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2 POLÍTICA-EDUCACIONAL E POLÍTICA CURRICULAR

2.2 POLÍTICAS EDUCACIONAIS

Toda a medida planejada e implementada por um governo no campo educacional pode ser chamada de política educacional. Essa política pode ser executada explicitamente com ampla participação da sociedade, como também, pode ser elaborada sem a intervenção e contribuição da mesma. As políticas públicas ganham legitimidade quando há uma expressiva participação da população considerada pela mesma. Integrante das políticas públicas, as políticas educacionais são respostas, “atos do Estado” (MAINARDES, 2018) para atender problemas e demandas educacionais da população. Em geral, esses atos do Estado, costumam ser fragmentados, pontuais e incompletos apesar de se constituírem em instrumentos de poder simbólico expressos em textos legais ou discursos oficiais. Esses atos do Estado também podem gerar “hierarquias, aumentar desigualdades, beneficiar alguns grupos e excluir outros” (MAINARDES, 2018, p. 188).

Mainardes (2018) propõe uma compreensão das políticas públicas de forma mais relacional e menos ingênua, a partir de questionamentos como: “Para que esta política? Para quem foi formulada? Com quais finalidades? Com base em quais fundamentos?” (MAINARDES, 2018, p. 188). Dentre as políticas educacionais, as políticas curriculares são tomadas de decisão sobre o desenvolvimento do currículo escolar que classificam, selecionam, organizam o que deve ser ensinado nas escolas.

A elaboração de uma política educacional não se dá desprovida de interesses. Na disputa do poder, diferentes grupos entram em confronto para defender os mais variados tipos de pautas, e a pressão em torno de determinadas demandas sociais tem forte influência para a entrada de políticas na agenda (CUNHA; DA SILVA, 2016, p. 1252).

Em uma dimensão global a política educacional está cada vez mais envolvida aos interesses empresariais, que incluem o que Ball (2014) denomina de novas formas de filantropia para expandir o crescimento do mercado educacional, tornando a educação uma oportunidade para lucro. As formas de privatização da

reforma neoliberal são tanto exógena (privatizadora) quanto endógena (reformista), por meio do empreendimento e do empreendedorismo, em que o setor público é substituído e reformado ao mesmo tempo, tornando essas práticas de privatização nos serviços públicos cada vez mais presentes e evidentes. No entanto,

[...] a Educação é apenas uma manifestação de uma reformulação global das bases econômicas, sociais, morais e políticas do fornecimento do serviço público e do desenvolvimento de novos tipos de respostas políticas à desvantagem social (BALL, 2014, p. 37- 43).

Desde a década de 1990 as políticas educacionais vêm rendendo-se aos interesses do setor privado com a consolidação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), quando os defensores do gerencialismo foram os grandes vencedores de certas conquistas.

A ideia de base contida na LDBEN/96 e que pode se extrair da CF/88 é pela definição de referências curriculares comprometida com a pluralidade, diversidade e não discriminação. Abraçar uma compreensão de prescrições fixistas e descritores de conteúdos, competências e habilidade é assumir uma contradição entre pluralismo de ideia e um projeto universalizante de conhecimento comprometidos com a homogeneização (CURY; REIS; ZANARDI, 2018, p. 60).

A expressão padronização, ou como Cury, Reis e Zanardi (2018) denominam de “prescrições fixistas”, insere-se no seio das políticas educacionais para educação como conteúdos, provas e aulas estandardizadas a fim de, supostamente, alçar melhores índices da educação, sem questionar se os educandos estão apreendendo e/ou sistematizando conhecimento (VENCO; CARNEIRO, 2018, p. 9).

Em particular, os novos participantes no processo de políticas colonizam os espaços abertos pela crítica ás organizações do Estado existentes. Em outras palavras o mercado de “conhecimentos sobre governar” está intimamente entrelaçado com a disseminação de novas narrativas políticas e com o descrédito das mais velhas no mercado de desenvolvimento de serviços públicos, isso indica uma nova “arquitetura de regulação baseada no entrelaçamento de relações entre locais diferentes dentro e além do Estado e apresenta muitas das características as quais Richards e Smith (2002, p.28-36) chamam de “estado pós-moderno” (BALL, 2014, p. 181-182).

