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POLÍTICAS REGIONAIS NA UNIÃO EUROPEIA E LIÇÕES PARA O BRASIL

Não existe consenso a respeito de políticas de intervenção, ou seja, políticas mais desejáveis para promover o crescimento econômico regional. A literatura possui divergência segundo as matizes ideológicas (e às vezes por velados interesses nacionais). Assim, há quem defenda políticas intervencionistas, por acreditar que estas são necessárias para compensar os efeitos polarizados que as regiões mais desenvolvidas, inevitavelmente, exercem sobre as mais atrasadas, mais periféricas ou que por razões outras sofrem desvantagens competitivas. E

há argumentos que sempre que o há intervenções governamentais, por sua ineficiência e ineficaz, perturbam o processo natural de alocação de recursos. Dentre os argumentos mais fortes a favor da intervenção está que se faz necessário a transferência de recursos das regiões mais ricas para as mais pobres, pois há uma concentração natural da industrialização nos grandes centros, e que os grandes centros se formam onde há industrialização. Os contrários afirmam que isso provoca distorções com comprometimento da produção nacional e comprometimento até para a região recebedora. Desse debate fortalece ainda mais o exemplo de políticas de sucesso, como é o caso europeu.

O continente europeu constitui um rico e complexo exemplo de aprendizagem sobre políticas públicas regionais no mundo contemporâneo e, a mais importante fonte de ensinamentos (FILGUEIRA GALVÃO, 2003, p. 188) para países que apresentam elevadas disparidades espaciais de desenvolvimento, como o Brasil.

A riqueza da experiência europeia com políticas regionais se deve a um vasto conjunto de fatores e circunstancias. A diversidade dos países, das suas regiões, manifestadas através de variações geográficas, sociais, políticas, culturais, e institucionais.

Já em sua criação o Tratado de Roma criou dois instrumentos de política no ano de 1958 – um voltado claramente para esfera social, outro com viés territorial. O Fundo Social - FSE, administrado pela Comissão Europeia, que possui objetivos de facilitar o emprego, aumentar a mobilidade geográfica e ocupacional da mão-de-obra dentro da Comunidade, principalmente para facilitar sua adaptação às mudanças industriais e nos sistemas produtivos, através do treinamento e (re)treinamento vocacional. Ainda em funcionamento possui prioridade em regiões menos desenvolvidas. O outro instrumento de política criado foi, com orientação de natureza territorial, o Banco Europeu de Investimentos – BEI, para financiar projetos de infraestrutura, prover recursos de longo prazo para o financiamento de atividades produtivas (públicas e privadas) e oferecer garantias para empréstimos, tem facilidade de captação por possui grau de investimento “AAA”, não tem fins lucrativos e pratica juros subsidiados.

Em 1962 eles criaram outro instrumento, novamente um novo fundo, o Fundo Europeu de Orientações e Garantia Agrícola – FEOGA, com principal prioridade a assistência à agricultura. E em 1975 foi criado o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional – FEDER, que se baseou na ideia de que a persistência de excessivas disparidades nas estruturas produtivas e nos níveis de renda dentro dos países europeus poderia tornar impossível o projeto da integração e que a Comunidade deveria exercer um papel mais ativo na promoção da convergência entre as suas regiões (GALVÃO, 2010, p. 114). Para se ter ideia da dimensão

e importância dada ao assunto, esses fundos estruturantes saíram de 5% em 1975 para 31% do orçamento da Comunidade em 1993.

Com o advento da unificação monetária os países participantes do bloco econômico temeram perder instrumentos nacionais competitivos.

“A experiência histórica sugere que, na ausência de políticas compensatórias, o impacto de mais integração econômica sobre as regiões periféricas poderá ser negativo. [A redução] dos custos de transporte e as economias de escala tenderão a propiciar uma migração de atividades econômicas das regiões menos desenvolvidas, especialmente se estas estão localizadas na periferia da Comunidade, na direção das áreas mais ricas do centro. A união econômica e monetária deverá estimular e promover ajustamentos estruturais que possam ajudar as regiões mais pobres a acompanhar o desenvolvimento das mais ricas.” (Relatório Delors, 1989)

Então, ao fim de 1993, em resposta aos desafios da criação da União Europeia, foi aprovada uma nova proposta pelo Conselho de Ministros, que merece destaque:

1. A extensão do período de programação de 5 para 6 anos; 2. Oficialização do conceito de Coesão Econômica e Social;

3. Duplicação dos recursos destinados aos fundos de desenvolvimento social e regional;

4. Associação dos fundos estruturais a políticas estruturais;

5. Criação de mais um fundo estrutural, destinado ao setor pesqueiro; 6. Instituição de mais outro fundo, o Fundo de Coesão Social;

7. Reformas na Política Agrícola Comum – PAC, destinando mais recursos; 8. Criação do sexto objetivo da EU, a assistência a regiões remotas e de baixa

densidade demográfica. Tudo isso no período entre 1994 e 1999.

