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CAPÍTULO 3 PROPOSTAS DE REFORMA TRIBUTÁRIA

2. PROPOSTAS EXISTENTES

2.2 Simulação Proposta por Fábio Castro

Fábio Ávila de Castro apresentou em 2014 na Universidade de Brasília sua dissertação de Mestrado em Economia intitulada “Imposto de Renda da Pessoa Física: comparações internacionais, medidas de progressividade e redistribuição”, que, inclusive, já foi citada nesta pesquisa anteriormente56.

O trabalho de Castro (2014) teve como objetivo avaliar a progressividade do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) no Brasil, no período de 2006 a 2012, utilizando números índices que permitiram sua comparação com outros países. Segundo Castro, os resultados obtidos mostraram que o tributo brasileiro apresenta índices de desvio da proporcionalidade bastante altos em comparação a países da América Latina e países desenvolvidos.57 Todavia, explica Castro (2014), constatou-se que sua capacidade redistributiva é limitada pela baixa representatividade da arrecadação do imposto em relação à renda bruta total do país, problema semelhante a muitos países com renda per capita similar à do Brasil. Efetuou-se também a decomposição da progressividade da estrutura do imposto, verificando-se que, no caso brasileiro, o efeito alíquota seria responsável por toda a progressividade, ao passo que o efeito base seria proporcional.

Após os resultados observados, Castro (2014) sugeriu algumas opções de alteração no imposto de forma a incrementar sua capacidade redistributiva, sem, no entanto, alterar a atual carga tributária do país, buscando melhorar o seu perfil, trocando-se a arrecadação adicional da tributação direta por alívio na tributação indireta. As propostas de alteração de Castro (2014) foram simuladas com base nos dados da Receita Federal do ano de 2012. É importante pontuar que Castro realizou suas simulações para mensurar o impacto dela nos índices de progressividade por ele utilizados e não diretamente a capacidade contributiva em si. Todavia, a progressividade

55Cumpre anotar que não se tem pleno conhecimento se Fábio Castro tinha como objetivo de sua pesquisa fazer especificamente uma proposição de reforma na tributação do IRPF. É importante que se diga isso para que não se cometa aqui uma injustiça com os objetivos do autor. Ao que parece, o intuito central do trabalho era simular eventuais alterações e ver o impacto dessas simulações do ponto de vista da progressividade e da redistribuição. Todavia, mesmo que o autor não tenha tido exatamente o interesse de fazer uma proposta de reforma, sua pesquisa serve perfeitamente como análise dos impactos que seriam provocados caso suas simulações fossem aplicadas no mundo empírico.

56CASTRO, 2014. Disponível

em:http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/16511/1/2014_F%C3%A1bioAvilaDeCastro.pdf. Acesso em 5 de fevereiro de 2019.

57Dentre as medidas de progressividade efetiva ou global, foram calculados os índices de desvio da proporcionalidade de Kakwani e Suits e também os índices de capacidade redistributiva de Reynolds- Smolensky, Musgrave-Thin e Pfähler, conforme demonstrado na dissertação de Castro (2014).

e a capacidade contributiva são dois fatores diretamente relacionados, de modo que as simulações de Castro (2014) são de importante valor para presente pesquisa.

A primeira hipótese testada por Castro (2014) foi simulando uma tributação exclusiva na fonte à alíquota de 15% sobre os lucros e dividendos recebidos por pessoa física. A tabela abaixo elaborada por Castro mostra os valores do IRPF recalculados para o ano de 2012.

Valores recalculados para IRPF Capital de 2012 para 1ª hipótese.

Segundo o autor, nesse caso haveria um aumento de, aproximadamente, 31 bilhões na arrecadação do IRPF sobre os rendimentos do capital.

Na segunda hipótese simulada por Castro (2014), foi simulada uma tributação exclusiva na fonte à alíquota de 20% sobre os lucros e dividendos recebidos por pessoa física. A tabela abaixo, por ele elaborada, mostra os valores do IRPF recalculados para o ano de 2012, sendo que, nesse caso, haveria um aumento de, aproximadamente, 41,5 bilhões na arrecadação do IRPF sobre os rendimentos do capital.

Valores recalculados para IRPF Capital de 2012 para 2ª hipótese.

Em uma terceira hipótese, Castro (2014) simulou, conforme tabela abaixo, uma alíquota de 35% para incidente sobre rendimentos originados do trabalho.

Tabela progressiva anual fictícia dos rendimentos do trabalho, para o ano de 2012, com nova alíquota de 35%.

A tabela acima foi simulada e uma arrecadação adicional de 18.586 bilhões para o ano de 2012 foi obtida. Essa arrecadação foi então distribuída proporcionalmente entre as faixas de renda. A tabela abaixo mostra o resultado obtido para esse exercício de ficção.

Valores recalculados para IRPF trabalho de 2012 para 3ª hipótese.

Em uma quarta hipótese, Castro (2014) simulou duas novas alíquotas de 35% e 40% para os rendimentos do trabalho conforme a tabela abaixo.

Tabela progressiva anual fictícia dos rendimentos do trabalho, para o ano de 2012, com novas alíquotas de 35% e 40%.

Uma arrecadação adicional de 29.051 bilhões para o ano de 2012 foi obtida com esta quarta hipótese. Essa arrecadação foi então distribuída proporcionalmente entre as faixas de renda. A tabela a seguir mostra o resultado obtido para esse exercício de ficção.

Valores recalculados para IRPF trabalho de 2012 para 4ª hipótese.

Segundo as observações de Castro (2014), verifica-se que as alterações promovidas por meio da tributação do capital levam a um maior potencial redistributivo por fornecerem valores maiores de arrecadação extra e por serem mais concentradas nas faixas de renda mais alta. O autor registrou que o índice de Gini da renda bruta para esse ano simulado de 2012 era 0,491, e as hipóteses 1 e 2, a por exemplo, promoveriam quedas próximas a 10% no índice, o que é bastante significativo.

Portanto, em termos de progressividade, Castro (2014) conclui que a conjugação das simulações conspira a favor. O autor entende que uma mistura da 1ª hipótese (tributação exclusiva dos dividendos à alíquota de 15%) com a 3ª hipótese (criação de mais uma faixa da tabela progressiva anual com alíquota marginal de 35%) parece ser muito interessante, tanto em termos de arrecadação, quanto de aumento da

progressividade, balanceando as duas bases de incidência e possibilitando, talvez, um aumento gradual da alíquota máxima à medida que a renda média da sociedade fosse aumentando e trazendo a população para dentro da base de incidência do imposto.

Castro (2014) faz uma ressalva quanto às propostas apresentadas anteriormente. Como o perfil da carga tributária brasileira é muito centrado no consumo, o autor entende que os aumentos de arrecadação obtidos nas simulações anteriores devem ser compensados com a diminuição no mesmo montante de tributos federais incidentes sobre o consumo, como o Pis e a Cofins, por exemplo. Assim, haveria uma mudança no perfil da carga, mantendo-a em seu nível atual, e também uma melhor redistribuição da renda líquida (após a incidência do imposto) induzida pela maior capacidade redistributiva do tributo, potencializada por meio do aumento de arrecadação.