Nesta nova proposta de filantropia percebe-se a relação com e por resultados, o que nem sempre pode ser uma experiência sustentável e bem- sucedida.

No entanto, é importante observar o aumento da variedade de “oportunidades de negócios”, incluindo novas formas de terceirização, contratação e parceria público-privada, que estão emergindo quanto mais o negócio da educação pública é despojado e “privatizado” ou “compartilhado” com os negócios (BALL, 2014, p. 156).

Envolvidos por

Um discurso salvador que promete salvar escolas, líderes, professores e alunos do fracasso, dos terrores de incerteza e das confusões das políticas e deles mesmos – suas próprias fraquezas. Políticas de Estado, particularmente aquelas que empregam técnicas de gestão da escola e de gestão de desempenho, podem assim criar incentivos e pressões para fornecedores do setor público a fazer uso dos serviços do setor privado (BALL, 2014, p. 160).

Com o intuito de comercializar soluções para as políticas públicas e, especialmente, a política educacional, a privatização passa acontecer no setor público. “Em certo sentido, nós podemos ver isso como o trabalho ‘aparentemente mundano’ do neoliberalismo, que estende o papel do ‘privado’ e mercantiliza ainda mais o social e o domínio público” (BALL, 2014, p. 171).

Novos discursos são proferidos e novos valores e formas de organização são ocupados pelo setor privado. Em diferentes países os serviços educacionais são vendidos como soluções para o Estado, enquanto pesquisadores educacionais são esquecidos pelos Ministérios de Educação (BALL, 2014, p. 181).

O neoliberalismo atua de forma a moldar um cenário educacional em que as possibilidades de construir uma educação pública como um espaço de discussão e exercício da democracia ficarão cada vez mais distantes (BRANCO et al., 2018, p. 22).

Realinhadas ao neoliberalismo, as políticas educacionais, passam a ser categóricas em relação a privatização de serviços e a redução de direitos sociais de diversas ordens. Com o avanço do conservadorismo é necessário enfrentar as hegemonias autoritárias, incongruências e injustiças sociais que, em um período democrático foram reconhecidas como legítimas.

A proposta do neoliberalismo se traduz em dois tipos de conhecimento: “conhecimento governante” o que está sendo negociado e é representado por números, avaliações, comparações e rankings. Embora este não seja simplesmente um meio de descrever, o “conhecimento sobre”, é um conhecimento efetivo. O segundo tipo é o “conhecimento para” que se constitui através de práticas, métodos de organização e meios de reforma que se dá por atores do setor público, envolvendo mudanças culturais e de conduta (BALL, 2014, p. 172).

Mais especificamente, o neoliberalismo está produzindo, novos tipos de atores sociais, sujeitos sociais híbridos que são espacialmente móveis, eticamente maleáveis e capazes de falar as linguagens do público, do valor privado e filantrópico (BALL, 2014, p. 230).

Com os conservadores, alinhados com as políticas neoliberais, em ascensão não apenas aqui no Brasil, mas em muitos países, testemunhamos um projeto que procura homogeneizar a adoção de livros didáticos e programas de formação de professores. Um conjunto padronizado de diretrizes, que responsabilizam as escolas pelo sucesso ou fracasso dos alunos, é naturalmente o que a própria expressão conservadorismo sugere conservar (APPLE, 2011, p. 75-79).

Ball (2014) destaca:

[...] precisamos entender, pesquisar e reagir ao neoliberalismo não como ideias abstratas, mas como um discurso, no sentido completo da palavra – um conjunto de práticas e subjetividades que são realizadas em formas “realmente existentes” e corriqueiras em diferentes locais e contextos (BALL, 2014, p. 74).

Instigado pelo poder econômico ao invés do sistema educacional, o conhecimento não deve ser subjugado como mercadoria. Imposto e definido pelas políticas educacionais vigentes, o currículo chega nos espaços escolares, desconsiderando o conhecimento dos educadores de modo em geral, contrariamente do que se propõe: elaborar para atender as demandas e necessidades reais, sociais e globais, pois é um instrumento de relevância para a organização escolar (ALMEIDA; BATISTA, 2016, p. 28).