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Pluralidade de credores (art 538º, nº 1):

Capítulo IV – Objecto das obrigações

B) Pluralidade de credores (art 538º, nº 1):

 1ª Parte: Qualquer credor pode exigir prestação (= Obrigações Solidárias).

Ratio: evitar negligência dos demais credores (se o legislador obrigasse os credores a coligarem-se para exigir o cumprimento, equivaleria a tornar uns dependentes da inércia dos outros) ou conluios entre um credor e o devedor (a fim de colocar os restantes na impossibilidade de efectuarem os seus créditos).

 2ª Parte: Mas exoneração do devedor depende:

(i) Cumprimento extrajudicial – só perante todos os credores. Ou outro modo de extinção da obrigação indivisível (dação em cumprimento, novação, etc).

(ii) Cumprimento judicial – perante um só credor (nada impede contudo, uma acção conjunta).

[?] Imaginemos que A deve a B e C um aparelho de televisão, quem vem depois a parecer por culpa do devedor. Uma vez que o aparelho de televisão (indivisível) foi substituído por um crédito de indemnização (divisível), cada um dos credores só pode exigir a sua parte.

Obrigações genéricas (Antunes Varela) Noção:

Noção: obrigação cuja prestação só está determinada quanto ao género e quantidade. Exemplo: Compra-se 1kg de laranjas ou 1 frigorífico Bosch.

Nas sociedades de consumo massificado, grande parte das obrigações são genéricas e não específicas. Exemplo: mesmo quando compramos uma peça de roupa, vão-nos buscar o modelo das calças ao armazém sem haver escolha do objecto concreto; o mesmo se passará por exemplo com um carro.

Nas hipóteses práticas, há sempre o cuidado de especificar o objecto em causa, por exemplo: A vendeu a B um automóvel antigo; um relógio em segunda mão; um apartamento, etc. São sempre coisas determinadas, para evitar que sejam obrigações genéricas.

Consequências fundamentais:

 Quanto à transmissão da propriedade:

- Não aplicação da regra geral do artigo 408º nº1;

- Regime especial do nº2: transferência de direito real sobre coisa indeterminada (falta que de entre os frigoríficos, o vendedor escolha qual vai entregar ao comprador) – a transferência da propriedade dá-se aquando da transformação da obrigação genérica em específica (ou seja, quando a coisa for determinada);

- Há um regime especial em que não se exige directamente o conhecimento de ambas as partes (“sem prejuízo do disposto nas obrigações genéricas”- 408º nº2).

 Quanto à transferência do “risco de perda ou deterioração da coisa”:

- Não se aplica o regime do artigo 796º nº1;

- Se ainda não é adquirente, não faz sentido que o risco corra por sua conta; porque na verdade, o vendedor ainda é proprietário – só há efeitos reais, logo, não se coloca o problema do risco.

Determinação e concentração da obrigação genérica:

Concentração: processo de transformação da obrigação genérica ou específica.

Quando opera? Em regra no acto de cumprimento (por exemplo: quando se entrega o frigorífico).

Como? Em regra por escolha do devedor – artigo 539º - ex: tutela do devedor (pode escolher o objecto em concreto a entregar).

Consequência natural da concentração por escolha do devedor: enquanto o género não perecer aquele não fica exonerado – 540º (tinha a intenção de entregar o frigorífico, contudo, este estragou-se; se ainda houver x1, x2, x3, ou seja, enquanto o género não perecer, o devedor tem de cumprir).

Concentração da obrigação antes do cumprimento: - Previstos no artigo 541º (4 casos):

1. Por acordo entre as partes (o comprador escolhe em concreto o frigorífico que quer – no acto de cumprimento = entrega da coisa, já houve concentração.

2. Concentração natural (541º):

- Lei: “quando o género se extinguir a ponto de restar apenas uma das coisas nele compreendidas”.

 Não é necessariamente só uma (ex: pode haver um evento natural que destrua 900 das 1000 garrafas – se eu vendi 100 a B, essas 100 são automaticamente de B – da mesma maneira que se (se) tivessem destruído 930, as 70 eram de B, como se eu tivesse vendido 100).

