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CAPÍTULO II – POLÍTICAS INCLUSIVAS

2.2 POLÍTICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS NA EDUCAÇÃO

2.2.3 Políticas de Permanência – PNAES

Ressalta-se ainda que somente a política de cotas não é suficiente para democratizar a educação superior. Portanto, é preciso avançar para o segundo passo - a efetivação de políticas sociais, ações que viabilizam a permanência e assistência estudantil (aspectos financeiros, pedagógicos e psicológicos).

O PNAES orienta o fomento de bolsas permanência8 para contribuir com o auxílio moradia, alimentação, transporte, inclusão digital, bolsa trabalho, extensão, iniciação científica, creche, intercâmbio, congressos, fotocópias, material didático e bolsa emergência, programas de acompanhamento de estudos, fórum de ações afirmativas e outros.

O artigo de Reisi & Tenórioii (2009, p. 4) apresenta a seguinte definição de permanência:

o ato de continuar que permita não só a constância do indivíduo, mas também a possibilidade de existência com seus pares.[...] Assim sendo, o nosso conceito de permanência possui uma relação direta com a coexistência dos indivíduos em primeiro lugar e sua existência em segundo. [...] chamar a coexistência de permanência simbólica e a existência de permanência material.

Nessa esfera, entende-se que a permanência simbólica caracteriza-se pelo ingresso de estudantes oriundos de grupos socialmente discriminados no seio da universidade, ou seja, um novo perfil de alunos (as) gera e requer novos tipos de inclusão institucional e acadêmica, o que fará com que todos exerçam seu direito de pertença ao meio universitário, e possam construir sua identidade estudantil, superando as ondas de racismo institucional por conta dos mecanismos de entrada.

Quanto à permanência material, são destinadas a estudantes que se encontram em situações de vulnerabilidade, vivenciando dificuldades financeiras que possam comprometer a sua vivência universitária, ou seja, a sua permanência. Porém, as ações de permanência que

8 Na etimologia da palavra, encontramos que o substantivo permanência deriva do latim permanentia e se constitui no ato de permanecer. Significa, portanto, perseverança, constância, continuidade.

acontecem, mediadas por diversos programas na instituição, necessitam de uma gestão de recursos e de critérios bem definidos e transparentes, garantindo o benefício aos que mais suscetíveis estiverem, com o intuito de fortalecerem sua trajetória acadêmica e alcançarem o sucesso pessoal e profissional.

A entrada na universidade, por meio da lei de cotas, é o primeiro passo de inclusão social. No entanto, é preciso garantir aos estudantes condições de permanência até a conclusão do curso. Para isso, é necessária a tomada de outras medidas afirmativas, ou seja, a criação de programas de assistência aos estudantes. Portanto, faz-se necessário aprofundar as discussões acerca dos critérios que visam a assegurar condições básicas de permanência, principalmente para estudantes que apresentam um diagnóstico de vulnerabilidade socioeconômica, algo que interfere no processo permanência na universidade.

Os autores Benincá e Santos (2013, p. 54) apontam caminhos para compreendermos que a universidade deverá mais do que só oferecer oportunidades (vagas). São essenciais mecanismos que assegurem equidade ao processo, bem como a permanência do estudante.

A questão do acesso e da permanência nas instituições educacionais está ancorada pela Constituição Federal de 1988, em seu Art. 3º, inciso IV, que garante, de forma inequívoca, a promoção de todos os cidadãos brasileiros, sem preconceito de origem, raça, sexo e quaisquer outras formas de discriminação; destarte, no art. 206, parágrafo I, em que preceitua que “a educação é um direto de todos, fundada no princípio da “igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola.” Essas medidas consagraram, em muitos dos seus artigos, a igualdade material. Os tratados internacionais adotados pelo ordenamento jurídico brasileiro também são motivos de efetividade dos direitos humanos fundamentais.

Entretanto, é preciso garantir a implementação de programas que tenham assistência estudantil com recursos necessários para suprir esse papel no interior das IES. Sabe-se dos diversos fatores adversos que enfrentam os jovens de classe popular: a trajetória escolar de baixa qualidade; a inserção do jovem muito cedo no mercado de trabalho, algo que interfere no tempo de trabalho e de escola; a falta de oferta de cursos noturnos; alimentação; transporte; a escassez de recursos para participar de eventos acadêmicos, como congressos, para a compra de livros; entre outros.

