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1. Introdução

2.3. Mastocitoma cutâneo canino

2.3.7. Factores de prognóstico

2.3.7.3. Marcadores imunohistoquímicos e outras técnicas usadas como

2.3.7.3.2. Ploidia, oncogenes e genes supressores

A presença de anomalias cromossomais nos mastocitomas está descrita, com presença de células hipoplóides e hiperplóides dentro do mesmo tumor (Stone et al., 1991).

Ayl et al. (1992) realizaram um estudo de ploidia de ácido desoxirribonucleico (ADN) em mastocitomas e verificaram que aproximadamente 70% dos tumores eram diplóides, não havendo correlação entre a ploidia do ADN e o grau histológico. Da mesma forma, não se encontraram diferenças nos tempos de sobrevivência total entre os tumores diplóides e aneuplóides. Foram encontradas diferenças de ploidia entre casos com estádio 1 da doença e estádios mais avançados, parecendo haver uma tendência para maior mortalidade no primeiro ano, dos animais com tumores aneuplóides. A ploidia do ADN não parece, no entanto, ser um forte factor de prognóstico nos mastocitomas (Ayl et al., 1992).

2.3.7.3.2.2. Expressão da proteína p53

A compreensão dos mecanismos básicos que levam à carcinogénese representa o ponto fulcral da aproximação moderna à terapia oncológica (Cohen e Hogan, 1994). As alterações da função e actividades dos proto-oncogenes celulares e genes supressores tumorais são eventos fulcrais na perda do normal controlo homeostático da proliferação celular e na transformação celular neoplásica (Cohen e Hogan, 1994; Whartenby et al., 1995).

Um dos genes relacionados com a génese tumoral mais estudados é o gene supressor tumoral p53. O produto proteico deste gene é um factor de transcrição nuclear cujas funções incluem o bloqueio do ciclo celular de células com ADN danificado, a indução da apoptose de células com lesões irreparáveis, bem como a regulação de outros factores de transcrição (Kumar et al., 2005b). A mutação do gene p53 é a alteração genética mais comum nos tumores humanos (Prokocimer e Rotter, 1994) e foi associada com a diminuição do tempo de sobrevida e com a necessidade de terapia mais

agressiva em alguns tipos tumorais (Harris e Hollstein, 1993; Brown e Wouters, 1999; Bar et al., 2004).

As alterações da expressão da p53 foram estudadas em algumas neoplasias caninas (Gamblin et al., 1997), sendo interpretadas, em certos casos, como indicação de um comportamento biológico mais agressivo (Sagartz et al., 1995; Sagartz et al., 1996).

A expressão da p53 foi estudada nos mastocitomas caninos por vários autores (Mayr et al., 1999; Ginn et al., 2000; Jaffe et al., 2000b; Wu et al., 2006). Em dois estudos não se encontraram mutações no gene p53 e a expressão imunohistoquímica revelou-se escassa (Mayr et al., 1999; Wu et al., 2006). Jaffe et al. (2000) observaram que existia uma diferença significativa na percentagem de células marcadas, tendo os mastocitomas de grau III percentagens significativamente maiores do que os mastocitomas de grau I e de grau II. Esta diferença, no entanto, não oferece vantagens sobre o grau histopatológico na avaliação da sobrevida total e livre de doença (Jaffe et

al., 2000b). No estudo de Ginn et al. (2000), não se encontraram diferenças na

imunorreactividade entre os diferentes graus e nenhum dos estudos relacionou a expressão da proteína p53 com a capacidade de recorrência dos tumores ou com a sobrevida total, revelando-se a p53 um fraco indicador de prognóstico para os mastocitomas caninos (Ginn et al., 2000; Jaffe et al., 2000b)

2.3.7.3.2.3. Expressão da proteína Mdm2

A proteína Mdm2 interage com um grupo de proteínas relacionadas com o ciclo celular, para promover a transição G1-S. Está descrita a sua sobreexpressão em tumores ósseos e dos tecidos moles em humanos (Schafer, 1998) e em cães (Mendonza et al., 1998; Nasir et al., 2001). Num estudo efectuado em mastocitomas, esta proteína não demonstrou imunorreactividade em mastócitos normais e a sua expressão é comum nos mastocitomas, aumentando o número de células positivas com o grau histológico (Wu et

al., 2006). Estes resultados sugerem que a Mdm2 desempenha um papel importante na

carcinogénese dos mastocitomas e a sua expressão é consistente com o grau histológico (Wu et al., 2006).

2.3.7.3.2.4. Expressão da p21 e da p27

A proteína p21 é um inibidor da CDK4, (cyclin-dependent kinase) que regula a passagem da fase G1 para a fase S do ciclo celular. A expressão da p21 é regulada pela proteína p53. A p27 inibe a CDK2, que regula a progressão através da fase S do ciclo celular (Kumar et al., 2005b). A alteração da expressão da p21 e da p27 foi descrita em diversas neoplasias e a desregulação da p21 está associada com a progressão tumoral em alguns carcinomas (Schafer, 1998).

Wu et al. (2004) avaliaram a reactividade do p21 e p27 em 47 mastocitomas. Notaram a diminuição da expressão da p27 em mastocitomas de todos os graus histológicos, em comparação com mastócitos normais e notaram uma correlação directa da imunorreactividade nuclear à p21 com o grau histológico. A diminuição ou ausência de expressão do p27 é um evento precoce na carcinogénese dos mastocitomas e a p21 pode ser um marcador da progressão dos mastocitomas, ainda que mais estudos sejam necessários para clarificar o papel destas proteínas neste tumor (Wu et al., 2004).

