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As informações que se seguirão foram extraídas dos diferentes documentos que embasam a política em questão, tais como o Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado 2003-2020, bem como informações do site da Secretaria de Estado da Educação, onde é apresentada na íntegra a referida proposta. Privilegiaremos as informações concernentes à educação e à avaliação.

A campanha eleitoral de Aécio Neves teve como tema o “Choque de Gestão” que anunciava a intervenção no Estado de Minas, apresentada e detalhada no seu Plano de Governo: “PROSPERIDADE - A face humana do desenvolvimento”. A tônica de seus discursos durante o processo eleitoral era reformar o Estado, extinguir, a partir do “Déficit Zero”, a

148 crise fiscal e administrativa herdada da gestão anterior e propiciar o monitoramento contínuo das ações para a obtenção do máximo em eficiência e resultados.

Em 2002 o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG – apresentou o documento: “MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI”, constituído de 10 capítulos com o diagnóstico detalhado dos diversos segmentos da sociedade e do aparelho estatal mineiro. A partir deste diagnóstico foi elaborado o Plano de Metas e cada Secretaria de Estado – Saúde, Transporte, Meio Ambiente, Segurança Pública, Desenvolvimento Social e outras que compõem a administração pública- foi convidada a pactuar o “Acordo de Resultados”. A Secretaria de Estado da Educação integra este grupo, sendo que foram firmadas metas para cada uma das 3.950 escolas estaduais. Como exemplo de metas estabelecidas, todas as escolas estaduais se comprometeram a elevar a Proficiência Média no PROEB referente ao 3º ano do Ensino Médio em Matemática e diminuir a taxa de distorção idade-série do 3º ano do ensino médio.

3.6.1. Acordo de resultados

O Acordo de Resultados39 foi instituído em Minas Gerais em 2003, com a implantação do Choque de Gestão. Trata-se de um contrato de gestão assinado entre os dirigentes de cada secretaria e/ou órgão estadual com o governador de Estado, Aécio Neves.

Nesse documento, são estabelecidos os indicadores da área e os resultados anuais que deverão ser alcançados. Essas metas são firmadas a partir dos programas e ações executados pela secretaria/órgão e visam atingir as metas de longo prazo estabelecidas no planejamento feito para o Estado em conjunto com entidades da sociedade civil e aprovado pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais. As metas foram estabelecidas no Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI) e o prazo fixado foi até o ano 2023. Definidas as grandes metas a serem alcançadas, elas são desdobradas em metas para cada sistema operacional em 46 órgãos e entidades do poder executivo estadual. Com a definição por equipe, cada servidor

39 O Acordo de Resultados é disciplinado pela lei nº 17.600 de 1º de julho de 2008, sendo regulamentada pelo

Decreto nº 44.873 de 14 de agosto de 2008, que assim o estabelece: Art. 1º. Esta Lei disciplina o Acordo de Resultados e a autonomia gerencial, orçamentária e financeira, previstos nos §§ 10e 11 do art. 14 da Constituição do Estado e a concessão do Prêmio por Produtividade, no âmbito da administração direta, autárquica e fundacional do Poder Executivo do Estado. Art. 2º. Para os fins desta Lei, entende-se por:I - Acordo de Resultados o instrumento de contratualização de Resultados, celebrado entre dirigentes de órgãos e entidades do Poder Executivo e as autoridades que sobre eles tenham poder hierárquico ou de supervisão.

149 tem clareza do seu papel e da sua contribuição para o alcance do resultado final. No total foram firmadas mais de três mil metas para mais de 550 equipes, dentre as quais, as escolas. Conforme o documento, o Acordo de Resultados visa à garantia de qualidade e eficiência nos serviços prestados à população. Em 2004, foi assinado o primeiro contrato entre o governador de Estado e o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e, no mesmo ano, os funcionários do órgão obtiveram ganhos a partir do cumprimento de resultados. Entre 2003 e 2006, foram firmados 24 Acordos de Resultados, com 340 indicadores de desempenho pactuados e avaliados. Com base em resultados positivos, dez órgãos obtiveram vantagens a partir da produtividade alcançada, totalizando R$ 127 milhões.

Em 2007, o Acordo de Resultados foi implantado no conjunto da administração estadual a partir de metodologia mais apurada e construída em duas etapas. Na primeira etapa, são definidos os grandes resultados a serem alcançados por cada sistema operacional, ou seja, são pactuados os chamados Resultados Finalísticos que representam as metas de impacto para a sociedade e previstas no PMDI.

