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Políticas públicas e sustentabilidade

3 INOVAÇÃO E ECO INOVAÇÃO

4.3 O desenvolvimento local por meio dos APL’s

4.3.1 Políticas públicas e sustentabilidade

As políticas públicas podem ser entendidas como “um conjunto de ações emanadas do Estado, seja em escala federal, estadual e municipal, em que o objetivo maior é o bem coletivo” (RIBEIRO, 2008, p. 1). As ações podem ser realizadas em parcerias com organizações privadas ou entidades, com ou sem fins lucrativos.

Segundo Bucci (2002, p. 264), as políticas públicas devem ser tidas também como “processo ou conjunto de processos que culmina na escolha racional e coletiva de prioridade, para a definição dos interesses públicos reconhecidos pelo direito”. São “programas de ação governamental visando a coordenar os meios à disposição do Estado e as atividades privadas, para a realização de objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados” (BUCCI, 2002, p. 259), metas coletivas conscientes e, como tal, um problema de direito público, em sentido amplo.

A participação do poder público nas ações de preservação do espaço como sustentável está no conjunto das ações governamentais ou programas de governos voltados a esse fim. Ao se entender o espaço geográfico como lugar essencial à sustentabilidade, o poder público converte esforços na gestão e na promoção de espaços voltados ao público que venham a contribuir para a sustentabilidade da cidade e, assim, contribuir para a manutenção da vida no

planeta. É do Estado o papel de propor ações que venham a prevenir situações de risco à sociedade por meio de políticas públicas. A Carta Magna de 1988, no art. 225, dispõe que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988, p. 127).

Nesse sentido, percebe-se a existência de políticas públicas sendo emanadas do texto constitucional. Como exemplo dessas ações, podem-se citar: quando o poder público legisla a fim de regular a poluição sonora originada por bares; quando exige o depósito do lixo em aterros; quando proíbe o lançamento de esgoto sem tratamento em cursos de água; quando estipula a redução do corte de árvores.

As políticas para sustentabilidade podem estar evidenciadas, também, no momento em que o Estado determina um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e um Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), “que põem diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos”, por exemplo (CONAMA, 2015 p. 645). Ou ainda em um viés que venha se destinar a toda uma comunidade, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a qual visa a “direcionar o enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos no Brasil” (PNRS, 2011, p. 56).

Entretanto o enfrentamento das questões ambientais negativas pode vir das empresas que fazem parte do setor privado da economia. Entre várias tentativas do setor privado em implantar políticas ambientais, pode-se citar um exemplo do programa Certificação de Origem de Matéria-Prima Florestal (CERFLOR), agenciado pela Sociedade Brasileira de Silvicultura8.

8 O programa tem o objetivo de valorizar a madeira obtida por meio do manejo sustentável de florestas plantadas.

A empresa que lança mão dessa matéria prima em seu processo produtivo recebe um selo verde, que pode ser utilizado como um argumento de marketing. Entretanto o que chama atenção não é apenas o uso da marca, mas a explicitação da empresa na preocupação de levar à sociedade um produto que tem, em sua constituição, um elemento que atente a necessidade de preservação do meio ambiente. Vale destacar que, quando a empresa insere na sua dinâmica de produção elementos voltados a manutenção do meio ambiente, ela leva em consideração não apenas a ideia lúdica de se preservar o belo, mas sim uma questão de vantagem competitiva.

A busca do desenvolvimento, da geração de empregos e rendas são objetivos que incentivam as políticas públicas para as aglomerações de empresas que atuam geralmente gerando renda, emprego, formação e capacitação de mão de obra da sociedade local, além de alavancar o desenvolvimento do local em que a mesma está instalada.

Entre as políticas públicas voltadas para aglomerações, há aquelas voltadas para APL’s. O objetivo da adoção das políticas públicas para esse arranjo é estimular o processo de desenvolvimento por meio da promoção da competitividade e da sustentabilidade dos empreendimentos no território em que o APL está inserido. Buscando, assim,

[...] o desenvolvimento econômico, a redução das desigualdades sociais e regionais, inovação tecnológicas, a expansão e a modernização da base produtiva, o crescimento do nível de emprego e renda, redução da taxa de mortalidade de micro e pequenas empresas, aumento da escolaridade e da capacitação, o aumento da produtividade e competitividade e o aumento das exportações (BRASIL, 2004, p. 9).

