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6 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INFORMAÇÃO VOLTADA PARA GOVERNANÇA INFORMACIONAL

6.3 Política pública de informação

Rowlands (1996, 1998) e Rowlands et.al. (2002) tentam compreender a complexidade desse tema, visando propor uma estrutura teórica mínima capaz de propiciar a classificação, a análise, a proposição de metodologias e ferramentas de pesquisas sobre as políticas de informação. Ele contextualiza sua teorização em uma abordagem crítica que permite evidenciar os valores subjacentes às políticas praticadas, pesquisadas e teorizadas. Rowlands parte do princípio que a política de informação refere-se ao cerne do poder na sociedade; portanto, torna-se objeto de disputa entre os grupos de interesses diversos (stakeholders) que compõe sua cena política.

Por trata-se de um assunto que emerge das disputas das forças políticas da sociedade é pertinente que o tema seja abordado enquanto política pública. Rowlands (1996, 1998), Rowlands et. al. (2002) e Doctor (1992) apresentam vários argumentos que validam e ao mesmo tempo desconstróem essa proposição. Os argumentos desfavoráveis são os seguintes:

a) a avaliação de que o arcabouço teórico que sustenta as pesquisas, análises e a prática da política pública é insuficiente para abranger a complexidade da política de informação, também considerado por Frohmann (1995).

b) a contradição existente ao se indicar o Estado como responsável pela socialização do conhecimento, compreendendo o conhecimento como principal fonte de poder, no contexto em que o próprio Estado precisa concentrar essa fonte de poder no exercício de sua

autoridade. Nesse caso, as políticas de informação podem se voltar para a instrumentalização do poder exercido pelo Estado.

Os argumentos favoráveis afirmam que:

a) o assunto é fragmentado e processado de forma pouca cumulativa porque não tem uma coordenação mínima que garanta a convergência do debate. Nesse caso, o Estado é apontado com o coordenador do processo;

b) a problemática inerente à política de informação é complexa, principalmente quando é abordada no contexto social, nas relações políticas, e no reconhecimento da multiplicidade de atores envolvidos no problema. O Estado ocupa o lugar de mediador dos interesses exercendo seu papel de garantir a igualdade e equidade social.

c) A omissão do Estado como centralidade do processo de formulação e implementação das políticas de informação permite que os interesses econômicos da indústria da informação suplantem os interesses de uma sociedade democrática ou da sociedade da informação49. A

ausência do Estado resulta na efetividade das influências exercidas por grupos de interesses organizados e penetrados na estrutura de poder da sociedade.

Corroborando esse argumento, Castells afirma:

O mercado desempenha um papel chave na consolidação da nova economia, mas não é capaz, por si só, de promover os avanços necessários dentro dos padrões de justiça social desejáveis. Sem uma forte política de governo orientada para a equidade, corre-se o risco de aprofundamento dos mecanismos estruturais de diferenciação e desigualdade. Cabe aos governos, mediante cooperação com o mercado e a sociedade civil, implementar políticas voltadas à prevenção da exclusão digital e do conseqüente aprofundamento da desigualdade. (CASTELLS, 1999, p.48)

49 Essa lógica é amplamente abordada por aqueles que evidenciam a tecnologia como fator propulsor da ordem social. Ver mais sobre o assunto em Bemfica (2002).

Mesmo de forma contraditória e complexa, Rowlands sustenta a proposição da centralidade do Estado em relação às políticas de informação quando tenta classificá-las e distribuí-las em um plano bidimensional que permite observar a proximidade dos assuntos de política de informação com o Estado e com o mercado (ROWLANDS, 1998, p. 232-233; ROWLANDS et.al., 2002, p. 32-33.). Ele mapeia 24 assuntos de políticas de informação na literatura e os agrega utilizando-se da seguinte classificação:

QUADRO 1

Política de informação e seus sub-domínios

Grupo Tipo de PI – sub-domínios Descrição

A Protecionismo de informação

Regulamentos e mecanismos que controlam o acesso de informação e publicação na esfera pública (segredo oficial) e em mercados de informação (proteção de

dados pessoais).

