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4. ANÁLISE DO SETOR CINEGÉTICO EM PORTUGAL CONTINENTAL

4.3. Plano Cinegético

4.3.1. Estrutura, Conteúdos e Documentos do POEC

4.3.1.2. POEC

O POEC é uma memória descritiva que acompanha a cartografia e, é constituído por uma introdução, um plano de ordenamento e um plano de exploração.

4.3.1.2.1. Introdução

Na introdução é feito um enquadramento geral da ZC:

Nome do titular da zona de caça e os seus dados: morada, número de contribuinte e contatos telefónicos.

Nome da zona de caça e o seu número, caso já exista.

Enquadramento legal da zona de caça, isto é, no caso de ser um processo de renovação, anexação ou desanexação, listar todas as Portarias e Despachos referentes à zona de caça publicados até essa data.

Identificar o tipo de processo, nomeadamente, se é uma concessão, uma renovação, anexação ou desanexação.

Identificação do técnico responsável pelo processo.

4.3.1.2.2. Plano de Ordenamento

No plano de ordenamento é feito um inventário do meio natural, através da informação compilada na cartografia elaborada previamente, que serve de base aos recursos cinegéticos e um diagnóstico global da zona de caça, onde se inclui:

Localização geográfica indicando: a região cinegética, a(s) freguesia(s), o(s) concelho(s), o(s) distrito(s) e o(s) número(s) da(s) carta(s) militar(es) respetiva(s)

Perímetro da zona de caça, em metros. Esta informação é muito importante para que a entidade gestora determine o número de tabuletas a adquirir e, assim sinalizar a zona de caça.

Área útil da zona de caça e conforme se aplique: área de enclave, área social, área de interdição, área classificada e área do campo de treino de caça, bem

Percurso Multidisciplinar no Exercício da Atividade de Engenharia Florestal. como a área por freguesia e por concelho. Todos os valores são apresentados em hectares.

Período de concessão, que pode variar entre os 6 a 12 anos, conforme os acordos com o titulares de direitos dos prédios rústicos.

Caraterização biofísica, que inclui informação sobre o clima da região, tipos de solos, hipsometria, hidrografia e revestimento vegetal.

 Para caraterização do clima da ZC utilizava como fonte informação disponibilizada pelo antigo Instituto Nacional de Meteorologia, através do site www.iambiente.pt/atlas/, fazendo referência:

À quantidade de precipitação total por ano, em milímetros. Ao número de dias com precipitação igual ou superior a 1,0

mm.

À evapotranspiração, em milímetros. À percentagem de humidade relativa do ar.

À temperatura média diária por ano, em graus centígrados. À insolação média por ano, em horas.

O número de dias de geada por ano.

 Quanto aos solos efetuava uma caraterização das unidades pedológicas dominantes e do pH do solo, através de informação disponível no atlas do ambiente, na carta de solos e carta de acidez do solo respetivamente.

 Para a hipsometria da zona de caça recorria à informação da carta de implantação elaborada anteriormente, para classificar a zona quanto ao relevo, referindo a cota mais baixa e a cota mais alta, em metros.

 Na caraterização hidrográfica realizava uma descrição das linhas e pontos de água disponíveis para as espécies cinegéticas caraterizadas previamente na cartografia, na carta hidrográfica, bem como a sua classificação enquanto permanentes ou sazonais.  Na caraterização biofísica descrevia as espécies predominantes nos

estratos: arbóreo, arbustivo e herbáceo, com base no conhecimento da zona de caça e através de informação disponibilizada pela entidade gestora.

Caraterização do aproveitamento agrícola, florestal e pecuário, com base na informação da carta de ocupação de solo e informação disponibilizada pela

Percurso Multidisciplinar no Exercício da Atividade de Engenharia Florestal. entidade gestora, bem como enumerar ações de investimento previstas que pudessem alterar as condições descritas.

Identificação das espécies cinegéticas que existem na zona de caça e as que se pretendem explorar.

Na componente de diagnóstico era importante elencar medidas previstas para o fomento e conservação do património cinegético. As medidas previstas neste ponto estavam dependentes da especificidade e das caraterísticas da ZC no entanto, as mais comuns passavam pela colocação de comedouros e bebedouros artificiais, limpeza e recuperação de pontos de água, controlo de predadores, censos de populações, repovoamentos, limpeza de matos e por promover áreas de sossego e vigilância, necessária para a reprodução e proliferação das espécies.

