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Capítulo II- Estado Providência e Políticas Sociais em Portugal

2.2. As Politicas Sociais Ativas

Sousa et al (2007) referem-se às novas políticas sociais inseridas em Portugal como tardias, limitadas e pouco consistentes. As políticas sociais ativas surgem com o intuito de substituir as políticas clássicas de cariz indemnizatório. Têm como objetivo principal a inserção do indivíduo: “ Ajudar as pessoas a se inserirem socialmente, seja nos mercados de trabalho, seja em atividades socialmente reconhecidas.” (Hespanha, 2008:1) A inserção gerada por estas políticas depende da participação ativa dos beneficiários na sociedade de modo a “quebrar” um pouco a carga pejorativa de “assistido”. Posto isto, será que estas políticas ativas são eficientes na inserção dos indivíduos? Ou será que na prática estas políticas continuam com as caraterísticas das políticas clássicas? Como exemplo dessas medidas, temos o RSI (surgiu como RMG em 1996) como política social ativa onde os seus beneficiários são obrigados a assinar um plano de inserção, assunto que será abordado mais adiante e com maior profundidade.

Segundo a filosofia subjacente a estas políticas, tanto o indivíduo como a sociedade têm obrigações. O que isto significa é que à sociedade compete levar a sério os direitos dos indivíduos marginalizados, enquanto que o indivíduo é responsável pelo seu futuro e deve ter um papel ativo em todo este processo. No entanto a inserção é objeto de um acordo entre o beneficiário e o Estado. “ O contrato de inserção implica uma obrigação positiva do beneficiário mas, ao mesmo tempo, representa o reconhecimento da sua dignidade de cidadão actor (e não de mero assistido).” (Hespanha, 2008:6) É de referir que a inserção não se aplica só ao indivíduo excluído mas também aos grupos de indivíduos que se encontram nesta situação. Esta nova geração de políticas pretende que haja por parte do Estado e dos cidadãos uma atitude mais ativa. O cidadão torna-se activo e competente, negociando com o

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Estado as medidas, os direitos e as obrigações. Geldof (1999) diz que estas obrigações para com os beneficiários levam a constrangimentos e a um carácter disciplinador e punitivo destas. Até que ponto estas obrigações poderão influenciar a implementação da medida? De acordo com Moser (2011) esta nova geração de políticas chama-se workfare- assenta na obrigação de participação dos indivíduos em medidas de ativação centradas no mercado de trabalho. Neste contexto de políticas ativas os serviços de ação social, “vão de encontro aos cidadãos em risco, numa lógica de descentralização, aproximação e adaptação das intervenções baseadas em projectos e em metodologias de gestão de objectivos, partilha de responsabilidades e estabelecimento de parcerias”. (in Poupinha,2009:33)

De acordo com Hespanha (2002) o aumento do risco social atual tem a ver com os novos factores de incerteza que diminuem a capacidade de resposta por parte tanto dos governos, como das instituições de proteção social.

Tendo em conta que o emprego é considerado uma das principais esferas de inclusão, com o desemprego estrutural dos últimos tempos, a situação torna-se complicada. Como nos diz Caleiras (2004): “Perante este quadro, o Estado- Providência, em alegada crise ideológica e financeira, tem vindo a substituir a lógica passiva da subsidização por atitudes mais ativas de (re) inserção de desempregados, ou seja politicas ativas de emprego” (Caleiras, 2004:9). Também Goméz (in Rodrigues,2006) considera que o Estado não consegue cobrir todos os riscos sociais. O Estado tem parceria com instituições privadas dando resultado ao welfare mix, derivado do enfraquecimento estatal e da inaptidão do mercado. As políticas sociais devem ultrapassar as práticas compensatórias centradas nos desempregados, propondo novas ações de modo a manter estes em atividade. Standing (in Ferreira,2012) revela que esta substituição do welfare pelo workfare expressa-se em reformas nos programas sociais que foram iniciadas nos anos 90 na Europa e duram até a atualidade. Sousa et al (2007) consideram que a inserção é mais do que um direito de subsistência. O facto de o beneficiário estar inserido numa actividade considerada útil, dá ao beneficiário um papel positivo na sociedade. “ Ao considerar os indivíduos como cidadãos ativos e não apenas como assistidos, introduz-se uma filosofia de cidadania que estava afastada na clássica relação paternalista entre Estado e assistido, geradora de dependência e pela qual este último se tende a tornar um sujeito subordinado.” (Sousa et al, 2007:93)

