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3.1. Políticas Públicas de Saúde de 1974 A 2014 105

3.1.2. Políticas Públicas de Saúde em Portugal 107

3.1.2.3. Plano Nacional de Saúde 2004-2010 108

Em 2004, deu-se mais um passo na direção de se construir uma estratégia de saúde em Portugal com o lançamento pelo MS do primeiro Plano Nacional de Saúde (PNS) – o Plano Nacional de Saúde 2004-2010 (159). Tinha este plano a finalidade de

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estabelecer prioridades consensuais, objetivos e atividades para o sector da saúde, à luz das políticas adotadas, das intervenções selecionadas e das limitações dos recursos.

O PNS 2004-2010 teve o seu início em 2002, num trabalho coordenado pela DGS através de uma metodologia consultiva e de debate público, assumindo continuidade em relação ao documento Saúde um Compromisso: Estratégia de Saúde para o Virar do Século (1998-2002), e em consonância com a avaliação realizada pelo Diretor- Geral e Alto-Comissário da Saúde no relatório Ganhos em Saúde em Portugal (238).

O PNS 2004-2010 focava-se nos principais problemas de saúde e resultou do debate e da participação de diferentes atores sociais, bem como da consulta de instituições como a OMS, a OCDE e o Conselho da Europa. Em 2003, foi apresentado um documento-base que foi sujeito a uma primeira discussão pública, culminando num fórum em Fevereiro de 2004 (238).

O estado de saúde da população era descrito nesse documento com base nos indicadores disponíveis, sendo apontada como resposta aos principais problemas de saúde identificados a criação de vários programas nacionais ou revisão dos existentes. Dos programas nacionais previstos no PNS, destacam-se os seguintes, pela sua relação com a alimentação: o Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Diabetes (PNPCD) (239); o Programa Nacional de Intervenção Integrada sobre Determinantes da Saúde Relacionados com os Estilos de Vida (PNIIDSREV) (240); o

Programa Nacional de Combate à Obesidade (PNCO) (241); e o Programa Nacional de Saúde Escolar (PNSE) (242).

O PNPCD, um dos mais antigos programas nacionais de saúde pública, em Portugal, existente desde a década de setenta, foi atualizado e revisto diversas vezes (239). Em

2008, atendendo à necessidade de se inverter a tendência de crescimento da DM e das suas complicações bem como de aumentar os ganhos de saúde entretanto obtidos, o programa foi revisto pela DGS, tendo dado origem a uma nova versão do PNPCD. Este programa tinha como objetivos gerir de forma integrada a DM, reduzir a sua prevalência, atrasar o início das suas complicações major, reduzir a sua incidência e a sua morbilidade e mortalidade. Atualmente, este programa recebe o nome de Programa Nacional para a Diabetes (PND).

O PNIIDSREV, criado em 2003 e publicado em 2004 por Despacho do Ministro da Saúde (240), foi um dos programas destacados pelo PNS 2004-2010 e referia que um

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do álcool, da atividade física e da gestão do stresse. Este programa tinha como objetivo geral reduzir a prevalência de fatores de risco de doenças crónicas não transmissíveis e aumentar a prevalência de fatores de proteção, relacionados com os estilos de vida. Através de uma abordagem integrada e intersectorial tinha como objetivos específicos, no que se relaciona com a alimentação: a redução do consumo de sal (menos de 5 g/dia) e da prevalência de excesso de peso e obesidade (IMC <25); o aumento do consumo adequado de frutos, legumes e vegetais (pelo menos 400 g/dia); a redução do consumo total de lípidos para valores entre 15 a 30% da ingestão calórica diária, do consumo excessivo de gorduras saturadas (<10% da ingestão calórica diária) e do consumo excessivo de gorduras trans (<1% da ingestão calórica diária).

O mesmo PNS reconhecia que a obesidade é um enorme problema de saúde pública, pela elevada prevalência, cronicidade, morbilidade e mortalidade que a acompanha, e ainda pela dificuldade e complexidade do tratamento, pelo que recomendava a criação de um programa específico de prevenção e controlo. Nesse sentido, determinava que fosse criado um grupo de peritos, em parceria com as sociedades científicas, no âmbito da DGS, com a missão de elaborar uma proposta de linhas estratégicas nacionais de combate à obesidade.

Foi neste contexto que foi criado o PNCO, em 2005 (241). Integrando-se no PNS 2004-

2010, a estratégia visava, como objetivo geral, contrariar a taxa de crescimento da prevalência da pré-obesidade e da obesidade em Portugal. Foi definido que este programa se deveria articular com outros programas nacionais que integravam o PNS 2004-2010, nomeadamente com o PNIIDSREV, o PNCD e o Programa Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Cardiovasculares.

Em 2007, no sentido da criação de sinergias intersectoriais, a nível governamental e da sociedade civil, foi lançada uma Plataforma Contra a Obesidade (PCO), com a assinatura de um Protocolo de Cooperação celebrado pelo MS e pela empresa Galp Energia, com o desígnio de intervir de forma mais eficaz contra a obesidade, assumindo a prevenção e o combate à obesidade como prioridade política, através dos objetivos e estratégias propostos. Este Protocolo representou um passo no sentido de se alcançarem as metas que haviam sido preconizadas pela Carta Europeia da Luta contra a Obesidade (232), subscrita pelos Estados-Membros da OMS – Europa (243). O PNCO foi extinto em 2008, com a integração das competências de

prevenção na PCO e enquadramento do tratamento cirúrgico numa comissão criada para o efeito (205).

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Em 2006, foi criado o PNSE (242), destinado a toda a comunidade educativa dos

Jardins-de-infância, das Escolas do Ensino Básico e do Ensino Secundário e instituições com intervenção na população escolar. No contexto da intervenção de Saúde Escolar, uma das áreas prioritárias para a promoção de estilos de vida saudáveis era a da alimentação saudável.

Na avaliação realizada pela OMS ao PNS 2004-2010, verificou-se que dos 64 indicadores analisados só 28 tinham atingido as suas metas (244). Contudo, a maioria

dos indicadores de comparação internacional disponíveis estavam a melhorar e a convergir para a média do grupo de 15 países da UE. No relatório era lançado o alerta para o facto de os indicadores relacionados com fatores de risco terem ficado longe de ser alcançados, como era o caso da prevalência de obesidade que entre 1998/1999 e 2005/2006 aumentara para a maioria das faixas etárias. Os desafios mais importantes, relacionados com a conceção e implementação do PNS, incluíam as desigualdades na saúde, a sustentabilidade do sistema de saúde, os recursos humanos para a saúde e a qualidade de cuidados de saúde (244)