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1 A ENFERMAGEM NO CUIDAR FRENTE AO ENVELHECIMENTO

1.2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PESSOA IDOSA

As repercussões do envelhecimento inexorável da população mundial atingem todos os âmbitos da sociedade, uma vez que a presença crescente de pessoas com idade avançada e a mudança do perfil de morbimortalidade demandam modificações e adaptações no sistema econômico, social e na saúde (HUENCHUAN e RODRÍGUEZ-PIÑERO, 2010).

No Brasil, até a década de 90, do século XX, a conjuntura do envelhecimento populacional esteve associada à desorganização do Sistema Social e Sanitário. A desestruturação da rede de saúde apresentava gasto crescente nos serviços oferecidos; aumento da violência ao idoso; ausência de políticas de atenção e de rede de proteção, como também, a ausência de uma cultura de respeito, reconhecimento e valorização da pessoa idosa, entre outros, que eram evidentes nesse período. (HUENCHUAN; RODRÍGUEZ- PIÑERO, 2010).

A partir de movimentos políticos e sociais, dessa época, surgiu a Política Nacional do Idoso (PNI), decretada e sancionada como Lei de número 8.842, em janeiro de 1994, sendo regulamentada pelo Decreto de número 1.948, em 1996. O objetivo da PNI compreende: “assegurar os direitos sociais da pessoa com idade superior aos sessenta anos, criando condições para promover a sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade” (BRASIL, 1994).

Os princípios que norteiam a aplicação desta Lei são de que:

A família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem estar e o direito a vida; o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos; o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza; o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem efetivadas através desta política; as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela sociedade em geral. (BRASIL, 1994, p.1).

Dentre as diretrizes postas na PNI, o “apoio a estudos e pesquisas sobre as questões relativas ao envelhecimento” encontra-se presente, fazendo com que esta pesquisa esteja em consonância a essas diretrizes.

A PNI envolve, também, algumas ações Governamentais nas áreas de promoção e assistência social, saúde, educação, trabalho e previdência social, habitação e urbanismo, justiça, cultura, esporte e lazer, no intuito de que ela seja implementada pelos órgãos e entidades públicas. (BRASIL, 1994).

Na área de saúde, destacam-se as competências para sua execução, como:

Garantir ao idoso a assistência à saúde, nos diversos níveis de atendimento do Sistema Único de Saúde; prevenir, promover, proteger e recuperar a saúde do idoso, mediante programas e medidas profiláticas; adotar e aplicar normas de funcionamento às instituições geriátricas e similares, com fiscalização pelos gestores do Sistema Único de Saúde; elaborar normas de serviços geriátricos hospitalares; desenvolver formas de cooperação entre as Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e entre os Centros de Referência em Geriatria e Gerontologia para treinamento de equipes interprofissionais; incluir a Geriatria como especialidade clínica, para efeito de concursos públicos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais; realizar estudos para detectar o caráter epidemiológico de determinadas doenças do idoso, com vistas a prevenção, tratamento e reabilitação; e criar serviços alternativos de saúde para o idoso (BRASIL, 1994, p.3). Ainda, no contexto da Saúde, em 1999, o Ministério da Saúde, através da Portaria Ministerial de número 1.395 criou a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), a qual assume que “o principal problema que pode afetar o idoso é a perda de sua capacidade funcional”. (BRASIL, 2006, p. 2). Em 2006, essa Política foi reformulada, e tiveram como eixos norteadores as medidas preventivas, como destaque para a promoção da saúde e o atendimento multidisciplinar, quando foi publicado o Caderno de Atenção a Pessoa Idosa, com o intuito de nortear a equipe de saúde no atendimento a esse segmento da população. (BRASIL, 2006).

Na diretriz da PNSPI, Atenção Integral e Integrada à Saúde da Pessoa Idosa, considera-se que “a prática de cuidados às pessoas idosas exige abordagem global, interdisciplinar e multidimensional”, devendo contemplar “grande interação entre os fatores físicos, psicológicos e sociais, que influenciam a saúde dos idosos e a importância do ambiente no qual está inserido”. Assim, entende-se que as terapias complementares, por levar em conta a integralidade da pessoa humana, estão em conformidade a essa diretiva, sendo, portanto, excelente recurso, que deve ser oferecido a toda população idosa e, em especial àquela que se encontra em condições de fragilidade 8. (BRASIL, 2006).

8

A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa considera que idoso frágil ou em situação de fragilidade é aquele que: vive em Instituição de Longa Permanência (Abrigos), encontra-se acamado, esteve hospitalizado recentemente por qualquer razão, apresente doenças sabidamente

Ao considerar e definir pessoas idosas frágeis, a PNSPI alinha-se às características das pessoas que requerem atenção paliativa, havendo, por conseguinte, uma forte ligação entre esses cuidados, às terapias complementares e a PNSPI.

