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Políticas fiscais e monetárias com regime cambial FIXO 1 Política fiscal expansiva

No documento AULA 05: Modelo IS-LM (páginas 40-46)

Curva BP na hipótese de

2.4. Políticas fiscais e monetárias com regime cambial FIXO 1 Política fiscal expansiva

Suponha que o governo decida aumentar os gastos públicos. O que isso representaria no nosso modelo?

O aumento de gasto público é política fiscal expansiva e desloca a curva IS para a direita (de IS1 para IS2 na figura 29). Como consequência, a economia parte do seu equilíbrio inicial em E1 para outro no ponto E2, onde a nova renda da economia é maior e a nova taxa de

juros interna (i´INT) é maior que a taxa externa (iEXT).

Como a taxa de juros interna é maior que taxa externa, haverá entrada de capitais no nosso país. Essa entrada gera excessos de oferta de moeda estrangeira. Se estivéssemos no regime flutuante, esse excesso de oferta depreciaria a moeda estrangeira e apreciaria a moeda nacional. No entanto, estamos considerando que o regime cambial

é fixo. Assim, se o BACEN quiser manter a taxa fixa, ele deverá comprar

este excesso de moeda estrangeira que há no mercado. Ao fazer tal transação, o BACEN entrega R$ ao mercado e recebe em troca moeda estrangeira. Como há mais R$ circulando na economia, podemos dizer que houve aumento da oferta monetária e isso fará deslocar a curva LM para a direita.

LM1 E2 LM2 i i´INT E3 E1 iINT=iEXT BP Figura 30 IS2 YE1 IS1 Y YE3 YE2

Esse deslocamento da curva LM continuará até o ponto em que, novamente, iINT=iEXT. Assim, a curva LM será deslocada para a direita (de

LM1 para LM2 na figura 30) até encontrar a curva BP e a curva IS2, no

ponto E3, ao nível de renda YE3. Note que, quando o regime é fixo, o efeito da política fiscal expansiva é potencializado pelos impactos positivos sobre a oferta monetária decorrentes da política cambial. O aumento de renda (de YE1 para YE3) será superior àquele que seria verificado caso a economia fosse fechada (de YE1 para YE2). Assim, vemos claramente que a política fiscal é (bastante) eficaz quando temos

regime cambial fixo.

Podemos concluir o seguinte sobre a política fiscal expansiva com regime fixo de câmbio:

A renda aumenta;

O saldo da balança de bens e serviços (X – M) não é alterado;

O nível de reservas internacionais aumenta16.

Vejamos agora o efeito da política monetária quando o regime cambial é fixo:

2.4.2. Política monetária expansiva

Suponha que o BACEN decida reduzir a exigência de depósitos compulsórios. O que isso representaria no nosso modelo?

A redução dos compulsórios disponibilizaria mais dinheiro para os bancos comerciais emprestarem ao público, de forma que a oferta monetária da economia seria aumentada, deslocando a curva LM para a direita (de LM1 para LM2, conforme vemos na figura 31). Como consequência, a economia parte do seu equilíbrio inicial em E1 para outro

16

Como o BACEN adquire o excesso de moeda estrangeira no mercado, estas divisas ficarão depositadas no BACEN, aumentando o saldo das reservas internacionais.

LM1 LM2 i E1 iINT=iEXT BP Figura 31 E2 i´INT IS1 YE1 YE2 Y LM1 LM2 i E1 iINT=iEXT BP Figura 32 E2 i´INT IS1 Y

no ponto E2, onde a nova renda da economia é maior e a nova taxa de juros interna (i´INT) é menor que a taxa externa (iEXT).

Como a taxa de juros interna é inferior à externa, haverá tendência à fuga de capitais do nosso país. Essa fuga gera excessos de demanda por moeda estrangeira. Se estivéssemos no regime flutuante, isso apreciaria a moeda estrangeira e depreciaria a moeda nacional, mas,

como estamos no regime cambial fixo, não haverá

apreciação/depreciação da moeda nacional. Para o BACEN manter a

taxa de câmbio no mesmo patamar, ele terá que suprir a demanda por moeda estrangeira. Para isso, ele venderá moeda estrangeira ao mercado e, em troca, receberá R$. Como há menos R$ circulando, a oferta monetária será reduzida e a curva LM será deslocada para a esquerda.