Um aspecto de destaque foi de que, nas novas diretrizes do Tratado de Maastricht (1993), a União Europeia passaria a aumentar, de forma expressiva, o seu comprometimento com a oferta de bens públicos aos países periféricos. Os fundos comunitários não mais se limitariam a investimentos em infraestrutura econômica, mas se dedicariam a promover gastos na esfera social que provocassem impactos mais imediatos no bem-estar das populações desses países, de modo a reduzir a grande distancia que ainda separava as regiões ricas e mais pobres. Assim, um volume crescente de recursos passou a ser destinado à educação em geral (priorizando a escolarização universal e o ensino médio), à infraestrutura de saneamento e saúde, com ênfase no provimento de serviços fundamentais em áreas carentes de água tratada, esgotos sanitários e tratamento e coleta de resíduos sólidos e líquidos (European Comission, 1993, p. 48, TONL, 2001, p. 310).

Na experiência do período 1994-1999 verificou-se que em regiões mais pobres eram as que devolviam mais recursos pela incapacidade técnico-administrativa de cumprir a legislação do bloco. Ao que foi promovido uma iniciativa pela Comissão Europeia de aumentar a capacitação técnica e administrativa dos países e regiões que exibiam divergências na esfera gerencial.

Em 1997 no Tratado de Amsterdam foi apresentado a Agenda 2000 apontando preocupações com a globalização, o desemprego no bloco, e a promoção de medidas mais ousadas para a Europa ter maior participação no cenário mundial e que deveria aumentar ainda mais a solidariedade do bloco:

a) Promover o crescimento sustentável com emprego e melhorias das condições de vida;

b) Negociar uma nova expansão da Comunidade;

c) Financiar o crescimento sem comprometer os 15 países membros.

No que diz respeito aos recursos destinados às políticas estruturais e de coesão, o novo orçamento da União alocou um total de 213 bilhões de Euros para os 15 países que compunham a Comunidade no início da programação e 21,7 bilhões de Euros para os dez novos membros que ingressaram no ano de 2004.10

Depois de 50 anos de políticas regionais na Comunidade a União Europeia passou a ser referencia, como modelo acadêmico, para a questão de integração regional. Com base nessas estatísticas uniformes, copiladas e processadas por uma autoridade central – EUROSATAT, que acumulou informações detalhadas por país (27) e regiões (mais de 268) que cobrem os mais variados aspectos das atividades econômica, social e demográfica. Há informações sobre o PIB total, per capita e por setores de atividade, e sobre o crescimento dessas variáveis em valores com critérios de paridade de poder de compra, sobre a população e seu crescimento anual, sobre o mercado de trabalho (taxa de ocupação, emprego e desemprego e população economicamente ativa – por idade e gênero), sobre educação, sobre investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, e apresenta ainda um índice sintético de desenvolvimento denominado de “Indicadores Econômicos de Lisboa”.

Lá é praticado um sistema de planejamento integrado, que envolve a participação de diversas instituições supranacionais, governos nacionais, regionais, municipais e sociedade civil. Esse sistema de transferência de renda de países ricos e de regiões ricas para países e

10 Os dez novos membros da União Europeia que ingressaram em 2004 e passaram a fazer parte da Agenda 2000

a partir desse ano, foram: Polônia, Hungria, República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Letônia, Lituânia, Chipre e Malta.

regiões pobres, voltadas para a redução das expressivas disparidades regionais existentes dentro do continente. Assim se tornou o maior laboratório para a evolução de teorias explicativas do crescimento econômico e de testes empíricos de validação dessas teorias e, consequentemente, um fértil ambiente para a contínua busca por explicações dos fatores determinantes que favoreciam ou obstruíam o desenvolvimento.

Com todo esse material serviu de pesquisas sobre as desigualdades e os resultados mostraram uma tendência à convergência de PIBs per capita tanto entre países assim como regiões, que em velocidade do processo era, em média, de 2% ao ano acima da média das regiões mais ricas (GALVÃO, 2010, p.173)

Então, conforme destaca o renomado pesquisador Olímpio J. de Arroxelas Galvão um ponto consensual dos estudos acadêmicos é que o aprofundamento da integração na Europa, tem produzido impactos positivos sobre as economias europeias como um todo, com impactos sistêmicos de natureza favorável nas economias de cada país mediante uma série de fatores, como: a elevação do nível de eficiência produtiva das firmas e das indústrias em virtude da ampliação da divisão do trabalho e da especialização.

“(...) é crescente o reconhecimento de que a eficácia da intervenção do governo e a otimização das transferências de recursos entre países e entre regiões depende de um amplo e complexo conjunto de condicionalidades: a redução das desigualdades e a convergência exigem profundas mudanças estruturais nas regiões mais pobres, de tal sorte que a intervenção dos governos e as políticas de coesão são cada vez mais vistas como um instrumento de remoção dos obstáculos internos, existentes nas áreas mais atrasadas, que, em última instância, constituem os fatores responsáveis pela persistência das desigualdades regionais”

“(...) sempre esteve claro que o verdadeiro o objetivo das transferências era dotar as regiões mais pobres de capacidade competitiva, reduzindo suas desvantagens locacionais e tornando-as mais atrativas a investimentos nacionais, continentais e internacionais. Assim, as transferências objetivavam, essencialmente, o fortalecimento e a modernização da base econômica dos países e regiões menos desenvolvidos, de modo a fazer com que, no longo prazo, esses países e regiões não mais dependessem da assistência dos países ricos.” (GALVÃO, 2010, p.243)

4.2. EXEMPLO DO ADAPTA SERTÃO – TECNOLOGIAS SOCIAIS DE

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