Na segunda fase do “Choque de Gestao” o primeiro “Acordo de Resultados” para a educação foi assinado em 20 de junho de 2007, com vigência prevista até 31/12/2009 com previsão de prorrogação. Em 23 de julho de 2008 foi assinado um Termo de Ajustamento do primeiro Acordo entre a Secretaria de Estado da Educação e o Governo do Estado, estabelecendo novas pactuações, ações e metas.

Na educação40, as metas propostas relacionam-se à melhor !

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nos testes do PROEB, tomados como indicadores de qualidade. Outros indicadores referem- se à aprovação escolar, à redução das taxas de evasão, a redução das taxas de distorção idade/série e a ampliação das taxas de conclusão do ensino fundamental e do ensino médio.

40 O Anexo I do Acordo define que a Secretaria de Estado de Educação, nos termos da Lei Delegada nº 59, de

29/01/2003, tem por finalidade assegurar o planejamento, a realização e a avaliação das ações setoriais a cargo do Estado, relativas à garantia e à promoção da educação, com a participação da sociedade.

150 3.6.2. Cumprimento das metas

O cumprimento das metas é verificado por uma comissão formada por um representante do governador, um representante do órgão, um representante dos servidores, um representante da Secretaria de Planejamento e Gestão e outro da Secretaria de Estado da Fazenda (Lei 17.600/08). A principal atividade da comissão é garantir o cumprimento das regras e da sistemática de avaliação previstas. Para cada meta pactuada, existe um detalhamento que consta no acordo e que prevê com antecedência qual a fonte de dados será utilizada para verificação do cumprimento da meta, quais os requisitos necessários para que cada uma seja considerada atingida e as formas de consulta que permitem a transparência da informação. Cada meta também já traz no acordo uma fórmula de cálculo que, diante do resultado apurado, possibilita a avaliação automática. As metas referentes à escolaridade dos jovens e à pobreza, por exemplo, usam dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Nesta avaliação, a comissão mede ainda os resultados obtidos no cumprimento de cada um dos Projetos Estruturadores, a taxa de execução da Agenda Setorial do Choque de Gestão, a eliminação de entraves burocráticos para gestão e a racionalização dos gastos da área.

3.6.3. Prêmio por produtividade

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(DEMAILLY, 2004. p. 106).

O Governo de Minas destina o pagamento do Prêmio por Produtividade a cerca de 240 mil servidores em atividade nos órgãos e entidades que participam do Acordo de Resultados e que obtêm nota satisfatória (superior a 60%) na Avaliação Institucional (1ª Etapa do Acordo de Resultados) e assinaram a 2ª Etapa do Acordo de Resultados até a data da publicação do decreto para receber o Prêmio.

151 Em 2007, o benefício foi pago representando 33% da folha mensal paga aos ativos. No Estado são 321.133 servidores ativos. Os servidores que possuem o direito ao prêmio são aqueles ocupantes de cargo de provimento efetivo e de provimento em comissão; servidores detentores de função pública (Lei 10.254/1990); servidores efetivados pela Lei Complementar 100/2007. Os servidores que não se enquadram nos critérios de direito ao prêmio são aqueles designados para o exercício de função pública (artigo 10 da Lei 10.254/1990), servidores contratados e terceirizados e os servidores inativos. Também não têm direito os secretários de Estado, secretários-adjuntos, diretores-gerais e vice-diretores gerais de autarquias, presidentes e vice-presidentes de fundações.

Para que o prêmio seja pago, os órgãos e entidades estaduais precisam ter assinado as duas etapas do Acordo de Resultados e obtido resultados superiores a 60% da meta, além de ter aplicado a Avaliação de Desempenho Individual dos Servidores (realizado por uma comissão em cada secretaria e órgão estadual). O prêmio só é pago se o Estado tiver apresentado resultado fiscal positivo no ano anterior. O prêmio relativo a 200941 será pago para servidores dos órgãos e entidades que obtiveram resultado satisfatório na 1ª etapa do Acordo de Resultados e o valor recebido por cada servidor será proporcional ao resultado alcançado pela equipe.

Na educação, significa que contidos nesta porcentagem estabelecida, encontram-se os resultados dos testes dos alunos. É importante observar se são garantidos investimentos na educação para que os outros fatores intervenientes nos baixos resultados escolares, como as condições materiais de trabalho e mesmo a valorização dos profissionais da educação, sejam contemplados. Considerando que os resultados das avaliações têm um grande peso na avaliação do alcance das metas, conceder prêmios balizados em “notas” pode ser considerado reducionismo e desvalorização do profissional da educação. Sua competência e mérito não deveriam ser medidos apenas pelos resultados dos testes.

