informações angariadas.

Já as entrevistas com os consumidores foram realizadas em três dias consecutivos, na FENEARTE. No estande de Conceição das Crioulas, quando um consumidor comprava quaisquer produtos, era abordado pelo pesquisador sobre as motivações que o levaram a tal ação. Chegou-se ao número de doze entrevistas realizadas, atendendo ao critério de saturação das informações coletadas.

Em todas as entrevistas foram efetuadas perguntas abertas a fim de dar maior liberdade aos respondentes e de modo a possibilitar a análise mais aprofundada e dinâmica dos significados expostos e latentes no discurso dos sujeitos. O material coletado nas entrevistas, em geral, chegou ao montante de 6h18min41s de áudios gravados e a um total de 188 páginas transcritas.

A estratégia de observação busca apreender aparências, eventos e ou comportamentos (YIN, 2005; GODOY, 2010), em que o pesquisador procura ver e registrar o maior número desses que interessem ao seu trabalho (GODOY, 2010). Foram realizadas observações diretas em dois momentos distintos. O primeiro deles aconteceu na FENEARTE. Seguindo um protocolo de observação, o pesquisador esteve atento às técnicas de vendas e abordagens de clientes utilizadas pelas artesãs, os aspectos materiais de organização do estande e as reações dos consumidores frente aos produtos e às artesãs. As anotações foram efetuadas com o intuito de complementar e confrontar as informações angariadas na fase de entrevistas. O segundo momento deu-se no interior da comunidade, numa reunião da AQCC, visando

desvelar os discursos que permeiam a luta quilombola nos dias atuais. Em ambos os momentos, o pesquisador registrou em diário de campo as informações pertinentes aos objetivos deste estudo, somados ainda a angariação de atas de reunião de momentos diversos da AQCC.

O termo “documentos”, compreendido de forma ampla, engloba materiais escritos, estatísticas e outras modalidades de registros organizados em banco de dados, além de elementos iconográficos (imagens, fotografias, filmes) (GODOY, 2010). Minayo (2010) destaca que na preparação da investigação, o pesquisador precisa decidir que documentos listar e seu tipo, levando em consideração a natureza das informações que deseja procurar.

A pesquisa documental concentrou-se, sobretudo, em trabalhados acadêmicos, informativos e de divulgação, produzidos sobre a comunidade, a respeito das temáticas relativas ao tema do estudo: tais como a identidade quilombola e a produção do artesanato. A coletânea de trabalhos científicos angariada contou com a presença de artigos científicos, duas teses de doutorado, duas dissertações de mestrado e uma monografia. Além desses, contamos com informações de sites institucionais, como da Prefeitura Municipal de Salgueiro, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O uso da pesquisa documental consistiu em corroborar, ampliar ou refutar as evidências provenientes das outras fontes de coleta de dados (YIN, 2005).

As variadas fontes de coleta de dados foram utilizadas seguindo os princípios do processo de construção identitária sob as dimensões concretas e abstratas dos significados. O circuito da cultura de Du Gay et al. (1997) possibilitou o fluxo dinâmico entre essas dimensões, através da análise dos dados sob o escopo principal da identidade, mas reverberando nas demais instâncias do circuito, analisadas de forma integrada, mas a partir do reconhecimento de sua interpendência.