Conjugação do regime da concentração natural como a passagem do artigo 408º nº2:

 Interpretação literal: parece que não é de exigir “Conhecimento de ambas as partes” para que a concentração natural opere a transmissão da propriedade + transferência do risco. Exemplo: B não precisa de saber que as outras 900 garrafas pereceram para se tornar proprietário.

 Contudo, se for feita uma interpretação teleológica do preceito, chega-se a uma conclusão contrária, senão os interesses do credor ficariam desprotegidos.

Atenção: a concentração natural para operar

judicialmente necessita do conhecimento do comprador (porque senão este não pode ir buscar as garrafas a correr, ou fazer um seguro, etc…) – se houver outro evento natural, perecem mais garrafas e a pessoa em causa tem que pagar as que comprou e não recebeu? Não, teleologicamente isto não faz sentido.

3. Mora do credor:

- Se o vendedor se atrasar (por exemplo uns minutos) no acto de cumprimento e o comprador não estiver em casa, houve concentração da coisa, pelo que o risco vai passar a correr por conta do comprador.

4. Nos casos previstos no artigo 797º - dívidas de envio: - É preciso identificar quem assumiu a responsabilidade do transporte da coisa que é objecto da obrigação, para se apurar uma verdadeira dívida de envio (ex: A vende x a B e acorda com I que é aquele que fará o transporte - a partir do momento em que entrega x a I, o risco deixa de correr por conta de A dois tipos de situações: se o transporte deve ser feito pelo alienante [pelos seus próprios meios ou contratando terceiros] não se trata de dívida de envio; se o transporte deve ser feito por um transportador independente, escolhidos por ambas as partes [exemplo típico: serviço postal], trata-se de uma dívida de envio.

Se o transporte deve ser feito pelo adquirente, pelos seus próprios meios ou contratando terceiros, então o acto de cumprimento consiste na entrega da coisa ao transportador e a obrigação concentra-se no cumprimento (e não antes do cumprimento) – caso normal de obrigação genérica (não é o artigo 541º, mas sim 539º - regime geral).

Obrigações genéricas (Almeida Costa) Determinação da prestação:

A determinação do objecto da prestação faz-se em regra, mediante uma operação de escolha dentro do género convencionado.

A escolha compete ao devedor, salvo se as partes a houverem atribuído ao credor ou a terceiro (art. 539). Em qualquer dos casos impõe-se a sua realização com base em juízos de equidade, se outros critérios não tiverem sido estipulados (art. 400º nº1). Cabendo ao devedor, o normal é ela ser efectuada à data do cumprimento, através da entrega da prestação ao credor; a escolha realizada pelo mesmo antes do cumprimento da obrigação só possui eficácia desde que se verifique acordo do credor (art. 540º e 541º), seria pouco razoável que essa escolha, se operasse sem o consentimento de quem vai passar a suportar o risco.

No caso de a escolha competir ao credor ou a terceiro:

 Importa distinguir se existe ou não prazo fixado: não havendo prazo, a escolha poderá ser feita em qualquer momento, com independência da vontade do devedor, ou do devedor e do credor respectivamente. Exige-se porem que seja declarada ao devedor, ou a ambas as partes, conforme o caso (art. 542º nº1).

A lei consagra o princípio da irrevogabilidade da escolha. Embora o artigo 542º nº1 se refira apenas à escolha feita pelo credor ou por terceiro, não se encontra razão para que o mesmo regime não vigore quando a escolha cabe ao devedor.

[?] E se a escolha não é realizada no tempo devido?

1. Se a mesma pertence ao devedor ou a terceiro e não possa ser (ex: por incapacidade ou morte) ou não tenha sido feita tempestivamente por aquele a quem competia – sê-lo-á pelo tribunal (400ºnº2 CC + 1429º CPC).

2. Se a escolha pertence ao credor e ele não a efectua no prazo convencionado é a este que caberá (art. 542º nº2) – solução = art.400º nº 2 (ressalva).

Concentração da obrigação (ver Antunes Varela) A transferência da propriedade e o risco:

o Nos contratos com eficácia real, se a transferência da propriedade respeita a coisa indeterminada, o direito transmite-se, em regra, logo que a coisa se torna determinada com o conhecimento de ambas as partes (art. 408º nº2).

o Dívidas de envio:

Para identificar uma verdadeira dívida de envio é preciso apurar quem assumiu a responsabilidade do transporte da coisa que é objecto da obrigação:

Se o transporte deve ser feito pelo alienante – pelos seus próprios meios ou contratando terceiros - não se trata de dívida de envio.

