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1 Introdução

2.5 Evolução da paisagem florestal em Portugal continental

2.5.5 A política florestal no século XX

2.5.5.3 Políticas comunitárias

A entrada de Portugal na Comunidade Europeia em 1986 constituiu uma etapa importante no fomento dos recursos florestais. Com efeito, este acontecimento marcou uma inversão na

22 A Lei de bases da Política Florestal determina a organização regional dos espaços florestais através de Planos Regionais de

Ordenamento Florestal (PROF) e de Planos de Gestão Florestal (PGF), estes últimos instrumentos de ordenamento florestal ao nível das explorações.

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política de florestação que passou a privilegiar a área privada em detrimento da área pública e a instalação de espécies autóctones.

A actuação da estrutura florestal pública passou a incidir mais na análise, aprovação, validação e fiscalização dos projectos, tarefas que posteriormente foram inclusive sendo retiradas. Actualmente não compete aos serviços que tutelam os espaços florestais no território continental qualquer tipo de função na análise e decisão sobre os projectos florestais implementados com fundos comunitários, o que levou a um maior distanciamento da produção e a uma menor capacidade de intervenção técnica.

Para Mendes (2007) as políticas públicas para a floresta mediterrânea em Portugal depois do século XIX são em grande parte resultantes de outras políticas, como a política agrícola, não resultando de uma coordenação de esforços dos principais actores da fileira, produtores, industria e Estado. Como suporte a esta tese cita o caso da cortiça, identificando factores técnicos (e.g. a integração do sobreiro nos sistemas de produção agro-florestais em que domina a componente agrícola, a heterogeneidade do Sobreiro) e factores sociais (grande diferenciação geográfica e sociológica entre produtores e industriais), que poderão estar na origem desta falta de coordenação.

No âmbito do I Quadro Comunitário de Apoio (QCA) (1989-1993) o Programa de Acção Florestal (PAF) visava a arborização de incultos e de terras marginais para a agricultura, a beneficiação dos povoamentos existentes, a rearborização de áreas percorridas por incêndios e o uso múltiplo. O Estado assumia que a responsabilidade pela definição dos objectivos da arborização, elaboração dos projectos e sua implementação nas áreas privadas caberia aos proprietários, ficando-lhe reservadas competências na definição das regras e no financiamento e fiscalização das acções.

Verificou-se uma grande procura pelos proprietários privados para as acções de beneficiação dos povoamentos, sendo a área total abrangida próxima da meta inicialmente estabelecida, ao invés do que sucedeu com a arborização. Devy-Vareta (2005b: p. 140) refere que a florestação abrangeu uma área de cerca de 114 000 ha, com predominância de resinosas no Norte e Centro do País, e a beneficiação de povoamentos uma área de cerca de 208 000 ha, ficando os resultados aquém do esperado.

Mendes & Fernandes (2007: p. 111), numa interessante análise à distribuição regional das áreas arborizadas e beneficiadas através do PFP/BM e do PAF, constatam que a maior taxa de arborização se registou no Norte (54,5% e 35,6%, respectivamente para cada um dos

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programas referidos) e Centro (28,8% e 25,7%, respectivamente). Ao invés, as maiores taxas de beneficiação no PAF foram registadas no Alentejo (41,9%) e Lisboa e Vale do Tejo (20,8%). O Pinheiro-bravo foi a espécie mais utilizada na arborização em ambos os programas, embora no PAF, quando comparado com o PFP/BM, se verifique um significativo aumento na utilização do Sobreiro. Já em termos de beneficiação a maior taxa incidiu nas áreas ocupadas com Sobreiro.

De referir ainda as medidas florestais incluídas no Regulamento (CEE) 797/85, que vigorou de 1991 a 1993, onde eram pela primeira vez contemplados subsídios por perda de rendimentos agrícolas em caso de arborização de terras consideradas como marginais para a agricultura. Com o II QCA (1994 a 1999) foi implementado o Plano de Desenvolvimento Florestal (PDF) e, no âmbito da Reforma da Política Agrícola Comum (PAC), foi instituído um regime de ajudas à florestação, conhecido pelo Reg. (CEE) 2080/92.

Os principais objectivos para o PDF eram a promoção da rearborização de áreas ardidas e de incultos, a beneficiação de povoamentos florestais existentes e de infra-estruturas, o uso múltiplo e a modernização de viveiros florestais. Foram executados 162 000 ha de beneficiação, rearborizadas 30 000 ha de áreas ardidas e arborizada uma área de cerca de 30 000 ha (Devy-Vareta, 2005b: p. 140).

O Reg. (CEE) 2080/92 visava o fomento da utilização alternativa de terras agrícolas, contribuindo para a redução do défice da Comunidade em produtos silvícolas, e o desenvolvimento de actividades florestais nas explorações agrícolas. As ajudas ao investimento das acções elegíveis nos projectos de investimento tinham um valor de subsidiação que podia atingir os 100%, dependendo da natureza do beneficiário, sendo complementadas com um prémio de manutenção por hectare arborizado durante cinco anos e de perda de rendimento durante 10, 15 ou 20 anos, conforme o objectivo de investimento. Estas ajudas, bem como os prémios, tornaram realmente aliciante o investimento na arborização, quando comparado com os instrumentos anteriores, tendo a sua aplicação, de uma forma geral, um papel positivo no aumento da área florestal em Portugal. Sendo os prémios atribuídos (perda de rendimento e de manutenção) aplicáveis apenas às superfícies arborizadas verificou-se a maximização no aproveitamento da área disponível.

