• Nenhum resultado encontrado

2.5 MEDICINA INTEGRATIVA /COMPLEMENTAR

2.5.2 Plantas medicinais e fitoterapia

A Fitoterapia é uma "terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal". O uso de plantas medicinais na arte de curar é uma forma de tratamento de origens muito antigas, relacionada aos primórdios da Medicina e fundamentada no acúmulo de informações por sucessivas gerações. (BRASIL, 2006b, p.19).

As ações decorrentes desta política, manifestadas em um Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), são imprescindíveis para a melhoria do acesso da população aos medicamentos, à inclusão social e regional, ao desenvolvimento industrial e tecnológico, à promoção da segurança alimentar e nutricional, além do uso sustentável da biodiversidade brasileira e da valorização, valoração e preservação do conhecimento tradicional associado das comunidades tradicionais e indígenas. (BRASIL, 2007, p. 5).

Filippo Teofrasto Paracelso, médico, filósofo, astrólogo, considerado um dos alquimistas mais notáveis do seu tempo, deixou como legado às gerações de alquimistas que o sucederam o livro Plantas mágicas, botânica oculta (PARACELSO, 1976) a obra introduziu os estudos da homeopatia e fitoterapia, terapias que, no início do séc XX faziam parte das Ciências Ocultas. A ciência experimental estava ainda por nascer, os conhecimentos eram dogmáticos- religiosos e conservados no ocultismo. “Como base própria da divina criação, observou com atenção que toda substância dotada da vida orgânica, embora aparentemente inerte, encerrava grande variedade de potência curativa”. (PARACELSO, 1976, p. 6).

Ao longo dos séculos, partindo dessa premissa de Paracelso, os produtos de origem vegetal constituíram as bases para tratamento de diferentes doenças.

Desde a Declaração de Alma-Ata, em 1978, a OMS tem expressado sua posição a respeito da necessidade de valorizar a utilização de plantas medicinais no âmbito sanitário, tendo em conta que 80% da população mundial utiliza essas plantas ou preparações destas no que se refere à atenção primária à saúde. Ao lado disso, destaca-se a participação dos países em desenvolvimento nesse processo, já que possuem 67% das espécies vegetais do mundo.

O Brasil possui grande potencial para o desenvolvimento dessa terapêutica, como: maior diversidade vegetal do mundo; ampla biodiversidade e uso de plantas medicinais vinculado ao conhecimento tradicional e à tecnologia, para validar cientificamente esses conhecimentos.

O interesse popular e institucional vem crescendo no sentido de fortalecer a Fitoterapia no SUS, e um número expressivo de ervarias e ervateiros se encontra em todas as regiões do País. E esse potencial de biodiversidade e aceitação de fitoterápicos, por brasileiros de todas as classes sociais, serviu de lastro a implantação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicas, que tem por objetivos60 inserir o uso de plantas medicinais no SUS em conformidade com a PNPIC

Esse incentivo efetivamente vem ocorrendo, e são muitos os laboratórios de universidades públicas a receberem as informações tradicionais e a tranformá-las em medicamentos fitoterápicos, conforme determinações e regulamentações exigidas pela RDC 48 e 98 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A jornalista Beatriz Thielmann de Viçosa (MG), fazendo entrevista na Universidade Federal de Minas Gerais, trouxe a notícia de que "De frutos cítricos, como a laranja, nós extraímos um flavonóide denominado Naringina. Ele serve para reduzir gordura e açúcar no sangue. Baixa tanto o colesterol quanto diminui o diabetes. Temos pesquisas na fase pré-

60 BRASIL, Ministério da Saúde, Secretaria da ciência, tecnologia e insumos estratégicos, Programa Nacional

de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, Brasilia 2007, p. 6. Objetivos:Com vistas a atingir o objetivo da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos que visa “garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional”, o Programa Nacional se propõe a:

• construir e/ou aperfeiçoar marco regulatório em todas as etapas da cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos, a partir dos modelos e experiências existentes no Brasil e em outros países, promovendo a adoção das boas práticas de cultivo, manipulação e produção de plantas medicinais e fitoterápicos, conforme legislação.

• inserir plantas medicinais, fitoterápicos e serviços relacionados à fitoterapia no SUS, com segurança, eficácia e qualidade, em conformidade com as diretrizes da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS.

• desenvolver instrumentos de fomento à pesquisa, desenvolvimento de tecnologias e inovações em plantas medicinais e fitoterápicos, nas diversas fases da cadeia produtiva.

