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Polícia Militar de Minas Gerais: quando a missão é promover segurança pública

A ORGANIZAÇÃO POLICIAL MILITAR: DAS PRESCRIÇÕES E NORMAS

2 A ORGANIZAÇÃO POLICIAL MILITAR: DAS PRESCRIÇÕES E NORMAS

2.4 Polícia Militar de Minas Gerais: quando a missão é promover segurança pública

2.4.1 Gestão Organizacional da PMMG

Missão: “promover a segurança pública por intermédio da polícia ostensiva, com respeito aos direitos humanos e participação social em

Minas Gerais.” (MINAS GERAIS. Polícia Militar de Minas Gerais,

2013).

A concepção de gestão adotada, pelo estado, às políticas de segurança pública pelo princípio da governança e polícia de resultados conduziu a PMMG à adoção de novas posturas, estratégias de policiamento e reordenamento dos seus princípios normativos gerenciais.

Por ser uma instituição com muitas normas, diretriz e doutrinas, optamos, neste capítulo, pela análise de dois documentos normativos: Um primeiro referente ao Plano Estratégico da Polícia Militar de Minas Gerais, 2012-2015, na sua mais recente atualização, consolidado na identidade organizacional, objetivos e estratégias de desenvolvimento da PMMG. O segundo, por abranger em seus capítulos uma visão normativa e estrutural da instituição, regulamentando o emprego operacional da Polícia Militar de Minas Gerais, datado de 2010. Os objetivos da análise desses dois documentos estão assentados na perspectiva de que o primeiro evidencia o pensamento estratégico organizacional da instituição e suas proposições para a área da segurança pública; o segundo demonstra como a instituição se organiza e determina o emprego operacional das suas atividades de polícia, ingredientes necessários para compreender o organismo policial, na sua forma prescritiva, e, os objetivos propostos pela organização a seus trabalhadores.

O plano estratégico é o documento que configura o desenvolvimento da organização a longo prazo e consiste no processo de elaboração de estratégias, definindo a relação entre a organização e o ambiente: “[...] identificar riscos com antecedência promovendo a formação de uma visão comum e auxiliando na criação de comprometimento dos servidores com a busca de metas.” (MINAS GERAIS. Polícia Militar de Minas Gerais, 2013, p.16).

A perspectiva na elaboração de um plano estratégico na instituição vem se consolidando desde o final da década de 90, quando a PMMG inseriu em sua rotina a concepção do geoprocessamento de polícia comunitária e prevenção criminal. Esse plano enfatiza a adoção, por parte da instituição, de uma postura gerencial moderna, utiliza-se de técnicas e

ferramentas de gestão focada na obtenção de melhorias a eficiência e eficácia das atividades de polícia, acompanha a reforma gerencial do Estado, em que as metas, indicadores e resultados ocupam uma posição de destaque nas práticas dos serviços da PMMG.

Esse documento (MINAS GERAIS. Polícia Militar de Minas Gerais, 2013) incorpora, em seu texto, a concepção da gestão para a cidadania, considerada como a terceira geração do choque de gestão do estado, em que se instituem conceitos de redes transversais e intersetorias, programas e participação da sociedade organizada. Esse conceito de cidadania passa a tangenciar e a intervir na definição de proposições das estratégias institucionais de prevenção e controle da violência, e o fortalecimento da sensação de segurança.

O plano em vigência foi estruturado na identidade organizacional quanto à missão, visão e valores preceituados pela instituição, com modificações conceituais em relação ao plano anterior, e os objetivos estratégicos associados a indicadores e desmembrados em estratégias institucionais. A visão e missão da instituição atribuem alguns termos de relevância como construção conceitual, que são: segurança pública; ambiente seguro; polícia ostensiva; direitos humanos; participação social.

Os valores institucionais preceituados no documento estão elencados como:

Representatividade: [...] internalização e prática de valores institucionais

pelos servidores, que os tornam em condições de demonstrar, positivamente, a imagem da PMMG, tanto na condição policial militar como em situações da vida cotidiana.

Respeito: são deveres a quem serve na PMMG e a quem servimos – o

cidadão e a sociedade. A PMMG esforça-se para dar a seus servidores condições para que expressem o seu potencial de inteligência e suas capacidades no respeito e garantia dos direitos fundamentais das pessoas.