B Mercado da informação

Leis e regulamentos que protegem o investimento na criação de conteúdo de informação (por exemplo,

direitos autorais) e permitem trocas no mercado.

C Radiodifusão e telecomunicações

Políticas públicas que regulam os meios de comunicação de massa, equilibrando os fatores comerciais com o interesse do cidadão (por exemplo,

acesso universal).

D Acesso público de informação oficial

Políticas e regulamentos que moldam o acesso à informação de cidadãos arquivadas pelo governo (por

exemplo, liberdade de informação).

E Sociedade da informação e infra-

estrutura

Políticas públicas que promovem o investimento (ou o encorajam pelo setor privado) na infra-estrutura de

informação. Fonte: ROWLANDS, 1998, p. 233; ROWLANDS et.al., 2002, p. 33.

FIGURA 1 - Mapa de distribuição dos assuntos de política de informação Fonte: ROWLANDS et al., 2002, p. 33.

Rowlands (1998) e Rowlands et.al. (2002) tecem as seguintes observações sobre o mapa apresentado na FIG. 1: o eixo x representa o grau da relação dos assuntos da política de informação com a regulação do mercado e o controle do Estado. O eixo y representa a distribuição dos assuntos da política de informação em relação às possibilidades de sua abertura versus o controle.

Em termos gerais, a distribuição dos assuntos compreende a seguinte lógica: os assuntos que estão à direita no mapa (grupos A e D) estão relacionados à ação direta do Estado, como provedor de recursos. De cima para baixo as responsabilidades se estendem do controle de informação oficial (protecionismo de informação), passando pelo armazenamento efetivo e administração da informação oficial (acesso público), à provisão de infra-estruturas para sua ampla disseminação (Sociedade de Informação e infra-estrutura).

Em contraste, os assuntos que estão à esquerda do mapa (grupos B e C) estão relacionados à ação indireta do Estado como regulador de atividades de informação do setor privado. Novamente, esquadrinhando de cima para baixo, percebe-se a ação do Estado com o objetivo de constringir para preservar a privacidade pessoal (protecionismo da informação), criando as condições dos processos de oferta e procura por informação (mercados de informação), e finalmente, mitigando as conseqüências dos excessos do mercado livre, garantindo os direitos fundamentais de liberdade de expressão e serviço universal (radiodifusão e telecomunicações).

Em síntese, pode-se verificar que a dimensão do eixo y expressa um espectro de assuntos de política de informação que vão das ações sem restrições até as ações que necessitam de maior controle do Estado. A dimensão de x parece indicar os dois papéis distintos da política de informação para o Estado - o de regulador de mercados de informação (esquerda) e de provedor principal e disseminador de informação (direita).

Esse mapa contribui com a assertiva de que as políticas de informação podem ser abordadas como políticas públicas e, como tais, podem ser providas diretamente pelo Estado ou indiretamente através da regulação50.

Mas, mesmo como política pública, para Rowlands, é importante garantir a dimensão humanista da informação em detrimento das abordagens economicistas/pragmáticas que consideram a informação como recurso e como mercadoria51. Na abordagem humanista, a

informação representa a interação social e o foco da intervenção está na socialização da

50

A regulação pode ser caracterizada como uma permissão concedida pelo Estado para o setor econômico atuar no provimento de bens ou serviços públicos. Mas pode ser compreendida, também, como um conjunto de normativas que regulam a atuação do setor privado segundo o interesse público, resguardando os direitos individuais e coletivos.

51

O Estado não está imune à adoção de uma abordagem economicista; é necessário, segundo Rowlands (1998), que a comunidade de profissionais da informação, principalmente bibliotecários e cientistas da informação se fortaleçam como stakeholders e influenciem as tomadas de decisões sobre a política de informação, na perspectiva de não adoção de um modelo economicista.

informação, nos aspectos culturais inerentes ao processo da comunicação e no direito de saber e sua importância para o exercício da cidadania e dos direitos democráticos. Essa abordagem também permite incluir assuntos de natureza pessoal, como aquisição de conhecimento e inteligência social e o seu valor para as pessoas (ROWLANDS, 2002, p.34).