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2.2. POBREZA

2.2.1 Pobreza no Brasil

Para uma análise a pobreza no Brasil, é importante lembrar algumas informações sobre o que ocorreu em nosso País desde a década de 70. Durante esse período ocorreu um progresso substancial na redução da pobreza e melhorias nos padrões de vida, além disso, houve redução na desigualdade de renda entre regiões e entre setores (DENSLOW JR; TYLER, 1984). Nessa época, o crescimento econômico foi mais significativo, com o PIB (Produto Interno Bruto) per

capita2 aumentando 81%, em relação a década de 60, e o crescimento da desigualdade foi menor

do que a década anterior, com isso ocorreu uma redução na pobreza (HOFFMANN, 1995). No Brasil, a década de 80, caracterizada como a “década perdida” em relação ao crescimento econômico (HOFFMANN, 1995) testemunhou taxas de crescimento de renda

2De acordo com o IBGE (Instituído Brasileiro de Geografia e Estatística) o PIB per capita é o produto interno

bruto, dividido pela quantidade de habitantes de um país. A renda familiar per capita corresponde ao resultado da divisão da soma da renda de todas as fontes de todas as pessoas da família pelo respectivo número total de pessoas. Considera-se, de forma igualitária qualquer membro da família, independentemente de necessidades específicas, como: idade, atividade e outros fatores (ROCHA, 1992).

muito inferiores aos dos anos 1970. O efeito sobre a pobreza desta estagnação era especialmente preocupante, tendo em conta a generalização de que a desigualdade no Brasil também se agravou na década de 1980. Nessa mesma década, vivenciaram-se sinais de regresso nas taxas de crescimento mais elevadas que na década de 1970 (DATT; RAVALLION, 1992).

No estudo de Datt e Ravallion (1992), que analisa dados sobre a distribuição da renda no Brasil no período 1981 a 1988 (considerando o rendimento familiar per capita), evidencia- se que tanto no período de 1981 a 1983, quando ocorreu um considerável aumento no grau de pobreza, como no período de 1983 a 1985, quando houve um processo de recuperação econômica, as mudanças nas medidas de pobreza extrema se devem, predominantemente, às alterações no rendimento médio. Os autores não analisam os dados referentes a 1986. Comparando os anos de 1981 e 1988, verifica-se que houve um aumento no grau de pobreza decorrente do predomínio do efeito do aumento da desigualdade sobre o efeito (negativo) do aumento do rendimento médio.

Depois de uma década de crescimento acelerado (década de 70), a pobreza no Brasil em 1980 ainda era marcadamente rural e nordestina. A população rural correspondia a um terço da população brasileira, onde 42% dos pobres brasileiros viviam em área rural. O Nordeste correspondia 29% da população, ou seja, 49% dos pobres brasileiros (ROCHA, 2013). Essa disparidade econômica entre o Nordeste e as demais regiões do Brasil pode ser decorrente da perda da exportação da cana de açúcar e de fatores ambientais, como a seca (THOMAS, 1987). A pobreza em cidades médias e regiões metropolitanas do Brasil estão relacionadas a diversos fatores, tais como a migrações internas, bem como a estrutura produtiva da cidade e da sua posição funcional no sistema urbano (TOLOSA, 1978).

Já na década de 90, frente ao empobrecimento das metrópoles, a proporção de pobres nas cidades passa de 29% em 1981, para 32% em 1993. Este período marca assim o fim da pobreza rural como sendo da pobreza no Brasil. A participação da pobreza rural na pobreza brasileira continuou a diminuir ao longo do período, passando de 35% em 1981 para 24% em 1993. Isto em decorrência da diminuição da população rural, como também da queda mais rápida da proporção de pobres nas áreas rurais, o que já reflete os efeitos do processo de modernização agrícola (ROCHA, 2013). E também o deslocamento de famílias que residem em área rural para áreas urbanas.

