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No início do estágio profissional na Escola, em novembro de 2013, e após conhecer o professor cooperante, iniciou-se a primeira fase do projeto de intervenção, a fase de observação. Nesta fase, os alunos foram observados, nos seus comportamentos, atitudes e desempenho em sala de aula através de uma ficha de observação elaborada para o efeito (cf. Anexo 1) e foram registadas as opiniões dos alunos através da técnica de Focus Group. Foi com base nesses registos que se iniciou a elaboração do plano geral de intervenção e que serviu de base ao estágio profissional e subsequentemente a este relatório.

Quando teve início o estágio nesta turma, o professor cooperante já tinha finalizado o 1.º módulo da disciplina, “Componentes Informáticos”, e tinha iniciado o módulo 2 “Processador de Texto Avançado”. As notas do teste de avaliação obtidas pelos alunos no módulo 1 apresentam- se na Tabela 6.

Tabela 6 - Resultados do Teste de Avaliação do Módulo 1

Notas do Teste de Avaliação do Módulo 1

Positivas Negativas

Turno 1 % Turno 2 % Turno 1 % Turno 2 %

3 27,27 7 53,85 8 72,73 6 46,15

Decorrente da observação direta em sala de aula verificou-se existirem alguns alunos que tinham comportamentos que não eram indicados em sala de aula – consulta de salas de conversação, conversas paralelas à sala de aula, jogos, entre outros.

Uma das premissas que deram lugar ao tema do estágio foi ter observado diretamente em sala de aula e ter registado através da utilização da técnica Focus Group, que os alunos mostravam insatisfação na forma como os conteúdos programáticos eram lecionados referindo não estar a escola a dar-lhes o que eles queriam.

Face às evidências observadas, designadamente, o mau resultado no teste de avaliação e a observação sistemática de comportamentos menos indicados em sala de aula, colocou-se a

hipótese de as aulas não estarem a corresponder às expectativas e necessidades dos alunos. Colhendo a opinião de Valente e Osório (2009) de que “the answers they seek are not being provided by the school they attend” (Valente & Osório, 2009, p. 82), seguindo as recomendações de Becker (1994) em que a escola tem uma forma particular de transmitir os conhecimentos, que “…consiste em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto, em vez de fazer agir, operar, criar, construir a partir da realidade vivida por alunos e professores…” (Becker, 1994, p. 3) e após revisão da literatura, decidimos assumir como tema central do estágio “O aluno no papel do professor”. Como estratégia de desenvolvimento, fizemos uma aproximação ao conceito de Flipped Classroom, apenas no sentido em que o aluno, e não o professor, assumiu a responsabilidade de elaborar os materiais necessários à lecionação dos conteúdos disponibilizando-os aos outros colegas. Em função disso, definimos os nossos objetivos e estabelecemos as nossas estratégias de ação de modo a superar as dificuldades observadas.

O objetivo geral da intervenção foi: Promover a autoaprendizagem dos alunos com base em projetos.

Subjacente a este objetivo geral foram definidos outros objetivos secundários: a) Diversificar as estratégias de ensino e aprendizagem;

b) Proporcionar a aprendizagem em situações práticas; c) Promover a autonomia dos alunos;

d) Propor atividades de trabalho colaborativo entre alunos;

e) Desenvolver projetos de aprendizagem com interesse na comunidade.

Partindo destes objetivos foram traçadas as estratégias de concretização dos mesmos. De acordo com o objetivo de intervenção “Diversificar as estratégias de ensino e aprendizagem”, pretendeu-se incentivar o uso de várias ferramentas de representação dos conceitos aprendidos através da utilização de estratégias específicas de intervenção. Inserem-se nessas estratégias a Criação de pequenos Filmes em Adobe Flash e/ou Movie Maker; utilização dos programas de apresentações eletrónicas PowerPoint e Prezi e a folha de cálculo Excel.