Outro destaque da PNSPI, o qual pactua com a PNI e retoma a contribuição das pesquisas é a diretriz “Apoio ao Desenvolvimento de Estudos e Pesquisas”, que visa:

Fomentar pesquisas em envelhecimento e saúde da pessoa idosa; identificar e apoiar estudos/pesquisas relativos ao envelhecimento e à saúde da pessoa idosa existentes no Brasil, com o objetivo de socializar, divulgar e embasar novas investigações; criar banco de dados de pesquisadores e pesquisas em envelhecimento e saúde da pessoa idosa realizadas no Brasil, interligando-o com outros bancos de abrangência internacional; identificar e divulgar as potenciais linhas de financiamento– Ministério da Ciência e Tecnologia, Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa, terceiro setor e outros – para a pesquisa em envelhecimento e saúde da pessoa idosa; apoiar a realização de estudo sobre representações sociais, junto a usuários e profissionais de saúde sobre a saúde da pessoa idosa; priorizar as linhas de pesquisas em envelhecimento e saúde da pessoa idosa a serem implementadas pelo SUS, visando o aprimoramento e a consolidação da atenção à saúde da pessoa idosa no SUS; e implementar um banco de dados nacional com resultados de avaliação funcional da população idosa brasileira. (BRASIL, 2006, p.11).

Retomando os aspectos legais e políticos, direcionados a pessoa idosa, em 2002 o Ministério da Saúde propôs a organização e a implantação de Redes Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso, por meio da Portaria de número 702. Para a operacionalização dessas redes, foram criadas as normas para cadastramento de Centros de Referência em Atenção à Saúde do Idoso, através da Portaria de número 249, de 2002. (BRASIL, 2006).

Na Bahia, o Centro de Referência Estadual de Atenção a Saúde do Idoso (CREASI) foi criado em 1994, em virtude das propostas do Programa Estadual de Atenção à Saúde do Idoso (PROSI), atual Área Técnica da Saúde do Idoso. Entretanto, somente em 1999, o Centro inaugurou a sua primeira sede. (BAHIA, 2012).

Também, em concordância a PNI e com a finalidade de regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, instituindo penas severas para quem desrespeitar ou abandonar cidadãos idosos, foi criado, em 2003, o Estatuto do Idoso, como lei de número 10.741. (BRASIL, 2003).

Nesse Estatuto estão presentes políticas de “proteção dos direitos básicos do idoso, como saúde, educação, trabalho, justiça; de proteção à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”. (BRASIL, 2003). Assim, como na PNI e visando ampliar o direito do idoso, o Estatuto dispõe de títulos e capítulos, relacionados à causadoras de incapacidade funcional – acidente vascular encefálico; síndromes demenciais e outras doenças neurodegenerativas, como: etilismo, neoplasia terminal, amputações de membros –, encontra-se com pelo menos uma incapacidade funcional básica, ou viva situações de violência doméstica. Por critério etário, a literatura estabelece que também seja frágil o idoso com 75 anos ou mais de idade. Outros critérios poderão ser acrescidos ou modificados de acordo com as realidades locais. (BRASIL, 2006, p.10).

saúde e à capacitação dos profissionais de saúde, relativa ao atendimento a pessoa idosa. (BRASIL, 2003).

Entretanto, apesar das Políticas públicas instituídas para garantir o direito desse grupo etário, no Brasil, assim como em outros países da América Latina, percebe-se, ainda, débil movimento de coesão social, direitos humanos e do papel do Estado na prevenção e manutenção da dignidade da pessoa idosa. Desse modo, as discussões e acordos internacionais em torno do desenvolvimento social e dos direitos humanos das pessoas idosas têm sido, nas últimas décadas, assunto da agenda das Nações Unidas. (CELADE, 2011).

Desse modo, segundo o Centro Latino-americano y Caribeño de Demografía, desde a adoção do Plano de Ação Internacional de Madrid, sobre o envelhecimento, em 2002, deram- se passos importantes, a fim de fornecer visibilidade às pessoas de idade, como sujeitos que requerem proteção especial dos seus direitos. Os órgãos derivados dos tratados das Nações Unidas e os mecanismos regionais de direitos humanos têm dado suporte nesse processo, e a Declaração de Brasília 9, em 2007, foi um passo decisivo ao consensuar, em nível regional, a necessidade de impulsionar a aprovação de instrumentos específicos nessa matéria. (CELADE, 2011).

Assim, dentre as propostas, reafirmações, apoio, reconhecimento e resoluções, presentes na Declaração de Brasília, destaca-se a recomendação sobre os cuidados paliativos às pessoas idosas:

Recomendamos que se prestem cuidados paliativos às pessoas idosas, que padeçam de enfermidades em fase terminal, bem como apoio a seus familiares, e que os profissionais sejam bastante sensíveis e competentes para perceber o sofrimento e aliviá-lo mediante intervenções de controle de sintomas físicos e psicossociais, em consonância com a assistência espiritual requerida pela pessoa idosa. (CEPAL, 2007, p.4).

Nesse sentido, vê-se a preocupação crescente com a manutenção dos direitos humanos dos idosos, que se encontra com enfermidades crônicas e progressivas e que requerem cuidado ativo e sensível.

9A Declaração de Brasília foi formulada durante a segunda Conferência regional intergovernamental sobre

envelhecimento na América Latina e no Caribe: uma sociedade para todas as idades e de proteção social baseada em direitos. A mesma foi realizada em Brasília, Brasil, em dezembro de 2007 com o propósito de identificar as prioridades futuras de aplicação da Estratégia regional de implementação para a América Latina e o Caribe do Plano de Ação Internacional de Madri sobre o Envelhecimento. Além disso, a conferência buscou responder às oportunidades e aos desafios que o envelhecimento populacional vem a suscitar nas próximas décadas, promovendo, por conseguinte, uma sociedade para todas as idades (CEPAL, 2007).