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A OMS define políticas de saúde como:

Um posicionamento ou procedimento estabelecido por instituições oficiais competentes que definem as prioridades e os parâmetros de ação em resposta às necessidades de saúde, aos recursos disponíveis e a outras pressões políticas. A política de saúde é frequentemente estabelecida por meio de leis e outras formas de normatização que definem as regras e incentivos que orientam a provisão de serviços e programas de saúde, e o acesso a esses serviços e programas. A política de saúde está atualmente diferenciada de política pública de saúde pela sua principal preocupação com os serviços e programas de saúde. (…). Como a maioria das políticas públicas, as políticas de saúde emergem a partir de um processo de construção de suporte às ações de saúde que se sustentam na evidência disponível, integradas e articuladas com as preferências da comunidade, as realidades políticas e os recursos disponíveis(204).

Este conceito de política de saúde enaltece o caráter de estratégia oficial organizada em ações sectoriais a serem desempenhadas de acordo com normas legalmente construídas.

Na Europa, as políticas de saúde têm sido desenhadas essencialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a União Europeia (EU).

As políticas públicas de saúde em Portugal têm sofrido influência direta ou indireta destas organizações internacionais.

Em Portugal, a LBS, publicada em 1990 (23), com alterações introduzidas em 2002 (32),

determina que é ao Governo que compete formular a política de saúde (Base VI, Art.º 1.º), cabendo ao MS, em coordenação com os ministérios que tutelam áreas conexas, propor a sua definição, promover e vigiar a respetiva implementação e execução (Base VI, Art.º 2.º), estabelecendo que a política de saúde tem âmbito nacional e obedece às diretrizes seguintes (Base II, Art.º 1º):

a) a promoção da saúde e a prevenção da doença fazem parte das prioridades no planeamento das atividades do Estado;

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b) é objetivo fundamental obter a igualdade dos cidadãos no acesso aos cuidados de saúde, seja qual for a sua condição económica e onde quer que vivam, bem como garantir a equidade na distribuição de recursos e na utilização de serviços;

c) são tomadas medidas especiais relativamente a grupos sujeitos a maiores riscos, tais como as crianças, os adolescentes, as grávidas, os idosos, os deficientes, os toxicodependentes e os trabalhadores cuja profissão o justifique;

d) os serviços de saúde estruturam-se e funcionam de acordo com o interesse dos utentes e articulam-se entre si e ainda com os serviços de segurança e bem-estar social;

e) a gestão dos recursos disponíveis deve ser conduzida por forma a obter deles o maior proveito socialmente útil e a evitar o desperdício e a utilização indevida dos serviços;

f) é apoiado o desenvolvimento do sector privado da saúde e, em particular, as iniciativas das instituições particulares de solidariedade social, em concorrência com o sector público;

g) é promovida a participação dos indivíduos e da comunidade organizada na definição da política de saúde e planeamento e no controlo do funcionamento dos serviços;

h) é incentivada a educação das populações para a saúde, estimulando nos indivíduos e nos grupos sociais a modificação dos comportamentos nocivos à saúde pública ou individual;

i) é estimulada a formação e a investigação para a saúde, devendo procurar-se envolver os serviços, os profissionais e a comunidade.

Estabelece ainda que a “política de saúde tem carácter evolutivo, adaptando-se permanentemente às condições da realidade nacional, às suas necessidades e aos seus recursos” (23).

A política de saúde, enquanto conjunto de valores, finalidades e preferências, num domínio de maior abrangência e de menor especificidade (205) deve ser consolidada

num plano estratégico e a partir dele fluem os programas e a partir dos programas (e algumas vezes diretamente das orientações estratégicas) desenvolvem-se projetos. Os programas deveriam compreender documentos estratégicos orientadores da ação programática — o plano estratégico do programa (206).

Durante a década de 70, aquando da implementação do SNS, a política de saúde foi fortemente influenciada pelo desenvolvimento dos cuidados de saúde primários (centros de saúde), institucionalizando-se o “planeamento em saúde” (84).

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Entre as décadas de 80 e a de 90 as políticas do país começaram a ser influenciadas pelo movimento de promoção da saúde preconizado pela OMS, através de projetos como “cidades saudáveis” e “escolas promotoras de saúde” (84).

Pelas implicações para indivíduos e comunidade, as DCNT em Portugal constituem um foco de interesse para quem estuda a evolução dos sistemas de saúde e as respostas que o Estado tem vindo a preconizar.

O burden das DCNT reflete a complexa interação entre os aspetos biológicos, comportamentais e o meio envolvente, em particular a disponibilidade alimentar, levando a um maior reconhecimento da necessidade de se estabelecerem políticas específicas na área da alimentação e nutrição, bem como da importância da educação alimentar (207), definida por Isobel R. Contento (207) como “any combination of educational

strategies, accompanied by environmental supports, designed to facilitate voluntary adoption of food choices and other food and nutrition-related behaviors conducive to health and well-being; nutrition education is delivered through multiple venues and involves activities at the individual, community, and policy levels”, pelo que é sugerido que, para que a mudança nos hábitos alimentares tenha lugar e se mantenha, são necessárias condições de ordem individual, comunitária e política, devendo a educação alimentar iniciar nas escolas integrada numa Política Alimentar e Nutricional (PAN) nacional (208).

O conceito de PAN tem sofrido uma evolução ao longo das últimas décadas, mercê das modificações socioeconómicas, políticas, ambientais e do estado de saúde das populações, partindo das “políticas alimentares”, com interesses em garantir uma produção suficiente de alimentos, para as “políticas nutricionais” com preocupações relacionadas com a associação entre alimentação e o estado de saúde das populações (209). Atualmente, é entendido como o “conjunto concertado de ações

destinadas a melhorar o estado nutricional das populações” (210)

Até 2012, Portugal era um dos poucos países na Europa que não tinha um documento de políticas específicas sobre alimentação e nutrição (juntamente com a Grécia e a Polónia), tendo alguns programas relacionados com a nutrição (87). Foi nesse ano

criado um programa especifico para a promoção da alimentação saudável, o Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), com orientações programáticas e objetivos específicos (211), mas Portugal continuou sem uma PAN nacional intencionalmente desenhada, contrastando, neste aspeto, com outros países da Europa, como é exemplo a Noruega. Este último país foi, de facto, o primeiro a ter uma PAN: instituída em 1975, dava enfoque, para além da questão da disponibilidade

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de alimentos (visão quantitativa), à adequação nutricional (visão qualitativa) (212). O

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