A adoção de políticas afirmativas consolidadas nas universidades públicas federais vem viabilizando o acesso de jovens de origem popular ao ensino superior, espaço este que durante muito tempo foi exclusivamente de privilegiados, em sua maioria, estudantes brancos e residentes em grandes cidades, pertencentes a uma classe alta ou média. Romper com essas caraterísticas de acesso à educação superior, no Brasil, é um processo em construção, no

sentido da promoção de direitos para muitas gerações oprimidas por pertencerem a condições sociais e raciais de menor alcance educacional e geográfico.

Legitimado na LDB nº 9.394/1996, artigo 3º, “o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”. O governo criou a Portaria Normativa nº 39, de 12 de dezembro de 2007, instituindo o PNAES, que define suas atribuições “considerando a centralidade da assistência estudantil como estratégia de combate às desigualdades sociais e regionais, bem como sua importância para a ampliação e a democratização das condições de acesso e permanência dos jovens no ensino superior público federal.”

A partir de 2010, foi regulamentada a portaria nº 39, pelo Decreto nº 7234, que dispõe sobre o PNAES, executado no âmbito do MEC, cuja finalidade é ampliar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal. Isso representa novos passos de inserção de políticas afirmativas nas universidades federais, que passam a ganhar mais solidez nas estratégias de inclusão social. Os objetivos do PNAES são: democratizar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal; minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e conclusão da educação superior; reduzir as taxas de retenção e evasão; e contribuir para a promoção da inclusão social pela educação.

O referido plano traz medidas de investimento nos programas de assistência estudantil das universidades federais, conforme Art. 3º: “deverá ser implementado de forma articulada com as atividades de ensino, pesquisa e extensão, visando ao atendimento de estudantes regularmente matriculados em cursos de graduação presencial das instituições federais de ensino superior; § 1º As ações de assistência estudantil do PNAES deverão ser desenvolvidas nas seguintes áreas: moradia estudantil; alimentação; transporte; atenção à saúde; inclusão digital; cultura; esporte; creche; apoio pedagógico; e acesso, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação; § 2º Caberá à instituição federal de ensino superior definir os critérios e a metodologia de seleção dos alunos de graduação a serem beneficiados (BRASIL, 2010).”

Pontuam-se, também, outras categorias que consideramos fundamentais para a dimensão de inclusão social. No art. 4º, Parágrafo único, consta que as ações de assistência estudantil devem considerar a necessidade de viabilizar a igualdade de oportunidades, contribuir para a melhoria do desempenho acadêmico e agir, preventivamente, nas situações de retenção e evasão decorrentes da insuficiência de condições financeiras.

Todavia, ratificamos o princípio estipulado no Art. 5º: “Serão atendidos, no âmbito do PNAES, prioritariamente, estudantes oriundos da rede pública de educação básica ou com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio, sem prejuízo de demais requisitos fixados pelas instituições federais de ensino superior; as instituições federais de ensino superior deverão fixar requisitos para a percepção de assistência estudantil e mecanismos de acompanhamento e avaliação do PNAES”. Percebe-se que essas medidas não interferem na autonomia administrativa e acadêmica das universidades, pois acrescentam possibilidades de agregarem outros critérios.

Em síntese, observa-se que as ações afirmativas na educação se iniciaram pela reivindicação de inclusão dos negros (as) na educação superior, mas ao longo das discussões políticas e jurídicas, ampliou-se o debate de inclusão, e novos critérios também passaram a ser adotados, como etnias, deficiências, condições sociais, escola pública, ou seja, grupos que não tinham oportunidades de beneficiar-se da inserção na educação superior.

Verifica-se que essas políticas públicas de ações afirmativas das universidades federais públicas deverão incluir o apoio à permanência mais ampla, que ultrapassa os aspectos de auxílio financeiro, pedagógicos e psicológicos. As ações afirmativas constituem uma política que vai além da política de cotas, mas inclui a de permanência para garantir a inclusão social.