2.3.7.3.2.5. c-Kit

A expressão do c-Kit e a sua detecção usando imunohistoquímica está bem estabelecida no cão (London et al., 1999; Reguera et al., 2000). A expressão do c-Kit encontra-se documentada nos mastocitomas caninos (London et al., 1996; Ma et al., 1999; Reguera et al., 2000; Reguera et al., 2002), assim como em outras neoplasias caninas, como nos tumores do estroma gastrintestinais (Bettini et al., 2003; Frost et al., 2003), tumores mamários malignos da cadela (Kubo et al., 1998; Morini et al., 2004), melanomas cutâneos (Morini et al., 2004), neoplasias testiculares (Morini et al., 2004; Reis-Filho et al., 2004), neoplasias ováricas (Morini et al., 2004), e carcinóide intestinal (Gil da Costa et al., 2006). Todos os mastocitomas caninos expressam c-Kit, ainda que a intensidade de reacção seja diferente. Os tumores de grau III mostram a expressão mais elevada, enquanto que os de grau I mostram a expressão mais baixa (Reguera et al., 2000).

Estão descritos diferentes padrões da expressão do c-Kit nos mastócitos normais e nos mastócitos neoplásicos. Na pele canina normal, a expressão do c-Kit está

confinada aos mastócitos e a sua expressão é escassa e localizada na membrana celular (Reguera et al., 2000). Não é inteiramente clara a relevância prognóstica e biopatológica da distinção entre os padrões citoplasmático difuso e citoplasmático focal. Webster et

al. (2004) e Preziozi et al. (2004), estudaram a relação dos três padrões de expressão do

c-Kit com a sobrevida pós-cirúrgica e a recorrência local dos mastocitomas. Ambos os estudos encontraram uma associação significativa do padrão do c-Kit com a sobrevida, e no estudo de Webster et al. (2004) descreve-se uma associação significativa com a recorrência local do tumor. A presença de um padrão citoplasmático parece estar correlacionada com um aumento da recorrência local e uma diminuição do tempo de sobrevida (Preziosi et al., 2004a; Webster et al., 2004; Webster et al., 2007).

Noutro estudo realizado, considerando apenas um padrão membranar e outro citoplasmático, observou-se uma diminuição da sobrevida média e da sobrevida aos 2 anos em animais com mastocitomas de padrão citoplasmático vs animais com mastocitomas de padrão membranar (Abadie et al., 2005).

As células do mastocitoma espontâneo expressam o SCF (London et al., 1996). Este resultado é importante na medida em que um receptor de uma citocina capaz de estimular o crescimento dos mastócitos normais está presente numa linha neoplásica (London et al., 1996).

As mutações na região codificante justamembranar do c-Kit foram identificadas em vários mastocitomas caninos (London et al., 1999; Ma et al., 1999; Downing et al., 2002; Reguera et al., 2002; Zemke et al., 2002), e foi proposto que as mutações neste domínio podem ter um papel importante na transformação neoplásica dos mastocitomas no cão (London et al., 1999; Ma et al., 1999). Num estudo, as mutações no domínio justamembranar foram mais prevalentes nos mastocitomas de graus II e III do que nos mastocitomas de grau I (Zemke et al., 2002). Os mastocitomas com mutações de duplicação em tandem mostraram duas vezes mais probabilidade de recorrer e de metastizar que aqueles sem mutação, ainda que a associação entre recorrência e metástase e a presença da mutação não fossem estatisticamente significativos (Downing

et al., 2002).

Os mastocitomas caninos com mutações internas em tandem do c-Kit têm maior índice proliferativo, assim como aqueles com localização citoplasmática do c-Kit

(Webster et al., 2007), e as mutações do c-Kit estão significativamente associadas com um grau histológico mais indiferenciado (Zemke et al., 2002).

A frequência das mutações de delecção e duplicação interna do tandem varia consoante os estudos, tendo sido encontrada, num estudo, em 9% de uma amostra de mastocitomas de todos os graus (Zemke et al., 2002) e noutro estudo em cerca de 15% dos mastocitomas (Webster et al., 2006a). Estas mutações parecem ser mais frequentes (30% a 50%) em tumores de grau II e III (Downing et al., 2002) e estão significativamente associadas com a expressão aberrante do c-Kit (Webster et al., 2006a). No entanto, alguns mastocitomas têm expressão aberrante mas não possuem mutações em tandem, sugerindo que outros factores ou outras mutações possam ser responsáveis pela localização aberrante nestes tumores (Webster et al., 2006a).

2.3.7.3.3. Outras proteínas

A triptase é uma das mais comuns proteases neutras encontradas nos mastócitos (Schwartz et al., 1981). A identificação da triptase usando imunohistoquímica mostrou uma excelente especificidade e sensibilidade para os mastócitos (Walls et al., 1990; Yang et al., 2000). A sua marcação não está, no entanto, associada com qualquer parâmetro de sobrevida (Webster et al., 2004).

A P-glicoproteína (Pgp), uma proteína transportadora dependente de ATP, envolvida na resistência a quimioterápicos foi objecto de uma investigação recente e a sua detecção imunohistoquímica revelou uma percentagem maior nos mastocitomas com fenótipo mais indiferenciado (Rosseti et al., 2007). Existe uma relação positiva entre a expressão da Pgp e o grau histológico, tendo os animais com alta expressão tempos de sobrevida diminuídos. A expressão da Pgp é assim considerada como um factor indicador de pior prognóstico e pode vir a ser utilizada como um indicador de resistência a drogas (Rosseti et al., 2007). Num estudo imunohistoquímico anterior, os mastocitomas de grau I expressaram P-glicoproteína e proteína associada a resistência a múltiplas drogas mais frequentemente que os mastocitomas de grau III, sendo os tumores indiferenciados sensíveis à quimioterapia (Miyoshi et al., 2002).

2.3.8. Outros componentes tumorais avaliados neste estudo

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