De acordo com Hespanha (2004) as políticas sociais ativas vieram responder a inúmeras situações como: a inaptidão de resposta das políticas passivas face a um número elevado de indivíduos marginalizados; o aumento da despesa pública com as políticas sociais; a armadilha da dependência, necessitando legitimar o Estado-Providência perante os contribuintes; o uso inapropriado dos instrumentos e de ajudas às necessidades dos indivíduos; a pressão das concepções neoliberais e conservadoras sobre a responsabilidade do Estado, da sociedade civil e do mercado.

Segundo Hespanha (2002) as políticas ativas, para serem eficientes com o seu público, tiveram que ser mais orientadas, seletivas e personalizadas. É necessário que estas tenham capacidade de se adequar às situações pessoais e familiares dos indivíduos a que se destinam.

Tendo em conta o que foi referido, estarão as políticas ativas orientadas para acompanhar novos perfis de beneficiários? Terão estas eficiências para responder aos problemas destes novos perfis? “Este facto conduziu a que novas exigências, no sentido da maior flexibilidade, capacidade de negociação e rapidez, passassem a fazer-se sentir sobre os dispositivos de administração desta política” (Hespanha,2002: 8). Cardim et al (2011) atribuem às políticas sociais ativas a responsabilidade de “abrandar” o clima de contestação social dos contribuintes e promover as práticas de responsabilidade cívica. Segundo Hespanha (2008) os modelos de intervenção social que emergiram do Estado- Providência activo, baseiam-se em novas metodologias como a abordagem por projecto, a acção descentralizada e partilhada, intervenção em parceria, individualização das medidas e a ativação. A abordagem por projecto é considerada a nova unidade básica de intervenção e tem um requisito do princípio de gestão por objetivos. Diferencia-se do modo tradicional de intervenção baseada nos planos de actividades feitos pelos serviços públicos. Na abordagem do projeto existe uma proximidade dos problemas, isto é, há um melhor conhecimento da realidade local, e também há “ capacidade de fazer circular a informação, de mobilizar capital social, de produzir ajudas, de ligar os agentes económicos, de controlar as politicas públicas”.(Hespanha,2008:7) No que diz respeito à descentralização das políticas esta é positiva, mas no entanto contém algumas limitações, que só conseguem ser corrigidas com a articulação com os princípios gerais do sistema e com a estrutura coordenadora que verifique a sua execução. Quanto à intervenção em parceria, a partilha de responsabilidades e de acção com as organizações da sociedade civil vai de encontro com a descentralização das políticas. Ainda assim podemos dizer que as parcerias “ pressupõem um conjunto de condições básicas, dentre as quais um melhor conhecimento da realidade onde se quer intervir, um consenso em torno dos objectivos partilhados; legitimidade social.” (Hespanha,2008:9) A individualização das medidas é um dos objectivos de inserção social, e Hespanha (2008) afirma que os novos programas sociais dão mais ênfase às medidas de carácter concreto, adequadas ao perfil dos destinatários. Ao mencionarmos a activação destas políticas, os beneficiários têm uma postura activa, considerando esta característica como uma das mais importantes da nova geração de políticas sociais. O intuito desta activação consiste em prevenir contextos de exclusão, que pudessem acontecer de uma atitude passiva por parte dos beneficiários face às políticas sociais indemnizatórias.

De acordo com Sousa et al (2007) a ativação é uma das formas de combater a ineficácia das políticas tradicionais e principalmente um modo de colocar os próprios beneficiários dessa política a participar no seu próprio processo de inserção. O direito de ser ajudado envolve o dever de contribuir numa actividade considerada útil pela sociedade. Isto é, o Estado pede algo em troca da ajuda que presta. “ A exigência de cumprimento deste dever pode colocar um grave problema de controlo social e de marginalização sempre que o estado exija algo desproporcionado em troca da sua ajuda.” (Hespanha,2008: 11)

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2.3 O papel das Políticas Sociais no combate à pobreza e à exclusão social em