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CAPITULO I – EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL

1.1 UNIVERSIDADE NO BRASIL

1.1.2 A universidade na década de 1930

A década de 1930 deu início a chamada Era Getúlio Vargas, então Presidente da República, e durou 15 anos, de 1930 a 1945, período marcado pela centralização e concentração de poder, onde se mudou a ordem no sistema educacional, ou seja, a política de descentralização reverteu-se, começando a se desenvolver um movimento de centralização nos mais diferentes setores da sociedade.

Nesse sentido, a responsabilidade social de ensino superior público passou a ser retomada pela União. Tal aspecto fez emergir, em 14 de novembro de 1930, pelo Decreto nº 19.402, a criação do Ministério dos Negócios da Educação e da Saúde Pública, com funções controladoras e articuladoras de normatizar o ensino, mesmo que os Estados e o Distrito Federal continuassem a ter seus meios de disposição da educação em todos os níveis (primário, secundário, curso normal e profissional). Porém, observa -se que o modelo de ensino permanecia focado nos interesses de formação da elite e na capacitação para o trabalho.

A Reforma de Campos teve esse nome por conta de o primeiro titular da pasta do Ministério da Educação ter sido Francisco Campos. Nela, apontava -se a concessão de relativa autonomia universitária como preparação gradual para a independência plena. Entretanto, o modelo de sociedade dificultava a concessão de autonomia plena às universidades. Iniciou-se a reestruturação de um projeto universitário, que nos leva a

entender o processo de políticas improvisadas e sem planejamento que deu origem à estruturação do ensino superior.

Nesse projeto universitário, o governo de Vargas criou o Conselho Nacional de Educação, por meio do Decreto-lei nº 19.850/31, com funções de exercer maior controle (normatização), o Estatuto das Universidades Brasileiras, Decreto-lei nº 19.851/31 e a organização da Universidade do Rio de Janeiro, pelo Decreto-lei nº 19.852/31.

A reforma do ensino superior, denominado de Estatuto das Universidades Brasileiras, estabelecia no artigo 1º ser objetivo da universidade “estimular a cultura da ciência, estreitar entre os professores os laços de solidariedade individual e moral, e aperfeiçoar os métodos de ensino.” Entretanto, a partir dele, duas formas de organização do ensino superior eram permitidas: a universidade e os institutos isolados, estabelecendo um padrão de organização do ensino superior em todo o país.

Ressalta Cunha (1980, p. 294) que “a universidade poderia ser oficial ou livre. A IES oficial seria aquela mantida pelo governo federal ou pelo estadual. A universidade livre seria mantida por fundações ou associações particulares.”

Quanto à reorganização da URJ, ela passou a congregar a Faculdade de Direito, a Faculdade de Medicina, a Escola Politécnica, a Escola de Minas de Ouro de Preto (que nunca chegou a nela se integrar), as Faculdades de Farmácia e de Odontologia, desmembradas da Faculdade de Medicina, a Escola Nacional de Belas Artes e o Instituto Nacional de Música.

Na mesma época, instituiu-se a Universidade de São Paulo (USP), criada por meio do Decreto nº 6.283/ 34, que no artigo 2º apresentava as seguintes finalidades: a) promover, pela pesquisa, o progresso da ciência; b) transmitir, pelo ensino, conhecimentos que enriqueçam ou desenvolvam o espírito, sejam úteis à vida; c) formar especialistas em todos os ramos da cultura, bem como técnicos e profissionais em todas as profissões científicas ou artísticas; d) realizar a obra social de vulgarização das ciências, das letras e das artes por meio de cursos sintéticos, conferências e palestras, difusão pelo rádio, filmes científicos e congêneres (FÁVERO, 2006).

Segundo Buarque (2003, p. 32),

a primeira grande Instituição de Ensino Superior no país, a Universidade de São Paulo, surgiu somente em 1934. Sem estar vinculada a ideais religiosos, monárquicos ou à submissão a políticos brasileiros, a Universidade de São Paulo foi o resultado da articulação entre intelectuais brasileiros e franceses. A partir desse período, o Brasil passou a olhar para dentro e não mais para fora. Posturas servis foram perdendo espaço para a intelectualidade acadêmica, embora ainda existisse forte dependência do exterior. A partir daí, deflagraram-se momentos importantes na trajetória da educação superior brasileira.

Em 1935, com a implantação do Estado Novo, foi criada, sob a inspiração e liderança de Anísio Teixeira, a Universidade do Distrito Federal (UDF), conhecida como instituição dos sonhos de muitos educadores progressistas, comprometidos e engajados na luta pela criação de uma verdadeira universidade integrada e multifuncional.

A UDF, fundada no Rio de Janeiro, capital da República, pelo Decreto Municipal nº 5.513/35, teve duração curta, apenas de 1935 a 1939, sendo dissolvida durante o Estado Novo. Teve uma grande importância, pois surgiu como lugar de atividade científica livre e de produção cultural desinteressada, e com estrutura totalmente diferente no país, inclusive da USP. A UDF surgiu da incorporação da Universidade do Brasil, antiga URJ, conforme denominação recebida em 1920.

Anísio Teixeira (1998, p. 35), em discurso então proferido, afirma que

a função da universidade é uma função única e exclusiva. Não se trata, somente, de difundir conhecimentos. O livro também os difunde. Não se trata, somente, de conservar a experiência humana. O livro também a conserva. Não se trata, somente, de preparar práticos ou profissionais, de ofícios ou artes. A aprendizagem direta os prepara, ou, em último caso, escolas muito mais singelas do que as universidades.

A visão de Anísio apontava na direção de que uma universidade deverá ter entre suas funções a de ser um locus de investigação e de produção do conhecimento. E para ocorrer esse processo, seria necessário o desenvolvimento da prática efetiva do exercício da liberdade e a efetivação da autonomia universitária.

Contudo, essas ideias provocaram muitos impasses, que repercutiram no interior da IES, tendo de passar por dificuldades estruturantes de recursos humanos, materiais e organização de seus cursos. Tudo isso inviabilizou a consecução dos objetivos traçados, levando à sua extinção, e seus cursos foram transferidos para a Universidade de Brasília (UB), em 1939, por meio do Decreto nº 1.063.

Aponta Cunha (1989) que afloraram, nessa época, projetos de uma universidade proletária, cujo objetivo era assegurar acesso e oportunidades de estudo aos jovens trabalhadores. No entanto, não se esperava que os filhos dos trabalhadores fossem concorrer com os jovens das camadas médias, que estudavam engenharia e obtinham o tratamento de doutor, pois aqueles fariam cursos superiores de engenharia de curta duração. De tal modo concebida, a Universidade do Trabalho estaria completamente segregada da universidade propriamente dita, sem qualificativos ou com o qualificativo do intelecto oculto.

Em 1937, Universidade Federal sofreu nova mudança e trocou de nome, passando a chamar-se Universidade do Brasil, sendo, por quase dez anos, a única universidade federal do

país. Somente com a volta da democracia, em 1946, iniciou-se a implantação das universidades federais, nos Estados, rompendo o ciclo de uma única universidade federal, com a criação de três outras: na Bahia, em Pernambuco e no Paraná.

No início da década de 1940, surgiram as primeiras universidades privadas do país, as Faculdades Católicas no Rio de Janeiro, só reconhecidas pelo Estado em 1946, pois a legislação vetava a criação dessa modalidade. Naquela época, foram fundados o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), enfatizando a tendência ao ensino profissionalizante, que atendia às exigências da industrialização do país naquele período.