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Políticas de formação continuada

No documento PCNs+ - E. Médio (páginas 170-173)

A falta de articulação entre as várias instâncias de gestão do sistema e a descontinuidade dos projetos são alguns problemas que afetam as políticas de formação continuada.

Às vezes, em função de mudanças políticas, ações iniciadas são completamente abandonadas. É indispensável que as iniciativas de formação inicial e continuada desenvolvidas por administrações anteriores sejam discutidas e avaliadas, com o objetivo de orientar as novas ações e provocar avanços, superando a prática da descontinuidade. Ademais, é consenso que políticas sérias de formação continuada só trarão benefícios à educação quando forem previstas na jornada de trabalho e no calendário escolar, planejadas e discutidas por todos os envolvidos. Para que programas de formação continuada alcancem os resultados propugnados, é preciso reservar tempo para que os professores aprofundem as discussões e reflexões sobre os novos conhecimentos.

Embora, em muitos estados, esse tempo esteja oficialmente previsto – e muitos até recebam por essas horas –, as reuniões de fato não ocorrem. Muitos professores acumulam outros empregos – às vezes em outras áreas, como academias e clubes no caso da Educação Física. Com isso, os assuntos abordados em programas de formação não são posteriormente discutidos com o aprofundamento necessário. É preciso garantir que as ações de sistematização e aprofundamento ocorram como parte integrante da jornada de trabalho.

No caso específico da Educação Física, os coordenadores pedagógicos devem merecer atenção especial, pois eles nem sempre têm formação adequada para serem formadores de professores e não costumam receber assessoria adequada para realizar esse tipo de trabalho.

É necessário construir uma cultura de desenvolvimento profissional perma- nente, para favorecer a atualização do professor, o aprofundamento de idéias e o intercâmbio de experiências.

Em muitos estados e municípios os professores de Educação Física reúnem-se apenas por ocasião dos jogos escolares. É preciso ir além desses momentos, conquistando espaço e tempo para a troca de idéias e experiências, a consulta a livros de bibliotecas atualizadas, num movimento que contribua para o desenvolvimento da autonomia profissional, a circulação das informações e o enriquecimento do trabalho docente nas escolas.

Publicações

A aquisição, criação e circulação de publicações que ampliem a comunicação entre os professores estimula a reflexão e a produção de conhecimento pedagógico inovador. Como contribuição nesse sentido, listam-se abaixo algumas revistas de qualidade, que podem ser adquiridas por escolas ou por secretarias de Educação:

Revista Brasileira de Ciências do Esporte (ISNN: 0101-3289) Editada pela Faculdade de Educação Física da Unicamp Telefone: (19) 3788-7550

E-mail: cbce@fef.unicamp

Revista Paulista de Educação Física (ISNN: 0102-7549) Editada pela Escola de Educação Física e Esporte da USP Telefone: (11) 3818-3092

E-mail: reveefe@edu.usp.br

Motriz – Revista de Educação Física (ISNN: 1415-9805)

Editada pelo Departamento de Educação Física, Unesp – Rio Claro Telefone: (19) 526-4160

E-mail: motriz@rc.unesp. br

Revista Movimento (ISNN: 0104-754X)

Editada pela Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul Telefone: (51) 3316-5829

E-mail: ppgcmh@ufgs.br

Revista Motus Corporis (ISNN: 1413-9111) Editada pela Universidade Gama Filho, RJ Telefone: (21) 2599-7187

E-mail: editora@ugf.br

Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde (ISNN: 1413-3482) Editada pela Universidade Estadual de Londrina, PR Telefone: (43) 323-5682

E-mail: achour@onda.com.br

Para que obtenham sucesso, as políticas públicas de formação continuada precisam necessariamente incluir propostas de melhoria das condições de trabalho, carreira e salário dos profissionais da Educação, tal como mencionam os Referenciais para a Formação de Professores do Ministério da Educação (1999).

Educação Física

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A abordagem metodológica da formação continuada

As questões metodológicas, que se referem às ações de formação em si, são centrais na definição e escolha dos programas de educação continuada.

