• Nenhum resultado encontrado

PLP 194/2001 (Chico da Princesa – PSDB-PR) – Anexo B

4 A OPORTUNIDADE DE UM CÓDIGO DE DEFESA DO

4.4 Aplicação do método ao objeto: análise dos projetos de lei

4.4.1 PLP 194/2001 (Chico da Princesa – PSDB-PR) – Anexo B

I. Qual o objetivo pretendido pelo projeto de lei?

Conforme a exposição de motivos, objetiva “ampliar direitos e garantias dos contribuintes e fazer com que se tornem conhecidos e aplicados no dia-a-dia das relações entre o Fisco e o contribuinte”. Tem por finalidade ainda integrar, em único diploma legal, direitos dos contribuintes dispersos no ordenamento jurídico.

II. Quais as razões que determinaram a iniciativa?

O proponente menciona a alta carga tributária brasileira, cujo aumento se materializaria não apenas pelo aumento de tributos, mas também por novos métodos de arrecadação, a exemplo quebra automática de sigilo bancário operacionalizada após o advento da Lei Complementar nº 105/2001.

Ademais, frisa a desigualdade do “peso” da carga tributária sobre os setores da economia, visto que recairia principalmente sobre o setor formal, com maior ônus para aqueles contribuintes desprovidos de uma assessoria tributária capacitada, pelo que sofreriam desigualmente sanções ou penalidades de que não souberam se esquivar.

O Código, portanto, protegeria especialmente tais contribuintes ao unificar direitos hoje dispersos no ordenamento.

III. Quais os principais instrumentos propostos pelo projeto que parecem adequados para alcançar os objetivos pretendidos, no todo ou em parte?

a) a fixação de rol de direitos e de garantias do sujeito passivo da obrigação tributária, principalmente estabelecendo prazos para as diligências no âmbito administrativo, a exemplo da fixação de prazos para entrega de certidões e julgamento de consultas tributárias;

b) a necessidade de a lei que estabelecer taxa especificar os custos do serviço público que a exação irá remunerar e que lhe servirá de base de cálculo (art. 6º). Atende o art. 145, §2º, CF, possibilitando um controle social sobre a base de cálculo das taxas;

c) conforme o art. 9º da proposta, será necessário comprovar efetiva edição e circulação do Diário Oficial ou periódico equivalente no ano anterior ao da entrada em vigência de lei que institua ou majore tributos sujeitos ao princípio da anterioridade anual (art. 150, III, b, CF), combatendo a insidiosa prática de circulação do diário no ano seguinte com data retroativa mediante edições “extraordinárias”, configurando uma circulação fictícia em completa violação ao princípio constitucional da estrita legalidade. Essa prática foi muito comum na década de 1990, sendo leis publicadas poucos dias antes de 31 de dezembro e sua publicação circulando no ano seguinte, mediante as referidas publicações especiais; d) a exemplo do Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/90), estabelece um

rol de “práticas abusivas do Fisco”, voltando-se a coibir práticas conhecidas como sanções políticas (art. 10 e ss.), ou seja, a cobrança do tributo por meios indiretos e não respaldados na legislação.

e) regula o direito de petição ao superior hierárquico da autoridade fiscal (Art. 2º, XV), parte da premissa do art. 5°, XXXIV, a, CF;

f) possibilidade de escolha pelo contribuinte da norma de parcelamento que estabeleça condições mais favoráveis ao seu caso (art. 15),o que complementaria o regime estabelecido por diplomas conhecidos como “Refis”, a exemplo da Lei nº 11.941/09;

g) redução proporcional dos acréscimos legais referentes às parcelas liquidadas antecipadamente e total ou parcialmente (art. 14);

h) previsão em lei complementar do conteúdo da Súmula Vinculante nº 21, relativa à inconstitucionalidade da exigência de depósito ou arrolamento prévio para admissibilidade de recurso na seara administrativa (art. 16);

