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CAPÍTULO 3 PROPOSTAS DE REFORMA TRIBUTÁRIA

4. SUGESTÕES DE REFORMA APÓS PROPOSTAS ANALISADAS

4.2 Política de distribuição de renda para melhora do ICC pré-tributação

Como observado anteriormente, grande parte dos brasileiros não atingem o ICC pré-tributação positivo, não atingindo o mínimo existencial, não devendo ser, portanto, considerados capazes de contribuir. Dessa forma, é necessário que pensemos também em uma forma de melhorar a capacidade contributiva no momento anterior à tributação.

Diga-se de passagem, o fato de muitos brasileiros não atingirem o ICC pré- tributação positivo se deve, em grande parte, como anteriormente visto, pela concentração de patrimônio e renda nas mãos de poucos, causada, em grande medida, como explicado, pela tributação regressiva atual, tanto no que tange a base de incidência de renda vista de forma isolada, como analisando todas as bases de incidência juntas, onde existe uma predileção por tributos indiretos e relacionados ao consumo.

Neste sentido, além de refletirmos acerca da redistribuição de renda por meio da tributação do IRPF, é necessário também pensarmos em outras formas de redistribuição de renda que melhorem o ICC pré-tributação dos brasileiros. Tendo em vista que a tributação e a distribuição da renda se implicam diretamente de várias formas, nada mais adequado que propor uma forma de redistribuição da renda que esteja relacionada aos dados existentes da tributação.

Assim, entendemos que seria interessante pensarmos em uma política pública que concedesse renda a todo cidadão que possuísse ICC pré-tributação negativo, a fim de melhorar sua capacidade contributiva, garantindo-lhe o mínimo existencial.

Programas de governo com viés próximo a esse já existem, como é o caso do programa Bolsa Família. Entendemos que esses programas devem ser aprimorados e intensificados. Esses programas, além da distribuição de renda, além de garantirem aos cidadãos maior acesso a bens básicos, melhorando seu ICC, também geram crescimento econômico ao país. Como divulgado pelo IPEA, cada R$ 1,00 gasto com o Bolsa Família gera R$ 1,78 ao PIB nacional.62

Entendemos que um aprimoramento desses programas poderia ser realizado utilizando os dados hoje conhecidos dos relatórios anuais dos Grandes Números da Receita Federal, mapeando os brasileiros com déficit de ICC pré-tributação para focar a distribuição naqueles mais necessitados. Seria necessário também se utilizar dos dados

62Disponível em: http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2013/10/para-cada-r-1-no-bolsa-familia- pib-cresce-r-1-78. Acesso em 5 de fevereiro de 2019.

da PNAD, visto que grande parte da população econômica ativa brasileira é não declarante, justamente por não atingir rendimentos que exijam declaração63. Em 2015, quando o salário mínimo necessário do DIEESE era de R$ 3.280,75, a renda per capita média do brasileiro era de R$ 1.113,0064, chegando somente a R$ 509,00 no Maranhão.

Refletir uma política pública que vincule o recebimento da renda pelo Estado à declaração do IRPF pode ser interessante. Nesse sentido, para receber determinada quantia, o cidadão deveria fazer sua declaração, mesmo que não fosse contribuinte do IRPF, sendo mais fácil ao Estado mapear a necessidade de renda daquele cidadão, concedendo-lhe uma renda proporcional a seu déficit.

Ganha o contribuinte em termos econômicos, recebendo uma renda de acordo com seu déficit de ICC, por exemplo, bem como em termos de educação tributária, ampliando a toda à população a necessidade de declarar a renda recebida, qualquer que seja, o que torna o contribuinte mais consciente de seu pacto tributário com o Estado.

Para isso, seria necessária inclusive uma simplificação da declaração, para que esta pudesse se tornar acessível àqueles que não possuem alto grau de instrução, além também de campanhas de governo de caráter educacional que ensinassem ao contribuinte a fazer a declaração.

O Estado também ganharia sobremaneira, visto que possuiria uma base de dados cada vez maior em relação a informações relevantes de seus contribuintes, o que aumentaria não somente a eficiência da redistribuição proposta, como poderia também ser utilizada para outras tantas políticas públicas, mesmo que não relacionadas diretamente ao IRPF. Toda a população economicamente ativa passaria a declarar, aumentando assim o número de declarantes para mais de 100 milhões de brasileiros.

Ademais, de um ponto de vista de analítico, seria interessante essa vinculação ao IRPF, visto que poderia ser feita uma relação direta entre aquilo que estaria sendo arrecadado das faixas de renda mais altas, em relação àquilo que estaria sendo distribuído diretamente para quem possuísse o ICC pré-tributação negativo. Não se trata aqui de propor uma vinculação direta da arrecadação, sugerindo que o que fosse arrecadado dos mais ricos fosse diretamente distribuído aos mais pobres. Nossa legislação não permite tal política, visto que imposto não possui caráter vinculativo. Trata-se tão somente de observar, o quanto aqueles que possuem ICC negativo pré-

63Vide as tabelas apresentadas no capítulo 2 e as considerações do tópico 6, do capítulo 2.

64Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2016-02/ibge-renda-capita-media-do- brasileiro-atinge-r-1113-em-2015. Acesso em 5 de fevereiro de 2019.

tributação têm recebido, em relação ao que foi arrecadado daqueles que estariam contribuindo.

Uma observação desse tipo poderia nos dar maior clareza do quanto tem sido aproveitado, por meio da concessão de renda pelo Estado, do potencial redistributivo do IRPF. Obviamente deveriam também ser levadas em consideração as formas de transferências indiretas de renda, realizadas por meio de outros gastos65 que o Estado possui com pessoas de baixa renda.

Importante também registrar que além da Bolsa Família, existem várias outras sugestões de programas que buscam uma politica de distribuição de renda adequada, dentre os quais os Programas de Renda Mínima defendidos por Eduardo Suplicy66, bem como o Imposto de Renda Negativo proposto por vários pesquisadores pelo mundo, como é o caso do liberal Milton Friedman67. Cabe a nós, juristas e

pesquisadores da matriz tributária brasileira, pensar na melhor forma de propor esses programas.

Esta pesquisa entende que devemos aprimorar e aprofundar nossa política de distribuição direta de renda, bem como entende que uma vinculação desta política ao Imposto de Renda tende a ser positiva, como anteriormente comentado.