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As políticas estaduais de recursos hídricos: o caso de Minas Gerais e do Rio de

4.3 Políticas públicas: a política nacional de gestão hídrica e suas congêneres

4.3.2 As políticas estaduais de recursos hídricos: o caso de Minas Gerais e do Rio de

Como a pesquisa desenvolveu-se em sua grande parte em território mineiro, vamos primeiramente fazer uma leitura da política de gestão de recursos hídricos do estado de Minas Gerais. Em Minas Gerais a Lei nº. 11504/94 traçou a Política Estadual de Recursos Hídricos, antecedendo a legislação federal sobre o tema, como ocorrido no estado de São Paulo, contudo, mais tarde, a lei sofreu nova redação com a promulgação da Lei Estadual nº. 13199/99.

Os fundamentos desta Lei se assemelham aos contidos na legislação federal. Dentre eles podemos reafirmar alguns pontos:

• O direito de acesso aos recursos hídricos, com prioridade para o abastecimento público e a manutenção dos ecossistemas;

• O gerenciamento integrado, com vistas aos usos múltiplos das águas;

• A adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão dos recursos hídricos;

• O reconhecimento dos recursos hídricos como bem natural de valor ecológico, social e econômico, cuja utilização deve ser orientada pelos princípios do desenvolvimento sustentável;

• A descentralização da gestão dos recursos hídricos;

• A compatibilização do gerenciamento dos recursos hídricos com o desenvolvimento regional e a proteção ao meio ambiente.

Com a nova redação atualizou-se o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SEGRH), ficando a cargo do estado assegurar os recursos financeiros para o seu funcionamento. O SEGRH ficou incumbido da gestão dos recursos hídricos estaduais através da adoção de planos, programas e projetos conforme princípios estabelecidos na legislação.

Destaca-se, nessa Lei, a importância dada ao uso múltiplo e racional dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, visando sua proteção contra a superexploração e contra as ações que possam comprometer a perenidade das águas.

A temática do saneamento está presente na política estadual, ficando a cargo do estado o planejamento de ações integradas nas bacias hidrográficas com vistas ao tratamento de efluentes de esgotos urbanos e industriais.

A integração com os municípios e a União aparece em vários pontos, sempre buscando o desenvolvimento de programas e projetos de interesse comum para a gestão dos recursos hídricos estaduais.

Os objetivos gerais da Política Estadual de Recursos Hídricos podem ser resumidos no aproveitamento, controle e monitoramento dos recursos hídricos, visando seu uso racional e sustentável, a preservação/conservação ambiental e o desenvolvimento sócio- econômico.

No tocante aos instrumentos da Política Estadual são elencados os seguintes, dentre outros:

• O Plano Estadual de Recursos Hídricos e os Planos por Bacia; • A outorga de direito do uso das águas;

• A cobrança e a compensação financeira pela exploração e a restrição do uso dos recursos hídricos e

• O rateio dos custos das obras de aproveitamento múltiplo entre os usuários setoriais.

Por sua vez, o Plano Estadual de Recursos Hídricos deverá conter entre outros pontos:

• A divisão hidrográfica do estado por Bacias para efeito de estudos, planejamento e gestão integrada, descentralizada e compartilhada;

• Objetivos a alcançar;

• Diretrizes para o gerenciamento dos recursos hídricos e

• Programas de desenvolvimento institucional, tecnológico e gerencial. Fato importante a destacar é que os recursos financeiros para a elaboração e implantação do Plano Estadual de Recursos Hídricos deverão constar nas leis relativas ao plano plurianual de desenvolvimento e legislação orçamentária do estado.

Atualmente, segundo demanda do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH-MG) ao IGAM-MG, o estado foi dividido em 34 “Unidades Territoriais de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos (UPGRHs)33”, sendo uma dessas unidades a Bacia do Rio Paraibuna34, sub-bacia da Bacia do Rio Paraíba do Sul (rio federal), localizada ao sul-sudeste do estado de Minas Gerais, como mostrado na Figura18.

33

Uma dessas 34 unidades está subdividida em mais 9 bacias descontínuas, totalizando assim 43 Unidades. 34

Corresponde a UPGRH intitulada PS 1, há que observar aí que tal unidade também agrega pequenos afluentes mineiros que drenam diretamente para o Rio Paraíba do Sul.

Figura 18 - Unidades de Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos (UPGRHs), no Estado de Minas Gerais.

Fonte: IGAM/MG – 2004.

No tocante à estrutura administrativa a Figura 19, a seguir, dá uma demonstração da arquitetura estadual dos órgãos gestores.

O Conselho Estadual de Recursos Hídricos de Minas Gerais (CERH-MG) está atualmente vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) e tem caráter deliberativo e competência normativa.

O Instituto Mineiro de Gestão das Águas é hoje o responsável pela operacionalização e gestão, sob a ótica técnica dos Recursos Hídricos Estaduais, cabendo ao mesmo, entre outras funções, a outorga pelo uso das águas de domínio do estado. Esse instituto também está vinculado à SEMAD-MG e exerce hoje o papel de secretaria executiva do CERH-MG.

SEMAD-MG Órgão Central do Sistema

SEGRH

Sistema Estadual de Gestão dos Recursos Hídricos CERH - MG Competências: Deliberativa e normativa SECRETARIA EXECUTIVA (IGAM - MG) Apoio técnico-administrativo AGÊNCIAS DE

SUB - COMITÊS COMITÊS BACIAS Competências:

deliberativas de 1ª instância e

normativa

Apoio técnico-administrativo e financeiro aos Comitês

Figura 19 – Organograma Funcional do Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SEGRH-MG).