No âmbito desta Medida foram arborizadas 173 300 ha de áreas agrícolas ou marginais para a agricultura. O Alentejo, com 70 000 ha de área arborizada, é a região com maior

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representatividade sendo as espécies preferencialmente utilizadas o Sobreiro, a Azinheira e o Pinheiro-manso (Devy-Vareta, 2005b: p. 140).

Estes programas de incentivo à arborização e beneficiação florestal tiveram continuidade no âmbito do III QCA (2000-2006) com a aplicação do Plano de Desenvolvimento Rural, abreviadamente denominado RURIS, e do Programa Operacional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, denominado por AGRO, nomeadamente no âmbito da Medida 3 – Desenvolvimento Sustentável das Florestas.

O RURIS integrava a florestação de terras agrícolas, tendo, relativamente ao Reg. (CEE) 2080/92, um menor impacto já que as condições de subsidiação ao investimento não foram tão favoráveis.

Figura 2.5 - Investimentos e áreas totais de intervenção desenvolvidos ao abrigo dos Programas Comunitários no período de 1986 a 2011 (Fonte: DGRF, 2007; Evangelista, 2010; ProDer, 2011)

Como poderemos observar pela análise da Figura 2.5 o instrumento financeiro com maior impacto na arborização foi o Reg. (CEE) 2080/92, diminuindo com o RURIS e sendo quase residual com o ProDer. Pela análise da Tabela 2.4, poderemos verificar a evolução da ocupação florestal nos últimos 50 anos. Além do Eucalipto e do Sobreiro, o Pinheiro-manso é uma das espécies que tem registado uma constante subida na área de ocupação (Figura 2.7).

Embora significativo este aumento não é muito relevante quando comparado com outras espécies. De referir que anteriormente a 1995 não era feita a diferenciação da área ocupada com Pinheiro-manso, dada a sua fraca representatividade e concentração regional (Alentejo Litoral), sendo englobada nas resinosas.

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Tabela 2.4 - Evolução da área total de distribuição por espécie entre os IFN (Fonte: AFN, 2010; ICNF, 2013a) ESPÉCIES 1963-66 1968-80 1980-89 1990-92 1995 2005 2010 Pinheiro-bravo 1288,0 1293,0 1252,0 1047,0 977,9 795,5 714,5 Eucalipto 99,0 214,0 386,0 529,0 717,3 785,8 811,9 Sobreiro 637,0 657,0 664,0 687,0 746,8 731,1 736,8 Azinheira 579,0 536,0 465,0 - 366,7 335,0 331,2 Pinheiro-manso - 35,0 50,0 - 120,1 172,8 175,7 Outras Resinosas - 35,0 33,0 - 61,3 73,4 73,2 Carvalhos - 710 112,0 - 91,9 66,0 67,1 Castanheiro - 29,0 31,0 - 32,6 38,3 41,4 Outras Folhosas - 148,0 115,0 - 155,2 169,4 177,8 Alfarrobeira - - - - 12,3 12,2 11,8 Acácias - - - - 2,7 4,7 5,4 (1000 hectares)

Figura 2.6 – Distribuição da área actual de povoamentos por espécie em Portugal Continental (Fonte: AFN, 2010; ICNF, 2013a)

De acordo com os dados preliminares do IFN6, divulgados pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) (Figura 2.6), o Eucalipto é já a espécie mais representativa, substituindo o Pinheiro-bravo, que sofreu uma forte redução de 263 000 ha (13%) entre os inventários de 2005 e de 2010 relativamente à superfície arborizada (povoamentos). O Castanheiro registou um acréscimo de área arborizada (povoamentos) de 13 328 ha, bem como a área arborizada com Sobreiro com um aumento de 44 141 ha, embora se tenha verificado um decréscimo na densidade média dos povoamentos. Já a área ocupada com Azinheira sofreu um decréscimo de 8577 ha. Registou-se ainda neste período uma redução

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anual de 0,3% de área florestal, podendo concluir-se que os anos 90 constituíram um ponto de viragem para o sector florestal.

As políticas florestais desenvolvidas, principalmente no século XX, levaram, assim, a uma alteração significativa da paisagem. Verificou-se um aumento progressivo das áreas arborizadas e uma redução da área de incultos até aos anos 50. Com efeito, a utilização do Pinheiro-bravo numa primeira fase e depois do Eucalipto em extensas áreas viria a dominar a paisagem do Norte e Centro do País, sendo no Sul dominada pelos montados de quercíneas (Sobreiro e Azinheira) e agora, em povoamentos puros ou consociados com quercíneas, pelo Pinheiro-manso (Figura 2.7).

Figura 2.7 – Evolução da superfície total ocupada com Pinheiro-manso nos últimos 40 anos em Portugal Continental (Fonte: AFN, 2010; ICNF, 2013)

Esta expressão da área florestal levou a que alguns autores considerem este século como o século do fomento florestal. Coelho (2003: p. 192) refere que no período de 1867 a 1995 a área florestal aumentou de 14,1% para 38,2% da área total do território continental.

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