Associado ao objetivo “Proporcionar a aprendizagem em situações práticas” – a estratégia de intervenção baseia-se na opinião dos alunos recolhida, através da sua participação no Focus Group, sobre o modo de funcionamento das aulas teóricas. De forma consensual os alunos mostraram que não gostam de aulas teóricas, embora concordem que não há prática

gostariam de ter uma aula, por exemplo, a aluna 8T1 respondeu que “o facto de ser um aluno a investigar, e a dar uma aula com a ajuda do professor, acho que resulta sempre e também quando são aulas teóricas, acho que não deviam ser os 90 minutos, neste caso da aula teórica mas por exemplo dar um bocado de teoria e no fim aplicar sempre um bocado de prática para por em prática o que aprendemos na teoria”. A aluna 4T1 referiu que o professor deveria “interagir mais com alunos, por exemplo, dar um tema, perguntar se alguém tem dúvidas, fazer alguma coisa, por exemplo fazer exercícios alguns e é isso, basicamente é o que a colega disse.“, o aluno 10T1 sugeriu o seguinte: “Eu acho que as aulas devem ser efetuadas em formato digital mas depois ao fim da matéria ser explicada, fazer perguntas aos alunos para ver se eles perceberam e se não perceberam voltar a explicar e tirar as dúvidas aos alunos.” e foram continuando, manifestando as suas opiniões. O aluno 9T1 referiu o seguinte: “…ao fim de perguntar ou ver se nós fazemos ou dar exercícios, vir a cada um e ver se nós estamos mesmo realmente a perceber ou se estamos a dizer que estamos a perceber para não ter que estar a tirar dúvidas ou assim, porque às vezes podemos estar a dizer que percebemos mas não estamos a perceber nada e o stôr se viesse aos cadernos fizermos ou assim, eu acho que é melhor, isto é a minha opinião”. O aluno 1T2 disse: “eu acho que as aulas podiam ser um bocado mais participativas com os alunos, por exemplo o professor podia dar um problema, ou um exercício e faziam-se grupos e assim participávamos todos porque estávamos todos a resolver o mesmo problema e queremos todos saber, portanto estávamos a falar uns para os outros para tentarmos descobrir o problema, informática é isso, basicamente.” Mediante a análise de todas estas opiniões é legítimo concluir que os alunos querem mais prática em detrimento das aulas teóricas.

Associado ao objetivo “Promover a autonomia dos alunos” – a estratégia de intervenção baseou-se na opinião de Rousseau que considera importante que o aluno adquira competências de responsabilização na construção do seu próprio conhecimento. Na sua obra, Émile ou de l'Éducation, um dos mais conhecidos clássicos da educação, Rousseau (1999) destacava que “… mon objet n’est pas de lui donner la science, mais de la lui faire connaître, de lui apprendre à en acquérir au besoin, enfin de la lui faire estimer exactement ce qu’elle vaut, et de lui faire aimer la vérité par-dessus toutes choses“ (Rousseau, 1999, p. 621). Nas ideias de Rousseau, o papel do professor deve ser o de orientador em todo o processo, disponibilizando, o apoio necessário para que o aluno participe ativamente na construção do seu conhecimento.

Associado ao objetivo “Propor atividades de trabalho colaborativo entre alunos” – pretendo incentivar o trabalho colaborativo na linha das ideias defendidas por Roberts (2004) “[c]ollaborative is an adjective that implies working in a group of two or more to achieve a common goal, while respecting each individual’s contribution to the whole.” (Roberts, 2004, p. 205) Neste sentido, como no módulo que me cabe lecionar os conteúdos se interligam, será desejável que os alunos aprendam a partilhar materiais entre si.

Finalmente, para satisfazer o objetivo “Desenvolver projetos de aprendizagem com interesse na comunidade” – e segundo as palavras de Onrubia,

a tentativa de formular verbalmente a própria representação para comunicá- la aos demais obriga a reconsiderar e reanalisar aquilo que se pretende transmitir; ajuda a detetar incongruências e incorreções; força a ser mais explícitos e precisos; obriga a buscar formulações alternativas para uma mesma idéia; ajuda, em suma, a rever e enriquecer próprio ponto de vista. (Onrubia, 2001, p. 146)

Neste sentido promovi a partilha dos conhecimentos adquiridos pelos alunos com os pais e encarregados de educação, assim como com os colegas desta turma. Estou convicta que esta estratégia levou os alunos a ter maior empenho e motivação na elaboração dos projetos porque foram apresentados a pais, colegas e professores e por eles avaliados.

Tendo traçado os objetivos e posteriormente as estratégias no plano de intervenção, estabelecemos para o efeito formas de propiciar a aprendizagem significativa dos alunos. Para o efeito, foi elaborado um exercício de diagnóstico para aferir os conhecimentos prévios dos alunos, visto alguns dos conceitos terem sido lecionados noutra disciplina do curso.

