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CAPÍTULO 3 – IDENTIDADE NA ERA DAS REDES SOCIAIS

3.1 Poder da identidade

Os movimentos sociais discutidos à luz da teoria da era da informação tem como tema principal a globalização e a identidade na obra de Castells (1999b).

A sociedade em rede, com a revolução tecnológica e informacional e da nova economia, trouxe a globalização, a flexibilidade, a “realidade midiática”, o tempo intemporal etc. Uma sociedade conectada pela convergência de telecomunicações, computadores e redes. Em paralelo, temos os movimentos sociais como resultado da interação da globalização induzida pela tecnologia, o poder da identidade e as instituições do Estado.

Castells analisa as transformações da estrutura familiar e da personalidade com o fim do patriarcalismo, o movimento feminista e as mudanças tecnológicas no processo de reprodução da espécie.

Como a família e a sexualidade são fatores determinantes dos sistemas da personalidade, o questionamento das estruturas familiares conhecidas e a revelação da sexualidade projetada pessoalmente criam a possibilidade de novos tipos de personalidade que mal começamos a perceber. Segundo Hage e Powers, a principal habilidade necessária para corresponder como indivíduos às mudanças que estão ocorrendo na sociedade é a de dedicar- se à “definição de um papel” que consideram como o microprocesso vital da sociedade pós-industrial. (CASTELLS, 1999b, p. 276)

A verdadeira tarefa desses movimentos é descobrir a identidade e permitir a conscientização e reconstrução da personalidade.

Figura 28 – Identidade na rede

Fonte: <http://elia.com.br/identidade-web/>. Acesso em: jul. 2013.

Castells acredita que os atores sociais podem possuir múltiplas identidades, tendo essa pluralidade como fonte a contradição do ato de se autorrepresentar na forma de interação social. Segundo o autor:

No que diz respeito a atores sociais, entendo por identidade o processo de construção de significado comum com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais interrelacionados, o(s) qual(ais) prevalece(m) sobre outras fontes de significado. (CASTELLS, 1999b, p. 22)

Para exemplificar essas múltiplas identidades, é necessário considerar que as redes sociais nasceram para integrar membros com interesses e ideologias ligados pela relevância de um determinado assunto e para proporcionar interatividade e integração por meio do compartilhamento de conteúdo. Os perfis das redes sociais personificam as pessoas, e o mesmo usuário se apresenta de forma totalmente diferenciada, por exemplo, no Facebook, no Linkedin e no Twitter.

Os indivíduos usam papéis como artifício. Uma pessoa pode desempenhar diversos papéis sociais (por exemplo: ser pai, marido, fumante, vizinho, sindicalista, jogador de futebol e militante político, ao mesmo tempo). Esses papéis, nas palavras de Castells, “são definidos por normas estruturadas pelas instituições e organizações da sociedade” (CASTELLS, 1999b, p. 23)

Os papéis têm uma importância relativa no ato de influenciar o comportamento, diferentemente da identidade. Os papéis dependem dos acordos entre as instituições e organizações nas quais os indivíduos estão inseridos. Já a identidade constitui fonte de significado e experiência de um povo, ou seja, identificação simbólica, que representa algo para alguém.

Resumindo, Castells (1999b) vê papéis como funções sociais e identidade como processo de construção do significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais interrelacionados, o qual prevalece sob outras fontes de significado.

Figura 29 – Construção da identidade

Fonte:<http://poucoacucaremuitosal.blogspot.com.br/2011/05/identidade-virtual-bug-gmail.html>. Acesso em: ago. 2012

Castells apresenta três formas originais de construção de identidade que têm permeado a modernidade, tomando por base que

[...] a construção social da identidade sempre ocorre em um contexto marcado por relações de poder:

Identidade legitimadora: introduzida pelas instituições dominantes da sociedade no intuito de expandir e racionalizar sua dominação em relação aos atores sociais.

Identidade de resistência: criada por atores que se encontram em posições/condições desvalorizadas e/ou estigmatizadas pela lógica da dominação, construindo assim, trincheiras de resistência e sobrevivência com base em princípios diferentes dos que permeiam as instituições da sociedade, ou mesmo opostos a estes últimos.

Identidade de projeto: quando os atores sociais, utilizando-se de qualquer tipo de material ao seu alcance, constroem uma nova identidade capaz de redefinir sua posição na sociedade e, ao fazê-lo, de buscar a transformação de toda a estrutura social. (CASTELLS, 1999b, p. 24)

Segundo o autor, a “identidade legitimadora” parte de uma sociedade civil, com suas instituições e seus atores organizados de modo a reproduzirem “a identidade que racionaliza as fontes de dominação estrutural” (CASTELLS, 1999b, p. 24). Esse tipo de identidade é utilizado como um instrumento que permite a continuidade e também suporta o poder das instituições civis e do Estado. O que existe, por um lado, é o poder do Estado se prolongando em seu campo de ação e dominação, e por outro, as pessoas que conferem um aspecto de conciliação ideal entre os interesses do Estado e as intenções dos sujeitos.

Site PagSeguro - Exemplo de “identidade legitimadora”:

Figura 30 – Site PagSeguro

Fonte: <https://pagseguro.uol.com.br/registration/registration.jhtml#rmcl>. Acesso em: set. 2012.

A “identidade de resistência” consite em permitir a formação de comunidades que resistem a todo tipo de dominação, imposição de valores e crenças. Elas viabilizam a organização de formas de resistência coletiva e funcionam como um mecanismo tanto de autoafirmação dos excluídos quanto de obstáculos das forças que o excluem. Castells (1999b) denominou esses movimentos de resistência de “exclusão dos que excluem pelos excluídos”.

Comunidade Gay no Facebook - Exemplo de “Identidade de resistência”:

Figura 31 – Comunidade Gay no Facebook

Fonte: <https://www.facebook.com/pages/Comunidade-gay/514825081881008?fref=ts> Acesso em: set. 2012.

O terceiro e último tipo de construção de identidade é a “identidade de projeto” que, segundo o autor, “produz sujeitos”. Essa identidade atua como perspectiva de mudança social.

Nessa perspectiva, Castells (1999b) defende a ideia muito difundida na contemporaneidade e retoma o sujeito – aqui entendido como “o ator social coletivo”, para que transformações em âmbito mais global possam ocorrer.

Greenpeace - Exemplo de “identidade de projeto”:

Figura 32 – Site Greenpeace

Fonte: <http://www.greenpeace.org/brasil/pt/>. Acesso em: set. 2012.

Resumindo os estudos de Castells (1999b), tem-se o papel dos movimentos sociais e políticos das novas tecnologias, da informação e da identidade, bem como as discussões das mudanças da sociedade em rede frente à era da informação.

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