Esse processo continuará até o ponto em que iINT=iEXT. Assim, a curva LM será deslocada para a esquerda (de LM1 para LM2) até encontrar

a curva BP e a curva IS, no ponto E1, ao nível de renda YE1, de tal forma

que o aumento de renda inicial provocado pela política monetária expansiva será totalmente anulado pelo enxugamento da liquidez resultante do processo de venda da moeda estrangeira. Assim, vemos que a política monetária é ineficaz quando temos regime cambial

Podemos concluir o seguinte sobre a política monetária expansiva com regime fixo de câmbio:

A renda não se altera;

O saldo da balança de bens e serviços (X – M) não é alterado;

O nível de reservas internacionais diminui17.

Segue um quadro resumindo os efeitos das políticas fiscal e monetária diferenciando as eficácias em virtude do regime cambial adotado:

Câmbio

FLUTUANTE Renda (Y) Balança de bens e serviços (X – M) Variação das reservas internacionais (ΔRI) Política fiscal

expansiva altera Não Diminui Não altera

Política monetária

expansiva Aumenta Aumenta Não altera

Câmbio

FIXO Renda (Y) Balança de bens e serviços (X – M) Variação das reservas internacionais (ΔRI) Política fiscal

expansiva Aumenta Não altera Aumenta

Política monetária expansiva

Não

altera Não altera Diminui

Adendo: OS DÉFICITS GÊMEOS

A teoria Keynesiana, somada ao que aprendemos em Contas

Nacionais18, nos permite estabelecer uma relação entre o déficit

orçamentário decorrente de uma política fiscal expansionista e o déficit no comércio exterior de bens e serviços (X – M).

Nós sabemos que:

Y = C + I + G + (X – M)

Se chamarmos (X – M) de exportações líquidas (NX), teremos:

17

Como o BACEN vende moeda estrangeira para suprir a demanda do mercado, ele tem que se desfazer de parte de seu estoque de divisas, diminuindo o saldo das reservas internacionais.

18

Na verdade, grande parte da teoria das Contas Nacionais também foi desenvolvida por Keynes. Foi ele quem pradronizou os agregados macroeconômicos da forma como estudamos hoje.

Y = C + I + G + NX Se isolarmos NX, temos:

NX = Y – C – G – I

Sabemos que (C + G) é o consumo final (CFINAL), e que a renda menos o consumo final é igual à poupança bruta do Brasil (ou poupança nacional; ou poupança interna), de tal forma que:

NX = (Y – CFINAL) – I

S (poupança nacional) = (Y – CFINAL)

Então:

NX = S – I

Pela expressão, percebe-se que a redução da poupança nacional faz reduzir também o saldo do comércio exterior de bens e serviços. Assim, podemos entender que o excesso de gastos de governo, consubstanciado no déficit orçamentário (decorrente de políticas fiscais expansionistas), provoca também déficit comercial.

Desta forma, podemos entender que uma mudança na política fiscal que reduza a poupança nacional acarreta um déficit comercial. Ou seja, os déficits orçamentário e comercial andam juntos; daí, o termo “déficits gêmeos”.

Um bom exemplo da ocorrência destes déficits ocorreu com a economia brasileira na década de 70 e 80, onde o excesso de gastos do governo provocou também déficits externos. Isto culminou com a crise da dívida externa, no início da década de 80.

De forma oposta, também podemos entender que programas de redução do déficit governamental (e consequente aumento da poupança nacional) também provocam melhoras no saldo externo. Dessa forma, programas de ajuste fiscal (corte de gastos), ao reduzir o déficit público, contribuem sobremaneira para melhorar as contas externas do país, reduzindo, assim, o déficit comercial.

Bem pessoal, com isso terminamos a aula sobre modelo IS-LM! Este modelo é bastante cobrado em provas diversas de Economia,

relaciona os efeitos das políticas de governo sobre o nível de renda e taxa de juros da economia. E estas relações são cruciais na política macroeconômica de qualquer governo.

Na aula 06, veremos os efeitos das políticas de governo sobre o nível de renda e preços (inflação).

Abraços e bons estudos!!!

Heber Carvalho

No documento AULA 05: Modelo IS-LM (páginas 40-46)

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