Se o transporte deve ser feito por um transportador independente, escolhido por ambas as partes (exemplo clássico: Serviço Postal) – então trata-se de uma dívida de envio.

Nota: Se o transporte deve ser feito pelo adquirente – pelos seus próprios meios ou contratando terceiros – então o acto de cumprimento consiste na entrega da coisa ao transportador e a

obrigação concentra-se no cumprimento (e não antes do cumprimento).

o Concentração natural (ver página 42):

Expressão legal: “quando o género se extinguir a ponto de restar apenas uma das coisas nele compreendidas” – o género se extingue a ponto de restar apenas uma quantidade igual ou superior à devida.

Conjugação com passagem do art. 408º, nº 2:

– Através de uma interpretação literal parece que não é de exigir “conhecimento de ambas as partes” para que a concentração natural opere a transmissão da propriedade + transferência do risco – Mas a interpretação teleológica do preceito conduz à conclusão contrária – entende-se que a transferência da propriedade e do risco para o adquirente só opera quando ele conheça o facto da concentração. Vigora aqui o regime do artigo 408º nº2 e não a excepção ai previsto. Senão os interesses do credor ficariam gravemente desprotegidos, este é o único entendimento que permite a este tomar as providências que, considere adequadas à salvaguarda dos seus legítimos interesses, como por exemplo, efectuar um seguro do objecto que restou.

Assim: até à transferência da propriedade, o risco corre por conta do alienante – artigo 540º e mesmo que padeça todo o género, ele suporta o risco não podendo exigir do credor a contraprestação. Contudo, se a deterioração ou o perecimento fortuito da coisa se dá após a concentração, depois da transferência da propriedade, é o credor que sofre o correspondente prejuízo (796º).

Obrigações alternativas

Noção – art. 543º, nº 1.

A lei salienta claramente que a determinação do objecto a prestar está dependente de uma operação de escolha realizada pelo devedor.

 Distinguem-se dos negócios condicionais: estamos perante um negócio deste tipo quando a determinação do objecto a prestar ocorra mediante a realização de um sorteio ou mediante outro facto futuro e incerto. Este tipo de negócios caracteriza-se pela indeterminação relativamente à eficácia do

próprio vínculo jurídico obrigacional (nas obrigações alternativas a indeterminação reporta-se apenas ao objecto).

 As obrigações alternativas versam frequentemente sobre prestações de coisas ou de factos.

Exemplos: A compromete-se a entregar a B o televisor X ou a aparelhagem estereofónica Z, à escolha de B; C obriga-se para com D a conduzir o seu carro num certo dia ou a cuidar do seu jardim, à escolha do credor.

 Distinguem-se das obrigações genéricas: essas incidem sobre todos os objectos que integram o mesmo género, já as prestações alternativas, tanto podem ser do mesmo tipo (prestação de uma coisa pertencente ou não a um único género) como de tipo diferente (prestação de uma coisa ou de facto).

Distinção entre obrigações alternativas e cumulativas: ambas são obrigações compostas (o seu objecto é múltiplo). Contudo, nas alternativas o devedor está adstrito a prestar apenas algum/uns dos objectos sobre que a obrigação versa e não todos eles (ao contrário do que acontece com as cumulativas).

Distinção das obrigações com faculdade alternativa (distinção doutrinal):

a) Nas Obrigações Alternativas existe mais do que um objecto, embora o devedor só esteja adstrito a prestar um dos objectos

b) Nas Obrigações c/ faculdade alternativa (facultativas) só existe um objecto, o seu objecto é constituído por uma prestação, a única que o credor tem o direito de exigir, embora o devedor se possa exonerar mediante a realização de uma outra prestação (sem necessidade de consentimento do credor).

[também pode depender de decisão do credor – caso do art. 442, nº2]

O regime das obrigações com faculdade alternativa não coincide com o das alternativas. Em que termos?

Questão principal – Escolha da prestação:

• Princípio supletivo: compete ao devedor – art. 543º, nº 2.