Lealdade: deve expressar, além do comportamento, uma resposta atitudinal

constituída por componentes cognitivos e afetivos, considerados importantes nos relacionamentos da organização policial e, entre os seus integrantes.

Disciplina: é a exteriorização da ética profissional dos policiais militares e

manifesta-se pelo exato cumprimento dos deveres. Integra o hábito interno que correlaciona o cumprimento das atribuições, regras e deveres. Inclui a disciplina tática no regramento de atitudes e ações.

Ética: deve permear ações e relações internas e externas do policial militar.

[...] conjunto de regras, princípios ou maneiras de pensar que guiam, ou chamam a si, a autoridade de guiar as ações em grupo.

Justiça: [...] regula a convivência, possibilita o bem comum, defende a

dignidade humana, respeita os direitos humanos [...].

Hierarquia: entendida como a ordenação da autoridade em níveis diferentes

fator facilitador do controle, de forma a permitir a coesão do funcionamento das atividades da PMMG. (MINAS GERAIS. Polícia Militar de Minas Gerais, 2013. Grifos nossos).

O documento se constitui em doze objetivos estratégicos para o quadriênio de 2012-2015, que são: prevenção á violência, criminalidade e fortalecimento da sensação de segurança; intervenções qualificadas na redução da criminalidade; qualidade na prestação de serviços; gestão logística; promoção de saúde e bem estar do público interno; gerenciamento dos recursos humanos; gestão do conhecimento; expansão da capacidade dos sistemas de informação organizacional; modernização do sistema de comunicação organizacional; atividade de inteligência de segurança pública; aprimoramento da captação de recursos financeiros.

Ao referenciar o objetivo destinado à saúde e ao bem-estar do policial, as estratégias apresentadas no documento estão voltadas para: o desenvolvimento de ações de promoção à saúde e prevenção a doenças com a divulgação dos benefícios gerada ao policial militar; descentralização de serviços de atenção básica; implantação do serviço de saúde ocupacional, porém, com indicador restrito para o índice de absenteísmo por licença saúde e utilização da capacidade consultas, o que pode nos indicar uma forma de controle do trabalho.

Ainda sobre o objetivo anterior, não foi possível detectar no documento, de forma mais explícita, outras estratégias direcionadas às melhorias internas do ambiente e das condições de trabalho do policial, visto que, nas pesquisas sobre o trabalho policial, as doenças ocupacionais estão diretamente relacionadas à exposição a muitas situações de riscos e tensão na profissão, más condições de infraestrutura do ambiente de trabalho, longas jornadas de trabalho e da pressão relativa aos regulamentos disciplinares no interior das organizações, questões essas que requerem ações mais pontuais, pois, como bem define Minayo, Souza e Constantino (2008, p.308), “a satisfação do policial é pré-requisito de nossa segurança e proteção”. Portanto, quando a organização direciona estratégias para mudanças internas que contemple o trabalhador, existe uma maior chance de adesão e comprometimento nas ações emanadas pela instituição.

No caso do trabalho policial, as pesquisas12 nos revelam que o sofrimento físico e mental dos policiais militares é resultante do conjunto de situações vivenciadas no cotidiano laboral que têm reflexo na vida social. Um deles, que nos interessa como objeto da nossa pesquisa, é o que a autora considera como a lacuna entre o prescrito e o extraoficialmente exigido — “[...] a defasagem entre o que oficialmente determinado para a sua função e o que a sociedade e a própria organização exigem deles” (MINAYO, SOUZA; CONSTANTINO, 2008, p. 239). O posicionamento da autora nos remete aos ensinamentos da ergologia no que diz respeito à administração dessa defasagem entre o prescrito e o realizado, por um lado, para compreender que o trabalho exige um investimento de si, não é apenas realização de tarefas, mas, uma convocação do indivíduo singular. Por outro, essa convocação remete a novas reconfigurações de maneiras de fazer, mesmo sob o risco de sanções disciplinares, que poderá desencadear em sofrimento gerado nas situações de trabalho.

Percebemos, no plano estratégico da PMMG, dentre os objetivos relativos à gestão de recursos humanos que se configura em: “desenvolver mecanismos de fortalecimento dos valores de hierarquia e disciplina dos policiais militares”, o que demonstra a preocupação da instituição na preservação desses valores, contudo, não se pode garantir que a hierarquia e a disciplina são suficientes para o pleno exercício profissional, porque, como define Trinque (2010), “o trabalho não é só uma realização técnica e mecânica, é um ato de natureza humana que engloba e restitui toda a complexidade humana.” No ato do trabalho, esses valores serão reposicionados para mediar a atividade com o meio.