Segundo o paradigma construtivista o professor deve estimular os alunos a aprender partindo dos conhecimentos previamente adquiridos relacionando-os com novas situações, para com maior facilidade, darem lugar a novas aprendizagens. Segundo Miras (2001) “… a atualização e a disponibilidade dos conhecimentos prévios dos alunos são uma condição necessária para poderem realizar uma aprendizagem o mais significativa possível…” (Miras, 2001, p. 69). Todas as atividades foram centradas mediante os interesses e realidades dos alunos de forma a cativar a sua atenção, obterem aproveitamento e adquiram competências técnicas, científicas e socioculturais, de modo a serem utilizadas nas suas vidas pessoais e profissionais.

Com o intuito de centrar as aprendizagens nos alunos, foi criado um ambiente propício ao desenvolvimento da autonomia e a aquisição de conhecimentos em AISE, estabeleceram-se para este projeto metodologias apoiadas na aprendizagem baseada em projetos. Os conteúdos programáticos do módulo 3 foram agrupados em seis grandes projetos e distribuídos por cada um dos turnos aos grupos de trabalho, em que cada grupo era constituído por dois elementos, promovendo assim, o trabalho colaborativo entre pares.

Em relação à carga horária da disciplina, esta contemplava 5 tempos letivos semanais, para cada um dos turnos, o que perfazia um total de 10 tempos semanais, sendo distribuído da seguinte forma: 6 tempos à quarta-feira e 4 tempos à sexta-feira. De forma a promover a autonomia nos alunos, em todas as aulas, os alunos trabalhavam em cada um dos seus projetos tomando o professor o papel de os orientar. Tal como refere Cardoso

quando se refere orientar os alunos para a construção dos seus conhecimentos, é mesmo orientar. Não se espera que os alunos construam, ou descubram sozinhos, o que já foi inventado, a ideia é contextualizar os tópicos a estudar, para promover a reflexão nos alunos para que fiquem com cabeças bem feitas e não apenas cabeças cheias. (Cardoso, 2013, pp. 92,93)

Relativamente à avaliação dos alunos e à forma como estes devem ser avaliados de forma a refletir uma nota final ao módulo, “discutimos” com os alunos os parâmetros a ser avaliados nos projetos finais. Para isso servimo-nos dos ensinamentos de Hadji (1994) que define avaliação como “uma atividade que deve ser exercida em proveito daqueles sobre os quais ela se exerce (por exemplo: os alunos), ou daqueles que dizem respeito ao objeto sobre o qual ela se debruça (neste caso, por exemplo, um método pedagógico)” (Hadji, 1994, p. 88). Para além disso, e de forma a apreciar se os conteúdos estavam a ser apreendidos, no decorrer do projeto dos alunos, foi elaborada uma pequena ficha de trabalho (cf. Anexo 2) usando para tal a ferramenta Question Writer HTML5, versão demonstração para 30 dias e a Moodle, onde os alunos resolveram com alguma facilidade a mesma.

Com o objetivo de avaliar este projeto de intervenção e o cumprimento dos seus objetivos, foram utilizados os seguintes documentos: observação direta (cf. Anexo 1 ), de forma a verificar o comportamento e o envolvimento dos alunos em sala de aula; grelhas de avaliação do comportamento em situação de aula (cf. Anexo 3). No que concerne ao levantamento da opinião dos alunos, em cada aula, foram chamados a preencherem vários instrumentos, criados para o

efeito (cf. Anexo 4 a Anexo 9), de forma a ir obtendo a perceção deles em relação ao meu desempenho, para assim, se necessário fosse, alterar as estratégias e/ou objetivos.

Desenvolvimento e Avaliação da Intervenção

Neste capítulo serão relatadas e discutidas algumas das opções tomadas neste projeto, métodos e técnicas de recolha de dados, tal como a tecnologia usada. No seguimento do capítulo serão apresentados, de uma forma reflexiva, as atividades realizadas ao longo das aulas, e a sua avaliação. Segue-se a avaliação do projeto de intervenção nos pontos: à luz dos objetivos traçados e dos projetos desenvolvidos pelos alunos. Termina com uma síntese das principais dificuldades encontradas.

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