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Em 24 de abril de 1951 Garcez solicita a Louis-Joseph Lebret uma consultoria confidencial para a elaboração de seu Plano Quadrienal de Governo.296 Avisado sobre a impossibilidade de vir ao Brasil neste momento,297 Lebret envia por carta ao governador a orientação para a elaboração do plano de governo.298 Uma das principais orientações do documento de 12 páginas redigido por Lebret, segundo Lamparelli, é que “o plano de governo deveria extrapolar o estado, deveria ser regional”, orientação que foi incorporada imediatamente por Garcez.299 As intenções do governo de “extrapolar o território do estado” são explicitadas na mensagem do governador para o encaminhamento do Plano Quadrienal de Governo à Assembléia Legislativa em 09 de julho de 1951. Neste documento, Garcez lamenta que, “em virtude das limitações constitucionais,

do que efetivamente de trabalhos de interesse da bacia Paraná-Uruguai. O governo Carvalho Pinto acaba utilizando a CIBPU como meio de atuação para seu plano estadual. Ver capítulo 1.

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Entrevista de Celso Monteiro Lamparelli disponível em http://www.urbanismobr.org; PELLETIER, Denis. Économie et humanisme: de l’utopie communautaire au combat pour le Tiers Monde 1941-1966. Paris: Ed du CERF, 1996.RAMOS, Michelly Les développeurs: Louis-Joseph Lebret e a SAGMACS na formação de um grupo de ação para o planejamento urbano no Brasil. São Carlos: EESC-USP, 2010.

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SAGMACS, 1954:p.20. 298

Segundo Arthur Rios, a proibição da vinda de Lebret ao Brasil, existente desde 1947, está relacionada à exposição dos conteúdos no curso, considerado pelo alto clero e pela direita paulista “marxista e subversivo”. Rios, José Arthur “Lebret: profeta ou visionário?” In: Carta Mensal Rio de Janeiro, v. 55, n. 659, p. 46-77, fev. 2010

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não pode, obviamente, o referido plano abranger senão atividades compreendidas no âmbito da competência do poder estadual”.300

O princípio “conhecer para transformar” do movimento Economia e Humanismo de Lebret, desdobramento da máxima de Geddes “o diagnóstico precede o plano” foi incorporado e aplicado no planejamento através realização de um amplo diagnóstico da realidade do estado de São Paulo realizado pelos técnicos da administração e pela SAGMACS no estudo Problemas de Desenvolvimento. Necessidades e Possibilidades do Estado de São Paulo. Na mensagem de encaminhamento do Plano Quadrienal à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Garcez relata seu esforço na mobilização de técnicos e nas inúmeras reuniões realizadas no intuito de se “proceder a um levantamento das reais necessidades” do Estado visando “o bem estar moral e material do povo paulista”.

O primeiro passo é, evidentemente, o levantamento das necessidades e (...) estas necessidades têm que ser consideradas em relação à finalidade do Estado, que é dar aos seus cidadãos segurança, saúde, educação, bem estar, o que tudo só pode atingir com o desenvolvimento material e o progresso econômico, com a criação e distribuição equitativa da riqueza.301

Consideramos o Plano Quadrienal uma experiência pioneira no planejamento compreensivo em nível estadual. O material produzido no governo de Garcez foi amplamente utilizado pelo Grupo de Planejamento302 do governo Carvalho

300 Mensagem 203, de 9 de julho de 1951 301 Mensagem 203, de 9 de julho de 1951 302

O grupo de trabalho para o Plano de Ação do governo Carvalho Pinto era coordenado por Plínio de Arruda Sampaio e teve como membros da equipe Francisco Whitaker e Delfim Netto.

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Pinto, composto por ex-membros da equipe da SAGMACS. Analisando as políticas públicas paulistas no período 1946/1957, Kugelmas303 revela que no governo Garcez gestam-se planos e diagnósticos fundamentais que orientarão ação futura e que significariam uma mudança de estilo de atuação no governo que se consolida no governo Carvalho Pinto, com destaque para os estudos e diagnósticos realizados pela Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai.

O Plano Quadrienal articulou tanto ideias desenvolvimentistas e como aquelas vinculadas à concepção da economia e humanismo. O frei Benevenuto de Santa Cruz, como assessor de Garcez no governo estadual, participou também como um dos representantes paulistas na CIBPU e foi responsável por acompanhar Lebret nos trabalhos para a bacia Paraná-Uruguai, figurando como um de seus autores.

Já estavam sendo tomadas as providências para a criação de um órgão regional de planejamento para o desenvolvimento através de articulações e mobilização dos governos dos estados da bacia do Paraná, com o objetivo de levantar recursos para o desenvolvimento econômico e implantação de infra-estrutura de interesse de mais de uma unidade administrativa, retomando a proposta já efetuada anteriormente pelo Estado do Mato Grosso.304

A estrutura administrativa da CIBPU foi proposta por Lebret e parcialmente absorvida pelo órgão. A proposta elaborada pela SAGMACS previa uma distribuição equitativa entre os estados na composição, assim como quadro de chefia para cada um dos setores específicos, que foi absorvida parcialmente pela Comissão. O órgão superior foi mantido, mas a estrutura técnica foi reduzida para duas divisões, como já demonstramos no capítulo 1. A CIBPU que atuava com seus quadros reduzidos e priorizava a terceirização dos técnicos para a

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KUGELMAS, Eduardo. Políticas públicas na Administração paulista:1946/77. Cadernos Fundap. Ano 5. Nº 9. Pag. 30-45. São Paulo, maio de 1985.

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elaboração dos serviços. Para o órgão executivo a proposta da SAGMACS era a criação de um departamento de pesquisas, um departamento administrativo e cinco setores relativos aos serviços de comunicações e portos, sanitário e cultural, energia, indústria e comércio, agricultura e pesca. (Figura 32)

Figura 32 - Organograma da CIBPU proposto pela SAGMACS. Fonte: SAGMACS, 1954. Desta consultoria não foi feito nenhum contrato, mas os trabalhos confidenciais que orientaram o planejamento do governo foram incorporados na publicação da próxima consultoria Lebret, a missão CIBPU.

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Missão CIBPU: o estudo Necessidades e Possibilidades do