• estabelecer mecanismos de incentivo ao desenvolvimento sustentável das cadeias produtivas de plantas medicinais e fitoterápicos com vistas ao fortalecimento da indústria farmacêutica nacional e incremento das exportações de fitoterápicos e insumos relacionados.

• promover o uso sustentável da biodiversidade e a repartição dos benefícios decorrentes do acesso aos recursos genéticos de plantas medicinais e ao conhecimento tradicional associado.

• promover e reconhecer as práticas populares e tradicionais de uso de plantas medicinais, fitoterápicos e remédios caseiros.

• desenvolver estratégias de comunicação, formação técnico científica e capacitação no setor de plantas medicinais e fitoterápicos.

• promover a inclusão da agricultura familiar nas cadeias e nos arranjos produtivos das plantas medicinais, insumos e fitoterápicos.

• estabelecer uma política intersetorial para o desenvolvimento socioeconômico na área de plantas medicinais e fitoterápicos.

clínica, com animais de laboratório, e na fase clínica, com humanos, comprovando seus efeitos", afirma a doutora em ciência Tania Toledo de Oliveira, da Universidade Federal de Viçosa-UFV. Segundo essa pesquisadora, o mangue vermelho está sendo estudado pela Universidade de Campinas (Unicamp) desde 2006, para cura da úlcera gástrica; a Pariparoba, pesquisada pela Universidade de São Paulo (USP) está demonstrando ser um excelente filtro solar e rejuvenecedor . "O conhecimento popular conta em todas as fases. É um bem extremamente valioso. O que fazemos não é questionar o conhecimento popular, e sim reconhecê-lo", ressalta o biólogo Felipe Meira de Faria, da Unicamp. (THIELMANN, 2009).

Outros produtos da farmácia da terra são apresentados pela repórter Beatriz Castro de Fortaleza −CE, que visitou a Universidade Federal do Ceará (UFC) e que pesquisa a Arroeira, medicamento popular no Nordeste, do qual os pesquisadores extraem dois medicamentos. “O primeiro é um xarope, que nós chamamos de Elixir, o segundo é uma Pomada para problemas ginecológicos”, diz o doutor em Agronomia Sérgio Horta Mattos, da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Beatriz Castro registra que a utilidade medicamentosa das plantas,

[..] aroeira, alecrim, confrei o povo já sabia, e a ciência só confirmou, e hoje as mudas das 40 plantas mais usadas na medicina popular são repassadas para cerca de 50 Farmácias Vivas no Ceará, uma retribuição aos ensinamentos colhidos em aldeias, quilombos, junto a rezadeiras, curandeiros, aos moradores mais antigos do interior. Globo Reporter- Rede Globo. 16/10. (CASTRO, 2009).

Os produtos da farmácia da terra, como são popularmente chamados, têm uso popular, de conhecimento tradicional em várias gerações. “O SUS fornece medicamentos fitoterápicos feitos a base de Espinheira Santa – para gastrites e úlceras – e Guaco – para tosses e gripes – , em diversas apresentações. Os produtos já integram as listas de distribuição de medicamentos em 12 estados (RN, PB, SE, BA, TO, MT, DF, GO, RJ, PR, SC e RS).” (BRASIL, FOME ZERO 2009).

Mas, como adverte a professora de ciências farmacêuticas Silvia Berlanga, da Universidade de São Paulo (USP), sobre plantas medicinais: elas também podem ser tóxicas, principalmente se associadas a tratamentos com remédios industrializados. "Se a pessoa estiver sob tratamento convencional, não deve usar essas plantas, esses chás e extratos, sem orientação médica ou pelo menos informar ao médico que também está fazendo uso de outros medicamentos", alerta. (Apud THIELMANN, 2009)

Os medicamentos fitoterápicos, por determinação da RDC 48 da Anvisa, são submetidos a três níveis de teste, sendo o último com humanos. Após os testes exigidos as plantas estão aptas a figurar na Relação Nacional de Plantas Medicinais (RNPM).

Na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, observa-se uma abertura, uma ressalva ao conhecimento tradicional, pois caracteriza como “relação de plantas medicinais com potencial de utilização para o SUS: relação de espécies de plantas medicinais selecionadas por meio do diagnóstico situacional e que não alcançaram os critérios necessários para serem inseridas na Relação Nacional de Plantas Medicinais.” (BRASIL, 2006b, p. 68).