Para Rocha (2013), as desigualdades regionais também foram afetadas da mesma forma, ou seja, tiveram melhor desempenho em relação à pobreza as áreas menos desenvolvidas. Em decorrência, o número de pobres nordestinos no total de pobres brasileiros declina de 49% em 1981 para 43% em 1993. Em contrapartida, aumenta a participação dos pobres residentes no

Sudeste de 30% para 36%. Um fator que contribuiu para essa diminuição da pobreza no Nordeste se dá pelo fato da migração interna, ou seja, do deslocamento de pessoas da região nordeste para a região sudeste do país. Ainda na década de 90, a renda continuou a se concentrar na camada mais alta, assim como as classes mais pobres foram mais afetadas pelo desemprego. Em seguida com a implantação do plano de estabilização, o Plano Real, que proporcionou efeitos positivos relacionados à inflação, transformando a vida de todos os brasileiros, também causou a redução dos resultados negativos dos indicadores de pobreza. A redução da pobreza associada ao controle da inflação já tinha ocorrido após o Plano Cruzado, segundo Rocha (2013). A autora observa ainda as mudanças ocasionadas pelo Plano Real, mais de um ano após sua implantação ao relatar que os “efeitos da estabilização de preços sobre a pobreza em setembro de 1995 se mostravam acentuados em relação à última referência disponível a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (PNAD): a proporção de pobres se situava em 20,6%, mostrando uma queda abrupta em relação à taxa de 30,3% verificada antes da estabilização, em setembro de 1993” (ROCHA, 2013, p. 10).

Além das perdas inflacionárias, Rocha (2013) cita ainda três razões básicas para que a estabilização tenha reduzido à pobreza: (1) o preço favorável dos alimentos, que sobrecarregam relativamente mais na cesta de consumo dos pobres; (2) o aumento do rendimento no setor de serviços, principalmente dos rendimentos de menor valor, pois os pobres se concentram no setor de serviços pouco especializados, foram beneficiados pela ilusão inflacionária; e (3) o câmbio sobrevalorizado e o uso de importações para controle de preços beneficiavam indiretamente os rendimentos no setor de serviços.

Anos seguintes, na década de 2000, analisando-se a renda da população, foi um período caracterizado por três fatores básicos: (1) o comportamento do mercado de trabalho; (2) a política de valorização do salário mínimo e; (3) a expansão das transferências de renda assistenciais. Esses fatores contribuíram para o aumento da renda familiar brasileira e beneficiou os mais pobres. Consequentemente, entre os anos de 2003 e 2011, a proporção de pobres diminuiu praticamente à metade, de 22,6% para 10,1%. Esta diminuição da pobreza resulta do aumento sustentado da renda, potencializado pela redução da desigualdade. E ainda, estes fatores atuaram de forma constante ao longo do período, de modo que, ocorreu uma redução sustentada da pobreza, que se mantém como sugerem as evidências empíricas conjunturais relativas ao ano de 2012 (ROCHA, 2013).

Os dados mais recentes encontrados foram de pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que aponta 5,29% de pessoas em extrema pobreza no Brasil, no ano de 2012, porém no ano seguinte esse número volta a crescer. Quanto aos outros

níveis de pobreza, o instituto aponta que 15,93% da população ainda viviam abaixo da linha da pobreza, no ano de 2012, mostrando uma queda considerável em relação ao ano anterior onde esse número era de 18,42% da população (IPEA, 2013). A linha de pobreza é o dobro da linha de extrema pobreza, uma estimativa do valor de uma cesta de alimentos com o mínimo de calorias necessárias para suprir adequadamente uma pessoa, com base em recomendações da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) (Pnad/IBGE, 2013).

Esses indicadores não são o suficiente na busca por se estudar e conhecer a pobreza, pois não basta saber apenas quantos pobres um país possui, mais do que isto, é necessário estudar aspectos sociais, culturais, biológicos e materiais (TOLOSA, 1978, HUSTON, 2011) e entender as privações de consumo (FIELD, 1994) que afetam pessoas e famílias empobrecidas. Nesse âmbito, o presente estudo aborda dentre seus objetivos analisarem as privações de consumo sofridas por crianças que junto com suas famílias vivenciam um contexto de pobreza.

Em seguida, analiso o tema famílias e a criança em condição de pobreza.