• Nenhum resultado encontrado

1.3 Críticas a uma única dimensão da pobreza e desigualdade

1.3.2 Pobreza: um conceito objetivo?

Segundo Laderchi et alli (2003), todas as definições de pobreza podem conter elementos subjetivos e arbitrários, muitas vezes impostos pelo próprio observador externo. Porém, isto é mais problemático na abordagem monetária, uma vez que, passa a falsa impressão de ser mais rigorosa e objetiva.

Uma questão fundamental na abordagem da pobreza é a diferenciação entre pobres e não-pobres e a existência de uma forma objetiva (ou não) de identificá-los. Consequentemente, a pobreza pode ser classificada segundo três categorias: pobreza absoluta25, pobreza relativa26 e pobreza subjetiva27.

A noção de pobreza refere-se a algum tipo de privação, que pode ser somente material ou incluir elementos de ordem cultural e social, em face dos recursos disponíveis de uma pessoa ou família. Essa privação pode ser de natureza absoluta, relativa ou subjetiva. A identificação dos pobres, segundo a definição adotada, e a medida agregada da extensão da pobreza numa sociedade tem constituído um campo de pesquisa tão amplo quanto antigo (KAGEYAMA e HOFFMANN, 2006, p. 80).

A pobreza absoluta sob a ótica da renda refere-se ao mínimo de renda suficiente para que o indivíduo possa obter calorias minimamente necessárias à reprodução fisiológica. A esse nível, acrescentam-se despesas com transporte, moradia, etc. (SALAMA e DESTREMAU, 1999). Este conceito está vinculado à noção de mínimos sociais necessários à sobrevivência humana. Abandonando-se a vertente da renda, a pobreza absoluta pode ser definida como a não-satisfação das necessidades humanas básicas ou como privação de capacitações básicas28.

Conforme Vinhais e Souza (2006), uma linha de pobreza absoluta é um valor constante em termos reais de acordo com algum critério fixo como, por exemplo, o mínimo necessário para conseguir uma determinada cesta de bens previamente determinada.

Quando se trata de mensurar a quantidade de indivíduos que se encontram em situação de pobreza extrema, geralmente chamados de indigentes, observam-se aqueles que se localizam abaixo de uma linha de indigência. Por sua

25 Pobre é a aquele que tem menos que um mínimo objetivamente definido. 26 Pobre é aquele que tem menos do que os outros na sociedade.

27Pobre é aquele que sente que não tem o suficiente para continuar vivendo.

28 Assim como a abordagem das necessidades básicas, a abordagem das capacidades também será discutida no segundo capítulo.

vez, a linha de indigência sob a perspectiva da renda é elaborada como um valor monetário necessário para a compra de certa cesta de alimentos que contenha a quantidade mínima de calorias indispensáveis à sobrevivência humana.

Quanto às definições de pobreza subjetiva, podem ser de dois tipos: pobres são aqueles cujo nível de renda está abaixo daquele que consideram que seria o “exatamente suficiente” para viver. Outra abordagem que tenta conciliar a pobreza subjetiva com a ideia de necessidades básicas, propõe que se indague às pessoas o que elas consideram como necessidades básicas e depois que se compare esse valor com sua renda disponível.

Assim, a perspectiva objetiva caracteriza-se por envolver julgamentos normativos, que primam por definir aspectos como o que constitui a pobreza e o que é requerido para tirar as pessoas daquele estado. A abordagem subjetiva, por sua vez, dá relevância às opiniões das pessoas, em termos dos bens e serviços que por elas são valorizados. [...] a privação subjetiva está associada ao enfoque da pobreza relativa [...] (CODES, 2008, p. 21). Segundo Baran e Sweezy (1978), para os teóricos burgueses a pobreza é uma questão relativa, sendo assim todos podem defini-la como almejarem. Por outro lado, para os marxistas, estas avaliações subjetivas são errôneas. Entretanto, de acordo com Pereira (2006a), estão evidentes aspectos relativistas no trato, por exemplo, das necessidades humanas por pensadores marxistas, mas isso não ocorre de forma homogênea.

Na abordagem de pobreza como privação relativa, os pobres são grupos sociais que não possuem acesso aos meios de subsistência disponíveis para uma parte da população. A privação relativa representa uma condição de desvantagens na distribuição dos recursos. O conceito de pobreza, neste caso, é estabelecido em função de um padrão médio de vida. Logo, refere-se a um conjunto de bens considerados comuns na sociedade.

Além disso, este conceito está atrelado à distribuição de riquezas socialmente produzidas. Portanto, como afirma Pereira (2006b) na presença de desigualdade e estratificação social, existirá uma parte da população que sempre será pobre em relação a outro grupo, independentemente do grau de riqueza da nação em questão.

De acordo com Sen (1983b) pela abordagem relativista, as privações são determinadas em termos de uma pessoa ou família que é capaz de obter menos que outras numa sociedade. Seguindo este conceito, a linha de pobreza relativa

determinada a partir daí, se baseia em um valor fixado em relação à renda média ou mediana da população.

Conforme Foster (1998) uma linha de pobreza relativa se inicia com algumas noções de um padrão de vida para a distribuição, como a média, a mediana ou algum outro quantil, e define como ponto de corte alguma porcentagem deste padrão de vida. O resultado é o limite de pobreza que varia com o referido padrão.

De acordo com Sen (2000) a literatura predominante utiliza-se de linhas de pobreza com base na renda relativa. Deste modo, o número de pobres é estabelecido conforme a privação da renda, ou seja, pela contagem ou cálculo da proporção daqueles que se encontram abaixo da linha estabelecida em relação a outros. Porém, não se faz menção sobre em que magnitude os indivíduos estão abaixo dessa linha.