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TENDÊNciAS TEcNoLÓGicAS Do SETor ELÉTrico *

4.2 Política de P&D da Aneel

A Aneel, por meio do Decreto no 2.335/1997, passou a ter como uma de suas

competências o estímulo às atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico do setor elétrico.

Em 2000, a Lei no 9.911 estabeleceu que, dos recursos obrigatórios desti-

nados à P&D energética, 40% devem ser aplicados diretamente pelas empresas dos setores em projetos de próprio interesse, sendo a Aneel responsável por re- gulamentar o investimento no programa, acompanhar a execução dos projetos e avaliar seus resultados.

A fim de estabelecer diretrizes e orientações para a regulamentação dos pro- jetos de pesquisa e desenvolvimento, a Aneel criou o Manual do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Setor de Energia Elétrica. Desde sua concepção, já foram lançados quatro manuais, sendo o primeiro referente ao ciclo de investimentos 1999/2000; o segundo, aprovado por meio da Resolu- ção no 502, de 26 de novembro de 2001; o terceiro, pela Resolução Normativa

no 219, de 11 de abril de 2006; e o quarto e último, aprovado pela Resolução

Normativa no 316, de 13 de maio de 2008.

Entre os principais aspectos regulamentados nesses manuais, estão: i) os procedimentos para a elaboração dos projetos, além da sua forma de submissão junto à agência e a sua aprovação; ii) as despesas permitidas em sua execução; iii) a contabilização dos gastos; iv) o acompanhamento da execução e da fiscali- zação; e v) as áreas autorizadas para o investimento e as informações referentes à propriedade intelectual dos resultados atingidos com os projetos.

Até o manual aprovado em 2006, as empresas deveriam submeter anual- mente à aprovação da Aneel um ou mais projetos de pesquisa, contendo as metas físicas e financeiras para sua execução no ciclo em questão. Cada ciclo anual tinha início em setembro e finalizava em agosto do ano seguinte, sendo que cada em- presa tinha um calendário distinto de envio do projeto.

A figura 4 representa o processo de avaliação e aprovação das propostas do programa anual de P&D, regulamentadas pelo manual de 2006.

FIGURA 4

Processo de avaliação e aprovação de propostas dos programas anuais de P&D

Agências Entidades de Defesa do Consumidor Submissão de proposta de programa de P&D 1a avaliação de projetos Avaliação ok? Emissão do despacho de aprovação do programa Cadastramento dos projetos Acompanhamento/ fiscalização 2a avaliação de projetos Avaliação ok? Emissão do despacho de aprovação parcial do programa fiscalização Revisão da proposta Sim Sim Não Não Fonte: Aneel (2006).

Entre as áreas de investimento em P&D sugeridas pelo manual de 2006, estão: eficiência energética, fontes renováveis ou alternativas de geração de energia elétrica, meio ambiente, qualidade e confiabilidade, planejamento e operação de sistemas elétricos, medição e faturamento, transmissão de dados por redes elétri- cas, novos materiais e componentes, e pesquisa estratégica.

Entre 2000 e 2007, o programa mobilizou recursos da ordem de R$ 1,42 bilhão em cerca de 2,4 mil projetos de P&D (POMPERMAYER et al., 2011). De acordo com Guedes (2010) e Pompermayer et al. (2011), entre as áreas mais procuradas para o desenvolvimento de projetos está a Pesquisa Estratégica, com 25% dos projetos, talvez por ser esta uma área que acaba por enquadrar temas não explicitamente definidos pelo manual. A Distribuição de Energia Elétrica vem em seguida, com 21% dos projetos e, em terceiro, a Geração de Energia Elétrica, com 14%.

No que se refere aos produtos obtidos, Guedes (2010) conclui que se gera- ram, predominantemente, modelos/metodologias e softwares/sistemas nos proje- tos de P&D, vistos como inovações incrementais de processos, sendo ainda pe- quena a representatividade de protótipos desenvolvidos. Desses projetos também resultaram titulações acadêmicas, entre especializações, mestrados e doutorados.

O manual 2008 da Aneel trouxe mudanças substanciais na regulamentação da atividade de P&D das empresas de energia. A mais importante delas foi que o reconhecimento do investimento em P&D passou a ocorrer somente após a ava- liação dos projetos e da comprovação dos gastos realizados. A partir deste manual, o processo de aprovação dos projetos deixou de ser ex ante e passou a ser ex post, dando prioridade aos resultados em detrimento dos processos.

De acordo com a Aneel, o objetivo dessa modificação foi maximizar os investimentos, aumentando o nível de comprometimento das empresas com o processo de inovação tecnológica do setor e, além disso, agilizar o processo de execução dos projetos.

Embora ainda não se saiba quais serão os resultados obtidos pela modifi- cação nos projetos de P&D implementados pelo manual de 2008, já podemos observar alguns resultados até o momento. Deste modo, os números mostram a importante representatividade do programa de P&D regulado pela Aneel entre as ações de pesquisa e desenvolvimento do setor elétrico. Além disso, de acordo com o trabalho realizado por Guedes (2010), este programa tem contribuído para a geração de inovações ao setor elétrico, além de colaborar tanto para a difusão de conhecimento, quanto para a capacitação de pessoas na área. Por outro lado, o que não se pode desprezar é que ainda existem muitas falhas no programa e que, diante disto, espera-se alterações que diminuam tanto os prejuízos para as empre- sas quanto para a sociedade.

5 TENDÊNciAS TEcNoLÓGicAS Do SETor ELÉTrico

Esta seção deve ser vista por meio de duas perspectivas. A primeira procura descre- ver a dinâmica da inovação no setor elétrico. Para isso, utilizamos os números de patentes, em especial do United States Patent and Trademark Office (USPTO), para tecnologias selecionadas. Em seguida, são observadas as principais empresas patenteadoras no USPTO para o setor elétrico. A segunda, descreve o processo de seleção e aderência das principais tendências tecnológicas do setor elétrico ao programa de P&D regulado pela Aneel. Esta fase se deu em três etapas. A inicial buscou mapear essas tendências por meio dos trabalhos sobre a prospecção e os cenários tecnológicos para o setor elaborados por: i) AIE; ii) OCDE; iii) EWEA; iv) MIT; e v) Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE). Na segunda eta- pa, observaram-se os trabalhos do CGEE sobre o “estado da arte” no setor elétrico e sobre a prospecção tecnológica para o setor no Brasil. Finalmente, na terceira, buscou-se uma convergência das tendências observadas nas etapas anteriores e o portfólio dos projetos do programa de P&D regulado pela Aneel.

Com a finalidade de organizar essas tendências buscamos segmentar as tec- nologias em quatro grandes grupos,7 tanto para o cenário internacional quanto

para o cenário brasileiro: i) energia fóssil; ii) energia nuclear; iii) energia renová- vel; e iv) tecnologias de interface e complementares.