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Foto 2 Vista aérea de Maragogi, porção Sudoeste

3.3 Caracterização socioeconômica de Maragogi

3.3.3 Plano diretor de Maragogi

A política de desenvolvimento prevista pela Constituição Federal de 1988 transfere da União para a esfera municipal a responsabilidade pela legislação urbana, através da elaboração e execução de planos diretores. O artigo 182 da Constituição brasileira determina a criação de plano diretor para cidades com mais de 20 mil habitantes e a garantia da função social da cidade e a regularização urbana (BRASIL, CF. Brasília: Congresso Nacional, 1988). Desde a aprovação do

Estatuto da Cidade27, em 2001, define-se que a os planos diretores devem conter instrumentos para regulação do uso e ocupação do solo, regulamentação das posses e criar estratégias para a gestão participativa.

O Plano Diretor de Maragogi, que se denomina Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Maragogi28, em seu texto coloca como primeiro Objetivo Geral:

Melhorar a qualidade de vida da população, particularmente no que se refere à saúde, à educação, à cultura, às condições habitacionais, à infra- estrutura e aos serviços públicos, de forma a promover a inclusão social, reduzindo as desigualdades que atingem aos munícipes das diferentes camadas da comunidade local.

Além disso, o Plano Diretor do município contém objetivos tais como “interesse coletivo”, “justiça social”, “respeito às funções sociais da cidade, fortalecimento do Capital Humano e do Capital social”, “equidade, universalização da mobilidade e acessibilidade” como princípios necessários para que ocorra o desenvolvimento dentro do atual paradigma em Maragogi.

O turismo aparece como principal responsável pelo PIB Municipal e em todo o texto é colocado como atividade principal para o desenvolvimento econômico do município. Para tanto, todos os elementos necessários para a inserção da atividade devem ser estimulados, conforme objetivos da política do turismo no município:

I - consolidar a posição do município como principal polo turístico da microrregião do Litoral Norte Alagoano;

II - desenvolver projetos que visem sustentar fluxos turísticos elevados e constantes, estimulando ações que minimizem os efeitos de sazonalidade; III – realizar o desenvolvimento sistêmico do turismo em suas diversas modalidades;

IV – estabelecer política de desenvolvimento integrado do turismo, articulando-se com os municípios da região Norte de Alagoas e Mata Sul do Estado de Pernambuco;

V – desenvolver políticas de diversificação de atrativos, objetivando aumentar o índice de permanência do turista no Município;

VI – criar incentivos fiscais, objetivando a captação de novos investimentos.

Embora o Plano Diretor do município identifique o objetivo de desenvolvimento econômico com base no turismo, não se apontam estratégias para a implementação deste desenvolvimento, como também não se identifica um estudo de capacidade para uso e ocupação do solo para o uso desta atividade e a regulação para o acesso a áreas urbanizadas. As diretrizes estratégicas existentes       

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Lei 10.257, de 10 de julho de 2001

para garantia de tal desenvolvimento aparecem apenas no discurso de forma genérica.

Com alicerce do Plano Diretor de Maragogi, a busca pelo desenvolvimento, com base no turismo, elege áreas específicas que coincidem em grande parte com o recorte espacial adotado por este estudo. Estas áreas estão divididas em Zonas, em que o povoado de São Bento pertence à Zona de Planejamento Urbano de São Bento (ZPU1); a sede municipal está delimitada pela Zona de Planejamento Urbano de Maragogi (ZPU2); Barra Grande e Peroba pertencem respectivamente à Zona de Planejamento Urbano de Barra Grande (ZPU3) e Zona de Planejamento Urbano de Ponta do Mangue/Peroba (ZPU4). Nas ações estratégicas de todas estas zonas são colocados elementos que favorecem o desenvolvimento do turismo. Por exemplo: na ZPU1 “conservar a aparência bucólica”, “desenvolver o artesanato, pequenas indústrias alimentícias, gastronomia”, “consolidação do Festival da Mariscada”; na ZPU2 a “revitalização paisagística”, “incentivo a atividades vinculadas ao comércio e à prestação de serviços”, “arborização urbana”; nas ZPU3 e ZPU4 “instituição do calendário permanente de eventos”, “criar espaços destinados ao lazer”, instituir incentivos fiscais a empreendimentos hoteleiros”, “viabilização de infra-estrutura para captação de investimentos”.

Em algumas partes, o texto se apresenta contraditório no que se propõe. Por exemplo, no Art. 4º, X, estabelece como um dos seus objetivos “prevenir distorções e abusos no desfrute econômico da propriedade urbana e coibir o uso especulativo da terra como reserva de valor, de modo a assegurar o cumprimento da função social da propriedade” ao mesmo tempo que determina que a ZPU4, representada por Peroba, seja explorada como área para o estimulo da expansão imobiliária, através da incentivo a instalação de empreendimentos e desestímulo ao parcelamento do solo em pequenas glebas, provocando o adensamento populacional, ou seja cria mecanismos que favorecem a especulação em uma área que já sofre forte processo de segregação espacial.

As zonas ZPU1, ZPU2 e ZPU3 estão delimitadas como sendo áreas voltadas às Operações Urbanas Consorciadas29 do município para a melhoria do sistema viário, melhoria e ampliação da infraestrutura urbana, dinamização de áreas visando       

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As Operações Urbanas Consorciadas são o conjunto de medidas coordenadas pelo Município com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental, notadamente ampliando os espaços públicos, organizando o transporte coletivo, implantando programas habitacionais e de melhorias de infraestrutura e sistema viário, num determinado perímetro.

à geração de empregos e a implantação de equipamentos estratégicos para o desenvolvimento urbano. O Plano Diretor busca em muitas de suas partes o atendimento às necessidades do turismo. A mesma ênfase não é dada nas ditas Zonas Especial de Interesse Social (ZEIS)30. Apesar do Estatuto da Cidade definir em suas diretrizes a necessidade de políticas públicas para mobilidade, transportes, saneamento ambiental, observa-se ausência de diretrizes e/ou instrumentos visando a integração ou meta para a implementação, prazos e orçamento para a realização desses tipos de políticas públicas, uma incoerência no que diz respeito à sua denominação: Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável.