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A elevação dos preços de commodities no decorrer do ano, fenômeno especialmente importante nos segmentos agrícola e de petróleo, se traduziu, de forma heterogênea,

na evolução dos índices de infl ação. O aumento dos preços mostrou-se mais intenso nas economias em que a demanda interna encontrava-se mais aquecida e o hiato do produto mais fechado, a exemplo do registrado na Ásia emergente e na América Latina. Neste ambiente, importantes economias emergentes, entre as quais China, Índia e Brasil, e economias maduras exportadoras de commodities, como Canadá, Noruega, Austrália e Nova Zelândia, iniciaram processo de normalização da política monetária, revertendo parcialmente as medidas de afrouxamento monetário adotadas durante o enfrentamento da crise de 2008/2009. De forma diversa, nas economias do G3, nas quais os núcleos infl acionários mantiveram-se deprimidos durante o período, os respectivos bancos centrais, retardando a retirada dos estímulos monetários, não alteraram suas taxas básicas de juros. Nos EUA, o nível da utilização da capacidade instalada e a lenta recuperação do mercado de trabalho difi cultaram o repasse dos aumentos nos preços das commodities para os consumidores fi nais, conforme evidenciado pela variação em doze meses do IPC, que passou de 2,7%, em dezembro de 2009, para 1,1% em junho e 1,5% em dezembro de 2010. De forma semelhante, a variação em doze meses do núcleo do IPC passou de 1,8%, em dezembro de 2009, para 0,6% em outubro – menor valor da série histórica

30 45 60 75 90 105 120 135 Dez

2006 2007Mar Jun Set Dez 2008Mar Jun Set Dez 2009Mar Jun Set Dez 2010Mar Jun Set Dez

U S $ por barri l Fonte: Bloomberg Gráfico 6.2

Petróleo U.K. Brent – Mercado à vista

0 1 2 3 4 5 6 7 8 Dez

2007 2008Fev Abr Jun Ago Out Dez 2009Fev Abr Jun Ago Out Dez 2010Fev Abr Jun Ago Out Dez Gráfico 6.3

Taxas de juros oficiais1/ Taxa anual (%)

EUA Área do Euro Reino Unido Japão China Fontes: EUA – Fed, Área do Euro – BCE, Reino Unido – BoE, Japão – BoJ e China – BPC

1/ EUA – Fed funds, Área do Euro – Taxa mínima de referência, Reino Unido – Securities repurchase,

iniciada em 1957 – e 0,8% em dezembro de 2010. Destaque-se ainda que, para fazer face ao cenário de elevada ociosidade dos fatores de produção e estimular a demanda interna, o Fed manteve os limites da banda de fl utuação da meta para os Fed funds em 0% e 0,25% a.a.

Em relação à adequação da liquidez local, o Fed anunciou, em fevereiro, o encerramento de vários programas não convencionais iniciados após o agravamento da crise fi nanceira em 2008 e das linhas de swap de moeda com diversos bancos centrais. No primeiro trimestre, o Fed reduziu o prazo máximo para os empréstimos contraídos por intermédio do redesconto, que voltaram a ser realizados apenas no overnight, e, em abril, anunciou a criação de um programa de depósitos a termo (Term Deposit Facility – TDF) com o objetivo de drenar liquidez, quando necessário.

Esses indicativos de normalização da política monetária foram parcialmente revertidos em maio, quando, em resposta à crise fi scal em determinados países europeus, o Fed restabeleceu as linhas de swap com os bancos centrais da Europa, da Inglaterra, do Canadá, da Suíça e do Japão. Adicionalmente, avaliando que o núcleo da infl ação se mantinha abaixo do nível considerado consistente e que os mercados de trabalho e imobiliário seguiam deprimidos, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) decidiu, em agosto, prover estímulos adicionais à economia. Nesse sentido, anunciou que manteria o volume de ativos em seu balanço reinvestindo, em treasuries de longo prazo, os recursos gerados com o vencimento de títulos lastreados em hipotecas das agências Fannie Mae e Freddie Mac. Essa medida foi ampliada em novembro por meio do chamado quantitative easing II, que facultou ao Fed a compra de mais US$600 bilhões em treasuries de longo prazo.

No Japão, o índice de preços ao consumidor, confi rmando a tendência de desaceleração do processo defl acionário iniciado em 2009, quando recuou 1,7%, registrou variação nula em 2010, após crescer 0,2% no período de doze meses fi nalizado em outubro, primeira variação positiva em 21 meses, neste tipo de análise. O desempenho da infl ação anual refl etiu, em especial, as elevações nas variações dos preços de alimentos, de -2,5% para 0,7%, e da energia, de -2,6% para 4%. -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 Dez

2007 2008Fev Abr Jun Ago Out Dez 2009Fev Abr Jun Ago Out Dez 2010Fev Abr Jun Ago Out Dez Fonte: Bureau of Labor Statistics

1/ Preços ao produtor e ao consumidor.

Gráfico 6.4

EUA: Inflação1/ Variação percentual anual

Ressalte-se que, tendo em vista a persistência da demanda interna em nível inferior ao potencial, as pressões defl acionárias e a valorização do iene seguiram determinando a atuação do Banco do Japão (BoJ). Nesse sentido, buscando abreviar o período defl acionário, reduzir os juros reais e conter a valorização da moeda local, o BoJ manteve condições acomodatícias na condução da política monetária. Em março e junho, foram efetivadas intervenções extraordinárias para injeção de liquidez e, em agosto, em reunião extraordinária, decidida nova ampliação quantitativa, por meio da ampliação, de ¥20 trilhões para ¥30 trilhões, na linha de crédito emergencial para o mercado fi nanceiro, e da criação de programa de aquisição de ativos fi nanceiros no total de ¥5 trilhões. Adicionalmente, em outubro, o BoJ optou pela redução da taxa básica de juros, de 0,1% a.a. para o intervalo entre 0% a.a. e 0,1% a.a.

Na Área do Euro, a variação em doze meses do Índice de Preço ao Consumidor Harmonizado (IPCH), em viés de alta ao longo do ano, passou de 0,9%, em dezembro de 2009, para 2,2%, em dezembro de 2010, superando o patamar de 2% pela primeira vez, desde o fi nal de 2008. Esse comportamento foi determinado, em especial, pelos aumentos anuais respectivos de 2,2% e 11% nos preços de alimentos e energia, que haviam variado, na ordem, -0,2% e 1,8% em 2009. O núcleo da infl ação manteve-se no patamar de 1% ao longo do ano, registrando mínima histórica de 0,8% nos dois primeiros meses do ano. Nesse cenário, que incluiu expectativas infl acionárias ancoradas, o Banco Central Europeu (BCE) optou pela manutenção da taxa básica de juro em 1% a.a. Após anunciar, em março, que nenhuma operação de refi nanciamento com prazo superior a três meses voltaria a ser feita e que ofertas de três meses passariam de um sistema de taxa fi xa para processo de leilão, o BCE voltou a fl exibilizar a política monetária em maio. Nesse sentido, foram instituídas novas operações de três e de seis meses à taxa fi xa e fl exibilizados os critérios para aceitação de bônus da dívida soberana grega nas operações de refi nanciamento. Adicionalmente, também em maio, o BCE anunciou um programa de compras de títulos públicos e privados emitidos pelos países da Área do Euro – Securities Markets Program.

-3 -2 -1 0 1 2 3 Dez

2007 2008Fev Abr Jun Ago Out Dez 2009Fev Abr Jun Ago Out Dez 2010Fev Abr Jun Ago Out Dez

Fonte: Bloomberg

1/ Preços ao consumidor.

Gráfico 6.5

Japão: inflação1/ Variação percentual anual

No Reino Unido, apesar da elevada ociosidade dos fatores de produção, a variação do IPC acumulada em doze meses confi rmou a tendência de alta iniciada em outubro de 2009, mantendo-se acima de 3% – teto da meta de longo prazo – ao longo de 2010. Com comportamento semelhante, o núcleo da infl ação registrou variação anual em torno de 3%, patamar mais elevado assinalado no decorrer de toda a década. Esse processo infl acionário refl etiu, em especial, a elevação dos preços de commodities e dos serviços, a depreciação da libra e o aumento do imposto sobre valor agregado.

Objetivando prover condições fi nanceiras adequadas à recuperação econômica do país, o Banco da Inglaterra (BoE) manteve inalterados o programa de compra de ativos, em £200 bilhões, e a taxa de juros básica, em 0,5% a.a., percentual fi xado em março de 2009, com desdobramentos sobre a trajetória da taxa de juros reais, que atingiu -3,1% a.a. em abril e dezembro, patamar mais reduzido de toda a década. Destaque-se ainda que, em dezembro, função das difi culdades na Irlanda, o BoE e o BCE criaram uma linha temporária de swap de moeda para facilitar eventuais necessidades irlandesas para saldar compromissos em libras.

Na China, a variação anual do IPC passou de 1,9%, em dezembro de 2009, para 4,6%, em dezembro de 2010, após atingir 5,1% em novembro. A aceleração do indicador

-1 0 1 2 3 4 5 Dez

2007 2008Fev Abr Jun Ago Out Dez 2009Fev Abr Jun Ago Out Dez 2010Fev Abr Jun Ago Out Dez Fonte: Bloomberg

1/ Preços ao consumidor.

Gráfico 6.6

Área do Euro: inflação1/ Variação percentual anual

IPCH IPCH – Núcleo

1 2 3 4 5 6 Dez

2007 2008Fev Abr Jun Ago Out Dez 2009Fev Abr Jun Ago Out Dez 2010Fev Abr Jun Ago Out Dez Fonte: Bloomberg

1/ Preços ao consumidor.

Gráfico 6.7

Reino Unido: inflação1/ Variação percentual anual

refl etiu, fundamentalmente, a trajetória dos preços dos alimentos, que, evidenciando restrições na oferta e aumento na demanda, registraram variação anual de 9,6% no ano, ante 5,3% em 2009. Ressalte-se que a variação dos preços dos alimentos acumulada em doze meses atingiu 11,7% em novembro, maior percentual desde julho de 2008. Em resposta ao aumento de liquidez, à ampliação das expectativas infl acionárias e à efetiva alta infl acionária, o Banco do Povo da China (BPC) efetuou restrições quantitativas para coibir a elevação dos preços de imóveis e a formação de uma bolha imobiliária nas grandes cidades. Adicionalmente, vendeu títulos com vencimento de três anos e elevou seis vezes a taxa do depósito compulsório, fi xando-a, ao fi nal do ano, em 18,5% para os grandes bancos e em 16,5% para as instituições de menor porte. Ressalte-se que, ainda em maio, após 23 meses de paridade fi xa frente ao dólar dos EUA, o BPC anunciou a fl exibilização do renminbi e, premido pela alta liquidez internacional e pelo forte crescimento do crédito, em outubro, efetuou a primeira elevação da taxa básica de juros desde dezembro de 2007, de 5,31% a.a. para 5,56%. A medida se repetiria em dezembro, com a taxa encerrando o ano em 5,81%.