Fonte: FREITAS, José in: SILVA, D. D. da e PRUSKI, F (1997).

Siglas: SEMAD: Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável SEGRH: Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

CERH-MG: Conselho Estadual de Recursos Hídricos de Minas Gerais. IGAM - MG: Instituto Mineiro de Gestão das Águas.

A estrutura comitê– agência de águas de bacia mantém, no geral, as linhas traçadas para os comitês e agências de águas de bacia de âmbito federal.

São os Comitês órgãos deliberativos e normativos e têm como atribuições, dentre outras, as seguintes:

• Propor planos e programas de utilização dos recursos hídricos; • Decidir conflitos entre usuários em primeira instância;

• Deliberar sobre projetos de utilização de recursos hídricos; • Criar sub-comitês de bacia;

Cabe às Agências o papel de secretarias executivas de seus respectivos comitês.

Importante frisar que a Política de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais exerce papel importante e interveniente na gestão dos recursos hídricos através do Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM) – órgão superior do sistema – que tem caráter normativo e deliberativo e realiza o licenciamento ambiental no estado, junto com a Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM), que funciona como secretaria executiva do COPAM e dá todo o suporte técnico a esse conselho.

Localizando-se dentro da Bacia do Rio Paraíba do Sul, a Bacia do Rio Paraibuna, e seu provável comitê estadual, devem estar integrados ao planejamento e à gestão dos recursos hídricos delineados para a primeira bacia.

Ainda, torna-se importante destacar a criação pela Lei Estadual nº. 13194/99 do Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais (FHIDRO), cujo objetivo é financiar programas e projetos voltados para a racionalização do uso e melhoria das características dos recursos hídricos estaduais. São recursos do FHIDRO as dotações orçamentárias, os recursos oriundos de operação de crédito, os recursos resultantes de aplicações financeiras e as transferências de saldos, dentre outros.

No estado do Rio de Janeiro, guardadas algumas peculiaridades de sua Legislação Estadual de Recursos Hídricos (Lei nº. 3239/99), os princípios, diretrizes e instrumentos de gestão se alinham com o proposto na Legislação Nacional de Recursos Hídricos. Uma particularidade presente na legislação do estado do Rio de Janeiro em relação à mineira é o tratamento dado às questões voltadas para os ambientes costeiros e lagunares.

Dessa forma, podemos destacar na citada Legislação Estadual (RIO DE JANEIRO, 1999) os seguintes princípios:

• A água como recurso essencial à vida, de disponibilidade limitada, dotada de valores econômico, social e ecológico;

• A água como um bem de domínio público;

• A bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão hídrica; • A descentralização do planejamento e da gestão hídrica;

• Em situação de escassez o uso prioritário dos recursos hídricos será o consumo humano e a dessedentação de animais.

Já no tocante aos objetivos figura a racionalização do uso das águas com vistas a garantir seu uso múltiplo e sustentável, a atuação do estado de forma a garantir às atuais e futuras gerações a disponibilidade necessária dos recursos naturais em padrões adequados aos respectivos usos, a recuperação e preservação dos ecossistemas aquáticos e a conservação de sua biodiversidade, dentre outros (Rio de Janeiro, 1999).

Quanto às diretrizes desse instrumento jurídico, merecem destaque:

A descentralização do estado por regiões e bacias hidrográficas; A articulação do planejamento do uso e preservação dos recursos hídricos com os congêneres nacional e municipais; A consideração, na gestão dos recursos hídricos, dos planejamentos regional, estadual e municipal, e dos usuários; A proteção das áreas de recarga dos aqüíferos e a correta utilização das várzeas; A prevenção contra a erosão do solo, nas áreas urbanas e rurais, com vistas à proteção contra o assoreamento dos corpos d’água, dentre outros. (RIO DE JANEIRO, 1999, não paginado).

Tanto essa política do Rio de Janeiro quanto a de Minas Gerais mantêm em linhas gerais os mesmos instrumentos de gestão hídrica da Política Nacional como: um plano estadual de recursos hídricos, os planos de bacias, o enquadramento dos cursos d’água, a outorga pelo direito de uso das águas, a cobrança pelo uso dos recursos hídricos e a criação de um sistema de informações sobre recursos hídricos.

Por sua vez, o Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos é composto por um Conselho Estadual de Recursos Hídricos, um Fundo Estadual de Recursos Hídricos, os comitês de bacias, as agências de águas e os organismos dos poderes públicos e entidades civis vinculados à gestão dos recursos hídricos.

Portanto, ressalvando-se algumas particularidades as políticas dos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, orientadas pela Política Nacional de Recursos Hídricos, obedecem a uma mesma concepção e arquitetura de planejamento e gestão.

Fato importante a assinalar aqui é que o estado do Rio de Janeiro, através da Lei Estadual nº. 4247/2003, aprovou o instrumento jurídico específico que permitiu, a partir de 2003, a cobrança pelo uso das águas de domínio do estado, estando tal processo em implantação. Fica assim o estado do Rio de Janeiro à frente do estado de Minas Gerais no tocante à implementação do citado instrumento de gestão dos recursos hídricos.

Informações recentes, obtidas junto à Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SERLA)35, afirmam que a cobrança pelo uso da água foi efetivada a partir de 2004, ano que arrecadou aproximadamente um milhão de reais. Tais recursos, segundo a citada fonte, serão aplicados em ações de planejamento, gestão e projetos a serem desenvolvidos para a preservação/conservação e recuperação das águas dos rios, córregos e lagos do estado.