i) alteração do art. 167, CTN, previsão de igual forma de cálculo de juros quando das restituições por pagamento indevido, sana a prática nefanda da Fazenda Pública de calcular seus créditos por determinados índices de juros, ao passo que calcula os débitos devidos a título de restituição por índices inferiores (art. 17);

j) previsão expressa de aplicação do Código a todas as Fazendas Públicas dos entes federativos (art. 18), copiando a disposição do art. 209, CTN, não deixando dúvidas de que o diploma se propõe a legislar sobre normas gerais em matéria tributária, conforme o art. 146, CF, aplicando-se a todos os entes federativos.

III.A Os instrumentos listados na questão anterior são adequados considerando os fatores abaixo?(Fatores no Questionário-Modelo)

a) inadequado. O rol de direitos e de garantias poderia ser mais amplo, tendo em vista que basicamente repete disposições já contidas em diversas normas (CF, CTN, Decreto nº 70.235/72), apenas estabelecendo prazos para algumas diligências do Fisco. Limita-se principalmente a tutelar as vulnerabilidades formais do contribuinte, falhando em atingir as fragilidades processuais no âmbito administrativo e judicial. De toda forma, é oportuna a unificação dos direitos aduzidos na proposta, bem como a disposição expressa de que o elenco de direitos e de garantias não exclui quaisquer outros previstos em outros diplomas;

b) inadequado. A exigência de fixação em lei dos custos do serviço público que serve de base de cálculo de taxa é disposição genérica e exigirá posterior regulamentação, o que, por exemplo, ocorre com as contribuições de melhoria e o Decreto-Lei nº 195/67, hoje com nível de lei ordinária federal. Ademais, uma obrigação para o legislador se mistura com obrigações para a Administração Fazendária. Melhor seria haver capítulo próprio para a proteção legislativa do contribuinte, no âmbito da vulnerabilidade material;

c) adequado o art. 9º da proposta ao tornar expressamente ilegal a prática de circulação ficta do Diário Oficial ou periódico equivalente com data retroativa, tornando a publicação expressamente inválida – protege os princípio da legalidade tributária e da anterioridade anual (art. 150, I, c/c 150, III, b, CF);

d) oportuna a previsão do art. 10 e ss., porém é inadequada sua forma de garantia. O rol de práticas abusivas é muito necessário, carece, porém, de um maior elenco de práticas e de um melhor sistema de proteção em caso de violação. O mero direito de

petição à autoridade superior àquela violadora do Código de Defesa do Contribuinte não é grande proteção contra a perpetuação de práticas abusivas;

e) inadequado o art. 2º, XV do PLP. O direito de petição já consta na CF, sendo a sistemática proposta ineficaz como sistema de proteção ao contribuinte. Apenas criará mais demandas aos chefes imediatos de órgãos arrecadatórios com pouca ou nenhuma exequibilidade;

f) adequado o Art. 15, mas sua repercussão é difícil de prever. A atual regulamentação do chamado “Refis” é prevista em diversos normativos federais (CTN, Lei nº 9.430/96, Lei nº 11.341/09, etc.), estaduais e municipais que são bastante rígidos quanto ao seu deferimento e forma de pagamento. A opção de escolha pelo contribuinte do melhor regime de parcelamento para sua condição atende o princípio da capacidade contributiva, mas não é claro se implica que a lei que estabelecer um parcelamento de créditos tributários deve trazer várias formas de pagamento. O dispositivo ensejaria muito debate judicial;

g) adequado e muito necessário o Art. 14;

h) é adequado trazer ao ordenamento jurídico medidas já cristalizadas na jurisprudência, a exemplo do art. 16 e a Súmula Vinculante nº 21, dispositivos que atendem o chamado direito de petição;

i) adequado, oportuno e necessário o art. 17 e a alteração do art. 167, CTN para evitar práticas abusivas pelo Fisco no âmbito da restituição de indébito;

j) adequado o art. 18 ao não deixar dúvidas quanto à aplicabilidade da lei não apenas à União, mas a todos os entes federativos – seguindo a sistemática adotada pelo CTN.

