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CAPÍTULO 3 PROPOSTAS DE REFORMA TRIBUTÁRIA

4. SUGESTÕES DE REFORMA APÓS PROPOSTAS ANALISADAS

4.6 Taxação rendas muito elevadas: tributando adequadamente “supercapazes”

A “Reforma Tributária Necessária” prevê ainda uma taxação de adicional para pessoas com rendas muito elevadas, denominada de Contribuição Social sobre Altas Rendas da Pessoa Física – CSPF, a uma alíquota de 7,5%, sobre aqueles que ganham mais de R$ 100.000, 00 por mês, o que corresponderia a 0,7% do total de declarantes do IRPF.

Como comentado no capítulo 2, foi percebido no ano de 2012, por Souza (2016), que o 1% mais rico do país era possuidor de 23% da renda total que a população brasileira detém. Segundo os estudos de Souza (2016, p.230-233), apesar de a desigualdade do no país ser observada de forma sistemática em toda pirâmide da distribuição, o centil mais rico da distribuição brasileira vive em condições absolutamente distintas e mais privilegiadas que os estratos ricos mais abaixo. É nesse centil mais rico que o Brasil consegue ser ainda mais desigual.

Neste sentido, a proposta da “Reforma Tributária Necessária”, de criar uma taxação adicional para 0,7% mais ricos dos declarantes, atinge justamente essa faixa da população onde o Brasil é ainda mais desigual, aumentando o potencial redistributivo do IRPF, e criando uma receita adicional que pode atingir até 40 bilhões de reais.

Desta forma, por todos os motivos anteriormente explanados, atingindo exatamente o local da pirâmide social onde o Brasil é ainda mais desigual, bem como por se tratar de uma taxação adicional em pessoas “super-capazes”, que possuem ICC pré-tributação positivo superior a 2.948%, e que ficariam com ICC pós-tributação positivo e superior a 1.761%, que em nada comprometeria acesso, em alto padrão, a direitos básicos, bem como lhes garantiria renda suficiente para poupança, formação de patrimônio, investimentos e empreendimentos, sugere-se aqui também, nesta pesquisa, esta proposta da “Reforma Tributária Necessária” de taxação de altas rendas.

Para se ter uma noção do impacto redistributivo dessa taxação adicional, que incidiria sobre 200 mil pessoas, cumpre evidenciar que esta geraria, segundo os cálculos da “Reforma Tributária Necessária”, uma arrecadação de 40 bilhões de reais, como anteriormente noticiado, que, conforme o salário mínimo necessário do DIEESE para aquele ano de 2015, de R$ 3.280,75, teria potencial para sustentar em um mês mais de 12.192.334 famílias brasileiras. Trata-se, portanto, de uma medida que taxaria somente 200 mil brasileiros, e teria potencial para sustentar, conforme a família padrão utilizada pelo DIEESE, de 4 pessoas, 48.769.336 de brasileiros. Levando em conta a população

brasileira em 2015, de 204 milhões de habitantes71, essa taxação adicional sobre 0,098%, da população, poderia sustentar adequadamente, caso houvesse a possibilidade de transferência direta, o que não há, mais de 23% de nossa população.

4.7 Tributação lucros e dividendos

Conforme exposto por Gobetti e Orair (2017), somente Brasil e Estônia em todo o mundo não possuem qualquer tributação de IRPF sobre lucros e dividendos. No Brasil, a isenção foi prevista após edição da lei 9.249/95. Boa parte dos defensores dessa medida alegam que a tributação de lucros e dividendos representaria bitributação, por tributar a empresa e posteriormente seu sócio. Este argumento, entretanto, não é correto por dois motivos.

A bitributação ocorre quando dois entes públicos distintos tributam um mesmo fato gerador. Esta situação não seria o caso da tributação de lucros e dividendos, pois nesse caso somente a União estaria tributando seja por meio do IRPF, seja do IRPJ. Também não poderia ser entendida enquanto bitributação esta hipótese analisada, visto que os sujeitos passivos tributados na situação são distintos, um é a empresa tributada por IRPJ, o outro é a pessoa física que seria tributada pelo IRPF. Portanto, não existem óbices legais para tributação de IRPF sobre lucros e dividendos no Brasil.

Superada essa questão de uma inexistente impossibilidade jurídica para essa tributação, resta saber como deveria ser feita a tributação de lucros e dividendos no Brasil. Conforme apresentado neste capítulo, Castro sugeriu uma tributação fixa de 15% ou 20% sobre lucros e dividendos, para todas as faixas de renda. Castro, todavia, não fundamentou o motivo de sugerir somente uma alíquota para tributação da renda originada do capital.

Tendo em vista que renda, seja advinda do capital, seja advinda do trabalho, continua sendo renda, não vemos motivos para uma tributação diferenciada sobre a renda originada do capital. Mais ainda, caso a análise de Piketty apresentada no capítulo 1 esteja correta, onde, segundo a fórmula r > g, o crescimento da renda gerada pelo capital de forma superior ao crescimento econômico acaba gerando desigualdade e estagnação do crescimento econômico, teríamos, então, mais um motivo para não se criar diferenciações para tributação da renda gerada pelo capital.

71Disponível em: http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/08/em-2015-somos-204-milhoes-de- brasileiros. Acesso em 5 de fevereiro de 2019.

Dito isto, entendemos que seria correta a tributação de lucros e dividendos segundo a mesma tabela progressiva que tributa a renda do trabalho. Gobetti e Orair (2017) fizeram essa simulação utilizando como base a arrecadação de 2013, utilizando a tabela progressiva de IRPF para renda do trabalho daquele ano, cujas alíquotas nominais variavam de 7,5% e 27,5%. Segundo o cálculo dos autores, essa proposta de reforma geraria uma arrecadação extra de 66,4 bilhões aos cofres públicos do país.

Em nossa recomendação de proposta de reforma, todavia, sugerimos que seja utilizada a tabela progressiva para renda do trabalho proposta pela “Reforma Tributária Necessária”, cujas alíquotas nominais variam de 7,5% a 40%.

Registra-se também que essa proposta deveria vir acompanhada com uma redução do IRPJ, o que estimularia o dinheiro a ficar dentro da empresa, sendo teoricamente reinvestido, fazendo a empresa e a economia crescerem e gerando mais empregos. Conforme demonstram Gobetti e Orair (2017), a média da soma da tributação do IRPJ e do IRPF sobre lucros e dividendos na OCDE foi de 43,1%, em 2015. Neste sentido, seria interessante refletir sobre uma reforma cuja soma dessas duas tributações ficasse próxima dessa média da OCDE.

Ainda, para que essa tributação de IRPF sobre lucros e dividendos possa ocorrer devidamente, é necessária também, conforme propõe a “Reforma Tributária Necessária”, a revogação da previsão legal para distribuição de lucros ou dividendos com tributação reduzida sob a forma de juros sobre o capital próprio- JSCP, art. 9º da Lei nº 9.249/95. É fundamental a extinção dos dois benefícios legais, visto que a revogação isolada do art. 10 da mencionada Lei provocará uma “migração” dos beneficiários de lucros e dividendos na direção da utilização da distribuição favorecida prevista no art. 9º da mesma Lei, que permite a dedução dos juros sobre o capital próprio no lucro tributável, sendo estes contabilizados enquanto despesa operacional.