Dentre as múltiplas leituras críticas que podem ser feitas a partir da incidência de avaliações nos Sistemas de Ensino, seu caráter regulador e definidor de medidas e injunções sobre o sistema tem preponderado. A lógica concorre, desde o início, para o controle abrangente sobre as ações pedagógicas desenvolvidas nos sistemas e nas escolas, e de forma específica, sobre o trabalho docente.

41 O Governador Aécio Neves, em declaração ao jornal Estado de Minas do dia 15/09/09 afirmou que o prêmio

152 A avaliação adquire maior visibilidade e importância em Minas Gerais, revestindo-se de um

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acompanhamento e monitoramento diferenciados. A avaliação é essencial neste novo desenho da gestão, na verdade, é inerente ao próprio processo.

Neste sentido, os resultados das avaliações do PROEB vão referenciar as políticas educativas, percorrendo todas as instâncias e interesses. Desde a Secretaria de Estado de Educação às escolas. As ações e projetos educativos são destinados à melhoria da qualidade da educação, traduzida nos desempenhos das escolas e nos resultados do SIMAVE.

A avaliação do rendimento escolar pode ser considerada a “coluna vertebral” das políticas educativas para o Estado de Minas Gera % * ! E+ ! " " ! "

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A definição das políticas educacionais em Minas por meio do “Acordo de Resultados” denota a consecução dos novos modos de regulação das políticas publicas educacionais, ampliando de forma significativa a responsabilidade das instituições escolares, dos diretores e dos docentes da rede pública estadual.

No próximo capítulo, analisaremos a reação dos diretores escolares frente às avaliações em suas realidades, a forma como têm respondido e se têm respondido às determinações da Secretaria de educação, enfim, verificaremos se a avaliação, de fato, na visão dos interlocutores, tem se constituído em um mecanismo de controle de seu trabalho.

153 CAPÍTULO IV

O USO DOS RESULTADOS DAS AVALIAÇOES DE PROFICIÊNCIA DO PROEB POR DIRETORES DE ESCOLAS

Procuramos mostrar até aqui como os novos modos de regulação das políticas educativas têm se configurado, destacando a avaliação como um eixo importante deste processo. Partindo do pressuposto de que nos novos modos de regulação estão também implícitas formas distintas de resposta dos atores, conceitualmente chamada de contrarregulação, neste capítulo analisaremos, empiricamente, como os diretores escolares têm se posicionado frente às avaliações de proficiência e às novas demandas por elas ensejadas.

Este capítulo apresenta as informações obtidas na pesquisa de campo realizada nas escolas selecionadas, bem como nas Superintendências Regionais de Ensino responsáveis por elas e ainda na Secretaria de Estado de Educação. A pesquisa com os diretores foi realizada no primeiro semestre de 2009, entre os meses de julho e setembro. Nas superintendências e na Secretaria de Educação, a pesquisa foi realizada em outubro de 2009 por ter sido necessário agendar previamente os horários para a aplicação dos questionários. O corpus de dados a ser analisado foi constituído a partir da aplicação de oito questionários dirigidos aos oito diretores das escolas selecionadas e da realização de: (i) oito entrevistas semiestruturadas com os diretores; (ii) três entrevistas semiestruturadas com os vice-diretores; (iii) duas entrevistas semiestruturadas com os diretores de avaliação da SRE- Metropolitana A e Metropolitana B e (iv) uma entrevista com a diretora de avaliação na Secretaria de Estado da Educação.

Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados o questionári

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por meio dos referidos instrumentos, ressaltando que para as entrevistas selecionamos alguns excertos que julgamos elucidativos das discussões que vimos fazendo ao longo da pesquisa. Estivemos atentos à possibilidade de encontrarmos elementos que confirmassem, negassem ou mesmo que viessem contradizer as hipóteses e os construtos teóricos elaborados durante as investigações. Como a regulação trata-se de um movimento dialético e dinâmico, o contraditório, o imprevisível e o velado podem emergir sob diferentes formas, seja no discurso, seja nas incoerências deste discurso ou mesmo em sua ausência. Procuramos ainda evitar os pré-julgamentos e, na medida do possível, primar pelo distancia "

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154 % / ! " , " " rante a pesquisa e as hipóteses previamente estabelecidas servem para acompanhar o pesquisador dando-lhe pistas e possibilidades, mas não podem engessar as expectativas e conformar os achados da pesquisa. Logo, o esforço foi no sentido de não conformação dos achados da pesquisa às expectativas alimentadas durante a investigação.

Inicialmente resgataremos o percurso de investigação seguido na tentativa de demonstrar como chegamos ao lócus da pesquisa e aos seus desdobramentos. Para tanto, retomaremos as

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