III.B O Congresso possui competência legislativa plena para tratar dos pontos tratados no projeto? A matéria é reservada à lei complementar? Em qualquer caso negativo, para qual ponto falta competência?

É competência privativa da União legislar sobre o tema, conforme o art. 24, I e §1º c/c art. 146, III CF. Compete à União legislar sobre as normas gerais de Direito Tributário mediante lei complementar.

IV. A disciplina proposta é necessária e adequada para consecução dos fins pretendidos? Necessária e parcialmente adequada, sendo limitada para o objetivo a que se pretende. A fórmula alternativa implicaria a mudança de diversos diplomas legais, cujos dispositivos podem aqui ser parcialmente ou totalmente revogados no que forem

incompatíveis com a proteção ao sujeito passivo da obrigação tributária, o cidadão- contribuinte.

V. O projeto de lei contém disposições programáticas que exigirão posterior regulamentação?

Sim. Os artigos 2º, XV, 6º e 15 do PLP são claros exemplos. Tratam genericamente de matérias que exigem maior delimitação pelo legislador, a exemplo da descrição dos custos do serviço público remunerado por taxa, peticionamento direto a autoridades administrativas e parcelamento de créditos tributários.

VI. As disposições conflitam com outras normas do ordenamento, sejam elas normas constitucionais, complementares, legais, infralegais ou mesmo tratados internacionais aprovados pelo Congresso Nacional? Por outro lado, repete dispositivos presentes em outros diplomas legais?

Repete dispositivos presentes principalmente dos seguintes diplomas: CF, CTN, Lei nº 9.430/96, Decreto nº 70.235/72, estabelecendo novas obrigações para a Administração Pública e maiores proteções ao contribuinte.

VII. O prazo para entrada em vigência é adequado? Deve haver vacatio legis?

Não. Para ser devidamente aplicado, o diploma deveria possuir vacatio legis acima de 45 dias, não devendo entrar em vigor a partir da publicação, conforme prevê seu art. 19. É necessário tempo para que todos os entes federativos e suas respectivas administrações fiscais se adaptem às disposições de um Código de Defesa do Contribuinte.

VIII. A organização e a sistemática da proposta são adequadas para os fins pretendidos? A proposta se divide em 6 (seis) capítulos: I (Objeto), II (Direitos do Sujeito Passivo), III (Garantias do Sujeito Passivo), IV (Práticas Abusivas e Vedações), V (Reclamação e processo), VI (Disposições gerais e finais).

Embora tente seguir a lógica organizacional do CDC, a proposta se mostra desorganizada e confusa em diversos pontos. Matérias que poderiam ser colocadas nos capítulos de direitos e de garantias são tratadas às disposições finais e vice-versa, faltando ainda capítulos importantes ao CDC, a exemplo do relativo às infrações penais.

IX. A iniciativa exigirá implementação mediante publicidade pelos meios de comunicação? Sim, ao trazer o catálogo de direitos e garantias para o contribuinte, ainda que reduzido, necessitaria de ampla divulgação para que seja compreendido pelos destinatários da norma.

X. As disposições normativas são exequíveis? Afetam órgãos da Administração Pública? Quais?

A exequibilidade imediata da proposta em todo território nacional é duvidosa, tendo em vista que afetaria a Receita Federal e os órgãos de arrecadação de todos os demais entes federativos simultaneamente, considerando sua entrada em vigor a partir da publicação.

XI. Quais órgãos ou instituições que devem assumir a responsabilidade pela execução das medidas?

O Ministério da Fazenda, a Receita Federal e as secretarias e órgãos de arrecadação fazendários de todos os entes federativos, sendo necessária e imprescindível a atuação do Judiciário e de órgãos de representação do contribuinte (OAB, associações, fundações e o terceiro setor em geral).