Atualmente, há duas vertentes de formação continuada em Educação Física. Uma delas enfatiza a transmissão de informação teórica, em cursos de fisiologia do exercício, biomecânica, história da Educação Física, dimensões didáticas etc. Ao final desses cursos, geralmente os professores avaliam os conhecimentos abordados como muito teóricos, enquanto os formadores afirmam que os professores só se interessam por receitas prontas. Outra vertente privilegia as oficinas ou cursos de esporte, dança ou ginástica, destinados quase exclusivamente à vivência prática, oferecendo conhecimentos sobre seqüências pedagógicas, regras e táticas esportivas, e eventualmente alguns passos e coreografias. Tais cursos e oficinas têm a preferência dos professores de Educação Física até porque esses conhecimentos permearam sua formação inicial e são utilizados pela maioria deles em seu cotidiano. Sem negar ou negligenciar tais conhecimentos, é necessário reconhecer que o papel da Educação Física é mais amplo. Cursos e oficinas desse tipo não costumam abordar outros temas relevantes da área e nem levam os professores a superarem a tendência à aplicação irrefletida de modelos prontos, que não permitem uma recriação inteligente.

Qual seria então a abordagem mais apropriada de formação continuada?

A resposta, mais ou menos óbvia, é uma integração entre esses dois universos, a oferta de cursos que relacionem os conhecimentos teóricos com as vivências, considerando sempre como ponto de partida as experiências dos professores.

Um exemplo permite identificar essa integração, cujo resultado pode ser estendido para outras práticas da cultura corporal. No voleibol costumam surgir diversas questões polêmicas referidas ao contexto social do esporte: mudanças nas regras do jogo para adequação às exigências da mídia; realização de testes de feminilidade nas atletas; uso freqüente de anabolizantes para melhoria do rendimento esportivo e da estética corporal; as vestimentas dos atletas, cada vez mais justas para atrair o público; o crescente número de lesões decorrentes da prática excessiva; as fontes energéticas e o gasto calórico na modalidade, além de outras.

Na maioria dos casos, contudo, a graduação em Educação Física cursada pelo professor não o preparou para o debate desses temas, pois do voleibol abordou apenas os procedimentos: seus fundamentos, técnicas, táticas e regras. Questões do tipo das apontadas acima são, às vezes, discutidas em outras disciplinas: lesões, na biomecânica; a mídia e as vestimentas, na sociologia; testes de feminilidade e uso de anabolizantes, na fisiologia. Nos cursos cujo modelo se aproxima do currículo científico, geralmente tais questões são tratadas de forma fragmentada.

Para propiciar ao aluno acesso às diversas expressões da cultura corporal, nova perspectiva do ensino de Educação Física, ao ensinar o voleibol para turmas de ensino médio o professor deverá abordar todas essas questões em conjunto, de forma integrada, para contextualizar a prática do voleibol na atualidade.

Além de mobilizar esse amplo conjunto de conhecimentos, o professor de Educação Física também deverá lidar com outros elementos que permeiam o ambiente de ensino, como clima, disponibilidade ou falta de material, diferenças individuais (seja quanto

à expectativa dos estudantes, seja quanto a suas experiências de movimento anteriores), influência da mídia e dos familiares, violência entre alunos etc. Trata-se de um desafio sem tamanho para o professor: cabe a ele integrar, numa situação real de ensino, extremamente variável, complexa e incerta, conhecimentos que adquiriu de maneira fragmentada.

Por isso, os programas de formação continuada devem procurar superar os padrões tradicionais – ora com ênfase em conteúdos teóricos, ora na vivência de modalidades esportivas. O mais adequado seria investir em cursos em que os professores mobilizem concomitantemente essas duas dimensões dos conhecimentos da área, vivenciando-os e refletindo sobre suas potencialidades para as aulas de Educação Física no ensino médio.

No documento PCNs+ - E. Médio (páginas 170-173)