Avaliar qualitativamente e quantitativamente as potencialidades cinegéticas da ZC. Pretende-se com este ponto estimar as possibilidades cinegéticas máximas da ZC, tendo em conta as caraterísticas edafoclimáticas e agro-silvo-pastoris, os principais fatores condicionantes ou favoráveis daí resultantes e todas as medidas de ordenamento previstas, com vista a melhorar as condições de habitat das populações. Sendo que a avaliação da população potencial para o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) variava entre 1 a 3 coelhos por hectare, para a perdiz- vermelha (Alectoris rufa) entre 0,3 a 0,5 perdizes por hectare e no caso da lebre (Lepus granatensis) 0,2 a 0,3 lebres por hectare. As espécies predadoras, como é o caso da raposa (Vulpes vulpes), saca-rabos (Herpestes ichneumon) e javali (Sus

scrofa), bem como os gamos (Dama dama) e os veados (Cervus elaphus) a

avaliação da população potencial estava dependente do número de observações da entidade gestora da ZC e das caraterísticas do meio, sendo analisado caso a caso. As potencialidades populacionais das espécies migradoras e semi-migradoras não se quantificavam porque estavam fortemente dependentes dos fluxos migratórios.

Em súmula, no plano de ordenamento são identificados os fatores condicionantes e favoráveis ao património cinegético e avaliadas as suas potencialidades, isto é, estimam-se as possibilidades cinegéticas máximas da zona de caça, tendo em conta as caraterísticas do meio, com vista a melhorar as condições de habitat das populações.

Percurso Multidisciplinar no Exercício da Atividade de Engenharia Florestal.

4.3.1.2.3. Plano de Exploração

No plano de exploração estabelecem-se as diretrizes gerais de gestão, dentro das capacidades e possibilidades reais da ZC. Para o efeito inclui-se:

Número de postos de trabalho criados com a execução do plano, isto é, se estavam previstos a contratação de um guarda-florestal auxiliar e/ou outros trabalhadores diferenciados. Estas nomeações são facultativas e ficam a cargo da concessionária.

Enumeram-se os processos e meios de caça para as diferentes espécies cinegéticas objeto de exploração.

O período de caça para as diferentes espécies cinegéticas, nunca esquecendo da obrigatoriedade de cumprir o calendário venatório que é publicado anualmente.

Dias e jornadas de caça previstos.

Estima-se o número de exemplares de cada espécie a abater anualmente. No caso das lebres, coelhos e perdizes 30% a 50% da população estimada, para os veados e gamos 25% a 50% da população estimada, para a raposa e saca-rabos 70% a 80% da população, no caso do javali 80% da população estimada ou 50% quando se pretenda preservar a população (Morais, 2008). Mas, no primeiro ano de vigência do plano só se exploravam as espécies cinegéticas com comportamento predador e no segundo e terceiro anos ia- se aumentando o número de espécies a abater anualmente até atingir os máximos referidos.

4.3.1.2.4. Orientações para a Concessionária

Tendo em conta que a legislação cinegética é vasta e encontra-se publicada em vários diplomas legais, levando a que a sua consulta e interpretação seja uma tarefa complexa, no plano de exploração tinha por hábito colocar um capítulo destinado à concessionária da zona de caça de carácter informativo, onde destacava as obrigações legais da mesma.

Percurso Multidisciplinar no Exercício da Atividade de Engenharia Florestal. Por outro lado, eram elencadas medidas auxiliares ideais para uma gestão sustentável dos recursos cinegéticos, a importância da realização de censos das espécies cinegéticas e a implementação de um código de conduta dos caçadores, isto porque, o caçador e as associações que os representam são os principais responsáveis por um capital que é importante transmitir às gerações futuras e que, para além de respeitar o enquadramento legal deve ser o primeiro a zelar e preservar as regras do jogo biológico.

A prática demonstrou que este capítulo no POEC era muito importante para o gestor da ZC, o que levou a que toda a equipa de técnicos da Fencaça, da qual também fazia parte, elaborasse em conjunto o documento “Normas de Funcionamento das Zonas de Caça Associativas e Turísticas e Obrigações das Entidades Gestoras” (Morais, 2008) que foi publicado e distribuído pelos sócios da federação enquanto uma ferramenta de apoio à gestão.

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