Em qualquer dos casos as prestações são indivisíveis – artigo 544º. [?] Mas se escolha não for realizada?

a) Se cabia ao devedor, competência passa para o credor – art. 548º (claro que a validade da sua escolha depende de ser comunicada ao credor).

b) Se cabia ao credor, competência passa para o devedor – 549º + 542º,nº ½.

c) Se cabia a terceiro, competência para o tribunal – art. 400º, nº 2 A escolha pode ser feita por declaração expressa ou tácita (217º) – verificando-se esta última quando a escolha cabe ao devedor, mediante a entrega efectiva da prestação. Uma escolha tácita pelo credor (a quem a mesma pertença) ocorrerá sempre que ele aceita sem qualquer reserva a prestação que o devedor efectue por iniciativa própria.

 Nota: a declaração de escolha não se confunde com o acto de cumprimento da obrigação (mesmo que haja coincidência cronológica).

Princípio da irrevogabilidade da escolha (artigo 549º) - Excepção: Obrigações alternativas de execução continuada ou trato sucessivo. Exemplo: A arrendatário de um prédio rústico compromete-se a pagar uma renda anual – a escolha feita em relação a uma prestação não é vinculativa para as futuras (salvo convenção das partes ou preceito da lei em contrário). Impossibilidade de uma ou algumas prestações:

 A lei não se ocupa expressamente sobre a impossibilidade originária ou da ilicitude de uma ou várias prestações, e sendo assim, tendo a obrigação origem num negócio jurídico, aplica- se o artigo 280º e 292º (normas gerais relativas à nulidade parcial). Só não será assim de acordo com as regras da redução (se se provar que a vontade real ou hipotética das partes era a de não celebrar o negócio sem a parte viciada).

 Problema da impossibilidade superveniente (artigos. 545º, 546º e 547º): diz respeito à impossibilidade que se produza entre a constituição do vínculo obrigacional e a escolha (que depois de realizada transforma a obrigação em específica e em consequência à impossibilidade que se produza aplicamos o artigo 790º seguintes).

Artigo 790º - a obrigação extingue-se desde que todas as prestações se tornem impossíveis por culpa do credor ou por qualquer outra causa não imputável ao devedor.

[?] E se a impossibilidade total de der por causa imputável ao devedor? Aplicação do artigo 801º nº1.

Hipóteses previstas pela lei:

I. Artigo 545º: se a impossibilidade não for imputável às partes, a obrigação considera-se limitada às prestações ainda possíveis (se restar uma única prestação = concentração da obrigação nessa única).

II. Artigo 546º: impossibilidade imputável ao devedor. Aqui há que distinguir se a escolha lhe pertencia ou não.

- Se sim: deve efectuar uma das prestações possíveis.

- Se cabe ao credor: “este poderá exigir uma das prestações possíveis ou pedir a indemnização pelos danos provenientes de não ter sido efectuada a prestação que se tornou impossível, ou de resolver o contrato nos termos gerais”.

III.Artigo 547º: Se a impossibilidade for imputável ao credor, há que distinguir se a escolha lhe pertencia ou não.

- Se sim: considera-se cumprida a obrigação. - Cabendo a escolha ao devedor: também a obrigação se considera cumprida, a menos que este prefira efectuar outra prestação e ser indemnizado dos danos que houver sofrido. Aqui nesta hipótese procura-se evitar que por culpa do credor resulte fraudado o direito de escolha do devedor.

[?] E se a escolha pertence a terceiro, tornando-se uma ou várias prestações impossíveis por facto imputável às partes?

O problema aqui resolve-se com recurso a preceitos anteriormente analisados:

 Impossibilidade imputável ao devedor (artigo 546º)

- O terceiro tem duas alternativas:

1. Optar por uma das prestações possíveis 2. Indemnização dos danos resultantes do não cumprimento da prestação

Podia o terceiro optar pela resolução do contrato? Não, esta tem um carácter demasiado pessoal devendo competir ao credor.

- Considera-se cumprida a obrigação.

Ressalva: existe todavia a possibilidade de o terceiro optar pela prestação possível, com indemnização dos danos que o devedor tenha sofrido (art. 547º).

Capítulo V - Transmissão de créditos e de dívidas.