Segundo o Termo de Referência para a Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento de APL’s (BRASIL, 2004), todas as ações de diversas instituições que buscam a atuação integrada e o desenvolvimento dos APL’s deverão observar os aspectos do Quadro 4, exposto a seguir.

Quadro 4 – Aspectos para serem observados nas Políticas Públicas dos APL’s

O protagonismo local As ações serão sempre concebidas, implementadas e avaliadas de forma a levar os atores locais a aumentar sua autonomia, corresponsabilidade e gerenciamento do processo de desenvolvimento da localidade, estimulando, nesse sentido, o reconhecimento do papel das lideranças locais e a necessidade de sua capacitação como forma de contribuir ao esforço dos atores locais em estarem participando do processo de desenvolvimento.

A promoção de um ambiente de inclusão

As ações devem estimular a articulação dos diversos agentes locais, visando ao acesso das unidades produtivas ao mercado, à informação, à tecnologia, ao credito, à capacitação e a outros bens e serviços comuns.

A elevação do capital social As ações devem promover a interação e a cooperação entre os atores no território, facilitando o desenvolvimento de relações de confiança, o aprendizado interativo, o fluxo de conhecimento tácito, o associativismo e o cooperativismo. A preservação do meio

ambiente

As ações devem estimular a criação de mecanismos endógenos de minimização dos impactos ambientais das atividades produtivas, a utilização de tecnologias ecologicamente sustentáveis e o aproveitamento de subprodutos e resíduos.

A integração com outros atores

As ações devem estimular o processo de integração entre as instituições (nacionais, estaduais e locais) que atuam no APL.

A colaboração entre os entes federados

A política nacional de promoção de arranjos atuará de forma complementar e em cooperação com aquelas desenvolvidas no âmbito dos estados e municípios.

O mercado As ações nos arranjos deverão estar orientadas para o mercado.

A sustentabilidade As ações devem estimular a capacidade de o arranjo se organizar, se manter ao longo do tempo e adquirir autonomia.

A inovação As ações devem estimular a absorção, a geração, a incorporação e a difusão de tecnologias adequadas ao contexto do arranjo.

As relações de trabalho As ações devem promover mecanismos que estimulem os empreendimentos pertencentes aos APL’s na direção do trabalho decente, entendido como: trabalho produtivo executado em condições adequadas de saúde e segurança, com respeito aos direitos fundamentais do trabalho, que garante remuneração adequada, dispõe de proteção social e ocorre em um ambiente de diálogo social, liberdade sindical, negociação coletiva e participação.

A redução das

desigualdades regionais

As ações devem contribuir para a incorporação de novos territórios ao processo de desenvolvimento nacional, de forma a valorizar a diversidade regional e a superar o baixo dinamismo econômico.

Fonte: adaptado do Termo de Referência para a Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento de APL’s, (BRASIL, 2014).

Com esses aspectos, percebe-se que as políticas para o desenvolvimento de um APL partem da observação das necessidades do local em que o arranjo está instalado. Lastres e Cassiolato (2003) expõem que são encontradas algumas políticas públicas para APL’s, entre elas estão: programas de capacitação profissional e treinamentos técnicos; melhoria na educação básica; programa de apoio à consultoria técnica; estímulos a ofertas de serviços tecnológicos; programa de acesso à informação (produção, tecnologia, mercados, entre outros); linhas de créditos e outras formas de financiamento; incentivos fiscais; políticas de fundo aval; programas de estímulo ao investimento.

As políticas de promoção ao APL “não devem ser praticadas de forma isolada, pois a articulação e a coordenação das políticas em nível local, regional, nacional e até supranacional mostram-se fundamentais para o sucesso da mesma” (LASTRES, 2004, p. 8). Para implantação de políticas públicas, é importante que o autor da política verifique todo o contexto, a fim de se evidenciar o que realmente será necessário para, em seguida, propor uma política estratégica, com determinantes positivas para promover o que de fato é seu objetivo, o bem-estar da sociedade.