Por fim, o documento consultado nos revela um alinhamento na gestão da administração moderna com fulcro para a gestão do conhecimento, acompanhando a política de gestão do Estado, e também agregando em seus textos os conceitos relativos aos propósitos da segurança pública nacional e estadual. Contudo, não podemos desconsiderar que os arranjos institucionais constituem em acordos políticos que alimentam esses organismos em termos de recursos financeiros, econômicos e políticos. No entanto, não foi possível verificar no documento de que forma a construção do plano estratégico foi consolidada. Seu texto menciona a utilização de metodologia específica, sem melhores detalhes, com ampla participação de todos os setores da instituição. Porém, não ficou claro o grau de participação dos integrantes da corporação, especialmente a categoria de praças, já que são eles, em sua

12 Algumas pesquisas referentes ao trabalho policial na perspectiva do adoecimento, estresse ocupacional, estão

maioria, os executores diretos da atividade de policiamento e contato permanente com a população, e, portanto, têm uma função preponderante em fazer valer parte das ações empreendidas no plano. Visto que a missão institucional é prover a segurança. O que podemos constatar, no documento, é uma participação ampla de oficiais superiores e intermediários e uma representatividade mínima de praças na lista de colaboradores do trabalho.

O segundo documento que passamos a analisar é a Diretriz para Produção de Serviços Segurança Pública da Polícia Militar de Minas Gerais, referenciada como Diretriz Geral para Emprego Operacional da PMMG (DGEOP), publicada em setembro de 2010, e que regulamenta o emprego operacional da Polícia Militar de Minas Gerais, em sua atividade fim. Por se constituir num documento com a finalidade de orientar seus integrantes quanto ao planejamento, execução, coordenação, controle e otimização das atividades operacionais de polícia, ao analisar seu conteúdo, tomamos contato com as normas prescritivas da organização da PMMG em sua estrutura, atividades e serviços.

A DGEOp (2010), por ser um documento que estabelece as diretrizes para o emprego operacional da polícia, apresenta nas considerações iniciais do seu texto uma referência à Constituição Federal de 1988 e à Constituição Estadual de 1989, quanto a sua missão constitucional. Faz menção ao discurso de modernização das práticas operacionais e enfoque em: garantia da dignidade da pessoa humana; promoção dos direitos e liberdades fundamentais; prevenção criminal; segurança cidadã e democrática; proteção social e ação conjunto com outros órgãos de defesa social. Esses são alguns dos temas que mais aparecem pulverizados ao longo do texto da Diretriz Geral para Emprego Operacional da PMMG − DGEOP(2010), bem como, estão incorporados em outros documentos produzidos pela instituição, por exemplo, no plano estratégico. Outra parte da diretriz enfatiza aspectos como: funcionamento; estrutura burocrática; pressupostos de atuação policial; esforços operacionais; formas de emprego operacional e portfólio de serviços ofertados. O documento traduz o que a polícia deve fazer:

Cabe á policia a proteção da vida e da dignidade humana, promover a sensação de segurança, garantir o direito de ir e vir, direito a propriedade, resolver conflitos e assegurar os mais importantes processos e direitos — como eleições livres, liberdade de expressão e liberdade de associação — em cujas bases repousam uma sociedade livre, justa e fraterna. O vigor da democracia e a qualidade da vida desejada por seus cidadãos são

dependentes da habilidade da polícia em cumprir suas obrigações. (MINAS GERAIS. Polícia Militar, 2010, p. 17).

Embora o texto revele uma missão, visão e valores diferentes do atual plano estratégico, o documento está em vigor na instituição, e podemos inferir que a divergência textual é resultado do lapso temporal de elaboração e renovação doutrinária desses documentos. Uma vez que, as informações mais relevantes postas nele dizem respeito a sua organização operacional e, até a presente data, não sofreram modificações.

A análise da diretriz de polícia permitiu contextualizar a instituição em sua organicidade e operacionalidade, permitindo-nos entender, de maneira prescritiva, como opera a PMMG.