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4. A Administração Pública no Brasil

4.4 Plano de gestão pública do atual governo

O primeiro movimento do governo petista, que se iniciou em janeiro de 2003, sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, foi o estabelecimento de um novo marco, de enfoque social, simbolizado pelo compromisso de enfrentamento do problema da fome, base para a construção de um novo modelo de desenvolvimento. Na construção da agenda política, nota-se a mescla de elementos da gestão anterior somados a novos temas. O PPA 2004-2007 – “Plano Brasil de Todos” – evidencia as prioridades estratégicas do novo governo: inclusão social e redução das desigualdades sociais (megaobjetivo de dimensão social); crescimento com geração de trabalho, emprego e renda, ambientalmente sustentável e redutor das desigualdades (megaobjetivo de dimensão econômica, regional e ambiental); e promoção e expansão da cidadania e fortalecimento da democracia (megaobjetivo de dimensão democrática). Na dimensão democrática, está prevista a implementação de uma nova gestão pública “ética, transparente, participativa, descentralizada, com controle social e orientada para o cidadão”. Registra-se a participação dos Fóruns de Participação Social, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, além de Conferências Temáticas e de iniciativas autônomas de organizações sociais (MP, 2003). A expansão dos direitos sociais marca um período de fortalecimento do Estado:

No que se refere à concepção, a grande diferença reside na integração entre a política social e a política econômica, derivada do modelo de desenvolvimento adotado. O modelo realiza a integração entre, por um lado, a inclusão social e a redistribuição da renda e, por outro, os investimentos e o crescimento da renda e do emprego. A universalização dos direitos sociais básicos e a transmissão dos ganhos de produtividade aos salários estabelecem

a sinergia entre as políticas sociais e de investimento, promovendo o crescimento por meio da expansão do mercado de consumo popular.

A esse respeito, convém assinalar o exemplo fornecido pela ampliação dos direitos previdenciários, que aumentou a renda dos beneficiários e teve impacto notável na redução da pobreza. As transferências de renda realizadas por intermédio da previdência retiraram um enorme contingente de pessoas da situação de pobreza. Não fossem os benefícios previdenciários, a proporção de pobres, no Brasil, teria sido de 43% da população em 1999, ao invés dos 34% então observados (MP, 2003).

E ainda:

O Plano Plurianual 2004-2007 tem como objetivo central a ampliação da cobertura previdenciária, levando à inclusão social e ao fortalecimento da cidadania, atendendo aos milhões de trabalhadores brasileiros que estão fora do sistema e tendo como premissas básicas a garantia da regularidade dos pagamentos dos benefícios e a gestão quadripartite da Previdência Social.

O programa Proteção Previdenciária está, assim, orientado para a expansão da cobertura, atraindo mais trabalhadores para a formalização de vínculo junto à Previdência Social, mediante a disseminação de informações, a sensibilização da população brasileira e ações de conscientização para inscrição e permanência no sistema (MP, 2003).

Nos primeiros meses do novo governo, duas áreas assumiram desafios relevantes: o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, na formulação da política de gestão; e a Casa Civil, que integra a Presidência da República, focada na política regulatória e na unificação de políticas sociais. Em 2003, o Tribunal de Contas da União preparou relatório que evidenciava problemas na base de dados dos programas sociais do Governo Federal, nas áreas de educação, saúde, trabalho e serviços públicos (gás)14. Até o final de 2002, o Governo Federal tinha quatro programas assistencialistas sem nenhum mecanismo de integração (Gaetani, 2003). A criação do Conselho de Política Social, presidido pela Casa Civil, visava a equacionar tal problema. Quanto à gestão pública, buscou-se construir um plano específico, coordenado pela Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (Marini, 2005). Merece nota a diretriz do novo governo, nesse tema:

A melhor arma contra o desperdício e a corrupção é a consolidação de um Estado eficiente, ágil e controlado pelos cidadãos. O compromisso com a cidadania exigiu que a formulação

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do PPA 2004-2007 fosse acompanhada por intensas consultas e debates com a sociedade civil organizada e com representações dos governos estaduais e municipais. Da mesma forma, a sociedade brasileira e os entes federados serão fortemente ouvidos no processo de implementação e avaliação do Plano. O caráter participativo deste PPA é uma fórmula de enriquecimento permanente do planejamento e da gestão das ações do Governo Federal, conferindo-lhes transparência e maior eficácia social. A ampliação da participação da sociedade nas escolhas de políticas públicas é uma das marcas diferenciais deste PPA (MP, 2003).

Primeiramente, em virtude do contingenciamento orçamentário, adotou-se programa de otimização, consubstanciado na seleção de programas prioritários e na revisão de processos, para redução de custos, de tempo de execução e aumento da qualidade. Além da diretriz de eficiência, destaca-se ainda a redução do déficit institucional, marcado pela ausência do Estado e pela incapacidade de assegurar direitos sociais e civis, além da transparência e da participação (Marini, 2005). Na percepção de Gaetani, nos primeiros meses do novo governo, passa a ocorrer a “policização”:

... o quadro da questão delineado pelo Governo do Partido dos Trabalhadores (PT) em relação à gestão pública é de “policização” (um anglicismo derivado da palavra policy, política pública em português), em oposição à “profissionalização” dos anos 80 durante o processo de redemocratização, e a gerencialização, durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. Por policização eu quero dizer uma ênfase na estruturação e no projeto de ações em termos de categorias de elaboração de políticas, dentro do contexto de uma perspectiva processual – como o caso dos esforços sendo realizados pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MP) (Gaetani, 2003).

Sem pretensão de validação científica das análises ora apresentadas, os relatos de experiências evidenciam que o novo modelo de gestão, a partir de 2003, não abandonou diretrizes e paradigmas da NPM, notadamente a eficiência, com a característica adicional de maior participação da sociedade civil, de organizações não governamentais e das corporações, inclusive para a formulação do orçamento15. A estratégia do governo atual, porém, nega a crise do Estado de forma explícita e propõe uma releitura, reposicionando o debate e reafirmando o Estado como viabilizador e

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Segundo Gaetani (2003), uma das decisões mais controversas do Governo Lula, em 2003, foi abrir debate público sobre o PPA, com a realização de vinte e sete audiências públicas. A proposta do MP foi discutida em vinte e sete eventos, com a participação dos governadores dos Estados e de organizações da sociedade civil, em iniciativa inédita no país.

potencializador de soluções. O Plano de Gestão Pública, assim, apresenta-se, não como reforma, mas como instrumento de consolidação do Estado; um meio para atingir determinados fins, com ênfase no desenvolvimento social e econômico sustentável. Outra diferença significativa em relação à reforma de 1995 é a ênfase no alinhamento estratégico, de modo que o Plano de Gestão Pública seja instrumento de realização do novo modelo de desenvolvimento. Em outras palavras, parece haver consciência da necessidade de que o plano de gestão esteja alinhado com as diretrizes e prioridades do PPA (Marini, 2005), uma das principais críticas em relação ao PDRAE.